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Visitando as machambas, em Maputo |
Cheguei
em Maputo, capital de Moçambique, ainda no domingo. Estou aqui a convite de
Abiodes, ONG local que dede 1996 trabalha com Agricultura Orgânica. É a
terceira vez que estou aqui, sempre acompanhando este trabalho que vem sendo
denominado de Cadeia das Hortícolas Sustentáveis de Maputo.
Já
foram três dias de trabalho. Segunda-feira, reunião para me inteirar das
atividades que vêm sendo desenvolvidas, ontem, ida a campo, a melhor parte, e
hoje, quarta-feira, uma formação, onde reunimos cerca de 60 pessoas, entre
agricultoras, agricultores, técnicos e técnicas de ONGs e governo.
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Cinturão verde de Maputo e suas machambas |
Estar
na África que fala português é uma experiência à parte. Tudo tão longe e tão
perto. Moçambique está na costa do índico e é surpreendente ver as similitudes
culturais conosco. Surpreende, mas não deveria, basta dar uma olhada na
formação da nossa nação e ver a influência negra e portuguesa. Nada mais óbvio
que nos ver por aqui, no cafezinho, na padaria com ar Lisboeta, no bolinho de
bacalhau, na forma expansiva de se expressar ou no sorriso fácil em meio a
dificuldades.
Moçambique
é um país economicamente pobre, o que nos exige atenção no desenvolvimento da
agricultura orgânica. O modelito europeu, reproduzido na maior parte do mundo,
é de uma produção orgânica que deve ter reconhecido seu valor por um preço
diferenciado. Se por um lado é justificado este anseio por parte dos
agricultores em países como Moçambique, que são obrigados a sobreviver com preços agrícolas bastante aviltados, por
outro não se pode limitar a oferta dos produtos sem veneno a quem pode pagar
mais por sua comida. Ter bom conhecimento técnico-agronômico, para fazer que a
produção orgânica seja mais barata e menos penosa é um ponto crucial no intento
de resolver esta equação. E foi este aspecto que mais trabalhei na minha ida a
campo ontem e na capacitação hoje.
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No campo, de prosa... |
O
trabalho aqui é no cinturão verde de Maputo, uma impressionante área agrícola
muito perto da cidade. Áreas de hortas pequenas, cerca de 400 a 2000 metros
quadrados, o que também impõe procedimentos que muitas vezes não guardam
relação com princípios da agricultura orgânica, como produzir seu próprio adubo
a partir de dejetos animais. Ou deixar parte da área em pousio ou adubação
verde, ficando alguns meses sem cultivo comercial em determinado espaço. Aqui
não rola, a pressão por produzir de forma intensa é vigorosa. Enfim, realidades
distintas, o que faz meu tutano, que não é muito, e minha experiência na área,
um pouco maior, serem submetidas a alta pressão.
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As mulheres de Maputo! |
De
resto, aproveitando o tempo livre para comprar capulanas e comer frutos do mar.
Capulanas são os panos utilizados por todas as mulheres daqui, independente da
classe social. Uma espécie de acessório obrigatório, é utilizada amarrada na
cintura, sobre os ombros, para carregar bebês e inúmeros outros usos, que
ultrapassam os limites do corpo e servem de toalhas de mesa, cortinas, mantas e
por aí vai. Hoje de manhã, ouvindo um anúncio de utilidade pública na rádio, a
locutora recomendava-a para as mães manterem seus bebes aquecidos em dada
situação risco. Dizia ela: mãe, não deixe de aquecer seu filho com uma manta ou
uma capulana.
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Atividade de formação |
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Na lida... |
Ontem em uma conversa informal me diziam, o que já ouvi de outras
vezes, que não é possível desvincular a imagem da mulher moçambicana de uma capulana. Desde pequenas são ensinadas a sempre terem uma na bolsa, para o caso de alguma emergência. Aliás, sigo achando as mulheres agricultoras
a melhor parte de Maputo, como já havia percebido nas outras estadas aqui.
Tanto a campo quanto em sala, são as mais animadas, com mais clareza sobre a
proposta de agricultura orgânica, que não se limitam ao discurso, cantam
enquanto trabalham e soltam um farto sorriso sem sequer pensar em pedir licença.
Amanhã, reunião com a Comissão de Ética, formada por agricultores e consumidores de produtos orgânicos, uma instância que é gestora da Certificação Participativa que funciona, ainda de maneira tímida, por aqui. Mais um dia de trabalho e prazer misturados e em sintonia. Para usar a palavra que uma das minhas turmas mais gosta, gratidão!
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