Tomando vinho de palma com amigos São Tomenses. |
Cheguei em São
Tomé, capital de São Tomé e Príncipe, na terça-feira e, como comentei no post
anterior, trabalhei quarta e quinta-feira, ministrando um curso. As primeiras
duas noites dormi em um hotel simples, mas suficiente, no centro da cidade. Para
facilitar a vida. Quinta à tarde aluguei um carro e fui para o Hotel Santo
Antônio, em um local mais isolado e que fica a 20 quilômetros da cidade. Da
outra vez que tive em São Tomé havia visitado esse local e prometido que se
houvesse uma próxima ficaria aqui. Promessa feita, promessa cumprida...
Hotel Santo Antônio |
Não lembro de ter estado
no paraíso, mas deve ser parecido, em termos de simplicidade sofisticada e
conforto.
Ontem,
sexta-feira, dia 12 de julho, foi feriado nacional. Decidi então pegar o carro
que aluguei e ir na direção de Porto Alegre, cidade mais ao Sul da ilha. O
destino final seria a praia Jale, dita por todos como idílica, que o Google me
mostrava estar a 60 km.
Trecho da estrada |
Fui dirigindo pela
estrada, asfáltica, a principal do país. Mão dupla e estreita, sem acostamento.
Dos dois lados, plantações de cacau e pimenta do reino. Sempre acompanhadas de
banana e fruta pão, mas também vi muita manga, abacate e mais um sem número de
árvores. Difícil separar o que é plantado do que cresce espontaneamente, ou o
que é cacau sombreado das florestas.
Quase sempre o mar
está em um nível bem abaixo da estrada, que é construída à borda das montanhas,
subindo e descendo todo o tempo. Algumas vezes descemos mais e o mar surge ao
lado, o que permite facilmente descer do carro e tomar um banho, caso se tenha
vontade. As praias quase sempre desertas, absolutamente desertas.
Festa da Independência em Caué. |
Depois de trinta
minutos dirigindo cheguei a Caué, importante município da ilha. Mas não pude
seguir viagem... a comemoração principal do aniversário da independência do
país era nessa cidade, naquele exato momento, com a presença da Comitiva
Presidencial. O que me restou foi estacionar o carro e ver a movimentação. Não
cheguei a tempo dos discursos, o que não achei ruim, mas pude ver muita gente
nas ruas, roupas domingueiras e clima de festa. Música e barraquinhas de
comida. Legal ter visto. Na volta vi um animado baile no meio da rua.
Quando as
autoridades se foram, segui viagem. Sempre em direção ao sul.
Dendenzeiros - Palma africana |
Alguns quilômetros
depois avistei uma grande lavoura de palma africana. Desta planta se extrai
nosso famoso azeite de dendê. Na porteira de entrada pude ver o selo europeu de
produtos orgânicos. Entrei... não resisti... mas, sendo feriado, encontrei
apenas um trabalhador, que não soube me contar muito. Mas vi a fábrica para
extração do óleo. Certamente será exportado para Europa, espero que os ganhos desta
iniciativa cheguem minimamente aos trabalhadores. Infelizmente as normas da
agricultura orgânica não são suficientes para nos dar esta certeza.
Pedra do Cão Grande |
Desta Fazenda pude
ver a pedra do cão grande, tido como um local de interesse aqui na ilha. Desci
para fotografar e, esse momento, troquei umas palavras com três brasileiros,
dois deles Pastores Batistas, um dos quais havia vivido aqui por sete anos,
como missionário. Convidaram-me para segui-los, de carro, para irmos juntos à
praia piscina. Aceitei, mudei minha programação e fomos.
No caminho,
passamos por Porto Alegre. Eu havia imaginado uma cidadezinha, mas na verdade é
uma paupérrima aldeia de pescadores. A estrada até a praia é daquelas nas quais
levamos três ou quatro minutos para percorrer um quilômetro. Achei bom ter
encontrado essas companhias, pude me sentir mais seguro passando pela vila ou
na praia onde só haviam alguns locais.
De fato a praia é
lindíssima. Ficamos menos de uma hora e regressei. O aplicativo anunciou que eu
demoraria duas horas para percorrer os sessenta quilômetros até o hotel...
Praia piscina |
Hoje, de manhã, o
Carlos, meu anfitrião aqui, levou-me para visitar sua lavoura de pimenta do
reino. Ficamos três horas pelo interior. Para começar, ele me levou para beber,
junto com uns amigos da comunidade onde nasceu, vizinha ao hotel, o oinho de
palma, uma bebida obtida a partir da fermentação da seiva de várias espécies de
palmeiras e coqueiros. Tomei a que havia sido feita de manhã cedo, estava mais
para um suco fermentado, com os dias torna-se uma bebida alcoólica.
Cacau |
Não vou me
estender, apenas dizer que foi uma experiência única andar pelas roças e
conversar com o povo local. Eu não vi um branco durante a manhã toda. Sei que é
óbvio, mas como não sei quem pode ler este post, devo lembrar isso, assim é na
África negra. Deixo dito aqui, para eu recordar daqui há alguns anos, seu eu
voltar a reler esse post, o elogio que ouvi: “Laércio é como nós, nem parece
branco!”
Vi muita pimenta,
cacau, fruta pão, banana, goiaba, mamão. E pela segunda vez na vida vi
baunilha, um dos produtos agrícolas mais caros do mundo.
Euzinho no restaurante |
E ainda teria
muito que descrever relativo ao meu almoço de hoje... mas vou abreviar. Fui no
restaurante da Roça São João dos Angolares, do conhecido chef João Carlos
Silva. Tem uma página no Facebook, caso alguém se interesse. Comi o menu
degustação. Foram sete entradas, mais duas entradas para limpar o paladar.
Depois, o prato principal – feijoada, que aqui em São Tomé é feita com peixe.
Foi servida com arroz e batata doce assada. Duas sobremesas e café passado.
Sabe este papo de experiência gastronômica? Pois foi o que vivi hoje. Não existe
chance de esquecer este almoço. Comidas deliciosas, turbinadas pelo local, muito
agradável e com uma decoração que não deixa você esquecer onde está. Para
completar, a vista é simplesmente
deslumbrante.
O post ficou longo
e deixei algumas boas coisas que vi sem contar... países como esse geram muito
assunto... amanhã volto para a cidade, segunda e terça tem trabalho.
Outro ângulo da praia piscina |
Sei que o tanto de tempo que tens nessa vida de turista/viajante deve ter te deixado muito experiente. Curiosidade: rola alguma insegurança nessas andanças? Não precisa responder. Abraços!!!
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