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quarta-feira, 10 de julho de 2019

São Tomé e Príncipe, 09 e 10 de julho de 2019.


Venda de carvão - fora do mercado municipal de São Tomé
Outra vez em São Tomé e Príncipe. Outra vez a convite de IFOAM – Organics International, para duas atividades distintas. Cheguei ontem, terça-feira, após uma long long trip. Desde Lisboa, onde dormir uma noite sem nem sair do hotel, são sete horas de viagem até São Tomé, capital do país que é conformado pelas duas ilhas que lhe dão o nome.
Amanhecendo em São Tomé
Cheguei ontem à noite e hoje começou minha primeira atividade. Um curso intitulado Princípios e Práticas da Agroecologia. Mais encaixado impossível, vendo pela minha visão (emoticon com a língua de fora). Deixa eu contextualizar: São Tomé e Príncipe é um país pequeno e com poucos recursos financeiros. Tem como principal ingresso econômico o cacau, cultivo que já foi pujante, teve seu declínio e agora está em recuperação. Tem algo de café também, assim como vestígios da cana de açúcar, que teve seu apogeu lá nos séculos XVI e XVII. Além disto algumas frutas, que de tão adaptadas se fizeram locais, como banana ou abacate, e contemporâneas hortas, tentando atender a demanda que surge principalmente pelo fluxo de estrangeiros, com o recente desejo do país de investir em turismo. Nessas culturas novas é que entram os agrotóxicos. Cenoura, cebola, repolho, couve e o usual campeão de venenos, tomate. São Tomé fica no Equador, não é o clima preferencial do tomate, que é uma planta originária dos Andes, gosta de diferenças significativas nas temperaturas do dia e da noite, água do degelo e ar seco. Raciocínios semelhantes cabem a outras hortaliças. Sendo tão inadaptadas, cultivar essas plantas é um convite ao uso de agrotóxicos. Minha tarefa por aqui, não tão simples, é dar dicas para que, mesmo tão exógenos, esses cultivos sejam razoavelmente bem sucedidos na agricultura orgânica. Melhor seria dizer não a esses cultivos, mas a história se complica. O turista vem para cá e pede arroz ou batata-fria, saladinha de tomate e alface. Não gosta do inhame (matabala por aqui), da banana da terra ou da incrível fruta pão. Nenhuma novidade, o consumidor poucas vezes reflete sobre os efeitos do teu ato de consumo...
O milagre original: fotossíntese!
Bom, independente dos cultivos, como pensar a agricultura aqui, em um país sem indústria, sem infraestrutura, sem recursos para importar venenos ou fertilizantes? Pensando no que São Tomé e Príncipe tem: Sol e chuva. Fotossíntese! Para os que não são da área ou andaram matando aula de biologia no científico (sic), fotossíntese é o processo pelo qual uma planta é capaz de transformar o gás carbônico, abundante na atmosfera, e água, em matéria verde, usando como fonte de energia a luz do sol. Mesmo quem estudou, muitas vezes não realiza que a madeira da mesa sobre a qual escrevo neste momento é ar e água, feitos sólidos através das folhas verdes. Viagem né? Uma espécie de milagre original, é graças a Fotossíntese que existe vida no planeta.
Pois então, baseado nisso, meu raciocínio é simples: a agricultura aqui deve ser uma agricultura de sol! Produção intensa de biomassa que, manejada com inteligência, será transformada em fonte de nutrientes para a planta. Que manejo é este, foi o que trabalhei com eles nestes dias de curso! Hoje comentei com eles que nas condições locais o sol, subsidiado pela chuva, é o principal insumo da Agricultura Orgânica. Não único, mas principal. Espero que tenha sido útil, mas sei que é necessário mais tempo para que esses conceitos sejam apreendidos e utilizados. Esta parte é um pouco frustrante em algumas consultorias. Tenho convicção que as informações são oportunas, mas sei também que o tempo é curto para que sejam assimiladas.
Veremos!
Hoje, antes de começar, olhando os participantes do curso, comecei a cantarolar e achei a cena engraçada: “forças ocultas, deusas do céu e do mar, me ajudem à conquistar, o coração dos seus...” (lembram? da música pagã). No caso, conquistar para a Agricultura Orgânica. Foi uma espécie de oração, deixo registrada aqui.
Bom, além do curso, comer e caminhar pela cidade. Hoje, de manhã cedo e no fim da tarde fui ao mercado. Uma viagem... muita gente, desorganizado. Produtos, locais e alguns importados, sendo vendidos sem muitos cuidados, peixes frescos, com olhos de peixe morto, expostos no calor. Marcou a manhã uma mulher que esbravejava contra o vizinho de banca, na língua local, e um rapaz com uma cobra na mão, assustando as pessoas.
Tentou comigo também, mas sou nascido e criado no Pé Pequeno, não é tão fácil me assustar!
O que mais me marcou nessa visita ao mercado foram os cheiros, cheiros em profusão. Tive uma rara sensação de náusea, tive que sair dali e ficar observando do lado de fora. Uma bagunça! Agradável é a última palavra que me ocorre para adjetivar o lugar, mas interessante cabe. Sim, o Mercado Municipal de São Tomé é interessante. Um olhar atento pega algumas curiosidades, como feijão importado do Canadá ou óleo de soja em embalagens de 200 ml. Esta última, quem adivinha porquê?
Culinária por aqui é peixe, uma mescla interessante do local com um toque português. Espero ainda ver mais, mas por enquanto comi camarão no Café Camões e peixe azeite no Restaurante Papa-figo. Peixe grelhado, muito bem feito, matabala e banana da terra fritas. Delicioso!
E é isto aí! Amanhã tenho mais curso, as atividades seguem, depois conto mais!
Sede da ADAPA - ONG local que me recebe

Entardecer pelas ruas de São Tomé!


3 comentários:

  1. Me encantei, trouxe-me lembranças boas da escola, das decote nas na ponta da língua. Pois bem, posso pedir uma pedrinha daí para a minha fonte? Ficaria feliz...😁

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    1. Oi Lê! Que bom que você gostou... só vi esse comentário agora, já de volta... não trouxe a pedrinha... abraços!

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