Visual das montanhas em Gualaceo, Sul do Equador, O galã aí sou eu. |
Ontem passei o dia todo na Universidade de Cuenca, dando aula para o
Mestrado que eles têm em Agroecología e Ambiente. Sem grandes emoções, só a
responsabilidade de atuar bem durante nove horas de aula... mas no fim deu tudo
certo. Acabou que nem escrevi para o blog, achei que não teria muito que
contar.
Hoje foi diferente, fomos ao campo, visitas a fincas e a uma feira. É definitivamente meu maior prazer no
trabalho. Saímos de Cuenca antes das
oito e fomos em direção a Gualaceo. A
estrada bonita, quase encravada nas montanhas rochosas, tipicamente andinas,
mas recobertas de uma breve vegetação que denuncia tanto que estamos na época
de chuvas quanto o início da transição para a floresta tropical, a Amazônia
Equatoriana. Em alguns trechos margeamos o Rio Cuenca e o vemos desembocar no
Rio Paute, que segue seu caminho rumo ao oriente equatoriano, e no fim, desembocando
de rio em rio, vai chegar ao Rio Amazonas, e aí sim cumprir seu destino de
chegar ao mar.
Um hornado de chancho |
A viagem foi breve e após 45 minutos desta instigante paisagem chegamos
ao Mercado da cidade. Não tão grande, com seu pátio de comida e bancas de
produtos in natura e outras com
produtos industrializados. O Mercado é circundado por uma feira, que na real é
parte do próprio Mercado, onde as mulheres estão com suas bancas, no solo,
muito de acordo ao que se costuma ver por estes lados do continente. Aproveitei
e comi junto com alguns do mestrado um hornado
de chancho, que é um porco assado inteiro ao forno a lenha (horno em espanhol). Ele é cozido por no
mínimo três horas, e uma senhora (uma hornadera)
serve desfiando-o com as mãos. A carne de porco é servida com mote (milho branco,
cozinhado por horas) y llapingacho (uma
tortilla de batatas). No fim colocam
um vinagrete para dar mais sabor ao hornado.
Delicioso.
Feira / mercado de Gualaceo |
Em parte deste Mercado um povo comercializa produtos ecológicos. São
os sócios da Organizacion de Productores
Agroecologicos Mushuk Pakarina, palavra Quechua
que significa Novo Amanhecer. Esta associação surgiu em 2001, tem 86 sócios e trabalha
com Agroecologia desde seu principio. Quem nos recebeu, muito bem, foi Don Manuel, um dos dirigentes desta
associação. Depois tivemos a oportunidade de ir visitar a finca dele e da Dona Rosa, uma outra sócia do mesmo grupo há mais
de dez anos.
O de chapéu é o D. Manuel |
Hoje fertilizam com adubos verdes, estercos de cuy, coelho, gado, cabras. Usam biofertilizantes para proteger seus cultivos, estão envolvidos em um esquema regional de certificação participativa e vendem diretamente seus produtos. Perguntamos a Dona Rosa se ela trabalhava muito, ela respondeu: “Não, o trabalho não é muito duro”. Me lembrei de Fukuoka, agrônomo japonês, que dizia que “o agricultor deve ter tempo de ler poesia”.
Don Manuel nos deu uma aula de fertilidade dos solos. Também nos falou
que “Nós trabalhamos pela saúde da população, não apenas de nossas famílias”. Que
elegância... me lembrei que Don significa de
origem nobre. Muito bem empregado neste caso. Grande Don Manuel!
Parabéns Laércio, por "desfrutar" dessas delícias..... Vc fez por merecer !!! Abraço.
ResponderExcluirGrato, Verônica, abraço!
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