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Neve no Equador - cinco mil metros de altura, no Chimborazo |
Saí hoje de Riobamba, capital da
província de Chimborazo, na região da serra central do Equador. Foram quatro
dias de trabalho e um belo sábado de passeio. Ontem, fazendo jus ao lugar que
estou, fui ao Chimborazo, a montanha mais alta do mundo, se medida a partir do
centro da terra. Ontem cheguei a 5.100 dos seus 6247 metros sobre o nível do
mar. O que posso dizer, com licença ao trocadilho quase infame, é que é de
tirar o fôlego.
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Chimborazo visto da entrada do Parque. |
Fui levado por um casal amigo que vive aqui, Vicente e Priscila. Excelentes guias. Já no caminho a paisagem é
deslumbrante, pois saímos de Riobamba, a 2800 de altitude e chegamos, de carro,
ao parque que abriga o Vulcão, a 4800 metros. No caminho, montanhas altas que
são alcançadas, ultrapassadas e se fazem encostas de vales profundos, muitas
delas cultivadas por favas, batatas, ervilhas, alfafas para os cuys, as preás tão apreciadas da
culinária andina. Pastos e vacas também compõe a paisagem, o que é uma certa
lástima, o ecossistema é muito frágil para abrigar animais deste porte. Falando
em animais, destaques para as Vicunhas pastando nos montes, estas primas da
lhamas, guanacos e alpacas, camelídeos que habitam o mais alto dos andes.
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Visual da estrada |
Quando saímos do carro, a esta altura que
me referi de 4.800 msnm, já sentimos a diferença da temperatura e,
principalmente, o ar rarefeito. A subida até o segundo refúgio leva cerca de 45
minutos, para caminhar 800 metros. Isto mesmo. É íngreme, mas não tanto, um
trecho que, se não fosse o ar carente de oxigênio, seria cumprido em cinco,
seis minutos, que passariam desapercebidos. Mas, nesta altura... meus guias
pacientemente faziam passo com meus passos, breves e lentos. E entremeados de
sucessivas paradas para procurar o ar. No segundo refúgio paramos no pequeno
bar que dá guarida aos que se atrevem e tomamos chocolate quente, uma receita
com cacau, açúcar mascavo e água, trazida de casa pelo Vicente e pela Priscila.
Bebida perfeita para dar energia mas não pesar o estômago. Balinhas de cana de açúcar
também ajudam a manter a glicose e evitar dores de cabeça ou enjoos de estômago.
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Lago a 5100 msnm. O gato aí sou eu. |
Pois do segundo refúgio ainda havia mais
cem metros a percorrer, em um caminho cercado de neve, até chegar a uma lagoa
que muitas vezes se congela nesta época do ano, mas não tive esta sorte de
vê-la congelada. Foram mais 15 minutos. Sim, quinze minutos para cem metros. Dali
para frente se trata mesmo de esporte para profissionais, que se aventuram a
chegar ao cume. No caminho, passamos por um cemitério, onde placas de mármore homenageiam
a memória de muitos que deixaram a vida na tentativa de chegar ao topo. Como
disse meu guia e amigo, os alpinistas experientes gostam de dizer que o topo
mesmo é chegar são e salvo, de volta, em casa.
Eu havia visitado o Chimborazo, mas só até
o primeiro refúgio. A experiência de ontem foi inesquecível.
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Reunião em Guamote |
Na sexta, ainda dia de trabalho, fomos, na
parte da manhã, participar de duas reuniões em Guamote, cidadezinha de dois mil
habitantes, há uns 50 quilômetros de Riobamba, famosa por ser habitada quase
que exclusivamente por indígenas e por sua feira que ocorre sempre nas quintas
e que todos dizem valer muito a pena visitar. Esta perdi, mas pude ver a charmosa
localidade, cortada por uma linha férrea, e ir a uma comunidade indígena, há
3600 metros de altura, onde nos esperavam com uma grande mobilização para
fazerem suas reivindicações ao representante do Ministério da Agricultura do
Estado de Chimborazo, meu amigo Roberto Goirtare, quem me convidou para estar
aqui durante estes dias. Sexta de tarde tivemos mais um momento de capacitação
em agroecologia para a equipe de oitenta técnicos do Ministério.
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Casa tradicional, ao lado da casa nova. Guamote |
O interesse que vi na agroecologia por
aqui reforça minha percepção que vivemos um momento de crescimento exponencial desta
forma de ver e fazer agricultura. Minha tese é que o principal impulso a este
crescimento da agroecologia é a crescente vinculação que os consumidores tem
feito entre alimentação e saúde.
E assim terminam meus dias em Riobamba e
minhas viagens internacionais este ano. Foram sete, sendo apenas uma a um país
que eu não conhecia. Tá de bom tamanho, ainda dou minha volta ao mundo.
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Reunião em Guamote
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Reunião em Guamote |
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