Cerimônia Quechua, de louvor à Pachamama (mãe terra), no início do evento. |
Estou em Riobamba, capital da província
de Chimborazo, na região da serra central do Equador. Vim para uma semana de
trabalho, no marco da V Jornada de Agroecologia. Uma semana de palestras e
cursos sobre este assunto que move minha vida há mais de trinta anos. Sempre um
prazer.
Ruas e casas de Riobamba |
Riobamba é uma cidade que merece o
adjetivo de simpática. Um centro comercial muito agradável, onde podemos passar
entre restaurantes, cafés, sorveterias, praças e pequenos comércios. Está a
quase três mil metros de altura, o que já nos provoca alterações fisiológicas,
como cansaço, algum mal estar e dor de cabeça. Compensados totalmente pela bela
paisagem dos páramos andinos que circundam a cidade. E, como guardião da paisagem,
e dos seres que a habitam, o Chimborazo, um vulcão inativo, que no alto dos
seus mais de seis mil metros de altura domina, com absoluta elegância, o
ambiente. Visitei-o uma vez e me prometeram um reencontro para sábado próximo,
meu dia livre por aqui. Espero que se confirme. Prometo fotos.
Casa colonial |
Cheguei na segunda dia 10, tarde da
noite, e passei terça, quarta e quinta fechado em salas e auditórios. O pouco
tempo que tive aproveitei para ver um pouco das suas praças, são muitas, e
entre uma e outra caminhar por ruas com sua vistosa arquitetura colonial, que
consiste em casas construídas pelos colonizadores espanhóis, que por sua vez
remontam aos árabes, senhores de boa parte da atual Espanha por quase cinco
séculos. Entrei em duas destas casas, uma abriga hoje um museu, outra um
restaurante. Portas em arco, pé direito alto, dois andares, um lindo pátio
interno normalmente florido e cercado por refrescante varanda. Afinal, faz
calor lá pelos lados das arábias... No lado externo, varandas, no segundo andar,
ornadas de vasos floridos.
Mas, como eu dizia, nestes
três dias trabalhei muito e conheci pouco. Aqui no Equador, como em todas
partes, se nota um interesse crescente pela agroecologia, ou Agricultura
Ecológica. Vou contar aqui três coisas que falei nas minhas palestras. Para os
agricultores contei que Agricultura Ecológica é um ato de amor.
Auditório principal da Universidade de Chimborazo, local do evento terça e quarta. |
Expliquei que
muitas vezes não usamos esta palavra, mas tratar o solo com carinho e respeito,
fornecendo a ele, e consequentemente às plantas, sua alimentação preferida, a
matéria orgânica, é um ato de amor. Contei que muitos dos ditos cientistas têm
chegado à conclusão que a vida no planeta se impôs através de atos amorosos,
como a simbiose, onde dois seres vivos se juntam para se beneficiarem mutuamente, e não pela competição. Adoro falar isto, explico com calma, e
curto muito a receptividade desta prosa com eles.
No segundo dia, mais para os técnicos,
falei da fotossíntese como o elemento mais importante para uma boa prática na
agricultura. Fotossíntese é um fenômeno, capitaneado, de produção de massa verde, flores e
frutos a partir da energia do sol e de elementos inorgânicos da água e do ar. A
vida no planeta só existe por causa deste milagre da natureza. Em tom de
semi-piada, chamei a fotossíntese de milagre original, lhes disse que a
fotossíntese pode ser vista como a mãe de todos os milagres!
Evento com estudantes, na faculdade de agronomia |
Para os estudantes, com quem trabalhei
hoje, contei, entre outras coisas, sobre a compra, ano passado, da Whole Foods pela Amazon. Expliquei que a
Amazon é uma das gigantes de
informação do mundo. Que, assim como o Facebook
e o Google, sabe sobre nós o que nós mesmos não sabemos. E
que a Whole Foods é a maior cadeia de
supermercados de produtos orgânicos do mundo, com presença forte na América do Norte.
Perguntei porque uma empresa que é uma gigante da informação, que sabe tudo
sobre nossos gostos e interesses, faz sua maior inserção no mundo físico, 13,7
bilhão de dólares, para comprar uma cadeia de comidas orgânicas. Será que ela
sabe que os millennials querem se
alimentar de uma maneira diferente do que os seus pais?
Enfim, como não tenho muito do que falar
de Riobamba, porque ainda a vi pouco, deixo por hoje apenas estas reflexões que
compartilhei nestes dias de trabalho. Quem me acompanha sabe que curto muito
fazer o que faço, estes dias aqui não tem sido diferente. Agora, em um momento
relax, acabo de escrever este post em um bom café, o Café Express, na esquina da praça da estação. Sábado, se me
inspiro, escrevo sobre minha ida ao interior da província e ao Chimborazo!
Amei! Texto leve, nos dá a nítida sensação de estar la...ter vivenciado junto. Escreves lindamente. Bjo
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