São Tomé, São Tomé e Príncipe |
De terça até hoje, quinta-feira, minha principal atividade
foi dando o curso que fui convidado a ministrar neste pequeno país Africano.
São Tomé e Príncipe tem apenas 1000 km² e 200 mil habitantes. A ilha de São Tomé,
a única que irei conhecer, é bem maior, em área e habitantes, que a ilha de
Príncipe. Possui, em termos percentuais, uma superfície significativa de
produção orgânica certificada, principalmente cacau, café e pimenta.
Visita a um horticultor, arredores de São Tomé |
A formação foi
sobre Sistemas Participativos de Garantia para produtos Biológicos, o adjetivo,
em função da influência portuguesa, mais usado na ilha para os produtos que são
produzidos sem agrotóxicos, fertilizantes químicos ou sementes transgênicas, também
conhecidos como orgânicos ou ecológicos em outros lugares.
Não é fácil pensar em mercados orgânicos em contextos como
o de São Tomé e Príncipe. Na verdade acho até que pode ser inconveniente. Cerca
de 60 % da população é de baixíssimo poder aquisitivo.
Visita no campo, mudas de tomate. |
O fato de ser uma ilha
com poucos recursos, não exime a sociedade do constante apelo por consumo tão característico
do mundo contemporâneo. Como diz Galeano, o sistema te convida à uma festa, mas
nem sempre te deixa entrar. Podemos acrescentar que o ingresso é caro.
Com
desejo de participar da festa do consumo, mesmo que muito timidamente, em um
contexto de recursos escassos, nem sempre sobra dinheiro para se privilegiar o
gasto com comida para além da sobrevivência. É verdade que esta falta de priorização
do alimento de qualidade se dá também em situações de alta renda, mas, na
escassez, é natural que a preocupação com o acesso anteceda a preocupação com a
qualidade.
Mercado municipal de São Tomé |
Um olhar, atento, quem sabe mesmo distraído, no mercado municipal de
São Tomé e nos seus arredores nos obriga a fazer esta reflexão, ainda mais sendo
o meu trabalho aqui falar da agricultura ecológica e de suas vantagens,
associadas a criação de um mercado diferenciado. Estou na qualidade de
consultor convidado, a música não foi escolhida por mim. Se fosse, colocaria
para tocar a agricultura ecológica neste contexto em função de seus méritos
agronômicos, por produzir bem preservando os recursos naturais e econômicos,
por prescindir de caros e importados insumos químicos. Mercado diferenciado e
uma possível certificação para seu acesso até poderia ser colocado na vitrola,
mas só do meio do baile para adiante...
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Mudando de assunto, tenho me deliciado com a culinária
aqui na ilha. Comi peixe absolutamente todos os dias. Peixes frescos e bem
temperados, quase sempre feitos na brasa. De acompanhamento inhame, fruta pão,
banana e batata doce, servidas assadas ou fritas. Comi também calulu de peixe seco, à base de peixe servido em um molho consistente
e feito com ervas, tomate, alho, quiabo, abobrinha e óleo de palma. Acompanhamento
à gosto, mas com arroz caiu muito bem. Feijoada de peixe foi outra novidade
para mim, me surpreendi com a combinação que estava bem saborosa, no café/restaurante
que mais fui, o Camões. Nele comi também Bacalhau à Brás e tomei bons cafés.
Amendoeira em São Tomé. |
Assim passei estes três dias. Entre o trabalho, peixes e
calor. Quando o sol dá as caras apresenta uma força, como não poderia deixar de
ser, equatorial. Aliado à umidade do ar, faz com que uma simples caminhada nos ponha
a suar por todos os poros.
A cidade não é bonita, apesar de ser em parte rodeada pelo
mar, da exuberância da sua vegetação, mesmo a urbana, e de guardar algumas
casas dos tempos coloniais bastante charmosas.
Até o momento conheci apenas a cidade de São Tomé, com
duas idas ao campo em propriedades rurais muito próximas à cidade. Amanhã e
sábado, com menos compromissos, espero conhecer algo além, aproveitando que a
ilha é pequena e indo ao seu interior ver sua decantada beleza tropical.
Casario no centro de São Tomé |
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