O Eu Profundo e ops outros Eus |
Depois da jornada em Bissau, uns dias de férias.
Ana e eu nos encontramos em Lisboa e vamos dar um giro entre Portugal e
Espanha. Como gosto de fazer, vou caminhando e contando algo por aqui.
Chegamos na terça, dia 13, e alugamos um carro para
sair de Lisboa no dia 15. Assim, foram dois dias passeando pela capital
lusitana. Vou ser sintético em relação ao que fizemos: passeamos pela Avenida
Liberdade, Bairro Alto, Santo Antônio, Rossio, Alfama e Graça. Isso tudo na
quarta-feira, dia 14, acho que caminhamos uns 12 km. Ou mais, com o detalhe que
se sobe e desce muitos morros. Tudo muito legal, mas vou destacar alguns
momentos. Primeiro, uma menção honrosa ao Hotel Santa Justa. Mais que bom,
super recomendo. Depois, o almoço no “A Merendinha do Arco Bandeira”. Um
bacalhau à minhota, delicioso! Com vinho da casa, claro! Vou ainda mencionar a
passada na Casa de Saramago, adorei ler um pouco sobre ele e saber mais da sua
vida. Como escritor, considero Saramago umas das minhas principais influências.
Estivemos, também, no café “A Brasileira”. Esse lugar era muito frequentado por
Fernando Pessoa, e eu tenho um conto, publicado, que se passa, em parte, neste lugar.
Sentar-me ali, pedir um café e ler o meu conto foi um momento-looping
maravilhoso. Por último, vou falar que os pastéis de nata são deliciosos!
Rainha Santa, ao lado do Castelo |
Ontem, quinta, pegamos o carro e viemos para
Estremoz, região do Alentejo. Porque Estremoz? Porque vim aqui em 2015, com Ana
e André, um grande amigo, e conheci a Pousada do Castelo, mas não nos
hospedamos. Desde então, quero voltar para me hospedar. Acontece que o Castelo,
hoje feito pousada, foi construído no século XIII, por determinação de D.
Diniz, Rei de Portugal, para sua esposa amada, Isabel de Aragão, também
conhecida, como a Rainha Santa. Isabel de Aragão é bastante conhecida no meio
espírita, em função de várias histórias contadas, sobre ela, por Chico Xavier.
Uma dessas histórias é a aparição de Isabel a Chico, em seu quarto, no dia 10
de julho de 1927, dois dias depois dele receber sua primeira mensagem
psicografada. Ela apareceu e pediu a ele para ajudá-la na sua tarefa de dar pão
aos pobres. Depois de um curto diálogo ele aquiesceu e, durante toda sua vida,
cumpriu a promessa feita. Essa doação de pães tem relação com a própria vida
dela como rainha. Digo isso porque um dos milagres que lhe é atribuído é o
seguinte: ela tinha o hábito de distribuir pães para os pobres que se
aglomeravam ao redor do Castelo. Capela da Rainha Santa, representação
do milagre das rosas.
Eram muitos, lembremos que nessa época ou se era da corte, ou se trabalhava para corte, ou se pagava impostos à corte. Se nenhum dos três, era um miserável. Bem, talvez hoje não seja tão diferente… Mas voltemos à Rainha Isabel de Aragão.
Esse hábito de distribuir pães, que ela levava na barra do seu vestido, fazendo-o de cesta, acabou por aumentar a aglomeração de pobres ao redor do castelo, o que levou o Rei a pedir a sua esposa para que não mais fizesse isso. Ela não obedeceu… fico pensando que quem deve obediência à sua consciência não aceita qualquer ordem… enfim, apesar da proibição, certo dia o Rei vê sua esposa se dirigindo ao lugar onde costumava doar os pães, saia dobrada, e pergunta se ela o estava desobedecendo. Ela diz que não… ele pergunta: “o que levas aí?”. Ela responde: “rosas!” Ele faz mais uma pergunta: “rosas em janeiro?” (vamos lembrar que janeiro é alto inverno). Ela abaixa a barra da saia e rosas caem ao chão.
Interior do Castelo |
Sacaram porque vim à Estremoz? Visitar a Rainha…
Tem outro lado, que me trouxe aqui, mais mundano…
rsrsrs… se hospedar em um castelo é muita onda! Impressionante pensar que foi
construído há mais de 700 anos… e os quartos, entre o antigo e o novo, tudo
impecável. O café da manhã? Digno da nobreza!
Que mais fizemos em Estremoz, além de curtir o
castelo? Jantamos no restaurante “Venda Azul”. Eu comi um prato com diferentes
cortes de porco negro, com miga de aspargos. Miga é um prato feito à base de
pão alentejano, sensacional. E o porco negro… algo à parte! Ana comeu uma sopa,
à base do mesmo pão e coentro. Ela adorou!
Açorda à Alentejana com ovo.
A sopa local que Ana adorou!
Hoje, sexta-feira, depois do belo café da manhã e
de ir visitar a capela da Rainha, fomos para Vila Viçosa. Escolhi ir lá porque
é a terra da poetisa Florbela Espanca (“minha alma de sonhar-te anda
perdida…”). Passeando pela muito simpática Vila Viçosa, encontramos um
restaurante de nome Florbela Espanca! Claro que comemos lá! Ana, sopa de
coentro, ela é meio a louca do coentro, e se achou aqui no Alentejo. Eu comi
Alheiros de Mirandela. Demais demais demais. O corretor de texto reclama que escrevi
três vezes a mesma palavra. Deve ser porque ele nunca comeu Alheiros de Mirandela.
Demais, demais, demais. Se você está cansado de ler até aqui, lamento, mas vou
contar a história deste prato, considerado, simplesmente, uma das sete
maravilhas gastronômicas de Portugal.
É tipo uma linguiça, feita à base de carnes de
aves, gado e porco, com massa de pão para dar consistência. Eu comi com arroz,
ovo e batata frita.
Perguntamos ao dono do estabelecimento e ele
explicou: “antigamente, os asiáticos viviam em Portugal, e eles não podiam
comer carne de porco, então inventaram esse chouriço que misturava porco com
aves para disfarçar que não estavam a comer porco”.
Asiáticos… bom demais, né? Bem, geograficamente ele
está certo…
No restauranta Florbela Espanca, pedimos o cardápio. Ele trouxe... |
Além da informação do nosso anfitrião, fui ler
sobre a origem do prato. A hipótese mais aceita é a de que ele foi inventado no
final do século XV, por judeus (asiáticos…), que se instalaram no interior de
Portugal depois de terem sido expulsos da Espanha pelos reis católicos. Para
não serem perseguidos pela Inquisição, tiveram que fingir que consumiam
normalmente carne de porco (animal proibido na religião judaica) e, por isso,
criaram um tipo de chouriço apenas com outras carnes (vitela, coelho, peru,
pato etc.) e massa de pão, para dar consistência. A receita teria, então,
conquistado o paladar dos cristãos que, depois, incorporaram a carne de porco à
versão original. Boa história, nem me importo se é verdadeira ou não, sei que “Alheiros
de Mirandela” é bom demais!
Ainda vou falar de mais um momento gastronômico:
ontem e hoje, fomos a um bar frequentado pelos locais, Restaurante Alentejano,
e pedimos vinho da casa! Fomos em uma banca na praça, compramos queijo e pão e
fizemos a nossa ceia. A dona do bar nos viu trazendo comida e perguntou: querem
um prato? E eu achando que ela iria achar ruim trazermos comida para seu
bar/restaurante…
Bom, fico por aqui. Com uma frase que ouvi em algum
lugar: Amo muito tudo isso!
Hoje foi aniversário de papai. Ele iria adorar esse
Castelo.
Escadas na Casa de Saramago |
Janela de onde a Rainha via sua amada Espanha |
Estremoz é famosa pelos seus bonecos feitos em cerâmicas, por artistas locais. |
Na Casa de Florbela Espanca |
Restaurante Flrobela Espanca |
Ruas de Vila Viçosa! |
Não posso deixar de dizer que em alguns momentos da leitura fiquem com muita fome (vontade de comer)
ResponderExcluirAliás me chama atenção os detalhes da gastronomia e suas histórias! E acho tudo demai demais mais, que se rale o corretor do Google 😅😅😅❗
ResponderExcluirTambém fiquei com fome e prazer de ler o bom escriba botafoguense
ResponderExcluirQue bacana aproveitem meus queridos amigos
ResponderExcluirMaravilhoso relato! "Alheiros de Mirandela", me aguarde🙏
ResponderExcluirAlegria de andar nas terras portuguesas, na trilha de queridos amigos. Me deu muita vontade de conhecer Portugal!
ResponderExcluirAo vir para Portugal, não deixe de provar pão de Deus com queijo e fiambre. E alheiras. Depois acompanho para ver se gostaram.
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