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sábado, 23 de junho de 2012

Rio+20, 22 de junho de 2012


Vendo a Terra do Céu...
Hoje, último dia da Rio+20, o principal tema foi o documento da Conferência, para a maioria pouco ambicioso. De todos os lados surgiam protestos em relação a ele. A Cúpula dos Povos fez um documento criticando o documento oficial e entregou em mãos ao Secretário Geral da ONU. Para boa parte da sociedade civil, a Rio+20 termina sem novidades no cenário geral e as soluções em relação ao meio-ambiente, que alguns julgamos tão urgentes, ficarão para outro momento. Existia uma grande expectativa sobre os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, já conhecidos pela sigla ODS. Sua definição ficou para 2013, e implantação para 2015. Tudo bem, não temos pressa mesmo!
Passei o dia entre uma e outra sessão na Cúpula dos Povos, e ainda fiz questão de voltar para visitar a Exposição de fotografias “A Terra vista do céu”. Levei Daniel, meu filho de nove anos, para que ele visse um pouco da Rio+20. Inevitável ficar pensando sobre a relação com o documento assinado pelos países participantes e o mundo que o espera. 
Não sei se por meu filho, por convicção, ou por um necessário otimismo, tenho dificuldade em aceitar o apelido de Rio-20 para o que aconteceu aqui nesta semana. Preferia ver mais avanços, muito mais, mas reconheço que um documento que é assinado por quase 200 países tem que ser enxuto. As diferenças sociais, ambientais, culturais, econômicas são simplesmente enormes. E também me alenta o interesse que o tema desperta na população, o que definitivamente não era o caso em 92.   
Daniel na Arena da Cúpula dos Povos
Mas sim, também acho que o documento deixou a desejar. Acho até que sua anorexia de certa forma é reflexo da anorexia da própria Conferência. Quando soubemos que a Rio+20 teve sua data postergada em 15 dias para não coincidir com o aniversário de 60 anos de coroação da Rainha Elizabeth talvez já pudéssemos ter previsto isto. Se não era um prenúncio, ao menos nos dava uma noção das prioridades dos Chefes de Estado e da conjuntura da geopolítica nos tempos atuais. E a Conferência acabou não acontecendo ao redor do dia mundial do meio-ambiente, 05 de junho, como deveria.
A falta de uma liderança como Secretário Geral da Conferência, com a força que Maurice Strong tinha na Eco-92, era outro sinal que não chegaríamos onde pretendido pela maioria dos que acompanham o tema mais de perto. E ainda a ausência de muitos Chefes de Estado, alguns muito importantes como dos EUA, Alemanha ou Inglaterra também é um anuncio de que as prioridades do momento são outras, e obviamente passam pela solução da atual crise econômica. Por parte da Sociedade Civil, senti a ausência de alguns pesos pesados, do estilo Sting ou Bono. Quero dizer, algumas personalidades que arrastam multidões de jornalistas e são ouvidos mesmo por aqueles que julgam que o tema não lhes interessa tanto.
Movimentação e protestos na cúpula
Enfim, foi apenas mais uma Conferência. Achei muito interessante ter vindo, ainda que não seja ela que vai mudar nossas vidas. Nem poderia, afinal, de certa forma ela não começou e terminou nesta semana. Apesar dos seus 500 eventos oficiais e mais de 3000 paralelos, a Rio+20 continua, não termina aqui. Seu tema segue nas mesas de discussão e no dia a dia das pessoas. Pode ser que lá na frente até sejamos obrigados a reconhecer que ela sim trouxe avanços importantes, redirecionando nossa forma de se relacionar com os outros e com o planeta. Não parece, mas pode ser.
       E o Rio de Janeiro continua lindo.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Rio+20, 21 de junho de 2012



Protesto indígena na Rio+20
Hoje passei o dia na Conferencia Oficial. Difícil chegar pelo rigor da segurança, justificada pela concentração de Chefes de Estado e representantes de Governo.
Dentro do Centro de Convenções acontecem algumas coisas diferentes, todas ao mesmo tempo. Existem as pequenas seções, com temas mais específicos, onde estão os interessados em determinado assunto e alguns políticos que sejam atraídos por ele. Por exemplo, passei por uma sobre Energia Nuclear e Sustentabilidade. Como energia nuclear não emite Carbono, o vilão do momento, seus defensores entendem que ela faz jus ao adjetivo de sustentável. Esta tese tem sido inclusive avalizada por James Lovelock, um dos pais da Teoria de Gaia, tão cara aos ambientalistas.
Conferencia do Banco Mundial,
dentro da Rio+20
Também acontecem sessões maiores, como uma que vi sobre Crescimento Verde Inclusivo, promovida pelo Banco Mundial, com mais presença de público e autoridades. Quanto mais importante as autoridades presentes, mais concorrência de publico e imprensa.
Ocorrem ainda pequenas manifestações, bem educadas, claro. Um grupo de indígenas, representando diferentes etnias de várias partes do mundo fazia seu discurso por defesa de seus Territórios, ajudados por intérpretes voluntários. Vi ainda Severn Suzuki, a criança  que fez um forte discurso de cobrança por mais ação das autoridades na Eco 92, andando pelos corredores, com sua filha e sendo assediada para fotos e conversas. Hoje, passados 20 anos, ela é uma liderança ambientalista. 
Severn Suzuki
Mas o ponto alto é o Pavilhão cinco, local da reunião de Cúpula, onde todos os países tem voz, o que se torna uma interminável sessão de discursos, ouvidos mais ou menos atentamente em função do status da nação que se pronuncia. Mas neste minha credencial não permitia entrar.
Sem poder assistir ao vivo os representantes dos países, optei por ir para a Praça de Alimentação, onde existe um telão que nos permite ver ao vivo o que se passa lá dentro. Bem, verdade que também poderia fazer isto de casa, através do site www.webtv.un.org, mas aí perderia muito da atmosfera. Legal estar aqui, vendo esta multidão de pessoas, com suas diferentes cores, roupas e línguas. Sentei, tomei alguns cafés para espantar o sono e fiquei ouvindo no telão os representantes oficiais, quase sempre Ministros. Dentre outros países, ouvi Bulgária, Cabo Verde, Ilhas Maurício, Albânia, Paquistão, Finlândia, Estônia, Eslovénia, Honduras. Discursos parecidos, preparados por assessores que conhecem o tema. Não serão eles, estes discursos, que definirão o futuro do planeta. Não ouvi, mas sei que alguns como Raul Castro ou Evo Morales foram mais críticos em relação à ausência dos principais lideres dos países ricos na conferência e sobre a crescente mercantilização da vida e da natureza. Novidades, nenhuma. Nem era de se esperar.
Pequena exposição sobre
reciclagem, na Rio+20
Depois de duas horas sentado e ouvindo, me sentia como em um caleidoscópio sonoro, onde giravam com diferentes nuances de cores, palavras e termos como planeta, sustentabilidade, futuro, segurança alimentar, meio ambiente, mudanças climáticas, desenvolvimento, inclusão. E resiliência, a palavra da moda. Sabemos que repetir estes termos não será suficiente para operar as mudanças que suas definições impõem. A esperança é que ao menos seja  o começo.
Ainda passei rapidamente pelo Parque dos Atletas outra vez, onde havia ido no domingo e que é como um parque de exposições, com alguns seminários e  vários stands de estados brasileiros e diferentes países. Todos vendendo sua imagem de sustentável.
        No retorno passamos pela orla. São Conrado, Leblon, Ipanema, Copacabana, Botafogo, Gloria, Flamengo. Definitivamente, o Rio de Janeiro continua lindo. E ainda passamos pela efervescente Lapa, encontramos um grupo de amigos e ficamos tomando um chopp e conjecturando sobre o futuro do planeta. Antes que o mundo acabe!
Telão na Praça de Alimentação da Rio+20


Rio+20, 20 de junho de 2012


Ana e o barco do Greenpeace, no Píer Mauá
O dia começou com a leitura do jornal e a má noticia do documento de consenso ao qual se chegou para ser assinado pelos chefes de Estado aqui na Rio+20. E pior que bradado pela diplomacia Brasileira como uma conquista, já que nunca antes uma Conferencia de Cúpula havia começado com um documento já terminado. A estratégia para se chegar ao consenso foi suprimir ou adiar a decisão sobre os pontos polêmicos. Objetivos concretos para o Desenvolvimento Sustentável (sigla ODS), mecanismos para chegar nestes objetivos e sistema de Governança que promova e monitore esta busca, por exemplo, ficarão para próximos encontros, com expectativa que em 2015 sejam anunciados. Lamentável.
Hoje passei por diferentes mundos dos tantos que se encontram aqui na Rio+20. Comecei pelo Píer Mauá, na zona portuária da cidade, onde existem atividades oficiais relativas à Rio+20. Seminários e exposições. Mais um bom lugar para perceber os matizes que considero existem entre as diferentes empresas que incorporam a dimensão ambiental em seu processo de produção. Não dá para dividir apenas entre as de DNA Ecosocial e o Grenwashing. Existe uma estrada de diferentes gradações entre uma e outra, e ter indicadores claros que coloquem cada uma em sua justa posição é uma tarefa ainda não cumprida. Enfim, gosto deste tema, eu sei que tenho repetido ele nos meus relatos, mas de fato é o grande tema da Conferência, a tal da Economia Verde, definida, diga-se de passagem, de forma bastante vaga no documento final.
Mapa enorme do Brasil, no chão, sensacional
Depois fui ao Museu de Arte Moderna, o MAM, no Aterro do Flamengo, onde está ocorrendo uma simpática feira de produtos da Sociobiodiversidade. Fiz minhas comprinhas, encontrei alguns amigos, olhei ainda um pouco da Cúpula no Aterro e partimos para a Marcha dos Povos. Como outras Marchas, com seus potentes carros de som, umas 30 mil pessoas, fantasiadas, pintadas, carregando cartazes, juntando suas vozes na expectativa de serem ouvidas ou apenas caminhando com seus grupos. Pena que não tive tempo para ficar muito, porque deveria ir para um jantar do outro lado da cidade.
          O jantar era anunciado como chique, tinha nome e programação. Chamado Sabor de Mudança, era anunciado como “Um jantar sustentável na Rio+20: transformando agricultura e sistema alimentar para fazer nosso mundo mais sustentável”. 
Jantar Sabor de Mudança
Chegamos e fomos recebidos com alguns quitutes e boa bebida. Sentamos para jantar, cerca de 150 convidados, e entre um e outro prato ou copo de um bom vinho biodinâmico, ouvimos alguns breves discursos, como do agricultor que produziu o shitaque que comemos, do Suíço Presidente da Fundação Biovision, que foram os promotores do jantar ou as Ministras da Agricultura da Libéria e da Zâmbia. Fomos alguns colegas de trabalho e estava bom. Meio chato, muito formal, mas foi legal ter ido. Ótima estava a comida, da Chef Domencia Catelli, californiana, conhecida por valorizar o produto orgânico e local. Li na net que ela cozinhou para Jonh Travolta e Oprah. Agora para mim também.
            Era longe, quase fora do Rio, em Vargem Pequena, cerca de uma hora e meia de casa. Depois de comer e beber, me pareceu uma eternidade. Melhor ir dormir, amanhã tem mais.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio+20, 19 de junho de 2012


No centro, Jigmi Y. Thinley, Primeiro Ministro do Butão
Gostei muito da oportunidade que tive hoje. Como era esperado, o Evento de Aprendizagem do qual eu participei pela manhã teve como palestrante de abertura o Primeiro Ministro do Butão. Foi na Rio+20, quero dizer na Conferencia Oficial, no pavilhão destinado a eventos da Sociedade Civil. O tema central foi Agricultura Orgânica, e o seminário constou de palestras com exemplos exitosos, de Honduras, Peru, Holanda, Brasil e Etiópia, e breves reflexões sobre como estes exemplos podem se multiplicar. No final uma chuva de ideias com algumas autoridades convidadas, sobre que tipo de estratégias e políticas públicas podem colaborar na disseminação destas experiências. Tudo organizado por IFOAM, a Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica.
Visual do evento
Achei muito interessante ver o Primeiro-Ministro falando da busca do Butão pelo aumento da Felicidade Interna Bruta. Quem não ouviu falar, procura se informar, faz 30 anos que o Quarto Rei do Butão (eles são uma monarquia desde o início do século XX) disse que mais importante que a produção econômica é a felicidade das pessoas, e que é isto que seu reinado queria buscar. Hoje o Ministro expressou como eles perseguem e quais os quatro pilares desta busca: i) desenvolvimento socioeconômico equitativo e sustentável; ii) cuidado com o mundo natural; iii) fortalecimento da cultura ancestral e iv) boa governança.  Falou ainda de como a Agricultura Orgânica pode e deve contribuir com este desiderato. Ele pretende e assumiu o compromisso que o Butão tenha sua produção toda convertida para a Agricultura Orgânica. Cool!
Depois cruzei a cidade e fui para um evento chamado Green Rio, também sobre Agricultura Orgânica, com palestras e uma pequena feira, no auditório da Bolsa de Valores, no centro do Rio. Sacaram? Da Felicidade Interna Bruta para o business as usual. Fui principalmente para ver alguns amigos que estavam lá, mas gostei de ouvir uma discussão entre representantes do Governo Federal, Estadual e iniciativa privada, sobre a Copa Orgânica. É um projeto em andamento e prevê mecanismos de como o setor orgânico poderá estar fortemente presente como fornecedor de produtos e serviços durante a Copa do Mundo de 2014. Não é minha onda, mas não deixa de ser interessante a iniciativa. 
Ana Meirelles, no stand do Pão de Açúcar
E ainda fiquei olhando atentamente e degustando alguns quitutes em um stand do Grupo Pão de Açúcar, só com produtos orgânicos, uma boa parte deles de marca própria. Vendo, comendo e pensando. O Grupo Pão de açúcar é o maior grupo de varejo de alimentos do país. Que significa este stand? Desenvolvimento Sustentável? Tempo de mudança? Economia Verde? Greenwhashing? Tenho minhas percepções, mas certeza mesmo só o tempo nos dará.
O dia chegou ao seu fim, e já que estávamos por ali, decidimos terminar a jornada com um chopinho no maravilhoso centro do Rio de Janeiro, porque ninguém é de ferro. Legal, um grupo pequeno, com chilenos, brasileiros e costarriquenhos. Em um belo Bar/restaurante de comida árabe, com a musica da rua invadindo de leve o ambiente. Discutindo gênero, sustentabilidade e contando causos. A Rio+20 é assim. 

terça-feira, 19 de junho de 2012

Rio+20, 18 de junho de 2012


Entrada da Rio + 20
Hoje passei a maior parte do tempo no Dia do Desenvolvimento Rural e da Agricultura. Saí um pouco para participar de uma mesa sobre Agricultura Orgânica organizada pelo Ministério da Agricultura. Os dois em lugares que eu ainda não havia ido. Como disse ontem, são dezenas de mesas, seminários, oficinas e etc, ocorrendo em diferentes lugares da cidade. Independente de oficiais ou não, podemos considerar todos como parte desta constelação de eventos de cunho sócio-ambiental que é a Rio+20.
De manha ouvi representantes do Governo Brasileiro. Infelizmente, a arrogância deu o tom. Em relação à questão ambiental, o Brasil está fazendo seu dever de casa, disse a Ministra do Meio-ambiente. Discordo, mas pior é referendar esta afirmação, diante de uma plateia internacional, comparando com países Africanos que segundo ela tem apenas 3% de sua cobertura florestal original. No mínimo deselegante.
4th Dia do Desenvolvimento
Rural e da Agricultura
De resto, sem maiores novidades. A agricultura deve liderar a Economia Verde, foi algo repetido de diferentes formas. Economia Verde é o tema. Acho que o termo equivale ao Desenvolvimento Sustentável da Eco 92. Há 20 anos Desenvolvimento Sustentável era um conceito pouco claro, provocou controvérsias e gerou reclamações por parte daqueles que temiam que estivesse sendo proposto ou no mínimo seria apropriado pelas grandes corporações. Parece que a crítica era procedente, passados 20 anos, a economia mundial cresceu 67%, mas ninguém se atreve a dizer que o adjetivo sustentável pode ser aplicado ao modelo usado, ainda que o termo seja usado de forma generalizada.
Enfim, não gostei tanto do evento, mas gostei da escolha de ter ido lá. Bom ouvir Ministros, a Presidenta do Banco Mundial e outras autoridades de organismos multilaterais. Mas o bom mesmo deste evento foi o coquetel no final do dia. Caipirinha, vinhos, cerveja, canapés variados, caldinho de frutos do mar. Delicioso. Amanhã participo de uma mesa na qual a abertura será feita pelo Presidente do Butão, aquele pequeno país incrustado no Himalaia e que possui um Índice de Felicidade Bruta. Estarei lá cedo, a segurança já avisou que não permitirá atrasos.
Com Mário Ahumada e André Gonçalves. 

domingo, 17 de junho de 2012

Rio+20, 17 de junho de 2012


Ana  Meirelles e seus amigos vegans orgânicos
         Como previsto, hoje de manhã fui direto para a Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Está dividida em duas áreas. Uma no centro de convenções, onde se concentram os debates, apenas para delegados dos países e de organizações da sociedade civil. A outra área, em frente ao centro de convenções, permite visitantes, e é uma espécie de exposição de experiências ou ideias sobre o tema da Conferencia. Stands grandes, bem montados, uma profusão de materiais para distribuição como livros, documentos, cds, e toda sorte de eco-brindes, como pendrives de madeira ou bolsas de pano. Adoro brindes.
Carro elétrico, dos Correios
     Fiquei com a impressão que esta exposição pode, e deve, ser lida como uma grande vitrine do que aqui está se chamando de Economia Verde, tema que é seguramente o mais controvertido e debatido na conferência. Os que criticam lembram uma frase de Einstein e dizem que não há motivos para crer que a mesma lógica que criou o problema, a do liberalismo econômico e sua apologia ao mercado livre, possa agora gerar as soluções. Os que defendem dizem que não  há outro caminho conhecido e concentram seu discurso a favor da economia verde na geração de novas tecnologias, limpas e/ou mais eficientes no uso de energias e materiais e na valoração de ativos e serviços ambientais, como Biodiversidade ou sequestro de Carbono.
Ônibus híbrido, elétrico e biodiesel,
Marcopolo. Exemplo de
Economia Verde.
            Claro, as empresas já se fazem presentes, incorporando de maneira mais ou menos séria a dimensão ambiental ao seu discurso. Nesta Feira que vi hoje, parte oficial da Rio+20, haviam stands de muitos Estados Brasileiros, de vários países do mundo, e de muitas empresas. Ajinomoto, Volkswagen, Coca-cola, Braskem ou a Empresa Brasileira de Correios são alguns exemplos. A preocupação destas empresas é séria? Difícil dizer, mas já que a citamos, olhem esta propaganda da VW e julguem por vocês mesmos: www.youtube.com/watch?v=6ORHynh9mjw&feature=player_embedded
Ajinomoto? Até tu, Brutus?
      Talvez se devesse exigir mais seriedade no uso de adjetivos como Sustentável ou Ecológico. É o que defende a Gro Brutland, norueguesa famosa por liderar a Comissão que elaborou o relatório que consagrou o termo Desenvolvimento Sustentável. Ela tem falado por aqui que deveriam ser criados indicadores que avalizassem o uso destes termos. Não resolveria nem superaria a discussão que descrevi acima, mas ao menos faria as empresas serem mais sérias ao vincular seus produtos ou serviços a valores ambientais.
            Depois fomos a um evento que estava rolando na PUC do Rio. Parte das atividades paralelas. É assim, são dezenas de atividades espalhadas pela cidade, todas dentro do marco geral da Rio+20, algumas da programação oficial, outras tantas não. 
Foto tirada da Cúpula dos Povos, Aterro do Flamengo.
Moldura perfeita para falar sobre  Meio-ambiente.
E ainda tivemos tempo para mais uma passada na Cúpula dos Povos, hoje lotada de pessoas locais, que aproveitavam a tarde de domingo ensolarada e com temperatura agradável para passear, ver algumas das muitas atividades culturais, ouvir um ou outro discurso. E ainda tinham tempo para fazer umas comprinhas básicas de artesanato indígena, bio-jóias, livros, DVDs. Calma gente, não há contradição aqui, isto pode, se chama consumo eco-sócio-cultural...
Amanhã vou ao Dia da Agricultura e do Desenvolvimento Rural. É um evento grande, com uma série de mesas de debates e oficinas. Tenho quatro minutos para falar em uma mesa sobre Sistemas Participativos de Garantia. Disse a quem me convidou que era pouco e ele me respondeu que era suficiente se eu fosse direto ao ponto... estou há 4 horas aqui, em frente ao computador, procurando este ponto. Não achei, vou dormir. 

sábado, 16 de junho de 2012

Rio + 20, 16 de junho de 2012


Cúpula dos Povos
A ideia deste blog é escrever quando eu estou andando pelo mundo, mas já que o mundo todo veio para cá, faço desta semana uma primeira exceção. Estou aqui para participar da Rio+20. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. No mesmo cenário da Eco 92, o Rio de Janeiro e sua persistente beleza, o mundo se reúne outra vez para buscar soluções sobre a alardeada crise ambiental. 
O tom da conferência é o mesmo de 20 anos atrás, como aliar crescimento econômico, inclusão social e preservação ambiental. O mundo não é mais o mesmo. Hoje não vivemos sob a euforia econômica e as certezas políticas dos inícios dos anos 90, quando se chegou a supor que a história havia terminado, com o neoliberalismo e a democracia ocidental sendo o fim da evolução social. E as diferenças não param aí. Somos quase dois bilhões de pessoas a mais, nossos mares se acidificaram, tem mais lixo e menos peixe, o ar mais carbono, as florestas tropicais diminuíram quase uma Argentina neste período, perdendo espaço para a soja, a cana ou o gado. Enfim, não faltam razões para o tema em debate por aqui, emoldurado pela difícil conjuntura de uma crise econômica mundial.
Não vou me alongar nestes dados. Existem dezenas de site sobre esta Conferência. Por exemplo, posso recomendar www.vitaecivilis.org. Ali tem informações para um mês de leitura.
Sobre o dia de hoje, passamos, eu e Ana, todo o tempo na Cúpula dos Povos, nome do conjunto de atividades paralelas organizadas pela Sociedade Civil, no Aterro do Flamengo. Logo de cara encontrei um grupo de Hare Krishnas, entoando seu mantra e envolvendo algumas pessoas na sua dança ritmada, enquanto na tenda ao lado uma liderança Kaiapó discursava pela manutenção de sua cultura e seu povo. Circulei e vi um sem número de oficinas, palestras, debates e eventos culturais, (des)organizados de forma autônoma por centenas de entidades e ativistas ambientais. O tom é de denuncia ao modelo de desenvolvimento que gera tantos problemas sócio ambientais e para o qual se discute na Rio+20 soluções, reais ou supostas.
Oficina na Cupula dos Povos
Foi legal o dia, sempre bom ver amigos e desconhecidos, tanta gente, de tantos lugares, que se co-movem com o mesmo tema que me move. Afinal, a esperança que temos de diminuir os riscos ambientais gerados pela nossa forma de viver precisa ser alimentada.
Mas esperava mais. Espero mais. Mais gente, mais informações, mais soluções, mais novidades.
       O ponto alto do dia foi ver, quando passava pela Cinelância em direção ao Aterro, uma das exposições fotográficas mais famosas do mundo, chamada a terra vista de cima. Simplesmente incrível. Um verdadeiro presente tê-la encontrada por acaso, enquanto caminhava. Considerei um prenúncio da boa semana que espero terei por aqui. As fotos estão todas no site www.terravistadoceu.com, e vale muito a pena ver.
Amanhã vou à conferência oficial, a Rio+20 propriamente dita. É no Rio Centro, um centro de convenções que fica na afastada Barra da Tijuca, e com o trânsito ruim pode levar uma eternidade se deslocar para lá. Mas vou assim mesmo, quero sentir o clima das negociações e discussões oficiais. Veremos. 
foto da exposição "a terra vista de cima"

sábado, 2 de junho de 2012

Paraguay, 01 a 03 de junho de 2012


Com amigos, no hotel Oriente, em Curuguaty
E aqui estou de novo, em mais uma viagem relâmpago, de puro trabalho. E curioso que por razões diferentes voltei à cidade de Curuguaty, interior do Paraguai, onde já estive no início de março. Naquela ocasião foi para trabalhar na IALA – Guarany, e agora vim para um curso, convidado por CEDECO, uma ONG da Costa Rica, para trabalhar com Cooperativas do interior do Paraguai e financiado por uma organização Sueca, chamada Centro Cooperativo. Coisas da globalização!
O curso pretende lançar as bases para um projeto que será proposto à Itaipu Paraguai, onde Cooperativas de Agricultores familiares, muitos deles assentados de reforma agrária, buscarão terem reconhecidos os serviços que prestam ao meio ambiente. Este é um tema da moda, buscar mecanismos onde o cuidado que os agricultores em geral e os familiares em particular têm com o meio ambiente seja valorizado. E a Agricultura Ecológica vem junto com este tema, pois óbvio que sua prática eleva o patamar deste cuidado com o meio-ambiente, já presente em vários aspectos de uma unidade familiar de produção agrícola. Por isto estou aqui, falando de Agricultura Ecológica, claro. Os que me conhecem sabem, sou monotemático.
Sobre a cidade, nada a acrescentar, mesmo porque cheguei ontem às sete da noite, vindo por Foz do Iguaçu. São mais de três horas de viagem, e como havia saído de casa às oito da manhã, fui direto para o quarto, preparar minha prosa e dormir. Hoje fiquei o dia todo dando o curso e jantei no próprio hotel. Assim, nem vi a cidade. Menos mal que tive aqui pouco tempo atrás e, como havia comentado, ela não tem tantos atrativos.
Apesar de meteórico, valeu. Fiz meu trabalho, comi mandioca frita, tomei tererê e ouvi o povo falando guarani. Gosto do Paraguai e de sua gente, me sinto totalmente em casa por aqui. De passagem ainda encontrei um velho amigo que agora é Vice-Ministro da Agricultura do Paraguai. Vamos ver onde vai dar, existe muita gente comprometida com a Agroecologia chegando a instancias de poder em vários países latino-americanos. Sinal de mudança no ar? Não sei, veremos, torço por isto. 
Amanhã já regresso. Saio às cinco da manhã, vou por Foz do Iguaçu, depois Porto Alegre, estrada de novo e finalmente, casa, descansar um pouco. Esta semana foi forte, passei cinco dias em Florianópolis ajudando a organizar o Encontro Ampliado da Rede Ecovida de Agroecologia, onde reunimos mais de 1000 pessoas, cheguei em casa sete da noite de quarta e quinta cedinho vim para cá. Pauleira. Mas não me queixo, tenho o privilégio de só fazer o que gosto.
Vou dormir, amanhã acordo cedinho. Post sem graça, né? Como diria Ortega y Gasset, “yo soy yo y mis circunstancias”. As circunstâncias aqui não favoreciam a escrita, mas resolvi fazer para manter o acordo que fiz comigo, escrever em todas as viagens internacionais. Espero que a próxima seja mais inspiradora!