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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Guiné-Bissau, 5 a 7 de fevereiro de 2024.

 

Galera almoçando

Os últimos três dias foram de trabalho. Estou aqui, em Guiné-Bissau, à convite da ESSOR, ONG Francesa, para colaborar no projeto que eles desenvolvem com agroecologia e no desenho de um Sistema Participativo de Garantia. Segunda-feira foi dia de conhecer o trabalho, em reuniões no escritório da ESSOR e da Asas de Socorro, ONG local parceira nas atividades. 

Ontem, terça, fomos visitar a produção de algumas mulheres no que poderíamos chamar região periurbana de Bissau. Pequenas hortas, todas numa determinada área, mas cada mulher cuida da sua pequena parcela. 

Nas visitas!
As áreas não são delas, são arrendadas ou emprestadas. Ouvi muito que a posse da terra é o grande problema e, ao mesmo, tempo desejo delas. Estimular o trabalho com agroecologia em terras que não são próprias é um desafio à parte, uma das grandes motivações é melhorar sua terra ao longo dos anos, deixando-a mais produtiva pouco a pouco. Mas, se a terra não é tua…

Na pouca paisagem rural que vi, muita manga e muito caju. Este país é um dos maiores exportadores de castanha de caju do mundo. Segundo me contaram, a cast
anha é exportada em um mercado dominado por portugueses, indianos e chineses. Viva a globalização… Ouvi, também, que muitas vezes os agricultores vendem as castanhas em troca  por arroz.

E a manga, posso imaginar, cumpre um papel importante na alimentação da população, principalmente rural, assim como possivelmente o pseudofruto do caju, a banana e outras plantas que crescem de forma farta e meio espontâneas, sejam elas frutas ou não. Poderíamos falar de caça e pesca também, principalmente esta última. Isso ocorre em todos os lados, ainda mais em países tropicais, onde a natureza minimiza o problema criado pelo desenho social: a falta do que comer. 

Mangueiras!

Depois desta visita, fomos ao local onde estava ocorrendo um pequeno curso, no campo. Cena mais que interessante. Chegamos na hora do almoço. Vi as mulheres sentadas no chão, em grupos de 5/6, com suas roupas coloridas, ao redor de uma grande panela, aberta, onde esse pequeno grupo comia. A maioria com a mão, poucas com colher. Comida à base de arroz, tempero próprio e peixe. Me convidaram para comer e eu recusei… não é meu costume comer assim, minha mão estava muito suja, e me preocupei também com minha saúde… uma dor de barriga não é o que preciso nestes dias por aqui. 

A cena já no pós almocço

Mas a cena estava muito bonita de ver, também porque tudo isso ocorria sob várias mangueiras, enormes, formando uma grande área sombreada. Não pude fotografar como gostaria, não tenho liberdade suficiente para pedir para tirar um foto deles comendo. Mas a cena estava, realmente, como disse antes, para lá de interessante. Também para isso viajamos, não é? Para ver o que normalmente não vemos, outras culturas, outros hábitos, outras formas de comportamento.

Sigamos falando de comida! Até ontem, tinha ido a alguns restaurantes por aqui. Almoço sempre no escritório, feito no local, à base de um arroz muito bem temperado, de diferentes formas, e que se bastaria, com salada e alguma proteína breve. De noite, já jantei no hotel, no “Papa Loca” e no “A Padeira Africana”. E gostei do que comi, mas ainda não sentia que havia tocado na culinária local. Deve ser porque eu pedi comida portuguesa, árabe e indiana… hahaha, viva a globalização, parte 2!

Linda!!!

Hoje foi diferente, porque fui comer meu pequeno-almoço (café da manhã) no escritório. Ovos cozidos, cará, batata-doce e feijão. E sucos. Detalhe: feijão com açúcar! Sim, doce. Igual ao nosso, em caldo, mas doce. Não curti muito, mas comi. No almoço, nos serviram Djambo. Adorei! Um molho grosso com camarões e carne de gado. Molho feito à base de amendoim, com cebola, tomate e folhas verdes, que podem ser de batata-doce, aipim, espinafre… mais temperos e um bom tanto de pimenta! Come-se com arroz - sabor forte, vivo, achei delicioso!

Como vocês viram, arroz é um prato muito presente aqui. Muito, todos adoram arroz. Algo se produz aqui, mas a maioria vem importada do Paquistão, do tipo basmati. Diambo foi o melhor prato que comi aqui, até agora.

Que mais posso contar? Não muito… já estou aqui desde sábado. Cinco dias, tenho mais cinco. Segue quente, com uma interminável poeira no ar seco, o constante sorriso simpático das pessoas permanece, a sensação de ser um país ainda a ser construído também. O trabalho anda um pouco morno, mas tudo bem, um gol nem sempre é golaço, e é sempre interessante conhecer de perto outras realidades, ainda mais quando tão diferente da nossa.

Isso aí, daqui uns dias conto mais, veremos o que essa segunda metade da jornada nos oferece.

Bonito visual das hortas


Ainda a cena do almoço


Professor de agronomia



3 comentários:

  1. Muito bom! Segue escrevendo com a alma do escritor

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  2. A terra, a necessidade e o desejo de cultivar seu chão, e de compor um longo e realizador percurso com ela. Será que a humanidade ainda conseguirá, coletivamente, alcançar esta compreensão e esta prática?

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  3. Parabéns pelo grandioso trabalho!

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