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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Nuremberg, 17 de fevereiro de 2013.


Nuremberg, vista do castelo da cidade.
Domingo frio, chovendo, longe de casa. Perfeito para dormir. Mas guerreiro que somos, a opção foi outra, passeamos o dia todo, nosso último por aqui, depois de acordar tranquilos e tomar um longo café da manha. E Nuremberg é uma cidade bastante agradável para passear. Para nós do novo continente é sempre surpreendente passar por uma farmácia que existe desde 1488 ou uma praça e sua fonte do século XIV.
nos esquentando em um café
A primeira parada do passeio foi em um café em frente à praça principal, com a desculpa de um expresso, mas principalmente para nos aquecermos. Ao meio-dia em ponto estávamos na praça, em frente à Igreja da Virgem, para ver o desfile dos homenzinhos, como é chamado o pequeno teatro de bonecos, mecânico, que ocorre no relógio da torre todos os dias a esta hora. Bonitinho.
Mas o programa principal do dia foi ir ao Forte/Castelo da cidade que começou a ser construído bem no inicio do segundo milênio. Construído encima de uma pedra, para proteger o burgo nascente, foi sendo terminado por séculos, ate atingir seu auge na idade média. E quando estamos nele podemos vislumbrar toda a cidade.
vista de uma rua, seus balcões e telhados característicos
O trajeto de ida e volta ao Castelo foi típico do inverno Europeu. Frio, chuva, um pouco de neve. Algumas ruas mais antigas têm umas casas com arquitetura bastante peculiar onde pedras e madeiras se entrelaçam. E no meio de algumas casas, no segundo ou terceiro andar, um balcão, de madeira e fechado, se projeta em direção à rua. O efeito é único e reveste estas casas e mesmo toda a rua de um ar romântico.
Mas talvez o melhor do dia tenha sido o restaurante, onde fomos parar por acaso. Comida Alemã e Húngara, optamos pela última, que não conhecíamos, e nos demos bem. Pedimos pratos vegetarianos, a base de massas e outro com batata-frita e carne de porco. Perfeito para acompanhar a saborosa cerveja homemade que nos serviram. Mas ainda melhor do que a comida estava o ambiente e as companhias. Estávamos Ana, Joce, André, Fábio e eu. Local agradável, com suas madeiras pesadas, aquecido, em contraste com o frio da rua. Acho que o que mais gosto destes lugares é a sensação de estar em outro tempo, do tom anacrônico que me invade. Sou jovem, garoto, mas adoro old things. Ficamos os cinco ali, comendo, bebendo, rindo, conversando, deixando o tempo seguir seu curso.
prato hungáro, batata frita, carne de porco, molhe e ervas
Decidimos tomar o café em outro lugar, no caminho, e voltamos ao hotel, já no fim de tarde. De noite fomos à estação de trem para comprar a passagem para Frankfurt amanhã, onde pegamos nosso avião de volta para casa. Poderia ficar horas ali, gosto de rodoviárias, portos, aeroportos, estações de trem, o ir e vir das pessoas. Sempre gostei, e esta deve ser uma das razões pelas quais sempre passo por elas.
Vou arrumar malas, amanhã regressamos. Trem para Frankfurt, pit stop de um dia no Rio de Janeiro para reunir as crias e quarta-feira casinha. Tá bom também, o cotidiano já me faz falta.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Nuremberg, 16 de fevereiro de 2013.


Ana e Joce descansando na Biofach


Hoje é aniversário do meu pai. Comecei o dia conversando com ele, bem cedo, em prece.
Sal, de diferentes cores e origens
Pretendia só passear hoje, mas acabei não resistindo e voltando à Biofach pela manhã. É que o ultimo dia da Feira é o dia dos presentinhos. Como é proibida a venda, já que é uma feira de negócios, os estandes são mais generosos em distribuir seus produtos de exposição, já que tão pouco lhes interessa levar de volta para casa. E eu sou do tipo que adora uma amostra grátis. Me diverti com bolsas de pano, miniaturas de azeite de oliva, cafés em grãos, chocolates, camisetas, yogurtes. Só para registrar vi um estande muito interessante, que vende sal. De trinta lugares diferentes do mundo, extraídos de minas. Branco, rosa, azulado, laranja, cinza, negro. Sim, sal negro, de rochas vulcânicas do Havaí. São estes detalhes que tornam esta feira tão interessante.
Depois de me despedir da Biofach comecei minha tarde com uma volta na praça central. Bonita, ampla, aspecto medieval, com uma imponente Igreja e onde funciona uma feira, com produtos frescos, processados e algo de comida pronta. Aqui acontece a maior feira de produtos natalinos da Alemanha, dever ser muito legal de ver.
Hauptmarkt (Mercado Central)
Chama a atenção o tamanho da praça, para uma cidade murada. É chamada de mercado central e foi construída com este objetivo, de ser um mercado, ainda no século XIV.
Segundo li, este lugar era um bairro judeu, que foi destruído, com seus moradores sendo mortos ou expulsos para que esta praça fosse construída. Me surpreendi que nesta época já existia esta repulsa aos Judeus, mas como não conheço direito esta história, melhor não me arriscar a contar mais ou a dar uma opinião.
comendo meu apfelstrudel
Desta praça caminhamos em direção ao Castelo da cidade, tomamos à esquerda e chegamos em uma linda rua, a WeiBgerbergasse. Arquitetura cheia de detalhes, em pedra e madeira, cores tranquilas, requinte discreto. Para quem conhece Buenos Aires, um caminito à moda germânica. Sem comércio, quase ninguém caminhando por ela. Não fosse o frio, passaria mais tempo ali. Mas a temperatura de zero grau me fez procurar um café para comer um apfelstrudel. Aquele folheado de maçã, típico da Alemanha. Estava bom, servido quente, acompanhado de sorvete e panaMas melhor que o strudel estava o lugar. Sentamos fora, com estes cobertores que nos oferecem para aliviar o frio, vendo as pessoas e suas sacolas de compras passearem bem agasalhadas pelas duas ruas de pedestres que se cruzam em frente ao café que escolhemos. Bela fotografia de uma elegante paisagem urbana, lindo momento. 
visual desde a minha mesa no café
O anoitecer substituindo a tarde cinzenta, as luzes se acendendo aos poucos e o movimento se diluindo me deixaram nostálgico. Deve ter algo da rebordosa de fim de feira também, aliado ao fato de hoje ser sábado. Como disse o poetinha, porque hoje é sábado. O bom é que bem acompanhado a nostalgia é das boas, agradáveis. Após o café, já anoitecendo, Ana e Joce foram para outro lado e retornamos, eu e minhas sensações, caminhando para o hotel. 
Agora estou aqui lendo, escrevendo, tomando uma cerveja com Ana no hall do hotel. Lá fora o frio segue. Amanhã vamos só passear e descansar. 
a romantica WeiBgerbergasse

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Nuremberg, 15 de fevereiro de 2013.

viajando de kombi...

Outro dia de Feira. E ela segue surpreendendo, não só pela variedade e qualidade dos produtos, como também no design das embalagens e propagandas.
O produto orgânico na Europa é visto como chique, menina dos olhos de chefes famosos, carregado de valores ambientais, sociais e, principalmente, sabor e aspecto de alto nível. E caro, para um consumidor de maior poder aquisitivo. A Biofach é uma expressão precisa desta visão de Agricultura Orgânica. Nesta perspectiva é muito inspirador vir aqui e beber nesta fonte. E não digo isto apenas por mim, foi o que ouvi de algumas pessoas hoje, dentre elas a Joce, uma produtora de frutas e derivados, de Antonio Prado, que está conosco e encantada com a Feira.
sucos, muitos sucos
O bom é que existem outras possibilidades, outros desenhos além do visto na Biofach, onde o produto orgânico pode chegar para todos, incluindo os que possuem menor poder de compra. E o Brasil tem dado um bom exemplo, com sua política de, em algumas compras governamentais, privilegiar com um sobre-preço produtos orgânicos oriundos da Agricultura Familiar. Isto foi o que nós contamos hoje em uma reunião que tivemos com consultores Suecos. Eles estão escrevendo sobre casos exitosos de promoção do consumo de produtos orgânicos, para subsidiar uma campanha internacional que se está organizando sobre este tema, promovida pela Sociedade Sueca de Proteção à Natureza. Se me fiz entender, quero dizer que é legal o que estamos vendo aqui, mas é legal também o que estamos fazendo no Brasil. Diferente, perspectivas distintas, mas que acredito serem complementares. Mas isto é uma prosa mais longa...
queijos, muitos queijos
É legal ter um tempo e poder se fixar nos detalhes de alguns produtos. Chocolate com leite de cabra, ou com cacau não torrado, azeite extraídos de olivas de árvores que têm entre 500 e mil anos ou roupas feitas com algodão orgânico produzido em Fukushima, já que após o acidente nuclear produzir alimentos se tornou impossível.
E o bom mesmo do dia de hoje foram as provinhas. Eu e Ana passamos um tempo nos dedicando a isto, provando e conversando com os expositores. Guacamole no stand co México, café no da Colômbia, chá no stand da Índia, vinhos nos Italianos, sardinha Portuguesa, queijo na Áustria, chocolate Suíço, cerveja no corredor dos alemães, sucos, salames, salsichas, biscoitos, e mais, muito mais. Provei tudo que pude. E mais um pouco!
Amanhã pretendo fazer um pouco de turismo, passear de dia pelo centro histórico, ir à praça central que tem uma linda feira, cheia de quitutes locais, flores e artesanato. Definitivamente feira é meu nicho ecológico!
geléias, muitas geléias


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Nuremberg, 14 de fevereiro de 2013.



Biofach 2013, visão de um dos seus corredores
A Biofach cumpre o papel de ser a Disneylandia da Agricultura Orgânica. Aqui não existem dilemas. Só notícia boa. Natural, para alcançar seus objetivos a Feira deve girar em torno do sucesso, do boom do mercado, do encontro entre uma oferta crescente e uma demanda incansável. Não vejo nisto um problema, mas é conveniente não se deixar levar apenas pelo que se vê e ouve por aqui para compreender o momento da Agricultura Orgânica no mundo.
É verdade que a produção não para de crescer. Mas sempre aquém das expectativas ou projeções. As causas? Difícil afirmar, mas seguramente mercado muito localizado, normas rígidas e burocráticas e certificações policialescas são algumas delas. Do outro lado existe sim uma demanda crescente por produtos orgânicos. Mas ela é mais perceptível em regiões ricas do Planeta. Sul da Alemanha, Norte da Itália, Califórnia, Inglaterra, Suíça. Oferta limitada, logística de distribuição ainda sendo arquitetada e sobre-preço exagerado justificam este enichamento. Nos países do Sul este mercado quando existe está quase sempre confinado em suas cidades ou bairros de maior poder aquisitivo. Mas, como disse antes, para alcançar seus objetivos estas indagações não são feitas nesta feira. O oxigênio por aqui vem dos negócios, e não das análises e reflexões. É um espaço de construção do Mercado e não de um Movimento. Se poderíamos juntar um e outro? Em tese sim, na vida real, complicado, muito complicado.
Joce e eu vendo os novos produtos.
Mas, a despeito destes comentários, a Feira hoje continuava linda. E continuamos rodando por seus pavilhões e estandes. Me detive um pouco mais em uma área do hall de entrada destinada a produtos novos. São centenas deles, expostos separadamente neste hall, onde participam de uma espécie de concurso, no qual o voto do publico escolhe as melhores novidades em diferentes áreas. Eu escolhi o sabão líquido orgânico para máquina de lavar roupa.
Mas, nem só de trabalho vive o homem... Sempre no segundo dia de feira, após seu horário de encerramento, seis da tarde,  alguns estandes se preparam para uma espécie de festa coletiva, onde cada um apresenta suas armas... Orgânicas, claro! Vinhos, cervejas, sucos, queijos, bebidas e comidas típicas de cada pais ou oferecidas por empresas. Ficamos por ali até as oito da noite.
linda banca com produtos frescos
Anda tivemos tempo para ir ao Barfuber, o mesmo onde estivemos na noite que chegamos e que tradicionalmente recebe os participantes também no segundo dia da Biofach para uma festa. Sempre animada, cheia de gente, música ao vivo, dança. Mas hoje estava vazia, a festa pela primeira vez micou. Acho que tem a ver com os novos tempos, esta festa vem de outra era, onde ainda os velhos hippies orgânicos se faziam presentes.
Menos mal que saímos cedo e fomos a um Pub Irlandês, André, Ana e eu, no porão de um pequeno prédio. Chegamos e uma jovem cantava Janis Joplin acompanhada de um violão. Seguiu com U2, The Police, Adele e outros. Genial. Tomei uma Guiness, em homenagem ao local. A Europa sempre nos reserva boas surpresas, em um café, uma chocolateria, uma padaria ou em um bar. Impagável. 
André e eu no Pub Finnegans

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Nuremberg, 13 de fevereiro de 2013.

Conversando na Biofach - Jocelei Pontel, Rogério Dias,
Hugo Valdes, Laércio  Meirelles, André Gonçalves,
 Fábio Meirelles

Uma das coisas que comumente ouço quando participo de algum evento sobre Agricultura Orgânica é sobre sua viabilidade técnica ou econômica. Poderá a Agricultura Orgânica alimentar o mundo? Pode-se produzir desta forma em extensões maiores de terra? É possível produzir tomate, maçã, laranja ou morango desta forma? É rentável economicamente? A vontade que tenho quando ouço estas e outras perguntas semelhantes é nem perder meu tempo respondendo e sugerir ao interlocutor comprar uma passagem e visitar a Biofach. Aqui estas falsas percepções sobre o potencial da Agricultura Orgânica são definitivamente enterradas.
Passamos todo o dia visitando a Feira. E visitamos apenas uma quinta parte dela. É de fato é impressionante a quantidade e diversidade de produtos expostos. São 2400 estandes, provenientes de cerca de 80 países, e mais de 40.000 visitantes, que chegam de 130 países. Ou seja, o mundo todo está aqui.
linda exposição de verduras e frutas
Azeites essenciais do Sri Lanka, diferentes tipos de arroz da Tailândia, inúmeros molhos e massas Italianas, cafés de todas as procedências possíveis, sucos diversos, queijos, yougurtes, vinhos, carnes, roupas, cosméticos, frutas, cervejas, grãos os mais diversos, azeites de oliva varietais, chás de toda ordem. E chocolate, muito chocolate. E o bom é que podemos provar o que quisermos. Passamos o dia olhando tudo isto, conversando com expositores e visitantes. E comendo. E bebendo. O bom é que é não engorda, é orgânico...
Me chamou atenção o foco nos alimentos nutracêuticos. Não é um conceito novo, e é bastante natural que chegasse ao mundo dos alimentos orgânicos, mas vale anotar que é uma tendência que se confirma. E é forte também a presença de produtos livres de glúten, de qualidade, saborosos.
Jocelei Pontel e papinha de bebes, orgânica,
Claro que existem considerações menos entusiásticas a serem feitas ao redor da feira, mas estas ficam para outro momento. Hoje estou de boa, e a feira contribuiu para aumentar meu otimismo na humanidade. Análises criticas nem sempre são oportunas.
No fim da tarde passeamos pela cidade, temperatura em torno de zero grau. É quase uma praxe dar esta passeada em algum momento do dia, o centro histórico é realmente lindo. E terminamos a jornada em uma reunião-jantar no restaurante Heilig-Geist-Spital, que significa “Hospital do Espírito Santo”. É porque o prédio era um hospital na idade média. Bonito, altivo, construído com pedras e com solidas madeiras em seu interior, ao lado e com uma parte sobre o Rio Pegnitz, que corta a cidade.
A Alemanha é um país muito interessante, mas seu ponto alto definitivamente não está na culinária. Hoje comemos um prato típico: joelho de porco com chucrute e um tipo de bolo de batata. Pelo menos também não engorda, é local...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Nuremberg, 12 de fevereiro de 2013.

Visual da frente do nosso hotel, centro de Nuremberg, à noite.

Chegamos aqui no hotel às nove da noite, depois de doze horas de voo do Rio de Janeiro para Frankfurt, e uma conexão em trem por mais três agradáveis horas. Frio, neve, trem, boas companhias, cervejinha no vagão restaurante, nada mal para começar. Estamos aqui para visitar a Biofach, a maior feira de produtos orgânicos do mundo, realizada todos os anos, sempre no mês de fevereiro aqui em Nuremberg. As vezes que vim aqui sempre me foram bem úteis para ter uma perspectiva sobre os rumos da produção e do comércio de produtos orgânicos pelo mundo.
Joce, Fabio e er, esperando o trem para Nuremberg.
Nuremberg é uma boa cidade, cerca de meio milhão de habitantes, agradável, desta que é uma das regiões mais ricas do mundo, a Baviera, sul da Alemanha. Cidade de mais de mil anos de existência, seu centro histórico guarda ainda muito da idade média, em suas ruas, casas, praças, igrejas e muralha, ainda bem conservada. Conhecida por ter sido uma dos berços do nacionalismo alemão, a sede oficial dos seus comícios e por ter sediado o famoso julgamento de alguns dos principais lideres do nazismo, no período pôs segunda guerra. Aqui tem um Museu sobre o nazismo e o holocausto, excelente para quem quer se informar destes fatos tão marcantes da história da humanidade. Já estive neste Museu e não tenho vontade de voltar. Uma vez é suficiente.
Que bom que não estou aqui para estudar este capitulo triste da historia e sim para uma Feira de Produtos Orgânicos  Dentro das minhas crenças, vejo como muito positivo para a cidade sediar a Biofach. Serve para ajudar a desfazer seus miasmas,
A caminho do hotel encontramos alguns amigos da Costa Rica e Argentina. Esta feira é assim, um ponto de encontro dos que trabalhamos com Agricultura Orgânica ao redor do mundo.
Mesmo sendo um pouco tarde, frio e nevando, saímos para jantar. Ana, Fábio, André e eu. Bom viajar em grupo ainda mais no meu caso que quase sempre viajo sozinho. Fomos caminhando e aproveitando o clima do inverno europeu, até chegar ao Barfuber, um bar-restaurante conhecido por aqui, bem no centro histórico, e que vende cerveja fabricada por eles. Em honra ao local, comemos salsicha com mostarda e chucrute. Agora estou aqui, escrevendo, aquecido e vendo a neve, ouvindo Sade, comendo um chocolate bitter, e me preparando para dormir.
Amanhã conto da feira.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Costa Rica, 07 de fevereiro de 2013.

Vulcão Poás, ao fundo, à direita, nuvens e no
 horizonte o mar caribe.
        Ir ao Parque Nacional Vulcão Poás, foi minha principal atividade do dia de hoje, minha despedida desta breve semana aqui na Costa Rica. O vulcão Poás é, dentre os quatro que existem neste país (os outros são Irazu, Arenal e Turrialba), o que tem a maior cratera. Tem 1700 metros de diâmetro. Nela se formou um lago, cor turquesa, que tem uma das águas mais ácidas do mundo, podendo seu ph chegar a quase zero em algumas ocasiões.
Para ver este vulcão é importante que o céu esteja limpo, porque pela sua altitude, 2500 metros, é comum que as nuvens impeçam que vejamos o lago. Mas como a vida costuma me tratar bem, o dia hoje amanheceu lindo e durante o tempo que passei lá não tinha nenhuma nuvem impedindo a vista. O vulcão está ainda ativo, e do lago sai uma fumaça com forte cheiro de enxofre. Do local que observamos o vulcão se poder ver o mar do Caribe no horizonte. Visual de primeira.
Lago Boto
Ao lado do Poás tem outro lago, chamado Boto, que é o nome da etnia indígena original desta área. Os Botos. Lindo também, rodeado de verde. Deste lago podemos fazer uma caminhada de 1800 metros em direção à entrada do Parque. No meio da floresta, neste caso um bosque tropical nublado (significa que está sempre cheio de nuvens), onde pude ver esquilos, alguns pássaros, muitas árvores e algumas folhagens enormes. Olhem a foto que postei abaixo da folha de uma samambaia.
Raízes aéreas
A sensação que tive andando por esta trilha é que a vida aqui fica enlouquecida com a quantidade de nutrientes originários do vulcão, o sol intenso e a chuva constante. E brota por todos os lados. Raízes aéreas aos montes, que são mais comuns em manguezais, onde são usadas pelas plantas para se fixarem melhor no solo encharcado. Aqui não saquei porque tantas destas raízes, acho que deve ser principalmente pela umidade do ambiente.
O passeio me lembrou do Planeta Simbiótico, um livro genial. Escrito por Lynn Margullis, ela basicamente defende a tese de que a vida se instalou no planeta pela cooperação e não pela competição. Pela simbiose, um cooperando com o outro. Não é o mais forte que sobrevive, mas sim aquele que mais se afina com a lógica da interdependência. No meu passeio de hoje quase pude ver este sentido de colaboração e interdependência presente quase sempre na natureza. Seria legal viver em uma sociedade simbiótica.
Luz no fim da floresta...
E de tarde ainda tive tempo para umas comprinhas pelo centro de Alanjuela, principalmente cafés, já que estou na Costa Rica. Legal o centro da cidade, bem simpático, passeei pela praça e vi a Igreja. Agora já estou no aeroporto, daqui a pouco meu voo decola. Faço um pit stop no Rio de Janeiro, em pleno carnaval e em quatro dias já embarco para a Nuremberg, Alemanha. Não disse que a vida me trata bem?
Da Alemanha conto mais.

eu e o vulcão Poás
eu e o esquilo nos conhecendo
Praça e Igreja, Alanjuela
folha de uma samambaia. enorme.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Costa Rica, 06 de fevereiro de 2013.


Refeitório da finca fila la marucha. Quer mais?
Começamos bem o dia, com uma visita a uma montanha perto do sítio que estamos e um agradável banho de rio, em um lugar bastante isolado, apenas nosso pequeno grupo estava por lá. Voltamos às dez da manhã, nos reunimos para as conclusões da reunião, fotos de despedida, ultimas observações. E logo depois do almoço já estávamos prontos para voltar para Alajuela.
Não tinha comentado ainda, mas a comida aqui é muito boa, nossa anfitriã comanda a cozinha com requinte. Nestes três dias comemos gallo pinto, prato local que para um brasileiro é um mexido de arroz e feijão, massa italiana, atum fresco e hoje, como grand finale, comida indiana. Um frango ao curry sensacional.
euzinho, visual da praia em Quepos, foto 
da minha amiga Faviana.
Bem alimentados, enfrentamos quase seis horas de viagem, justificadas por uma parada de duas horas em Quepos, um balneário conhecido, no pacífico sul do país. Apenas passeamos um pouco e ficamos conversando em um pequeno parque com uma linda vista para o mar. As praias por aqui são realmente lindas. Depois fomos a uma sorveteria e cafeteria. Fui obrigado a explorar todo o potencial do lugar e tomar um sorvete de gianduia seguido de um expresso curto.
Ainda sobre Quepos, me explicaram que a principal atração daqui é o Parque Nacional Manuel Antônio, que guarda algumas das praias mais bonitas do país. Mas este eu vou ver numa próxima oportunidade, hoje não deu. Costa Rica é um país pequeno, são cerca de 50 mil km², e 25% do país é constituído por parques e reservas nacionais. É uma viagem e tanto conhecê-lo, alugando um carro e recorrendo ele de ponta a ponta. Mar dos dois lados, belezas naturais, povo amigável e relativamente seguro. Super recomendo.
E a viagem ainda foi acompanhada por um lindo pôr-do-sol no pacífico. Boa parte da estrada é costeando o maior oceano do planeta. Para um brasileiro ver pôr-do-sol no mar não é tão comum, e ver a bola de fogo que vi hoje se apagando ao contato da água é um visual impagável. Pena que não tenho foto, não quis pedir ao motorista para parar apenas para eu tirar fotos. Mas já me arrependi, deveria ter pedido.
Chegamos a Alajuela por volta das sete da noite, no mesmo hotel que fiquei no dia em que cheguei, Los Volcanes, e ainda tivemos tempo para jantar em um restaurante Peruano. Pedi um camarão com um molho picante, acompanhado de uma cerveja Cusquenha, também Peruana, para dar por encerrado o trabalho por aqui. Amanhã, dia de voltar para casa.
Praia em Quepos

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Costa Rica, 05 de fevereiro de 2013.


Keep Walking
O dia começou cedo, um belo café da manhã na mesa que fica na varanda em frente ao bosque. É que aqui nesta propriedade, tudo é bosque. Depois do café, fomos dar uma volta, com Milo nos explicando como funciona seu sistema de floresta análoga. Como havia dito, se trata de imitar, mimetizar a natureza, mas na medida do possível com espécies de interesse. Como em uma região tropical chuvosa o ecossistema natural é uma floresta, ao buscar imitá-lo esta propriedade se tornou uma floresta. E desta floresta a família vai tirando comida, lenha, remédios, sombra, paisagem, renda.
grupo visitando a finca
Fomos passeando e ele nos mostrando sua finca. Canela, cúrcuma, gengibre, pimenta do reino, noz moscada, baunilha, cardamomo e várias outras espécies muitas das quais ele seca e/ou extrai óleos essenciais. Me chamou atenção conhecer o pachuli, a planta indiana, que originou o famoso perfume dos anos setenta, depois saiu da moda, mas ainda tem seu uso, em perfume mesmo ou incenso, velas aromáticas, coisas do gênero. Como ainda tem bom mercado, aqui também se extrai seu óleo essencial.
Caminhando e admirando a exuberância da floresta por aqui não pude deixar de lembrar de Woody Allen em Sonho de Cassandra: “é engraçado como a vida tem sua própria vida”. Sim, é engraçado isto. E aqui, no trópico úmido, com solos de alta fertilidade, no meio da floresta, sentimos por todos os lados a força da vida. Não existe uma pedra sem musgo, uma árvore sem bromélia, um pedaço de maneira sem colônia de fungo.
a sala de reunião, rodeada de bosque
E depois desta caminhada, passamos a tarde discutindo a aplicação dos SPGs neste esquema que eles chamam de floresta análoga. Argumentamos – Mathew John, o indiano, Jannet Villanueva, a peruana, e eu –, que as normas a serem seguidas para que produtos deste esquema sejam certificados devem ser simplificadas, mais preocupadas com a forma do que com o conteúdo. E que deve ser sentido um desejo real dos agricultores em implementar um SPG. Nestas e em outras discussões de trabalho, e algumas outras palestras sempre ao redor dos objetivos do seminário, passamos nossa tarde.
No inicio da noite, uma agradável janta, e depois uma fogueira na casa de Milo, nosso anfitrião, que descobri ser um ex-surfista californiano. De madeira, no meio do mato, toda astral, com um pequeno templo budista em seu interior. Ficamos por ali, entre boa conversa, tranquila, sobre os diferentes mundos onde cada um de nos vivemos, do Canadá à Índia, passando por Peru, Brasil México, Costa Rica.
Confesso que lugares como esta propriedade mexem comigo. Saí da universidade e fomos morar em uma propriedade rural, Ana e eu, onde ficamos 11 anos e tivemos três filhos. Saímos para uma pequena cidade, tivemos mais um filho, vivemos bem ali, mas a vontade de morar num sítio voltou a se fazer presente. Enfim, veremos.
A noite passada eu dormi muito bem. Sons da natureza, temperatura agradável, espíritos da floresta velando por nosso sono e sonhos. Espero que se repita, boas noites de sono tem sido artigo raro para mim, e durmo só mais esta noite aqui. 
área manejada com o conceito de floresta análoga

Costa Rica, 04 de fevereiro de 2013.

Paisagem do restaurante Brisas del Nara, em Londres,
Costa  Rica. Nara é o morro mais alto das redondezas.
Cheguei ontem à Costa Rica. Estou aqui para uma reunião que busca analisar a possibilidade de usar os Sistemas Participativos de Garantia para avalizar produtos oriundos dos sistemas florestais análogos. Parece complicado, mas não é. SPGs é uma metodologia que busca garantir, de forma participativa, que um produto ou serviço é o que ele diz que é. Sistemas florestais análogos é o cultivo de plantas, principalmente perenes, tendo a natureza do local como sua referencia, como seu padrão. O adjetivo análogo se refere à natureza. Organizam-se os cultivos florestais buscando imitar a natureza. Coisa de índio. Os povos locais quase sempre operavam, ou ainda operam, assim.
Esta noite passada eu dormi em um hotel em Alajuela, que é a cidade onde fica o aeroporto, a capital da província de mesmo nome, contígua a San Jose, capital do país. Alajuela é uma cidade importante, com mais de 250 mil habitantes, e é perto do vulcão Poás, um dos pontos turísticos do país. Quem sabe no meu último dia aqui consigo ir vê-lo.
Hoje deixamos o hotel de manhã cedo em um pequeno grupo rumo a Londres, na província de Punta Arenas, no pacifico sul do país. Saímos de mais de 2000 mil metros para quase o nível do mar, exatamente descendo a cordilheira vulcânica que perpassa todo o centro do país. Paisagem linda. Viemos de Van, nove pessoas. Diversificadas. Uma mexicana, uma canadense, uma peruana, um indiano, um brasileiro (este que vos fala) e quatro costarriquenhos.
E chegamos à finca Fila La Marucha, em uma região de floresta tropical, onde chove mais de 6400 mm por ano. Apenas como referência para quem não está acostumado com números de precipitação anual, em São Paulo chove uns 1300 mm por ano.
Eu na sala de trabalho, pela noite.
E aqui estou, oito da noite, depois de uma tarde de conversas e debates sobre o tema que falei acima. O lugar é muito agradável, as construções, alojamento, cozinha e sala de reuniões são literalmente no meio da floresta, floresta esta que Milo, o norte-americano que é nosso anfitrião, e sua família, construíram a partir da área de pastagens na qual eles se estabeleceram há acerca de trinta anos. E as construções novas foram todas feitas com madeira que eles próprios plantaram. Meio do mato, um rio correndo aqui do lado, chuva intermitente, noite escura, barulhos de cigarras, rãs e outros que não identifico, um monte de vagalumes embelezando a noite e eu aqui na net. Show!
Como curiosidade, vou contar algo. Esta é a primeira propriedade certificada orgânica do país. Foi certificada em 1991, porque uma importante empresa local, a Café Britt, queria a baunilha que eles produzem aqui. A baunilha é o segundo cultivo mais caro do mundo. Qual o primeiro? Açafrão. Interessante, né? Gostei de aprender isto. Amanhã cedo vamos fazer uma visita guiada pela propriedade, aí conto mais sobre ela. Agora são quase nove, vou dormir, está ficando tarde.