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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Santiago do Chile, 10 e 11 de dezembro de 2016


Visual desde a propriedade orgênica de
Andrea Tuckek e filhas, Catemu.
 
Sábado é dia de feira e o nosso começou pela Ecoferia La Reina, uma feira de produtos orgânicos que ocorre em um parque municipal chamado Aldea del Encuentro.
Ecoferia La Reina
Visitamos a feira calmamente, conversando com os produtores e participando de um bate papo com consumidores. Comprei amêndoas, nozes, maçã seca e tomei café. E assim foi até a uma da tarde, quando deixamos a feira para almoçar na cooperativa La Canasta, uma iniciativa de consumidores que se organizam para terem acesso a produtos de qualidade com preços mais acessíveis. Passamos algumas horas entre empanadas, suco de maçã e conversando sobre possíveis caminhos para o desenvolvimento da agricultura ecológica e da certificação participativa no Chile. Chegamos ao hotel já no fim da tarde.
Uma das frases nas paredes do
The Clinic
O hotel está perto do bairro Bella Vista, lugar que reúne inúmeros bares e restaurantes. Começamos a night passeando pelo interessante Pátio Bella Vista, um centro comercial com uma variedade de lojas com artesanatos e locais para comer ou beber. Mas acabamos optando pela comida chilena do tradicional Galindo. Tradicional nem sempre significa qualidade. Este foi um exemplo. Como a opção de comida não foi boa, fomos tomar algo no The Clinic. Este sim, muito legal. The Clinic é o nome de uma revista semanal chilena, que mistura sátira e humor em suas notícias, comentários e análises políticas. O nome é inspirado na clínica na qual o ditador Augusto Pinochet ficou quando foi preso em Londres, no fim do século passado. Possivelmente em função de seu sucesso e boa imagem, se aventuraram em uma cadeia de bares, que tem como tema o mesmo tom satírico da revista, acompanhado de bom gosto na decoração e no mobiliário. Com um bom e divertido cardápio. Ótimas frases espalhadas pelas paredes. Tão legal que o papo aí se esticou até as três da manhã.
Foto ofical do dia!!!
E hoje, domingo, fomos para a propriedade de Andrea Tuczek, uma das pioneiras da agricultura orgânica aqui no Chile e a quem conheço há 20 anos. Fica em Catemu, na região de Val Paraíso, no famoso Vale do Aconcagua. Visitamos toda sua produção, acompanhando uma visita de verificação feita por um outro agricultor da associação Tierra Viva. Além dos cinco estrangeiros que estamos juntos toda a semana (Vanessa do México, Jose, Bolíviano, Matilde, Argentina e Rafael e eu, brasileiros), alguns sócios de Tierra Viva também estavam presentes. A propriedade é muito bonita, envolta em uma linda cadeia de montanhas. Plantam uma incrível diversidade de coisas, como folhosas, batata, tomate, feijões, batata doce, morango, marmelo, ameixa e muito mais. Processam algumas frutas em geleias e sucos. Pela primeira vez na vida comi damasco fresco. Delicioso.
Almoço luxuoso...
Almoçamos um cordeiro magallanico, acompanhado de saladas frescas e verduras assadas em forno de barro. Toda a preparação capitaneada pelas duas filhas e genros da Andrea, um deles chef, que sabia perfeitamente o que estava fazendo. O almoço foi acompanhado de suco de morango, que são produzidos por eles, e um bom vinho biodinâmico, chamado Emiliana. De sobremesa leche asado, que os próprios anfitriões definiram como um pudim que deu errado. Muito bom. Para fechar, cola de mono, uma bebida muito típica aqui, consumida principalmente nas festas de fim de ano, à base de leite, açúcar, aguardente, baunilha, cravo, canela e café. Tudo isto à sombra de uma árvore.  Maxim's ou Fasano que me deem licença, mas isto sim é luxuoso!
Com toda esta verdadeira festa de babette, começamos a comer às três da tarde e terminamos às sete... claro, tudo entremeado por boas conversas, com seus momentos mais e menos sérios. Chave de damasco fresco orgânico para uma proveitosa e agradável semana de trabalho no Chile. Ficamos todos com a sensação de nos ter faltado uns dias mais. Outra vez será.
cordero magallanico

Verduras ao fogão de lenha

Leche Asado
deixando o registro...

Almoço no La Canasta

sábado, 10 de dezembro de 2016

Santiago do Chile, 08 e 09 de dezembro de 2016

Visual desde La Almendra
Ontem saímos de Santiago em direção ao Sul. Menos de uma hora e estávamos na parcela (o nome que os chilenos usam para sítio, propriedade, granja, finca) de Mônica, uma amiga chilena produtora de morango, arándano, aspargos, abacate, hortaliças, amêndoas e outras coisinhas mais. Sua parcela fica na comunidade de Paina, na região metropolitana de Santiago
Depois de uma pequena reunião com alguns sócios de Tierra Viva, a associação de produtores orgânicos que estaremos visitando esta semana no Chile, fomos olhar seus cultivos.
Estufa com hortliças, na parcela da Monica
Mónica entrou para Tierra Viva em 2010, pouco tempo depois de definir produzir de forma orgânica e viver nas terras de sua família. Tierra Viva surgiu em 1992, com um grupo de 30 pessoas, entre produtores e apoiadores. É a mais antiga agremiação de Produtores Orgânicos do país. Nestes quase 25 anos, muitos saíram, outros entraram, e hoje contam com o mesmo número, 30, de produtores certificados.
Casa de Hugo e Marcela
Nesta reunião, Ramón, um dos técnicos que se envolve com Tierra Viva, mencionou que seu trabalho de manejo do solo se baseia nos 3M - Matéria orgânica, Microrganismos e Minerais. Gostei disto.
Conversando, um outro sócio de Tierra Viva, Francisco, nos contou que a produtividade de morango aqui no Chile nos últimos 40 anos passou de 10 para 100 toneladas por hectare. Como? Tecnologia. Estou seguro que uma mescla de tecnologias mais e menos limpas. Não sei dizer quanto os adubos químicos e os consequentes agrotóxicos representam neste aumento. Eu diria que uma menor parte. Em outras palavras, acredito que com a agricultura orgânica se pode/poderia obter um incremento de produtividade, se não igual, ao menos semelhante. 
Detalhes estéticos: casca das amêndoas
servindo de caminho.
Depois de visitar Mônica e acompanhar o processo de certificação participativa feito realizado pelo Francisco, fomos visitar o casal Hugo e Marcela, donos da empresa El Almendro, que como nos indica o nome se dedica à produção de amêndoas orgânicas. Deliciosas. Aí almoçamos, conversamos e outra vez participamos de uma visita de avaliação da qualidade orgânica de sua proodução, desta vez feita por Mônica, responsabilizada por Tierra Viva para esta tarefa.
O lugar é lindíssimo, e o bom gosto de Hugo e Marcela se nota no cuidado com cada canto da propriedade e da casa, toda feita com grossas paredes de barro e uma arquitetura que privilegia a paisagem que a circunda.
Reunião com os representantes sdo SAG - Serviço
Agrícola e Gandeiro
Hoje amanheceu lindo, cinzento e com uma chuva fina. Quase frio. Este tempo permaneceu por todo o dia. Pela manhã usamos o organizado metro de Santiago para irmos a uma reunião no Ministério da Agricultura. Lá ouvimos uma apresentação e ficamos sabendo da situação da agricultura orgânica por aqui. Segundo Cláudio, o responsável na estrutura de governo por este assunto, tanto a oferta quanto a demanda vêm crescendo nos últimos anos. Hoje são 130 mil hectares certificados como orgânicos, sendo quase 90'% oriundo da coleta silvestre, de frutos como maqui (aristotelia chilensis). Maqui é uma frutinha original do sul do país, consumida ancestralmente pela etnia Mapuche, que também reconhecia as múltiplas propriedades medicinais de suas folhas.
Uma boa parte desta produção orgânica no Chile é exportada, principalmente frutas frescas e vinhos.
Conversa com Reinaldo, em sua casa  comércio.
Ainda antes do almoço fomos ao pequeno comércio de um conhecido de muitos anos, Reinaldo, que nos contou de sua trajetória de promotor da agroecologia no Chile e das razões pelas quais optou por se tornar um comerciante de produtos ecológicos.
O almoço foi em um restaurante na calle Holanda, chamado La Fraternal e aí ficamos, até as seis da tarde, conversando com representantes de organizações de produção ecológica sobre a realidade chilena na produção e a comparando com outros países latino-americanos.
E ainda tivemos força para jantar no Liguria, um bar – restaurante que fica perto do nosso hotel, o Íbis Providência. Gostei muito do lugar, além da boa comida e do bom atendimento, uma decoração carregada, buscando reproduzir o kitchie marcante de uma casa de pueblo chilena. E aí ficamos, entre comidas e bebidas até as duas da manhã. Minha carruagem virou abóbora e eu nem percebi...

Um dos ambientes na El Almendro

Nosso almoço no campo



quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Santiago, 07 de dezembro de 2016.

La Chacona
Meu dia foi quase todo passeando por Santiago. É uma capital bonita, entrecortada por morros e ladeada pelos Andes. Por onde andei, ruas bem cuidadas e arborizadas. Vários parques colocam ainda mais verde na paisagem urbana. 
Rua no Bella Vista
Saí do meu hotel, no bairro Providencia, e fui direto à casa de Neruda, que fica em Bella Vista. Antigamente Bella Vista seria chamado de bairro boêmio, mas hoje deve ser cool, hipster, descolado, milênio - sei lá. Minha filha sempre tenta me explicar as diferenças mas eu não entendo. Vou ficar com legal. Bella Vista é um bairro muito legal. E é lá que está La Chacona, uma das três casas onde morou o poeta Pablo Neruda, um dos maiores escritores do século XX, e que hoje funcionam como museus. As outras são La Sebastiana em Val Paraíso e Isla Negra, que fica nesta ilha decantada por ele em seus versos. Chacona é um nome quéchua que significa descabelada, apelido pelo qual Neruda chamava a Matilde Urrutia, sua amante que se converteu na última das três esposas que ele teve e com quem ficou até sua morte, em 1973. 
Rivera retrato a Matilde de perfil e frente
no mesmo quadro. De quebra,colocou
um perfil de Neruda em seu cabelo
Sempre acho inebriante estes espaços, onde podemos entrar em algo da atmosfera e na vida destes personagens tão marcantes. Seu espírito irrequieto, seu senso estético e sua cultura se fazem notar em cada espaço da casa. Além de suas notáveis amizades, como com Diego Rivera, grande artista mexicano. Na parede de um dos cômodos da casa vemos um quadro pintado por ele com um retrato bastante original de Matilde.
Passei o dia com uma dose de emoção tilintando em mim, por esta visita a Neruda. Não é dos poetas que mais li, mas sua vida e obra emocionam. Ele no "O carteiro e o poeta", ensinando o carteiro a fazer verso. Ou nos deixando algo como: "Amo o amor dos marinheiros, que beijam e se vão / em cada porto uma mulher os espera / os marinheiros beijam e se vão / um dia, deitam-se com a morte no leito do mar". Ou "porque em noite como estas eu a tive entre meus braços / ... / é tão curto o amor e tão longo o esquecimento". Ou militando com Diego Rivera e García Lorca por um mundo mais justo. Sim, não é à toa que me emocionei.
Visual do Mercado La Vega
Acompanhado de uma gostosa nostalgia, saí de La Chacona e fui andando pela rua Antônia Lopez de Bella, passando por uma zona de intenso comércio popular e cheguei ao Mercado La Vega. Um dos maiores que já vi, acho que porque mistura atacado e varejo de frutas, hortaliças, nozes, castanhas, frutas secas. Mas vende tudo, carne, peixe, cereais, comidas para cachorro, roupas, e por aí vai. Para quem gosta de ambientes organizados e cheirosos, não recomendo. Mas bem oportuno para ver e sentir algo local, seus produtos e dinâmica de negociação. Eu gostei muito de conhecer.
Segui caminhando, passei pelo Mercado Municipal, agora transformado quase todo em um espaço para restaurantes mais turísticos. Este sim, mais tranquilo e organizado. e com algumas lindas bancas de peixes e frutos do mar, frescos.
Mercado Municipal de Santiago
Do Mercado Municipal segui pelo Paseo Puente, um dos calçadões no centro da cidade, até a Plaza Mayor. Muita gente, limpa e organizada, rodeada por seus palácios políticos e religiosos. Segui caminhando pelo centro, com paradas para almoço e cafés. Ainda com a atmosfera que Neruda me deixou, resolvi ir ao Museu de Belas Artes de Santiago. Por alguma razão acho que melancolia e arte combinam. 
Bonito o Museu, tanto o prédio como suas coleções. Destaque para José Pedro Godoy e sua exposição intitulada "História Violenta e Luminosa".
Godoy, História Violenta e Luminosa.
Fim do dia encontrei aqueles que me acompanharão esta semana aqui no Chile. José, boliviano, Rafael, brasileiro, Matilde, argentina. Na madrugada chega Vanessa, mexicana. 
Estamos aqui para mais uma etapa do intercâmbio entre Sistemas Participativos de Garantia para a produção ecológica, que o Centro Ecológico, organização que trabalho, está apoiando. Quinta e última etapa, depois de Bolívia, Brasil, México e Peru.

Cheguei um dia antes exatamente para rever um pouco da cidade, já que a última vez que estive aqui foi em 2007. Quase tinha me esquecido como Santiago é um ótimo lugar para se estar. Amanhã vamos visitar propriedades orgânicas. Pouco bom!

Azeitonas, no La Vega

Peixes, no Mercado Municipal de Santiago