Atravessando a pinguela... |
Dia morno hoje, sem passeios místicos e com um trabalho que poderia ter sido feito na minha casa, já que foi todo em meu
computador. Até pensei em adiantar meu retorno, mas as companhias hoje colocam
tantos empecilhos para trocas de passagens que fiquei só na vontade. Mas tudo
bem, dias mornos também teu seu charme.
Não tendo compromisso pela manhã, não coloquei o
relógio pra despertar. Acordei às seis e quinze... Os mais jovens não se
assustem, velho dorme pouco. Trabalhei no computador até uma hora razoável para
meu desayuno. Café da manhã de hotel,
estilo buffet, com tempo, é uma
maravilha né? Fiquei comendo por mais de uma hora, acompanhado do meu
computador, entre notícias da politica local, do Botafogo e respostas a emails.
Com tempo livre, me dei ao luxo de caminhar uns
15 min, de mão dada com o sol, até a praça, atrás de um expresso. Ainda que a Bolívia
produza bom café, aqui não se tem muito o hábito de prepará-lo bem. E, como no
Brasil, o mercado interno não fica com a melhor parte. Mas na Cafeteria 24, em uma das esquinas
opostas à Praça 24 de Setembro, tomei
um bom expresso curto.
Sopa tapada e mocochinchi |
Depois de um pit stop no hotel fomos almoçar de
novo no el aljibe, já eleito o meu
preferido daqui. Comemos um pastel de
gallina. É um prato de forno, com um recheio a base de galinha caipira
desfiada, batata e banana em pedaços, ovo cozido, uvas passa, cebola, temperos e algo de
açúcar, que lhe aguça o doce já presente pela banana e pela passa. Este é o
recheio de uma fina massa de trigo, tudo levado ao forno em um recipiente
adequado. No visual quase parece uma lasanha. Como é bem molhado, acompanha bem
com arroz. Muito gostoso, diferente, bem crioullo.
Ou bem camba, na linguagem local. Comemos
também a sopa tapada, prato parecido,
mas com charque no lugar da galinha, menos doce, mais seco e envolto em massa
de arroz e não de trigo. Gostoso, mas o pastel de galinha ganhou. E tomamos o
que se tornou minha bebida da semana, o Mocochinchi.
Pastel de gallina |
Saímos do almoço, tomamos um café e fomos direto
a um supermercado comprar o pêssego seco que é a base deste refresco. Vou
prepará-lo em casa. Nem sempre funciona isto, de se em ligar com uma comida
local e tentar reproduzi-la em casa. Comida também tem contexto, entorno. Mas
vou tentar, às vezes funciona. Daniel, meu filho de nove anos, agora virou um
viciado em guacamole, um prato típico
mexicano. Vamos ver o que meu povo acha do Mocochinchi. Comprei quinoa também, já que estou na Bolívia.
Como o sol seguiu de mão comigo, cheguei ao
hotel, trabalhei um pouco no relatório da semana e fui para a piscina, tomar um
banho, ler e relaxar, depois uma sauna para terminar a semana estafante.
Estafante? É, acho que sim.
De noite fomos jantar em um restaurante Peruano,
na Av. Monseñor Rivero, um boulevard com vários cafés e restaurantes, bem perto do
hotel. E para nossa surpresa tinha carnaval! Blocos, jovens e crianças com suas fantasias e
coreografias, as calçadas cheias de
familiares assistindo. Um som animado, com uma forte influência da musica
andina. Para quem nunca passou carnaval em outro país, é bom saber que ele não é vinculado necessariamente ao samba. É uma festa popular, meio pagã, meio cristã, o adeus à carne, visando a quaresma, e tem diferentes matizes nos diversos países. Não sei até que horas rolou a festa, porque minha carruagem está com
defeito e deu para virar abóbora às dez da noite, achei melhor vir para o
quarto.
Agora arrumar a mala e amanhã cedo pegar o rumo de volta. Valeu a
semana, com mais reflexões que trabalho. Ganhei bastante, espero ter deixado
algo também. Início de fevereiro tem Costa Rica, tudo dando certo, conto algo
de lá.
Esta árvore, no Forte de Samaipata, me lembrou Saramago: a solidão não é uma arvore no meio da planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz.. |
Laercio,
ResponderExcluirAcho que a comida local, carregada de cultura e sabor te encanta tanto quanto a mim - se assim não fosse, este não seria um dos nossos hobbies favoritos, não só comer, mas desfrutar, degustar ...
Saludos e bom retorno!
Ana
Acho que descrevo tanto pensando em você... sei bem como você aprecia!!!
ResponderExcluirQue beleza de relato! Adorei.
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