Venda de carvão - fora do mercado municipal de São Tomé |
Outra vez em São Tomé e Príncipe. Outra
vez a convite de IFOAM – Organics International,
para duas atividades distintas. Cheguei ontem, terça-feira, após uma long long trip. Desde Lisboa, onde dormir
uma noite sem nem sair do hotel, são sete horas de viagem até São Tomé, capital
do país que é conformado pelas duas ilhas que lhe dão o nome.
Amanhecendo em São Tomé |
Cheguei ontem à noite e hoje começou minha
primeira atividade. Um curso intitulado Princípios e Práticas da Agroecologia. Mais
encaixado impossível, vendo pela minha visão (emoticon com a língua de fora).
Deixa eu contextualizar: São Tomé e Príncipe é um país pequeno e com poucos
recursos financeiros. Tem como principal ingresso econômico o cacau, cultivo
que já foi pujante, teve seu declínio e agora está em recuperação. Tem algo de
café também, assim como vestígios da cana de açúcar, que teve seu apogeu lá nos
séculos XVI e XVII. Além disto algumas frutas, que de tão adaptadas se fizeram
locais, como banana ou abacate, e contemporâneas hortas, tentando atender a
demanda que surge principalmente pelo fluxo de estrangeiros, com o recente
desejo do país de investir em turismo. Nessas culturas novas é que entram os
agrotóxicos. Cenoura, cebola, repolho, couve e o usual campeão de venenos,
tomate. São Tomé fica no Equador, não é o clima preferencial do tomate, que é
uma planta originária dos Andes, gosta de diferenças significativas nas
temperaturas do dia e da noite, água do degelo e ar seco. Raciocínios
semelhantes cabem a outras hortaliças. Sendo tão inadaptadas, cultivar essas plantas é um convite ao
uso de agrotóxicos. Minha tarefa por aqui, não tão simples, é dar dicas para
que, mesmo tão exógenos, esses cultivos sejam razoavelmente bem sucedidos na
agricultura orgânica. Melhor seria dizer não a esses cultivos, mas a história
se complica. O turista vem para cá e pede arroz ou batata-fria, saladinha de
tomate e alface. Não gosta do inhame (matabala
por aqui), da banana da terra ou da incrível fruta pão. Nenhuma novidade, o
consumidor poucas vezes reflete sobre os efeitos do teu ato de consumo...
O milagre original: fotossíntese! |
Bom, independente dos cultivos, como
pensar a agricultura aqui, em um país sem indústria, sem infraestrutura, sem
recursos para importar venenos ou fertilizantes? Pensando no que São Tomé e
Príncipe tem: Sol e chuva. Fotossíntese! Para os que não são da área ou andaram
matando aula de biologia no científico (sic), fotossíntese é o processo pelo
qual uma planta é capaz de transformar o gás carbônico, abundante na atmosfera,
e água, em matéria verde, usando como fonte de energia a luz do sol. Mesmo quem
estudou, muitas vezes não realiza que a madeira da mesa sobre a qual escrevo
neste momento é ar e água, feitos sólidos através das folhas verdes. Viagem né?
Uma espécie de milagre original, é graças a Fotossíntese que existe vida no
planeta.
Pois então, baseado nisso, meu raciocínio
é simples: a agricultura aqui deve ser uma agricultura de sol! Produção intensa
de biomassa que, manejada com inteligência, será transformada em fonte de
nutrientes para a planta. Que manejo é este, foi o que trabalhei com eles
nestes dias de curso! Hoje comentei com eles que nas condições locais o sol,
subsidiado pela chuva, é o principal insumo da Agricultura Orgânica. Não único,
mas principal. Espero que tenha sido útil, mas sei que é necessário mais tempo
para que esses conceitos sejam apreendidos e utilizados. Esta parte é um pouco
frustrante em algumas consultorias. Tenho convicção que as informações são
oportunas, mas sei também que o tempo é curto para que sejam assimiladas.
Veremos!
Hoje, antes de começar, olhando os
participantes do curso, comecei a cantarolar e achei a cena engraçada: “forças
ocultas, deusas do céu e do mar, me ajudem à conquistar, o coração dos seus...”
(lembram? da música pagã). No caso,
conquistar para a Agricultura Orgânica. Foi uma espécie de oração, deixo
registrada aqui.
Bom, além do curso, comer e caminhar pela
cidade. Hoje, de manhã cedo e no fim da tarde fui ao mercado. Uma viagem...
muita gente, desorganizado. Produtos, locais e alguns importados, sendo
vendidos sem muitos cuidados, peixes frescos, com olhos de peixe morto,
expostos no calor. Marcou a manhã uma mulher que esbravejava contra o vizinho
de banca, na língua local, e um rapaz com uma cobra na mão, assustando as
pessoas.
Tentou comigo também, mas sou nascido e
criado no Pé Pequeno, não é tão fácil me assustar!
O que mais me marcou nessa visita ao
mercado foram os cheiros, cheiros em profusão. Tive uma rara sensação de
náusea, tive que sair dali e ficar observando do lado de fora. Uma bagunça! Agradável
é a última palavra que me ocorre para adjetivar o lugar, mas interessante cabe.
Sim, o Mercado Municipal de São Tomé é interessante. Um olhar atento pega
algumas curiosidades, como feijão importado do Canadá ou óleo de soja em
embalagens de 200 ml. Esta última, quem adivinha porquê?
Culinária por aqui é peixe, uma mescla
interessante do local com um toque português. Espero ainda ver mais, mas por
enquanto comi camarão no Café Camões e peixe azeite no Restaurante Papa-figo.
Peixe grelhado, muito bem feito, matabala e banana da terra fritas. Delicioso!
E é isto aí! Amanhã tenho mais curso, as
atividades seguem, depois conto mais!
Sede da ADAPA - ONG local que me recebe |
Entardecer pelas ruas de São Tomé! |
Me encantei, trouxe-me lembranças boas da escola, das decote nas na ponta da língua. Pois bem, posso pedir uma pedrinha daí para a minha fonte? Ficaria feliz...😁
ResponderExcluirDecorebas*
ExcluirOi Lê! Que bom que você gostou... só vi esse comentário agora, já de volta... não trouxe a pedrinha... abraços!
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