Mais de mil novos produtos foram apresentados este ano |
Terceiro
dia de Biofach. A maior feira de produtos orgânicos do mundo. Aqui se reúnem
produtores, comercializadores, certificadores e empresas que desejam importar
matérias primas ou comprar produtos processados. Também quem trabalha com
máquinas, equipamentos ou embalagens de interesse do setor. Consultores,
pesquisadores ou membros de ONGs, como eu, são cada vez mais raros. Ao longo
dos anos, a feira se fez mais ligada ao negócio, menos ao idealismo que
originalmente caracterizou o movimento de Agricultura Orgânica. Para quem ainda
acha que este negócio de agricultura orgânica é coisa de poetas e sonhadores,
como se o mundo pudesse desses prescindir, vir aqui pode ser uma surpresa. Os
poetas e sonhadores perderam espaço, o business
as usual se sobrepôs.
Povo local, fazendo sua cerveja e vendendo na Alemanha - agricultura orgânica roots na Biofach! |
Eu,
que se tivesse que escolher me colocaria mais ao lado da poesia que do ouro,
não creio tanto nesta divisão. Existe um espaço de interseção nestes, mundos
que geram iniciativas muito interessantes. Hippies que se fizeram empresários e
empresários que começaram a ver seu negócio para além do sucesso financeiro,
criaram e seguem criando empreendimentos prósperos e promissores, gerando bem
estar para muita gente. Na Biofach existem muitos exemplos. Um prazer conversar
com eles e descobrir suas motivações.
O
negócio da Agricultura Orgânica cresceu muito. Já falei ontem aqui no blog que
no mundo são 70 milhões de hectares reconhecidos como de cultivos orgânicos,
números de 2017. Neste mesmo ano o mercado girou em torno de 100 bilhões de
dólares.
Presença do Brasil na Biofach |
O
número de agricultores certificados como orgânicos também cresceu bastante. São
quase três milhões em todo o mundo. O país que lidera é a Índia, com 835 mil.
Uganda em segundo lugar com pouco mais do que 210 mil, México em terceiro, com
210 mil e em quarto lugar Etiópia, com 204 ml agricultores certificados como
orgânicos. Nesta estatística Brasil parece com 15 mil produtores.
Número
que considero interessante são os EUA: menos de 15 mil hectares certificados,
cerca de 0,5% da sua área agricultável considerada orgânica, mas detém 45% do
mercado mundial destes produtos. Ou seja, por um lado os produtores
estadunidenses terão que acordar para a expressiva demanda dos seus
consumidores, por outro o país seguirá como ativo importador de produtos
orgânicos por um bom tempo.
AmazoniaBio, empresa com sede na Europa e que vende produtos amazônicos |
Falando
um pouco do Brasil, a presença é a mais tímida que vi desde 2003, primeira vez
que estive na feira. O apoio que sempre foi dado para que organizações de
agricultores familiares se fizessem presente desapareceu. Algumas empresas
vieram por conta própria. Vendendo açúcar, castanha de caju, grãos, mel, baru,
matérias primas para cosméticos. Mas, dentro do que vi, os produtos amazônicos
se sobressaem. Possuem grande apelo sócio ambiental no mercado europeu, norte-americano
ou japonês, além de muitas vezes um reconhecido valor nutricional. Castanha do
Pará e, principalmente, açaí. Tanto em polpa quanto em pó. Também cupuaçu,
pupunha, guaraná. Empresas como Amazon
100%, com sede em Belém e uma espécie de subsidiária em Liége, na Bélgica,
para distribuir com mais facilidade no mercado europeu este produtos
originários da Amazônia.
Amazon 100%, stand do Brasil. |
Ou a Petruz,
que vende açaí há um tempo e recentemente entrou no mundo dos orgânicos. A Plantus vende óleos essenciais, muitos
deles de produtos do Norte do país. Esta ideia de que a economia da Amazônia
pode ser pujante com suas árvores de pé é muito interessante e deveria ser
melhor avaliada e explorada. Crer na soja como elemento de desenvolvimento para
a região Norte do Brasil e seu povo é de um primarismo que eu imaginava já superado.
Não. Infelizmente esta visão, que simboliza um modelo que foi mas nunca deveria
haver sido, está vigorosa e tem no atual governo e seu mal informado ministro
do meio ambiente um defensor. Lástima.
Açaí bombando, esta empresa é de Porto Rico |
Bom,
me deprimi agora, falando sobre isso. Acho que vou ter que caminhar um pouco
mais, comer uns chocolates, uns queijinhos e quem sabe tomar uma taça de vinho.
Tudo isto orgânico e de graça... pensa se eu gosto!
Hoje
à noite tem uma tradicional janta na própria feira, meio que de despedida.
Comilança orgânica para mais de mil pessoas. Amanhã a Biofach funciona à meia
pressão, muitos expositores desde cedo se preparando para regressar à casa.
Mais uma edição terminou, quem sabe ano que vem retorno. Agora é regressar ao
trabalho cotidiano e dar um jeito deste ano ser um bom ano, mesmo com perspectivas
pouco alvissareiras.
Castanha do Pará, stand da Bolívia |
Bom dia, Amigo... Agradeço e desejo que continues compartilhando as informações sobre a agricultura orgânica. Um abraço fraterno, Marco Antônio Bilo Vieira.
ResponderExcluirDeprimente a situação do nosso país. Quiçá um dia a coisa melhore. Esperar para ver.
ResponderExcluirLaércio,
ResponderExcluirObrigado pelas informações.
"Nao podemos se entregar prós homens"
Abraço