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domingo, 22 de outubro de 2017

Peru e Equador, Agricultura Ecológica e Macacos, outubro de 2017

Etnia Nomatsiguenga, com suas Kushmas com variações
de cor laranja. Foto em Pangoa, Peru.
Aqui em uma cafeteria em Quito, na concorrida e boêmia Praça Foch, pensando nas minhas últimas duas semanas de trabalho entre o Peru e o Equador. Foram oito diferentes cidades. Médias, pequenas, capitais. Além das milhas voadas foram dois mil km rodados entre ecossistemas de Serra Andina e Amazônia, tanto em um quanto em outro país. Todas as minhas atividades giraram em torno da produção e consumo de produtos ecológicos. Em muitos momentos em contato com a população Campesina ou Indígena. Indescritível. Repasso o filme na minha cabeça e me emociono. Mais uma oportunidade de ouro que meu trabalho me deu. Sou grato por isto.
Com as meninas que constroem a
Agroecologia no Peru. Foto em Huancayo.
Desde que saí da Universidade, em julho de 1987, só trabalhei com este assunto. Cerca de trinta anos. O crescimento neste período foi significativo. Vejo isto no meu cotidiano, nos comentários da imprensa, nas redes sociais, nas feiras que frequento, nos convites que recebo para falar do tema, que surgem de diferentes lugares, pessoas e setores. Os dados também demonstram este crescimento. O mercado era inexistente. O primeiro número que lembro surgiu em 1994 e falava de um mercado mundial de quatro bilhões de dólares. Hoje está na casa dos noventa bilhões.
Peru agroecológico e biodiverso!
Uma viagem como esta que acabo de fazer reforça o que digo há anos: não existe um rincão do continente latino-americano onde não esteja sendo desenvolvido um trabalho com Agricultura Ecológica. Pessoas valorosas se esforçando por nadar contra a corrente. Qual a corrente? A imposta pela manipulação das grandes empresas. Um exemplo: neste ano a Bayer comprou a Monsanto por 66 bilhões de dólares. Este gigantesco poder financeiro manipula tudo para aumentar suas vendas. Gera o que chamam de informação científica, dita tendências e convida o incauto a ser moderno, consumindo seus produtos.
Mas, como eu dizia, hoje são milhares de pessoas e organizações se esforçando para desenhar outra forma de produzir e consumir, em bases eco-sociais. Nos últimos quinze dias tive mais uma prova disto.
Povo que constrói a Agroecologia em
Cuenca, Equador
Quando comecei a trabalhar com este assunto guardava uma convicção: à medida que um agricultor começasse a trabalhar pelo viés da agricultura ecológica em um determinado local, o vizinho veria, e outro, e mais outro e em pouco tempo, numa espécie de crescimento em progressão  geométrica, todos estariam fazendo como ele. Afinal, porque não? Se produzo bem e mais barato sem o uso de veneno, porque usá-lo? Da mesma forma pensava sobre quem consome. À medida que estas informações fossem sendo repassadas, mais e mais consumidores procurariam os alimentos produzidos sob esta lógica. Afinal, quem quer comer veneno?
Mas não é assim... A produção e consumo de produtos ecológicos cresce em todo lado, mas os mesmos números que atestam este crescimento demonstram nossa marginalidade. Oficialmente a Agricultura Ecológica é praticada em mais ou menos 1% da área cultivada no mundo. Não vou explicar aqui que este número é subdimensionado, mas de todos modos, multiplicá-lo por dois ou três não nos retiraria da marginalidade.
IV Jornadas Agroecológicas em Quito
Não sei responder porque este crescimento não é exponencial. O poder das empresas que mencionei é parte mas não toda a resposta. Os países comunistas, que viveram anos relativamente à margem deste poder, sempre se valeram do uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos em altas doses na sua forma de fazer agricultura.
Minha esperança é a teoria do centésimo macaco. Já ouviram?
Segundo eu sei, mas não tenho certeza, é uma espécie de lenda urbana. Uns cientistas estudando o comportamento de macacos em uma ilha sempre jogavam batatas doces para estes macacos, dos seus barcos sobre a areia. Desta forma os poderiam observar mais claramente. Um dia, a uma fêmea (sempre as mulheres...), chamada Imo, lhe ocorreu lavar as batatas antes de comer. Outros a seguiram, possivelmente porque a batava ficava mais apetitosa. Mas nem todos macacos da ilha a copiaram. 

Evento em Pangoa sobre
Agricultura Ecológica e
Certificação Participativa
Quando o centésimo macaco a imitou, os cientistas notaram que, em uma ilha próxima, sem que houvesse qualquer contato entre uma e outra ilha, alguns macacos começaram a lavar as batatas. Ou seja, mesmo sem que o exemplo se fizesse visível, as mudanças se multiplicaram quando um determinado número de macacos começou a agir do jeito novo.
Nas sociedades humanas existiria um comportamento parecido?
Tem um biólogo inglês, Rupert Sheldrake, que propõe a hipótese dos campos mórficos. Eu nunca li seu livro e nem vou tentar explicar sua teoria aqui, mas é possível facilmente achar estas informações. O fato é que Sheldrake se propõe a explicar uma mudança social a partir de atitudes em direção à mudança de um determinado conjunto de indivíduos. 
Reunião em Quito, entre acadêmicos e lideranças
de Movimentos de pescadores artesanais
indígenas e campesinos

Vou ter que ler este livro para entender melhor, mas no meu caso se trata de uma hipótese alentadora. Me anima e conheço muitas Imo que, com seus gestos, já começaram a desencadear a mudança na direção de um circuito mais bacana de produção e consumo de alimentos. Mais generoso e menos envenenado.
Concluo, confessando algo: Sempre que provoco ou estimulo alguém a produzir e comer sem veneno, o que tem mutas vantagens e pouca ou nenhuma contraindicação, fico me perguntando: será esta pessoa o centésimo macaco?

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