Pesquisar este blog

sábado, 20 de julho de 2019

Colônia, 17 a 21 de julho de 2019.


Catedral de Colônia - o ponto turístico mais visitado da Alemanha.
Dentro dela estariam as ossadas dos três Reis Magos. 
Hoje é sábado e estou em Colônia, Alemanha, desde quarta-feira. Vim direto de São Tomé, passando por Lisboa. Sair de um país pequeno, do continente africano, financeiramente pobre, e vir para um dos locais mais ricos do planeta é uma oportunidade única para entender algo do nosso inexplicável mundo.
Querem saber o que entendi? Isso, que ele é inexplicável.
Vista do Neumakt
O que me traz à Colônia é um convite diferente dos que estou acostumado a receber, quase insólito. A Fundação C&A, essa mesma, das lojas de roupas, organizou um processo com algumas pessoas que ela identificou que poderiam colaborar para prever algo sobre o futuro da indústria da moda. Pessoas de todos os continentes, grupo pequeno, pouco mais do que vinte. Dos que me leem, aliás cada vez em número menor, meus filhos já me explicaram que blog é um meio arcaico de se comunicar, não sei quem já refletiu sobre a loucura do mundo da moda. Porque compro uma roupa chique em uma loja cara em Milão e encontro, quase discretamente, uma etiqueta Made in Indía? Como uma roupa chega da China na minha pequena cidade e é vendida em uma loja de “tudo por vinte reais”? Quais os custos de uma transação como essa? Qual o impacto sobre o meio ambiente, quanto ganhou um trabalhador dessa cadeia de produção? 
Galera discutindo sobre a industria da moda!
Essas são as duas perguntas fundamentais dessa reunião que participei. Como a indústria da moda poderá responder a esses dois problemas: pobreza e sustentabilidade. Ao menos garantir que seus processos tenham impacto positivo sobre essas duas questões. Impacto é uma dessas palavrinhas da moda. Ouvi aqui que os investidores, de qualquer setor, não se preocupam mais apenas com análises de riscos e retornos. Também querem medir impactos positivos das ações derivadas do seu investimento. Imagino que, se não todos, ao menos alguns deles. Na reunião ouvi algumas das ideias que esses tais especialistas, eu incluído (sic), levantaram. Economia circular é outra palavra da moda. Deveriam as grandes marcas, C&A é uma delas, ter um vigoroso setor de roupas usadas nas suas lojas? Deveriam estimular seus clientes a levar para trocar as roupas que não querem mais? Ou deveriam ter obrigação sobre seu lixo? Nesse último caso, seria sua responsabilidade dar um destino às roupas vendidas por elas e que não mais interessam a quem comprou.
Na Suécia, isso já acontece com o lixo. Olha que show: uma lata de coca-cola que está no chão de uma cidade sueca é responsabilidade da coca-cola. Legal né? Adivinha o que a empresa faz? Máquinas de coleta espalhadas pela cidade, você leva a lata na máquina e tira uma graninha por cada uma que entregar.
Ruas de Colônia
Ah, esqueci, não podemos fazer isso porque seria tirar a liberdade das empresas... uma lata no chão é culpa minha ou sua que a jogamos ali. Resolvido. Responsabiliza-se o cidadão e onera-se o estado, responsável por dar destino a essa lata. As empresas nadam em águas serenas.
Voltando às roupas, à indústria da moda, talvez mais preciso dizer à perversa indústria da moda, como ela poderia ser mais contemporânea? Menos século XIX, mais século XXI? 
Esta é a tal pergunta de um milhão de dólares, que esse processo que estou participando quer responder!
Em São Tomé, capital de São Tomé e Príncipe, de onde acabo de vir, nas praças e em cada esquina, vemos vendedores ambulantes de roupas. Que roupas? Roupas doadas pela Europa. Europeus que sentem-se sensibilizados com a pobreza africana. Bonito isso, e falo sem ironia. Mas doam do que tem ou do que sobra? Doam roupas ou lixo? Estive na África algumas vezes, Moçambique, Uganda, São Tomé e outros. É visível que a oferta que vejo nas ruas, de roupas usadas, é superior às suas necessidades. Certa vez comprei um short da adidas com um desses vendedores. Dois euros. Cobrou caro porque eu era estrangeiro. Antes que alguém pense, não considero errado vender o que ganharam. É uma maneira de fazer um sistema de distribuição funcionar e de circular certa grana. Nesse caso, e não é o único, o pecado está mais na capital, menos na periferia. Voltando ao que comentei, sendo a oferta superior às necessidade, sobra muita coisa. E o que sobra, o que é? Lixo. Lixo europeu, devida e solidariamente exportado para África. E não é só com roupa nem só com países africanos que ocorre isso. Lembro quando o Brasil liberou a importação de pneus usados... pneus... hahaha e pqp... não sei se ainda está em vigor, mas que rolou, rolou. 
Schildergasse
Bom, a prosa é longa. A reunião foi interessante e, ao sair dela, caminhei pela famosa rua Schildergasse, o point das compras em Colônia. Todos de sacola na mão. As grandes marcas, Zara, HM, Nike, e tantas outras, em liquidações de verão. Pensei na sustentabilidade da indústria da moda... Passei na C&A e vi camisetas de algodão a € 1,40. Pensei nos produtores de algodão, nos trabalhadores das fábricas. Em quanto eles ganham... Fiquei calculando em quanto tempo essas roupas estariam disponíveis nas ruas de São Tomé... Não, não é uma equação fácil de responder...
Não posso achar ruim que as empresas preocupem-se com isso. Pelo contrário. Se a preocupação é sincera e se está disposta a cortar na própria carne, acho muito bom. Não sei, prefiro crer que sim, ser intelectual pessimista todo o tempo deve cansar, por sorte não sou nem um nem outro. 
Deprimido com tantos pensamentos, com tantas perguntas sem respostas, fui procurar uma cervejaria, para tomar a famosa Kölsch, a cerveja de Colônia! Acompanhada de salsichas e batatas!
A cidade é muito simpática e nesses dias pude caminhar por ela, pelas estreitas ruas da cidade antiga, ver sua famosa catedral, tomar cafés e sorvetes, comprar comidinhas orgânicas para levar.
E esse será meu único post de Colônia. Amanhã já regresso à casa, nesses dias aqui, além da reunião e de andar pela cidade (curti muito a Haupmarkt), aproveitei para descansar no excelente hotel que fiquei, o Pullman Cologne, e escrever dois capítulos do Vozes da Agricultura Ecológica 2, que tenho desejo de lançar ainda este ano. Veremos!
Na próxima viagem internacional, que não sei qual será, conto mais. Fui!


terça-feira, 16 de julho de 2019

São Tomé e Príncipe, 14, 15 e 16 de julho de 2019


Reunião com Sr Francisco Ramos, Ministro da Agricultura de
São Tomé e Princípe
E meus últimos dias em São Tomé passaram-se entre passeio no domingo e trabalho na segunda e terça-feira. O resumo da estadia de uma semana neste país é que foram dias agradáveis e, sobretudo, interessantes.
Vista da praia dos governadores
Domingo foi dia de domingar: estiquei a manhã no lindo hotel onde estive três noites, o Roça Santo Antônio. No final da manhã peguei o carro e fui do oeste em direção ao leste da ilha, passando pelo norte, na única estrada disponível. Cheguei até Neves, uma cidade importante, parece que a parte mais piscosa da ilha. Não prossegui até Santa Catarina, onde acabaria a estrada, que não nos permite circundar toda a ilha. A falta de algumas infraestruturas básicas é uma característica deste país, é claro que antes de estrada resolver problemas de saneamento, educação ou saúde é prioritário.
Alguns quilômetros antes de chegar a Neves, a estrada bordeia o mar, sendo particularmente bonita. No caminho passei pela praia de Micolo, onde mulheres assavam peixes e frutos do mar em pequenas grelhas, famílias almoçavam e homens bebiam Rosema, a cerveja local. 
Praia Lagoa Azul.
Segui até a Praia dos Governadores, onde parei apenas para tirar umas fotos. Segui viagem e mais adiante vi a por todos indicada Praia da Lagoa Azul. Uma pequena baía, de fato lindíssima. Saí da estrada e em poucos metros cheguei até a praia, quase vazia, vi apenas um casal de turistas e uma dezena de locais que foram preparados para o almoço e, a julgar pela quantidade de cerveja, para a festa. Afinal, era domingo.
Conversa com agricultoras/es em Santa Luzia
Segunda-feira fomos para a comunidade de Santa Luzia e passamos o dia visitando parcelas, pequenas áreas onde agricultores e agricultoras cultivam hortas, com tomate, pimentão, cenoura, vagem. Vi pouco conhecimento das culturas por parte das famílias, cultivos deslocados em relação ao potencial do local, manejos que praticamente desprezam o que a natureza oferece e propõe. Conversamos muito e tentei dar algumas sugestões. Ali no campo, sentindo o calor no lombo, vendo e dialogando com a vegetação local, podemos facilmente perceber que cultivar cenoura ou tomate nessas condições é como criar um cão esquimó no trópico. Até dá, mas não é apropriado e o trabalho fica exagerado... enfim, este colonialismo vegetal, onde todos queremos tomate ou alface em nossas saladas, leva a essas situações pouco recomendadas na agricultura. Uma das causas de degradação ambiental na agricultura é essa pressão por alimentos pouco adaptados.
Ontem, no final da tarde, tive em uma breve reunião com o Ministro da Agricultura, com os integrantes do Projeto OM4D - sigla em inglês para mercados orgânicos para o desenvolvimento. Este Projeto é capitaneado por IFOAM - Organics International, e são eles que me contratam para estar aqui estes dias. 
E terminamos o dia em um jantar na casa do Carlos Renato, Presidente da Adapa, ONG que faz o papel de anfitriã enquanto estou por aqui, junto com outros companheiros com quem trabalhei esses dias. Tudo muito bom. Comi um excelente Calulu de Peixe.
Hoje fomos à comunidade de terra batata, visitar uma área que é da Igreja Apostólica e que se pretende seja demonstrativa em agricultura biológica. Vi Pimenta do reino, café e horta. Área interessante e com alto potencial de cumprir o que dela se pretende.
Micolo

Café sombreado
E agora estou no Café Central, do mesmo Hotel Central onde dormi os últimos dois dias, escrevendo e esperando minha carona para o aeroporto. Passei exatamente uma semana neste pequeno e, uso outra vez a mesma palavra, interessante país. Daqui vou para Lisboa e de lá para Colônia, Alemanha, onde tenho uma reunião na sexta-feira.
De lá conto!

sábado, 13 de julho de 2019

São Tomé e Príncipe, 11, 12 e 13 de julho de 2019

Tomando vinho de palma com amigos São Tomenses. 

Cheguei em São Tomé, capital de São Tomé e Príncipe, na terça-feira e, como comentei no post anterior, trabalhei quarta e quinta-feira, ministrando um curso. As primeiras duas noites dormi em um hotel simples, mas suficiente, no centro da cidade. Para facilitar a vida. Quinta à tarde aluguei um carro e fui para o Hotel Santo Antônio, em um local mais isolado e que fica a 20 quilômetros da cidade. Da outra vez que tive em São Tomé havia visitado esse local e prometido que se houvesse uma próxima ficaria aqui. Promessa feita, promessa cumprida...
Hotel Santo Antônio
Não lembro de ter estado no paraíso, mas deve ser parecido, em termos de simplicidade sofisticada e conforto.
Ontem, sexta-feira, dia 12 de julho, foi feriado nacional. Decidi então pegar o carro que aluguei e ir na direção de Porto Alegre, cidade mais ao Sul da ilha. O destino final seria a praia Jale, dita por todos como idílica, que o Google me mostrava estar a 60 km.
Trecho da estrada
Fui dirigindo pela estrada, asfáltica, a principal do país. Mão dupla e estreita, sem acostamento. Dos dois lados, plantações de cacau e pimenta do reino. Sempre acompanhadas de banana e fruta pão, mas também vi muita manga, abacate e mais um sem número de árvores. Difícil separar o que é plantado do que cresce espontaneamente, ou o que é cacau sombreado das florestas.
Quase sempre o mar está em um nível bem abaixo da estrada, que é construída à borda das montanhas, subindo e descendo todo o tempo. Algumas vezes descemos mais e o mar surge ao lado, o que permite facilmente descer do carro e tomar um banho, caso se tenha vontade. As praias quase sempre desertas, absolutamente desertas.
Festa da Independência em Caué.
Depois de trinta minutos dirigindo cheguei a Caué, importante município da ilha. Mas não pude seguir viagem... a comemoração principal do aniversário da independência do país era nessa cidade, naquele exato momento, com a presença da Comitiva Presidencial. O que me restou foi estacionar o carro e ver a movimentação. Não cheguei a tempo dos discursos, o que não achei ruim, mas pude ver muita gente nas ruas, roupas domingueiras e clima de festa. Música e barraquinhas de comida. Legal ter visto. Na volta vi um animado baile no meio da rua.
Quando as autoridades se foram, segui viagem. Sempre em direção ao sul.
Dendenzeiros - Palma africana
Alguns quilômetros depois avistei uma grande lavoura de palma africana. Desta planta se extrai nosso famoso azeite de dendê. Na porteira de entrada pude ver o selo europeu de produtos orgânicos. Entrei... não resisti... mas, sendo feriado, encontrei apenas um trabalhador, que não soube me contar muito. Mas vi a fábrica para extração do óleo. Certamente será exportado para Europa, espero que os ganhos desta iniciativa cheguem minimamente aos trabalhadores. Infelizmente as normas da agricultura orgânica não são suficientes para nos dar esta certeza.
Pedra do Cão Grande
Desta Fazenda pude ver a pedra do cão grande, tido como um local de interesse aqui na ilha. Desci para fotografar e, esse momento, troquei umas palavras com três brasileiros, dois deles Pastores Batistas, um dos quais havia vivido aqui por sete anos, como missionário. Convidaram-me para segui-los, de carro, para irmos juntos à praia piscina. Aceitei, mudei minha programação e fomos.
No caminho, passamos por Porto Alegre. Eu havia imaginado uma cidadezinha, mas na verdade é uma paupérrima aldeia de pescadores. A estrada até a praia é daquelas nas quais levamos três ou quatro minutos para percorrer um quilômetro. Achei bom ter encontrado essas companhias, pude me sentir mais seguro passando pela vila ou na praia onde só haviam alguns locais.
De fato a praia é lindíssima. Ficamos menos de uma hora e regressei. O aplicativo anunciou que eu demoraria duas horas para percorrer os sessenta quilômetros até o hotel... 
Praia piscina
Hoje, de manhã, o Carlos, meu anfitrião aqui, levou-me para visitar sua lavoura de pimenta do reino. Ficamos três horas pelo interior. Para começar, ele me levou para beber, junto com uns amigos da comunidade onde nasceu, vizinha ao hotel, o oinho de palma, uma bebida obtida a partir da fermentação da seiva de várias espécies de palmeiras e coqueiros. Tomei a que havia sido feita de manhã cedo, estava mais para um suco fermentado, com os dias torna-se uma bebida alcoólica.
Cacau
Não vou me estender, apenas dizer que foi uma experiência única andar pelas roças e conversar com o povo local. Eu não vi um branco durante a manhã toda. Sei que é óbvio, mas como não sei quem pode ler este post, devo lembrar isso, assim é na África negra. Deixo dito aqui, para eu recordar daqui há alguns anos, seu eu voltar a reler esse post, o elogio que ouvi: “Laércio é como nós, nem parece branco!”
Vi muita pimenta, cacau, fruta pão, banana, goiaba, mamão. E pela segunda vez na vida vi baunilha, um dos produtos agrícolas mais caros do mundo. 
Euzinho no restaurante
E ainda teria muito que descrever relativo ao meu almoço de hoje... mas vou abreviar. Fui no restaurante da Roça São João dos Angolares, do conhecido chef João Carlos Silva. Tem uma página no Facebook, caso alguém se interesse. Comi o menu degustação. Foram sete entradas, mais duas entradas para limpar o paladar. Depois, o prato principal – feijoada, que aqui em São Tomé é feita com peixe. Foi servida com arroz e batata doce assada. Duas sobremesas e café passado. Sabe este papo de experiência gastronômica? Pois foi o que vivi hoje. Não existe chance de esquecer este almoço. Comidas deliciosas, turbinadas pelo local, muito agradável e com uma decoração que não deixa você esquecer onde está. Para completar, a vista é  simplesmente deslumbrante.
O post ficou longo e deixei algumas boas coisas que vi sem contar... países como esse geram muito assunto... amanhã volto para a cidade, segunda e terça tem trabalho.

Outro ângulo da praia piscina

quarta-feira, 10 de julho de 2019

São Tomé e Príncipe, 09 e 10 de julho de 2019.


Venda de carvão - fora do mercado municipal de São Tomé
Outra vez em São Tomé e Príncipe. Outra vez a convite de IFOAM – Organics International, para duas atividades distintas. Cheguei ontem, terça-feira, após uma long long trip. Desde Lisboa, onde dormir uma noite sem nem sair do hotel, são sete horas de viagem até São Tomé, capital do país que é conformado pelas duas ilhas que lhe dão o nome.
Amanhecendo em São Tomé
Cheguei ontem à noite e hoje começou minha primeira atividade. Um curso intitulado Princípios e Práticas da Agroecologia. Mais encaixado impossível, vendo pela minha visão (emoticon com a língua de fora). Deixa eu contextualizar: São Tomé e Príncipe é um país pequeno e com poucos recursos financeiros. Tem como principal ingresso econômico o cacau, cultivo que já foi pujante, teve seu declínio e agora está em recuperação. Tem algo de café também, assim como vestígios da cana de açúcar, que teve seu apogeu lá nos séculos XVI e XVII. Além disto algumas frutas, que de tão adaptadas se fizeram locais, como banana ou abacate, e contemporâneas hortas, tentando atender a demanda que surge principalmente pelo fluxo de estrangeiros, com o recente desejo do país de investir em turismo. Nessas culturas novas é que entram os agrotóxicos. Cenoura, cebola, repolho, couve e o usual campeão de venenos, tomate. São Tomé fica no Equador, não é o clima preferencial do tomate, que é uma planta originária dos Andes, gosta de diferenças significativas nas temperaturas do dia e da noite, água do degelo e ar seco. Raciocínios semelhantes cabem a outras hortaliças. Sendo tão inadaptadas, cultivar essas plantas é um convite ao uso de agrotóxicos. Minha tarefa por aqui, não tão simples, é dar dicas para que, mesmo tão exógenos, esses cultivos sejam razoavelmente bem sucedidos na agricultura orgânica. Melhor seria dizer não a esses cultivos, mas a história se complica. O turista vem para cá e pede arroz ou batata-fria, saladinha de tomate e alface. Não gosta do inhame (matabala por aqui), da banana da terra ou da incrível fruta pão. Nenhuma novidade, o consumidor poucas vezes reflete sobre os efeitos do teu ato de consumo...
O milagre original: fotossíntese!
Bom, independente dos cultivos, como pensar a agricultura aqui, em um país sem indústria, sem infraestrutura, sem recursos para importar venenos ou fertilizantes? Pensando no que São Tomé e Príncipe tem: Sol e chuva. Fotossíntese! Para os que não são da área ou andaram matando aula de biologia no científico (sic), fotossíntese é o processo pelo qual uma planta é capaz de transformar o gás carbônico, abundante na atmosfera, e água, em matéria verde, usando como fonte de energia a luz do sol. Mesmo quem estudou, muitas vezes não realiza que a madeira da mesa sobre a qual escrevo neste momento é ar e água, feitos sólidos através das folhas verdes. Viagem né? Uma espécie de milagre original, é graças a Fotossíntese que existe vida no planeta.
Pois então, baseado nisso, meu raciocínio é simples: a agricultura aqui deve ser uma agricultura de sol! Produção intensa de biomassa que, manejada com inteligência, será transformada em fonte de nutrientes para a planta. Que manejo é este, foi o que trabalhei com eles nestes dias de curso! Hoje comentei com eles que nas condições locais o sol, subsidiado pela chuva, é o principal insumo da Agricultura Orgânica. Não único, mas principal. Espero que tenha sido útil, mas sei que é necessário mais tempo para que esses conceitos sejam apreendidos e utilizados. Esta parte é um pouco frustrante em algumas consultorias. Tenho convicção que as informações são oportunas, mas sei também que o tempo é curto para que sejam assimiladas.
Veremos!
Hoje, antes de começar, olhando os participantes do curso, comecei a cantarolar e achei a cena engraçada: “forças ocultas, deusas do céu e do mar, me ajudem à conquistar, o coração dos seus...” (lembram? da música pagã). No caso, conquistar para a Agricultura Orgânica. Foi uma espécie de oração, deixo registrada aqui.
Bom, além do curso, comer e caminhar pela cidade. Hoje, de manhã cedo e no fim da tarde fui ao mercado. Uma viagem... muita gente, desorganizado. Produtos, locais e alguns importados, sendo vendidos sem muitos cuidados, peixes frescos, com olhos de peixe morto, expostos no calor. Marcou a manhã uma mulher que esbravejava contra o vizinho de banca, na língua local, e um rapaz com uma cobra na mão, assustando as pessoas.
Tentou comigo também, mas sou nascido e criado no Pé Pequeno, não é tão fácil me assustar!
O que mais me marcou nessa visita ao mercado foram os cheiros, cheiros em profusão. Tive uma rara sensação de náusea, tive que sair dali e ficar observando do lado de fora. Uma bagunça! Agradável é a última palavra que me ocorre para adjetivar o lugar, mas interessante cabe. Sim, o Mercado Municipal de São Tomé é interessante. Um olhar atento pega algumas curiosidades, como feijão importado do Canadá ou óleo de soja em embalagens de 200 ml. Esta última, quem adivinha porquê?
Culinária por aqui é peixe, uma mescla interessante do local com um toque português. Espero ainda ver mais, mas por enquanto comi camarão no Café Camões e peixe azeite no Restaurante Papa-figo. Peixe grelhado, muito bem feito, matabala e banana da terra fritas. Delicioso!
E é isto aí! Amanhã tenho mais curso, as atividades seguem, depois conto mais!
Sede da ADAPA - ONG local que me recebe

Entardecer pelas ruas de São Tomé!