Teatro Nacional, centro de San Jose, Costa Rica |
Passei esta semana na Costa Rica.
Falando assim o que surge na cabeça de quem ouve é sol, praia, ondas. Pois não
vi nada disto. Toda a semana entre reuniões e um Seminário intitulado Mercados
para Produtos Ecológicos, na Universidade Nacional, campus de Heredia, uma
cidade ao lado de San José, a capital do país.
Adorei esta estátua: La Chola, feita em bronze por Manuel Vargas, pesa 500kg e tem mais de dois metros |
Já estive por qui várias vezes e
definitivamente não justifica visitá-lo pela sua capital ou pelas outras
cidades que a rodeiam. Como normalmente mencionam as propagandas turísticas do
país, vir aqui vale a pena, e muito, se for para conhecer suas praias e
vulcões. Pois desta vez não rolou.
De segunda até hoje, sexta-feira, o que fiz foi trabalhar e tomar café.
Aliás, o café aqui é invariavelmente bom. Para quem gosta, um deleite à parte. E
isto não apenas por condições ambientais favoráveis. Estas ajudam, mas existe um árduo trabalho para se alcançar a excelência, e aí que entra o esforço. Há anos o país tomou a
decisão de se fazer conhecer pelos cafés especiais, o que pressupõe uma série
de decisões de caráter político. Por exemplo, aqui é proibido plantar café
robusta. Vou explicar. O Brasil é o maior produtor de café arábica do mundo.
Arábica é o café de melhor qualidade, com mais sabor e aroma. Por suas características,exige certa altitude para produzir plenamente, sendo
de 1200 a 1500 metros a ideal. Por isto no Brasil produzimos bom café em
regiões serranas, em Minas Gerais, São Paulo ou no Espírito Santo. Para alguns pode
ser uma surpresa, mas em serras de alguns estados do Nordeste, como o Ceará,
também se produz café de qualidade. O Robusta é outra planta, uma outra espécie, que também
é considerada um café. Normal, existem outro exemplos onde diferentes espécies, com seus respectivosnomes científicos recebem o mesma nome comum. Aroz ou feijão, para citar dois exemplos muito comuns, também são denominações para
diferentes espécies, como o arroz agulha ou arroz cateto.
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Arábica, maduro. |
Bem, o café Robusta é
uma planta muito maior, muito mais produtiva e adaptada a regiões mais quentes.
Não necessitam desta altitude que mencionei para produzir bem. No Brasil, além
do arábica, produzimos grande quantidade de café robusta. Somos os segundo maior
produtor do mundo, perdemos apenas para o Vietnã. Assim, a maioria dos cafés
que achamos em um mercado no Brasil são uma mistura de arábica, por vezes de baixa qualidade,
com robusta. Por isto podemos comprar um café por vinte reais o quilo, às vezes menos. É a alta
produtividade do Robusta que permite praticar este preço. Um café 100% arábica,
mesmo não tão selecionado, sempre custará mais. Pois bem, voltando ao início
deste parágrafo, a Costa Rica proíbe o plantio de Robusta. Para não correr o risco de baixar a qualidade e manter um bom posicionamento no mercado para o seu café. Esta prática não é incomum em dadas
situações. O Chile, por exemplo, proíbe o plantio de variedades de uvas que não
sejam bem qualificadas para a produção de vinho.
Visual desde o Café do Teatro Nacional. |
Já que comecei, vou falar mais um
pouco do café. Sabe quanto este grãozinho que, conta a história, teve seu uso
descoberto na Etiópia, por uma pastor que notou que suas cabras ficavam
saltitantes após se alimentar dos frutinhos vermelhos de um arbusto, movimenta
por ano em termos econômicos? Duzentos bilhões de dólares. Sim, não exagerei, é
isto mesmo. Sacou porque a Nestlé é doida em café? Porque ela elegeu água e
café suas prioridades? Cerca de 15% deste mercado mundial de café está nas mãos da Nestlé. E ela quer mais. Recentemente fechou um acordo com a Starbucks, a gigate das cafeterias. Irá
distribuir os cafés Starbucks em supermercados. Valor da transação: 7,2 bilhões
de dólares. As grandes empresas, Nestlé não é a única, apostam que bebidas à
base de café substituirão os refrigerantes, que por motivos óbvios tem seus
dias contados. A Coca-Cola ainda não te contou isso? Pois ela sabe, já comprou algumas marcas importantes de café nos EUA.
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Café sombreado na Costa Rica. Esta foto tirei em 2010. |
Já que meu mundo é da Agricultura
Orgânica, vou acrescentar que cerca de dez por cento do café produzido no mundo
é certificado como orgânico. Mas existem vários selos que se enquadram nos chamados
VSS, sigla em inglês para Normas Voluntárias de Sustentabilidade. No total, mais
da metade do café do mundo está certificado por alguma destas normas. O setor
do café pretende ser a primeira cadeia de produção a ser toda ela considerada sustentável. Enfim, o café é um mundo à parte, entendê-lo é para profissionais.
Tenho amigos que passam a madrugada vendendo ou comprando café, beneficiando-se
de determinados horários em função das aberturas das bolsas de mercadorias ao
redor do mundo.
Mercado de frutas e verduras no centro de San José |
Bom, deixando de falar do café, cou obrigado a registrar aqui neste post que Helena, minha filha que vive no
México, veio me visitar. Não sei se ela opina igual, mas estarmos juntos é muito melhor do
que ver praia ou vulcão. Ela chegou hoje e fui obrigado a matar o trabalho, na parte
da tarde, para passearmos pelo centro de São José. Não é particularmente bonito,
mas, como sabemos, o que importa é a companhia. Nos divertimos. Comemos comida catalã e tomamos
um bom café, ops, apareceu de novo,
na Cafeteria do Teatro Nacional. Belo lugar.
Amanhã saio ao campo antes das seis
da manhã. Não sei porque, mas tenho a intuição que minha filha não vai
comigo...
Muito bom, e a base da agricultura é o café, ou tem uma diversidade boa com agricultura familiar? Grande abraço, continue caminhando e cantando
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