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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Galápagos, 10 de dezembro de 2015.

Indo para o aeroporto de Baltra, olha o que vemos!
Estou no aeroporto de Galápagos. Saí da casa de José, Flor e Francisco às sete da manhã. Chego amanhã em Porto Alegre, depois de passar por Guayaquil, Quito e Lima. Até chegar em casa, se tudo correr bem, serão exatas 24 horas de viagem. Saudades dos meus.
Não me canso das iguanas.
Esta viagem entra para o rol das melhores. As duas etapas foram para lá de boas. Dos Andes ao Pacífico. Teve boa comida, boas conversas, dever cumprido e aprendizados. Teve tartaruga gigante, peixes e aves coloridos, lobo marinho, iguanas e pelicano. Em Quito, mais trabalho, com alguns agradáveis momentos de descanso. Em Galápagos, mais descanso, com alguns agradáveis momentos de trabalho.
Indo embora de Galápagos, me vem à mente a analogia óbvia. Uma ilha linda, abençoada por Deus, com uma natureza exuberante, com uma vida selvagem que luta por seu direito ao seu espaço e à sua sobrevivência. Linda e com sérios problemas ambientais, fruto do crescimento do turismo e do desejo de acúmulo por parte dos ilhéus. Fruto também de hábitos mais ou menos antigos, mas de qualquer forma pouco amigáveis com a natureza. 
Bela Ilha. Planeta Azul.
Para cumprir com suas obrigações ambientais, os ilhéus têm sido constrangidos por legislações restritivas. Ter um carro exige um calvário de justificativas (sim, não se pode simplesmente comprar um carro), e a bicicleta se torna uma necessidade. Construir, só com certos requisitos. A agricultura deve incorporar práticas de proteção ambiental. Os de fora da ilha não podem simplesmente se mudar para cá. Todas estas e muitas outras regulações causam desconforto, soam como afronta à liberdade.
A óbvia analogia é com a Terra. O que escrevi acima se aplica ao nosso planeta/ilha. Se as legislações ambientais nos constrangem é porque a realidade da "ilha" assim exige. Insistirmos em nosso direito de fazer o que sempre fizemos é fruto da nossa resistência em perder conforto individual em favor das necessidades coletivas e da nossa dificuldade em trocar o passado pelo futuro. Infantilidade nossa, o futuro sempre chega. 
Aeroporto Ecológico de Galápagos.
É nisto que estou pensando, enquanto meu voo não parte.
Foi muito bom ter estado aqui em Galápagos, ainda que por breves dias. Reforçou minha percepção que somos todos ilhéus.

Fui, este ano não conto mais. Veremos o que 2016 nos reserva.

Galápagos, 09 de dezembro de 2015.

Iguana, na Estação Charles Darwin,
Hoje o dia começou cedo. Depois do café às seis da manhã, fui visitar  um túnel feito por larva vulcânica, há alguns milhões de anos atrás. Fica perto da casa que eu estou, aqui mesmo em Bella Vista. Dizem que é o segundo maior da América do Sul, com 800 metros de comprimento.
Muito interessante, ver o trabalho que a larva quente fez na rocha. Confesso que tive um pouco de medo sozinho no túnel. Em algumas partes a escuridão era absoluta, quebrada apenas pela lanterna que recebi na entrada.
Mas foi legal ir. Um túnel feito por larvas é uma viagem. E foi bom também para lembrar que aqui fora é melhor do que parece...
Passei na casa,  peguei minhas coisas e fui de novo para Puerto Ayora. De chiva, que é como eles chamam o que no Brasil eu conheço como jardineira ou pau-de-arara. 
Eu e ele.
Em Pueryo Ayora fui à estação Charles Darwin, um centro de estudos e conservação, caminhar, ver iguanas e tartarugas gigantes. Aí que monótono! Brincadeira, este contato próximo com a vida silvestre é encantador. Este passeio foi o ponto alto do dia.
Visual do Estuário Las Ninfas.
Ainda de manhã fui a um lago chamado Las Ninfas. Fica dentro da cidade e na real é um estuário, formado pelo encontro de águas salgada e doce, rodeado por um mangue. Lindo, transparente, silencioso. Nota dez. O ponto alto do dia. Indo almoçar, passei na banca de peixes e vi um lobo marinho que fica ali, do lado das vendedoras, esperando sua vez, junto com dezenas de pelicanos. Muito legal!
De tarde, o ponto alto do dia. Fui fazer um Tour de Baía. Uma lancha, cerca de 15 pessoas, fomos visitar alguns pontos não muito distantes. 
Patas azuis.
Primeiro fomos a um rochedo, muito próximo do porto, ver os pata azuis, uma espécie de alcatraz, típico daqui. 
De lá para uma pequena ilha, chamada Loberia, onde pudemos, de longe, ver lobos marinhos. E depois, o ponto alto do dia. Com um snorkel, nadamos um bom tempo com tartarugas marinhas. Simplesmente demais, indescritível. Elas são enormes e muito dóceis. Vimos duas, que estavam nadando e se alimentando de algas que estavam grudadas nas pedras. A um ou dois metros de profundidade. Nos viam, olhavam, e seguiam tranquilas. Muito, muito legal, umas das coisas mais legais que já fiz na vida. Me senti no Procurando Nemo. E ainda fomos nas grietas, uma piscina formada entre dois canions vulcânicos, com uma água salobra e muito transparente. Ainda fomos na praia do cachorros, ver iguanas e lobo marinho, também assim, do nosso lado, sem se assustarem.
Sem legenda.
Acabei este passeio super contente com o resultado, fui dar uma ultima volta por Puerto Ayora, comprar algumas coisinhas. E voltei logo para casa, porque hoje tínhamos lagosta no jantar. Enormes, deliciosas, o ponto alto do dia. Alguns amigos, conversa sobre possíveis trabalhos futuros com agroecologia aqui na ilha e o dia se encerrou. Como vocês viram, com vários ponto altos.
Quando Daniel, meu filho de doze anos, me perguntou se eu já tinha zerado a vida, custei a entender. Agora entendi. Então devo dizer a ele que sim, já zerei algumas vezes. Só em Galápagos, uma vez por dia nos três dias que passei aqui.
Amanhã, começo a voltar para casa. Bom também, o restante que tem para ver aqui nas ilhas fica para uma próxima.

Estas duas tartarugas são da mesma espécie. Estas diferenças
nas suas carapaças fez com que Darwin intuísse que era em função da
sua adaptação ao meio ambiente das diferentes ilhas, onde elas se encontram.
Detalhe que foi os ilhéus que lhe chamaram a atenção para esta diferença.
Isto dito pelo próprio Darwin.


Olha a onda.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Galápagos, 08 de dezembro de 2015.

Tartarugas gigantes de Galápagos.
Mais um belo e intenso dia. Acordei cedo, tomamos um café especial preparado pela Flor e ficamos conversando sobre nossas vivências em Agroecologia. A casa é muito agradável, ampla, cercada de um quintal agroflorestal que eu não imaginava ver por estas bandas. 
Quintal agroflorestl da casa onde estou.
Aqui, com o rico solo vulcânico que caracteriza as ilhas, quando chove a vida abunda. E, em algumas partes da ilha, chega a chover 2000 mm/ano, o que é bastante. Nas zonas secas aqui chove 20% deste numero. 
Depois do café, fui ao centrinho de Bella Vista e peguei um táxi para ir a Tortuga Bay, em Puerto Ayora, considerado um dos passeios imperdíveis de Galápagos. O taxi me deixou no início da trilha, de 2,5 km. Era cedo, até chegar à baia vi apenas três ou quatro pessoas. Fiquei um pouco sozinho na praia e logo começou a chegar mais gente.
Saída da trilha e chegada na Praia Brava.
A caminhada é linda e por sorte hoje estava nublado. Primeiro se caminha por uma trilha muito bem cuidada, depois pela praia brava, até se chegar a baia onde estão iguanas e tartarugas. E muitos pássaros. 

Enquanto estava sentado na areia, só vendo o mar e ouvindo o vento e as marolas, às vezes um passarinho chegava bem perto. Olhava pra mim e se ia...
Às dez da manha chegou muito mais gente. E por sorte alguém que aluga caiaque e snorkel. Aluguei um e pude ver um pouco por baixo das águas, mas nada espetacular. Sem o snorkel, por cima, no mar, pude ver arraias, tubarões, que são bem pequenos, e tartarugas, que são enormes. E iguanas, muitas iguanas. 

E de tarde adivinha o que fui fazer? Trabalhar. Na real, nem sei se sei usar esta palavra direito. Reunião com produtores, em Galápagos, para falar sobre Agroecologia e conhecendo um pouco mais a realidade das ilhas. Isto é trabalho? É, acho que se costuma chamar assim.
A pequena reunião que participei.
Como comentei no post de domingo, estou na casa de uns amigos que estão trabalhando para o Ministério da Agricultura aqui de Galápagos. E por motivos óbvios existe a intenção de ecologizar a produção agro-pecuária daqui, com um programa que eles denominaram de bio-agricultura. 

Em 1959, foi criado o Parque Nacional de Galápagos, e 97% da área das ilhas foram incluídas, e apenas os 3% restantes estão disponíveis para agricultura. Este percentagem deverá ser envolvida neste trabalho de bio-agricultura.
Foi uma pequena reunião sobre a necessidade da criação de novos mercados para os produtos que vem da agricultura local e não do continente através de intermediários. O que eu fiz foi contar brevemente o que fazemos em relação a estes temas no Brasil e salientar que mercados conduzidos por agricultores devem ter alguns valores diferenciados, como é o caso dos produtos ecológicos.
Tartarugas gigantes de Galápagos.
Mas, o melhor da tarde foi antes da reunião, quando Francisco Abad, meu jovem anfitrião, me levou para ver uma propriedade que está bem na rota migratória das tartarugas e as podemos ver em quantidade e com tranqüilidade. Muito impressionante. São dezenas delas, gigantescas, pastando, de boa. Me deu vontade de ficar observado por horas. 
Copiei do Wikipédia: A tartaruga-gigante-de-galápagos, cujo nome científico é Chelonoidis nigra, é uma espécie de tartaruga  endêmica do arquipélago de Galápagos. É a maior espécie de tartaruga existente e o 10º réptil mais pesado do mundo, podendo chegar a 400 kg, com um comprimento de mais de 1,8 m.” 
Olha esta!!!
Não sei se vou conseguir contar aqui, é tanta coisa legal que os posts estão ficando grandes, mas vale a pena ler sobre a influência destas tartarugas na teoria da evolução de Darwin.
Senti que zerei a vida. Aperta o play, vamos começar a jogar de novo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Galápagos, 07 de dezembro de 2015.

Pelicanos ao redor de um pequeno mercado de
peixes, em Puerto Ayora.
Hoje foi dia de passear em Galápagos. Passeio aqui significa curtir a ilha que você está ou pegar um barco para visitar outra ilha. Foi a minha opção de hoje. Estou na Ilha de Santa Cruz. Contratei o passeio e as seis e meia da manhã passaram para me pegar com um microônibus. Quarenta minutos ate o porto. Aí subimos em um pequeno catamarã e fomos navegando por duas horas e meia até a ilha de San Bartolome
Vista do pacífico, a partir da Ilha de Bartolome 
É considerada a vista mais bonita de Galápagos. No ponto mais alto da ilha está um mirante. Mas toda a subida é muito bonita. E cansativa, ainda mais em um sol equatorial, às onze da manhã. Além do mar multicor, a paisagem lunar (não nos esqueçamos que são ilhas vulcânicas jovens) e os pássaros que se vê tornam o conjunto indescritível. Que vou falar? Lindo? Interessante? Realmente me falta a palavra exata. Deve ser porque estou em Galápagos.
A vida e seu incessante desejo de viver.
Depois de subir até este ponto mais alto e descer, voltamos ao barco e fomos para a Ilha de Santiago. Aí era para curtir a praia e fazer um pouco de snorkeling. Claro que o visual embaixo da água era lindo, como sempre é nestes picos, mas não foi o snorkeling mais impressionante da minha vida. Bonito ou Noronha batem.
Visual do alto da lha de Bartolome.
Por cima da água me pareceu mais único. Queria curtir também um pouco da praia, da areia e saí da água. Estes passeios são relativamente curtos, por questão de preservação o turista tem tempo limite para ficar nos locais. Assim, somos obrigados a fazer tudo um pouco correndo, o que não é o ideal. Mas faz parte.
Da areia da praia pude ver pássaros, lobos marinhos e pinguins, estes dois últimos nadando, ali, a um ou dois metros da areia. Muito legal, parece que eles vêm para se exibir. Os pinguins são destes bem pequenos, os adultos tem uns 40 cm. Nadam rápido, vão e vem como que se divertindo
Leonardo de Caprio.
Do Catamarã, tanto na ida quanto na volta vimos tartarugas marinhas. Enormes. Na volta do barco fiquei em uma das duas pranchas da proa, sentado, bem seguro, e, como o vento levantou um pouco o mar, a onda batia e uma cortina de água me cobria. Só o tal do Pacífico na minha frente. Me diverti muito, parecia um brinquedo de parque de diversão. E de sobra ainda me senti meio Leonardo de Caprio... Deve ser porque estou em Galápagos.
Como estou em Bella Vista, uma vila rural que fica a 7km de Puerto Ayora, a capital da ilha e onde está o movimento, resolvi aproveitar o fim do dia e passear. A cidade é pequena e muito agradável. 
Fui ver os pelicanos pedindo comida nas bancas do pequeno mercado de peixes, caminhei um pouco pela rua principal e dei uma passada para dar uma espiada no mesmo lobo marinho que ontem se exibiu no deck dos molhes. Para fechar com chave de ouro resolvi comer uns camarões ao alho, acompanhados de uma pilsener, uma cerveja equatoriana bem ruinzinha. Mas só por ser local, está valendo. Por aqui é época de lagosta, claro que não saio daqui sem comer uma, prometo.
Puerto Ayora, de noite
Saindo dos passeios, vou contar uma das tantas coisas interessantes que ouvi aqui. Ninguém pode se mudar para Galápagos. Quem vivia aqui até 1997, tudo bem. Depois disto, para vir viver aqui, só casando ou sendo convidado para um trabalho, temporário, desde que no arquipélago não exista alguém capaz de executar este trabalho. As implicações são muitas. Flor por exemplo, esposa de José, meus anfitriões, não pode trabalhar. Pôde vir morar com ele, mas não pode competir em emprego com um ilhéu. Sacou?
Depois falam mal das segundas feiras, hoje foi um belo dia. Deve ser porque estou em Galápagos.
Vou dormir. Cansado.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Quito e Galápagos, 05 e 06 de dezembro de 2015.

Na embarcação, atravessando o canal entre o
aeroporto e a ilha de Santa Cruz
Como previsto, passei o dia de ontem descansando. Bom, nem tanto... Às seis e meia da manhã me tiraram da cama para uma entrevista na rádio, sobre Agroecologia e Aquecimento Global. Foi legal, com Esteban, um chef de cozinha daqui que nos preparou a janta de terça passada e uma Italiana, direto da Itália, os dois ligados ao Slow Food e com outra pessoa aqui do Equador, que está na França, por conta da COP 21. 
Plaza Foch, La Mariscal, sábado pela tarde
Depois sim, voltei a nossa “Casa de Acogida”, um tempo para despedidas, fazer a mala e sair. Preferi ir para um bom hotel descansar. Escolhi o Reina Isabel e não me arrependi.  Fiquei ontem à tarde e hoje de manhã mais no hotel, dando breves voltas por La Mariscal.
E no início da tarde pequei o avião para as Ilhas Galápagos (são um grupo de 13 ilhas, quatro delas habitadas), mais especificamente para o aeroporto de Baltras, o principal do arquipélago, onde cheguei depois de duas horas de voo. Francisco, um jovem amigo, que conheci em Cuenca ano passado, estava me esperando no aeroporto e viemos para a casa que ele mora, com o casal José e Flor Poma. Eles andam por aqui trabalhando para o Ministério da Agricultura em um projeto de Bio-agricultura. Casa super simpática, numa vila do interior da ilha, a uns 6 km do Puerto Ayora, a maior cidade do arquipélago, com cerca de 12 mil pessoas.
Entre o avião a sala de chegada do aeroporto!
Que contar de Galápagos? Ainda não sei, vi pouco. Que o lugar é mágico, já sabemos. Das horas que estou aqui, posso falar de um iguana que nos esperava quando descemos do avião. De um pelicano que vi pescando igualzinho em procurando Nemo enquanto esperava o barco que nos leva pelo pequeno canal que separa o aeroporto da Ilha de Santa Cruz. E de um lobo marinho que veio se exibir em um deck em Puerto Ayora
Assim, deste jeito!
Porque pelo inicio da noite, depois de um belo almoço preparado pela Flor, Francisco me acompanhou a Puerto Ayora para contratar um passeio que farei amanhã para a ilha de San Bartolomeu. Acertei o passeio e saímos a caminhar pela cidadezinha. Muito agradável, um porto com cheiro de mar. 
Com um comércio cheio de lojas de artesanato, agências de viagem, bares, cafés e restaurantes. Não muito cheio, tampouco estava vazio. De fato um lugar como os lugares que povoam meu imaginário quando penso em relaxar.

No centro de Puerto Ayora, de noite.
Paramos em um dentro os tantos simpáticos restaurantes, tomamos um suco e voltamos para casa. Amanhã às seis devo estar na parada esperando o ônibus que me levará ao catamarã. Neste momento estou aqui acabando este post e começa a chover. Vou até parar de escrever e curtir este silêncio emoldurado pela chuva. 
Cratera de um dos Lo Gemelos, como são
chamadas duas depressões de materiais
 vulcânicos próximas uma da outra,
Na estrada que nos leva ao aeroporto.

Mar que vi logo na chegada... 

sábado, 5 de dezembro de 2015

Quito, 03 e 04 de dezembro de 2015.

Grupo do III Foro latino-americano de SPGs
Passei estes dois dias trabalhando. Hoje terminei com minha tarefa por aqui. Já eram quase sete da noite quando terminamos com o III Foro Latino-americano de Sistemas Participativos de Garantia. As despedidas sempre são emocionadas. São incríveis os laços que podem se formar nestes eventos. Em poucos dias desconhecidos se tornam grandes (e velhos) amigos. Pode parecer que é por passarem juntos quatro dias, mas isto não é explicação suficiente. É muito mais por navegarem nos mesmos mares, ainda que em diferentes latitudes. Quando as coordenadas se cruzam, a identificação é imediata.
Logo da C Condem - roubei do
site deles
Ontem o dia foi de trabalho do Fórum, reuniões em grupos e debates. De noite, uma janta no restaurante Martin Pescador. Não é um restaurante qualquer. É da C-CONDEM, sigla para Coordinadora Nacional para la Defensa del Ecosistema Manglar del Ecuador (site: www.ccondem.org.ec). Manglar significa mangue. Pescadores artesanais e coletores dos manguezais se unindo e se organizando para enfrentar a agressão que sofrem seus territórios e seus modos de vida. 
Empresas pesqueiras se adonam de áreas que serviam às suas atividades, com anuência do governo. Vou tentar explicar melhor. Todos os dias homens e principalmente mulheres saem de casa de madrugada para atividades nos manguezais, por exemplo para coletar caranguejos. Trabalho duro. Mas isto não é só trabalho, é modo de vida. Ao longo dos séculos se criou uma forma de viver e conviver com este ecossistema. Desta convivência emergem artesanato, música, culinária, modo de vestir e muito mais. Em outras palavras, cultura. Agora o governo está dando concessão para grandes empresas fecharem estas áreas e criarem camarão. 
Restaurante Martin Pescador - Quito.
Simplesmente estas mulheres já não podem entrar mais para fazer o que sempre fizeram. Ficam sem trabalho, e, com tudo que isto implica em termos culturais, ficam sem chão. Estas mulheres há anos já se organizam para defender seu espaço, atualmente chamado de Território. Porque há muito sofrem pressão das empresas para deixar a área, mas o que o Governo atual vem fazendo é como um golpe final. E justamente o restaurante Martin Pescador é desta organização de segundo grau que reúne dezenas de grupos de mulheres. A ideia segundo nos explicaram é trazer um pouco de Esmeralda, o Estado onde tudo isto acontece, para a capital. E divulga a luta das mulheres pelo direito à seguir com seu modo de vida.
Mas não pensem que todos estes fatos fazem do restaurante um lugar fúnebre. Pelo contrário, a alegria é contagiante! Ouvimos marimba, comemos deliciosos peixes e camarões, cantamos e dançamos! Nos divertimos e já havia passado da meia noite quando lembramos que hoje era dia de trabalho. Bela noite!
Eu e Patrícia Flores, na mesa do Foro público de hoje
Hoje foi intenso. Um fórum público pela manhã com presença do vice- ministro de agricultura e do Secretário Nacional de Desenvolvimento Social, além de outros representantes do governo e da sociedade civil. Dois da nossa comitiva internacional também participaram como palestrantes.
O Foro de hoje, visto da mesa.
Pela tarde outra vez trabalho em sala, elaborando a carta que resume estes dias de Fórum e refletindo sobre o futuro do nosso trabalho.
De noite, de novo, o melhor do dia. Fomos para night... Nem tanto, fomos para uma cervejaria artesanal chamada Beerfest, no La Mariscal, o bairro onde se concentram bares, restaurantes, cafés e discotecas. Além da boa cerveja, estávamos quase todo o grupo de estrangeiros e, a esta altura íntimos, nos divertimos bastante!
Amanhã pretendo descansar porque domingo vou para Galápagos. Sim, resolvi enfrentar o desejo-pós-evento-de-voltar e realizar uma vontade que tenho há muito. De lá conto.
Sou o maior catador de fotos com
mulheres com roupas típicas!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Quito, 02 de dezembro de 2015.


Feira agroecológica, mulheres e grãos
Hoje às sete da manhã já estávamos todos no ônibus em direção a Cayambe. Fica a 70 km de Quito. Em uma boa e linda estrada cortando os Andes. Como eu gosto. A estrada a uns 2800 msnm. Cercada de picos ainda mais altos. Este visual e o ar das montanhas sempre me deram uma agradável sensação de paz.
Quase duas horas depois chegamos à Cayambe e fomos direto à Praça do Mercado, onde todas as quartas feiras mulheres da Red Biovida fazem uma feira agroecológica. Ficamos quase duas horas na feira, tomamos café da manhã, conversamos com as feirantes, passeamos pelas bancas, tiramos fotos e fizemos discursos emocionados de celebração à Agroecologia.
Depois fomos visitar duas fincas. A primeira de Jose Kuijurco, um produtor familiar, que tem um hectare de terra e cultiva 20% dele com hortaliças. Segundo ele sua propriedade está a 3300msnm. Lindo lugar, onde a expressão páramo se aplica com exatidão.
Depois fomos à finca de Dona Ester Villalba. Uma bela propriedade de 2000 m², super diversificada. E ela um encanto de pessoa. Dona Ester nos contou que alguns anos atrás ela tinha um pequeno comércio em casa. 
Esta de verde é a dona Ester!
Como uma pequena mercearia. Disse ela: “quando tomei consciência de quanto estava prejudicando aos meus vizinhos e às crianças da comunidade decidi fechar a venda. Minha família foi contra, me lembrando que eu vivia disto. Eu lhes disse: agora vou me dedicar a plantar. Meus filhos disseram: Pero mami, agricultura és lo mas duro que hay. Mas eu estava decidida, hoje posso dizer que deu certo e estamos todos muito felizes.”
Os visitantes que ouvimos isto fomos impelidos a aplaudir e eu ainda pude lhe dizer que a entendíamos perfeitamente, porque os que ali estávamos, de 12 países diferentes, em algum momento de nossas vidas fizemos coisas parecidas. 
A venda que D. Ester tinha, agora transformada em museu.
Me sinto obrigado a relatar isto aqui. Me fez lembrar que ainda que todos nós saibamos que os rumos de nossas vidas são definidos por nós, parece que às vezes nos esquecemos disto. Além disto, depoimentos assim nos fazem recuperar a fé na humanidade...
O almoço, bem local, foi na própria comunidade onde Dona Ester vive. Pela tarde tivemos um Foro local, na Casa Municipal de Cayambe, com mais de cem pessoas e a presença do Prefeito.
Antes de sairmos o Vulcão Cayambe ainda nos brindou com uma parte de sua graça. Já valeu. Cinco e meia começamos a viagem de volta. Entardecer ainda mais peacefull do que pela manhã. 
Ao fundo, o Cayambe querendo aparecer.
E de noite, para fechar com chave de ouro, nove dos participantes fomos buscar uma cerveja artesanal em “la mariscal”, o bairro boêmio dez Quito que já mencionei por aqui. Agradável, nove pessoas de cinco países, seguimos entre conversas sobre o encontro, especulações sobre a vida e boas risadas.
Belo dia, mais um para a coleção.

Visita ao Sr. Jose Kuijurco

Casa e Igreja de Cayambe.
Linda a casa da Dona Ester!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Quito, 01 de dezembro de 2015.

Bom dia Quito, do local do evento.
Hoje o dia foi intenso. Passamos o dia em trabalhos de grupo e momentos de debate com todos juntos. Como estamos em uma reunião do Foro Latinoamericano de Sistemas Participativos de Garantia, claro que este foi o tema principal. Mas não faltaram menções naturais ao desenvolvimento da Agroecologia nos diferentes países e ainda muita conversa sobre a infindável tentativa de conceituar com precisão as diferenças, se é que existem, entre os termos Agroecologia, Agricultura Orgânica e Agricultura Ecológica. Como vários outros conceitos, uma elaboração feita por um especialista não é tão complexa. Mas elaborá-lo de forma coletiva é uma tarefa draconiana. A principal razão desta dificuldade é que cada pessoa relaciona uma determinada palavra com suas vivências com esta palavra, com seu conhecimento acumulado sobre ela e mesmo com diferentes emoções vividas ao redor da sua expressão. 
Que charmosa a bolsinha do evento!
Parêntesis. Isto que acabo de escrever se tornou muito claro para mim quando comecei a compreender a força dos chamados palavrões quando ditos por uma pessoa local ou por um estrangeiro. Por exemplo, eu posso falar pinga quantas vezes quiser. Não custa nada para mim e não causa nenhuma emoção em quem me ouve. Isto no Brasil, porque em Cuba esta é a maneira mais grosseira de se referir ao órgão sexual masculino. Se no meio de um jantar familiar eu falo esta palavra no Brasil ou em Cuba, verei reações absolutamente distintas. Fechando o parêntesis, isto para mim guarda muita relação com a definição de conceitos que começamos a fazer na reunião de hoje. Repito, as palavras são demarcadas por vivências e conhecimentos anteriores e chegar a uma precisão em um conceito de forma consensuada e coletiva às vezes se torna bem difícil.
E é por estas diferentes vivências com as palavras que as vezes a comunicação pode se tornar uma tarefa árdua, mesmo entre amigos ou casais. Casais? Nossa, confesso que quase esqueci... hoje completei 28 anos de casado. Mais uma vez o trabalho me afastou de casa nesta data, mas tudo bem. Casamos e trabalhamos juntos há quase três décadas... e sabemos que esta mescla é parte do nosso sucesso. Que venham mais 28, para mim está de ótimo tamanho!
Visual do evento. 
Deixando de divagar e voltando ao meu dia, apesar de intenso ele foi agradável e produtivo. Moderar um grupo de mais de quarenta pessoas de doze diferentes países exige concentração e boa disposição. Mas ouvir as diferentes percepções e sobre as diferentes realidades, interagindo com velhos amigos e novos conhecidos é muito gratificante.
Mesmo com uma boa jornada de trabalho, o melhor do dia foi a noite. Como gentileza de boas vindas nos levaram para um jantar organizado por um chef ligado ao Slow Food, o movimento italiano que se espalhou pelo mundo, promove a boa comida local e surgiu como contraposição ao Fast Food. Jantar delicioso, com direito a boa música ao final, com dois jovens equatorianos muito talentosos.
Show, por hoje é isto, amanhã saímos às sete da manhã e passamos o dia no campo, visitando agricultores e participando de um foro local em Cayambe, uma cidade a duas horas de Quito, que fica ao pé de um vulcão do mesmo nome. Vamos viajando por entre a Cordilheira dos Andes... Parece chique né? E é. Amanhã conto.
mandaram super bem, musicas de
diferentes países latinos

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Quito, 30 de novembro de 2015.



Centro Histórico de Quito -
Plaza de la Independéncia
, do século XV
Hoje foi um dia tranqüilo. Pela manhã tive tempo de ir com dois amigos brasileiros ao Centro Histórico de Quito. Um casario colonial respeitável e bem conservado. Segunda de manhã, estava cheio, aquele vai e vem característico do centro de grandes cidades. Caminhamos por pouco mais de duas horas, conversando, tirando fotos, entrando em Igrejas – Quito é mais uma destas cidades conhecidas por ter uma Igreja para cada dia do ano. Uma das que entramos foi a de São Francisco, suntuosa, acho até que ele vai ter que voltar, parece que seu exemplo de simplicidade não foi bem entendido. 
Praça, Monastério e Igreja de São Francisco
Esta Igreja é um dos pontos mais famosos de Quito e fica em frente à praça do mesmo nome. Ouvi que ela foi construída sobre um templo Inca, e no interior da igreja podem ser vistos símbolos Incas, como o sol. Está claro? Constroem a Igreja em um lugar sagrado e colocam uma iconografia conhecida pelo povo local mesclada com a Cristã. Maneira inteligente de vender o seu peixe, né? Em todo continente foram usadas este tipo de artimanha para converter povos locais ao Catolicismo. Bom se esta fosse a parte ruim do que foi feito com os indígenas nos últimos quinhentos anos estava até muito bom. 
Agradável Café, Centro Histórico de Quito
Ainda tivemos tempo para um bom expresso, em uma cafeteria muito simpática e que torra seu próprio café ali mesmo. O café equatoriano tem boa fama e este de hoje não decepcionou.
À tarde passei no próprio local do evento, uma espécie de Casa de Retiros, bem localizada, simples e cômoda. Entre pequenas reuniões acertando detalhes do evento que começa amanhã, recebendo participantes de outros países, participando de parte do Encontro Nacional de Sistemas Participativos de Garantia e preparando o que tenho que falar nesta semana.
Hoje o tempo estava a maior parte do dia nublado, e não pude ver  o Cotopaxi, o vulcão que cuida desta parte do país. Espero que esta semana ele apareça para nos cumprimentar. Está inativo há décadas, mas acharia bem legal ver o Cotopaxi  soltando fumaça, só para nos deixar como um bom escoteiro, sempre alerta! 
De noite jantamos juntos, cerca de 25 pessoas de 11 diferentes países. Alguns que nos vemos há décadas, outros que conheci hoje. Todos na mesma onda. Boa prosa, aproveitamos para adiantar alguns assuntos de amanhã e tomar uma garrafa de tequila como boas vindas, presente de um velho conhecido mexicano. Agora são dez da noite, terminei de escrever meu breve relato, hora de dormir para amanhã estar inteiro. Fui!
Casa no Centro histórico de Quito.

À venda em uma botica - igualdade de gênero,
tem para todo mundo!