Aspectos da Biofach 2025 |
Outra vez em Nuremberg, Alemanha, visitando a Biofach, a maior feira de produtos orgânicos certificados do mundo. É a 14º vez que venho, desde 2003. Minha intenção, desta vez, é ter uma melhor percepção sobre como anda a agricultura orgânica, da produção ao mercado, no mundo. Não apenas números, mas conversar com diferentes pessoas, de vários países, olhar as centenas de bancas e perceber tendências. Tenho convicção que vir aqui me aguça o olhar e tem impacto no meu trabalho diário.
Saí
domingo de casa, eu e o André, encontramos Guilherme em São Paulo, estamos
juntos aqui. Viagem também, junto ao trabalho, de passeio, com três amigos de
longuíssima data!
Como
já escrevi aqui outras vezes, a feira impressiona pela diversidade, quantidade
e qualidade dos produtos. No competitivo mercado mundial de produtos orgânicos,
o tempo no qual bastava esse adjetivo para se posicionar já ficou para trás há
muito tempo. Tem que ser bom, gostoso e bem apresentado. Vir à Biofach é útil também
para encerrar esse papo de “é possível produzir sem agrotóxico?”. Ainda tenho
que responder essa pergunta frequentemente, e isso só demonstra o quanto a pessoa
que faz essa pergunta é desinformada no assunto. Dá até preguiça responder...
Hoje,
além de rodar pela feira, ver e provar muita coisa interessante, eu ouvi a
palestra mais esperada da feira. Anualmente, FIBL, uma instituição Suíça, de
pesquisa, muito conhecida no mundo da agricultura orgânica, e uma empresa norte
americana, a Ecovia, apresentam a situação da produção e do mercado orgânico no
mundo. Hoje, apresentaram os números de 2023, coletados ano passado.
Pouco
de novo no front.
Segundo a Ecovia, o mercado de produtos orgânicos em 2023 foi da ordem de 130 bilhões de dólares, produzidos em 2,26 milhões de hectares que foram certificados. EUA seguem em uma forte liderança, gerando 45% do mercado. Soma-se os 4% do Canadá, e se vê que a América do Norte concentra metade de tudo que é comercializado como orgânico no mundo.
Ouvi
também que existe uma preocupação que as recentes medidas do Presidente Trump
podem afetar a produção e consumo de produtos orgânicos nos EUA. Bom lembrar
que para abastecer seu mercado, o país é o principal importador mundial de alimentos
orgânicos. Esse reposicionamento de tarifas promovido por Trump pode gerar
retaliações que, eventualmente, terão impactos nessas importações.
Nessa
apresentação da situação do mercado de produtos orgânicos algo me chamou a
atenção, para além dos números: a sala vazia. Nunca vi essa sessão tão pouco
concorrida. O que significa? Não posso afirmar nada, mas tenho a impressão de
que o arrefecimento do crescimento do mercado de produtos orgânicos é uma das
razões. Claro, não podemos esquecer como o mundo vem mudando e, nos últimos
anos, feiras presenciais vêm sendo substituídas por outras relações de mercado
e formas de contacto. O fato é que a
sociedade pós pandemia mudou, difícil precisar se por responsabilidade da Covid,
se pelo avanço das formas de comunicação, se por causa da percepção cada vez
mais nítida do impacto das mudanças climáticas em nossas vidas. Possivelmente
por tudo isso e muito mais. O crescimento da extrema direita em várias partes
do planeta, fenômeno de difícil explicação, obviamente também muda o mundo e não
acredito que no rumo do desenvolvimento da agricultura orgânica, para dizer o
mínimo.
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Para não dizer que não falei de flores. |
Acho
que me estendi no parágrafo anterior justamente porque uma das minha motivações
para vir aqui é testar uma hipótese: o que nós nos acostumamos a chamar de “movimento
de agricultura orgânica” está estagnado ou decadente. Confirmar, ou não, essa
hipótese e tentar entender o porquê, caso ela seja verdadeira, tem ocupado minhas
reflexões nos últimos meses.
Quero
contar, antes de terminar este post, algo interessante que ouvi hoje. Caminhando
pela feira, encontrei a Fernanda Stefani, da 100% Amazônia. Uma empresa focada
no comércio de produtos da Amazônia. O principal deles? Adivinha? Isso, açaí.
Conversa boa, sobre vários aspectos, mas ouvi dela um número que me chamou a
atenção: o mercado de açaí hoje, no mundo, é de 3 bilhões de dólares! Um valor expressivo,
ainda mais se pensar que quase toda a produção vem do Brasil. Enfim, isso é
outro assunto...
Hoje
foi só o primeiro dia. Têm mais números, impressões e reflexões, amanhã conto
sobre quais países possuem a maior área de produção orgânica no mundo e quais
possuem o maior número de produtores!
Ótimas impressões e reflexões para o primeiro dia de feira. Aguardaremos mais ...
ResponderExcluirParabéns, ótimo passeio e trabalho! Manda mais notícias!
ResponderExcluirQue demais Laércio!!! Eu velho de guerra das feiras estou na BioFach Nuremberg pela primeira vez super impressionado pela diversidade e ansioso por andar pela feira e pela cidade com vc que é meu veterano favorito.
ResponderExcluirQue bom Laércio, poder ler este relato e constatar cada vez mais a certeza da produção sem agrotóxicos .
ResponderExcluirÉ isso aí meu guru! Tá difícil entender alguns fenômenos recentes, mas com certeza estão relacionados, a estagnação com tendencia de queda do mercado de alimentos orgânicos, a ascensão da direita em todos os seus matizes, a reação dos conglomerados dos agro-tóxicos á onda de alimentos saudáveis incidindo dentro das casas legislativas e governos, inclusive de esquerda como no caso do Brasil…. Aguardo suas análises 🙏
ResponderExcluirGrande Laércio!! Muito bom compartilhar de suas reflexões, análises e de mais uma participação sua na Biofach...
ResponderExcluirTeu relato reforça minha impressão de que, se continuarmos nesta rota descendente (ou condescendente) do "crescimento" contínuo, abraçado por direita e esquerda, colapsamos. Mas restam fé e engajamentos e, por isso, esperanças. Grata pelo teu trabalho!
ResponderExcluirTenho a certeza que estar em espaços como este fortalecem a coragem em seguir com seus propósitos e de todos os que se conectam com a vida!
ResponderExcluirQue bom Prof.Laercio ! Mais conhecimento e experiência na área da produção orgânica .
ResponderExcluirMassa Laércio!!
ResponderExcluirDa-le !!
Abraço
Muito interessante e muito instrutivo. Precisamos acompanhar estas tendências. Sinta-se estimulado a escrever sobre suas impressões. Forte abraço e boa viagem.
ResponderExcluirLaércio e Carrazza observando essas tendências. Mas nós ainda precisamos popularizar essa saúde que NOS DEVEM, no País que mais usa agroquímicos e a pulverização aérea está às voltas das casas dos agricultores familiares.
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