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sábado, 29 de novembro de 2025

São Tomé, São Tomé e Príncipe, 26 a 28 de novembro de 2025.

Tomate, banana, árvores, vamos que vamos!

    É a quarta vez que venho a São Tomé e Príncipe, esse pequeno país insular do continente africano, localizado a 300 km da costa, bem na linha do equador. Estou aqui a convite da Oikos, ONG portuguesa que atua também neste país. Vim colaborar com o trabalho que eles desenvolvem com Agricultura Biológica (orgânica) e SPG (Sistemas Participativos de Garantia). 
Rua Augusta e o Natal!

Saí do Brasil na segunda-feira, dia 24/11, e cheguei aqui na quarta-feira, dia 26. Fui obrigado a dormir uma noite em Lisboa, no excelente hotel Sofitel. Pensa se achei ruim… deu para dar uma volta pela Augusta, comer um bacalhau à minhota na pequena tasca “A Merendinha do Arco”, ver a decoração de Natal da cidade e, de brinde, encontrei minha sobrinha, Ana Clara, que estava passeando por Lisboa. Dia muito agradável.

Mas Lisboa era só uma parada, na manhã seguinte sai cedo do hotel, de Uber. Viajei de Lisboa a São Tomé na quarta durante o dia, o voo atrasou e ainda fez uma escala em Acra, chegando em São Tomé às sete da noite.
Meu amigo Rogério, coordenador da Oikos, foi me buscar e levar para jantar. Fomos ao restaurante Jasmim, e obvio que pedi peixe. Estamos em uma ilha no meio do Atlântico, o que mais vou comer? Veio com arroz e banana frita, o que é muito comum por aqui. Detalhe sobre o peixe: todos aqui comentam que já não tem mais peixe como antigamente… que tal e qual espécie já não existe mais, que os peixes
estão menores, que pescar se tornou tarefa mais difícil.

É…
Ontem, quinta, foi dia de trabalho no escritório. De manhã, reunião com equipe da Oikos, de tarde nos acompanharam cinco agricultores nesta conversa. Ouvi deles como está o funcionamento do SPG e fiquei satisfeito com o que ouvi. O Sistema está rodando, e isso não é pouco considerando a realidade local. Estive aqui, trabalhando esse tema, entre outros, em 2018, 2019 e 2021. Ver que algo ficou, que o feito não foi desfeito, é sempre um motivo de alegria. 

Ainda falando sobre ontem, quero contar algo: depois do trabalho, fui cedo para o hotel. O Sweet Guest House. Eram cinco da tarde, na rua estava quente, afinal estamos nos trópicos. Quando abri o quarto, um bafo, quase uma sauna. Fui ligar o ar condicionado, não estava funcionando. O país está com um super problema de abastecimento de energia elétrica, há meses. Falei com a moça do hotel, ela disse que só ligariam o gerador mais tarde… impedido, pelo calor, de ficar no quarto, tomei um banho e fui para uma área de convivência/jantar que tem no hotel. Ali estava fresco, ao menos melhor que no quarto. Vi o dia se fazer noite nesta varanda, no terceiro andar. Uma intensa chuva começou a cair, a vigorosa vegetação no terreno ao lado me recordando onde eu estava. Uma casa de madeira, velha, decadente, que parece já ter sido de algum comerciante abastado, no fundo do terreno. De frente para mim, uma fruta pão, árvore generosa, que produz um fruto rico em amido e que é muito importante na cultura alimentar desta ilha. Aliás, essa situação de abundância de peixes e frutas é que sempre fez esse país, financeiramente pobre, ter uma população que não enfrenta problemas de desnutrição. Agora, menos peixes, menos frutas… sim, menos frutas também, o clima mudou e algumas fruteiras nativas produzem menos ou simplesmente passam um ano sem produzir.
É…
Hoje, sexta-feira, fui com o Luís, técnico da Oikos, visitar duas áreas produtivas. Uma do Egder, outra do Antônio. Já estive com eles outras vezes, inclusive estiveram visitando o nosso trabalho no Brasil em um intercâmbio técnico. Visitei suas áreas de produção biológica, pude ver, mais uma vez, o desafio de produzir olerícolas europeias, ou de partes mais frias do globo,em um ambiente tropical como esse.
Hoje em dia, quando falamos em massificar a agroecologia ou a produção orgânica, devemos levar em consideração a necessidade de repensar algo dos hábitos de consumo. Eu posso sintetizar uma prosa longa em uma frase: muito veneno é jogado na natureza, como um preço pago pelo desejo de consumidores terem tomate todos os dias no seu prato. Multiplica esse fato por dezenas de cultivos. Essa é a equação que devemos alinhar para caminhar para uma agricultura mais limpa e saudável. Tenho a impressão que o futuro vai ter muito de local, e o alimento vai ser também local.
Quando vejo Egder e Antônio produzindo tomate em São Tomé, o esforço necessário para adaptar um cultivo originalmente andino ao vigor do trópico úmido, penso nisso, no custo para atender paladares pasteurizados.
Contando mais do dia, antes de ir para a reunião que teríamos de tarde, na sede de outra ONG, a Marquês de Vale Flor, paramos para comer no Bar da Fafa, em Cruzeiro. Simples, muito simples, mas comi um filé de atum com salada (sim, tinha tomates) simplesmente delicioso. 

E depois da reunião, fim de tarde, eu e Rogério fomos tomar uma Rosema, a cerveja local, e comer uma pizza. Sim, falando em hábitos alimentares, devemos reconhecer que o sol nunca se põe no império da pizza. 

Esses foram meus primeiros dias aqui. Amanhã vou à praia, depois conto!













Dona Antônia, vendendo em frente à sua
propriedade

Vista deste o terceito andar do Sweet Guest House


Cena Urbana - Cruzeiro




terça-feira, 25 de novembro de 2025

Atacama, Chile, 04 a 07 de novembro de 2025.

Deserto florido

Cheguei no aeroporto Deserto do Atacama, perto de Copiapó, Norte do Chile, na quarta-feira, dia 05 de novembro, ao meio dia. Uma carona me esperava no aeroporto, onde pegamos a estrada com destino à Vallenar, quase 200km ao sul. Levei umas 4 horas para chegar ao hotel, e o tempo a mais não apenas se justificou, como justificou toda a viagem. É que no caminho conheci o deserto florido. Um verdadeiro espetáculo. Esse fenômeno ocorre quase exclusivamente no Vale de Huasco, e apenas em anos onde ocorre determinada combinação de frio, para quebra de dormência das sementes das espécies que irão florescer e chuva, algo entre 40 e 80mm. 


Mas não vim para isso, para ver o deserto em flor. Vim para um seminário nacional, sobre agricultura orgânica e sistemas participativos de garantia. 

Já estive no Chile, a trabalho, muitas vezes. Mas há muitos anos não vinha. Foi muito bom rever velhos amigos e ver uma fotografia deste movimento hoje, no Chile. O grupo que estava no seminário não era grande, mas representativo de todo o país e com muita vontade de se reagrupar em algum forma de expressão nacional que potencialize o trabalho que fazem, seja no intercâmbio de experiências, seja na capacidade de incidência junto ao governo. Aliás, o evento contou com apoio de estruturas do estado, o que não deixa de ser um sinal positivo e aponta possibilidades de apoios mais significativos no futuro. 

O seminário foi em Huasco. Me hospedei em Vallenar, em um curioso hotel, com os quartos feitos com contêineres, dispostos de forma horizontal e modelar. Chama-se Radisson Park Inn. Mas o evento, como disse, foi em Huasco, na estrutura de um camping, o Atacama Glamp. À beira do Pacífico, emoldurado pela Cordilheira da Costa, visual lindíssimo. O Chile é, definitivamente, um país recheado de belas paisagens. 

Seminário

O seminário ocorreu com algumas palestras sobre experiências ao redor da agricultura orgânica, debates e trabalhos em grupos. Minha tarefa foi fazer duas palestras, uma em cada dia. Foi tudo muito agradável e enriquecedor. 

Hoje, sábado, o dia foi especialmente interessante. Começamos indo, todo o grupo, ao Parque Nacional Llanos de Challe. Flores, mais flores. Depois do Parque, minha amiga Carmen me levou ao aeroporto. Mas não foi uma carona qualquer. Foram duas horas por uma estrada muito agradável, entre o deserto e o mar. Com direito a almoço no restaurante “Tumorrow”, à beira da Baía Inglesa. Espetáculo!


Fico por aqui, nessa breve descrição desta bela viagem. Desta vez, vou deixar as fotos falarem por mim!




Deserto florido

Deserto florido

Flores que deixam o deserto florido!

flores e flores!!!

Praia em Huasco


Flores que florem o deserto


Praia em Huasco



Baía  Inglesa

Baía  inglesa, desde o restaurante

Restaurante



Com Andrea e Monica

sábado, 18 de outubro de 2025

Cartagena, Colômbia, 02 a 08 de outubro de 2025.

Estátua de Santa Clara, século XVII

Chegamos em Cartagena no início da tarde de uma quinta-feira, dia 02 de outubro. Do aeroporto pegamos um táxi, que achamos pelo aplicativo Didi, com a devida negociação por fora do app, e levamos uma hora e meia para chegarmos no nosso hotel, o Sofitel Baru Calablanca. Fica na ilha de Baru, na praia de Calablanca e, por tanto, seu nome está mais do que justificado. Escolhemos esse hotel porque gostamos muito dessa bandeira, os preços estavam razoáveis e decidimos não ir a San Andrés, a paradisíaca ilha do Caribe colombiano. E como praia não é o forte da cidade de Cartagena, fomos visitar as águas transparentes, calmas e quentes do Caribe neste hotel. Não nos pareceu uma escolha ruim...

O hotel é espetacular. Os apartamentos estão espalhados em vários blocos de cinco andares, dispostos na encosta do morro que circunda uma pequena praia, e que não agridem tanto a paisagem. Todos os quartos têm vista para o mar. As dependências são impecáveis, bares e restaurantes por todo lado, as muitas piscinas super bem cuidadas e agradáveis; a linda praia, que se faz particular pela geografia, é um deleite à parte, com barracas e cadeiras quase pé na água.

Estou me estendendo um pouco mais na descrição do hotel, porque o único que fizemos nos dois dias que ficamos na Ilha de Baru foi ficar no hotel. Ele é isolado, não há o que ver caminhando ao redor, e nem pensamos em pedir um carro para sair dali, pois a sensação era que estávamos no paraíso. Não sei se exagero em dizer que foi o lugar mais paradisíaco que visitei na vida, levando em consideração o binômio praia/hotel. Sim, já fui em praias mais bonitas, tanto no Brasil quanto fora, mas nunca em um hotel deste nível e com tanta exclusividade. E as águas claras, calmas e quentes do Caribe... e um silêncio... um silêncio que, aliás, há muito tempo eu não ouvia...

No sábado à tarde saímos deste paraíso e fomos para a cidade de Cartagena. No fim da tarde fizemos checkin em outro Sofitel, desta vez o Santa Clara. O prédio do hotel é um antigo convento, inaugurado em 1621. Sim, isso mesmo, 1621. Ainda existem pedaços desta construção, como o teto e o chão do pequeno hall de entrada. Mais que lindo, achamos a atmosfera desse hotel meio mágica. 

Mas quero deixar registrado que nossa primeira impressão foi de arrependimento. Lembram? Estávamos em um paraíso... Nossa decisão foi deixar as coisas no quarto e aproveitar o entardecer caminhando pela cidade, tendo como destino o bairro boêmio de Getsmâni. Queríamos tomar uma cerveja no meio do povo, depois dos nossos dias de relativo isolamento. Acontece que fomos golpeados pelo calor, pelas ruas cheias de gente, pelo barulho... tomamos nossa cerveja, passeamos mais um pouco e regressamos ao hotel. 

Em um quarto excelente, de um lindo hotel, comentamos, constrangidos, que havíamos nos equivocados ao deixar a Ilha de Baru... ainda tivemos tempo, nesta noite, de ir descer ao Bar Coro, do próprio hotel, assistir um showzinho de música Colômbia, estilo Buena Vista Social Club, muito bom. Ali tomamos um Coro Musle, drink da casa, ofertado como nosso drink de boas-vindas! 

Dia seguinte, café da manhã, o melhor das nossas vidas. Nem vou contar. Depois, a muito agradável piscina do hotel, de onde não se tem vontade de sair. No início da tarde um tour pelo hotel, com nosso ‘mordomo’ Ernesto. Acontece que sou membro platinum na rede Accor, pelo muito que me hospedo nela, e acabo tendo algumas mordomias por isso...

Agora é hora de contar por que nos hospedamos neste hotel. Ana e eu somos leitores assíduos de Gabriel Garcia Márquez. Em um dos seus livros, “Do Amor e Outros Demônios”, ele faz uma introdução, que mais que justifica nossa escolha. Copio um trecho aqui:

As criptas no Bar Coro - Hotel Sofitel
Santa Clara

“Não foi um dia de grandes notícias aquele 26 de outubro de 1949. Mestre Clemente Manuel Zábalq, chefe de redação do jornal onde eu fazia minhas primeiras letras de repórter, encerrou a reunião da manhã com duas ou três sugestões de rotina. Não deu tarefa concreta a nenhum redator. Minutos depois soube por um telefonema que estavam esvaziando as criptas funerárias do antigo convento de Santa Clara, e me ordenou sem muita convicção. — Vá até lá e veja o que consegue. O convento histórico das clarissas, que há um século se converteu em hospital ia ser vendido para construírem no lugar um hotel de cinco estrelas. Sua bonita capela estava quase toda exposta à intempérie com o desmoronamento gradativo do telhado, mas nas criptas permaneciam enterradas três gerações de bispos e abadessas e outros personagens notáveis. A primeira medida era desocupá-las, entregar os despojos a quem os reclamasse e atirar o restante na vala comum No terceiro nicho do altar-mor, do lado do Evangelho, é que estava a notícia. A lápide saltou em pedaços ao primeiro golpe da picareta, e uma cabeleira viva, cor de cobre intensa, se espalhou para fora da cripta. O mestre-de-obras devia retirá-la inteira, com a ajuda de seus operários, e quanto mais a puxavam, mais comprida e abundante parecia, até que saíram os últimos fios, ainda presos a um crânio de menina. No nicho ficaram apenas uns ossinhos miúdos e dispersos, e na pedra carcomida pelo salitre só se lia um nome, sem sobrenomes: Sierva María de Todos los Ángeles. Estendida no chão, a cabeleira esplêndida media vinte e dois metros e onze centímetros. O mestre-de-obras me explicou sem espanto que o cabelo humano crescia um centímetro por mês até depois da morte, e vinte e dois metros lhe pareciam uma boa média para duzentos anos. 

Já a mim não pareceu tão trivial porque minha avó me contava em menino a lenda de uma marquesinha de doze anos cuja cabeleira se arrastava como a cauda de um vestido de noiva, que morreu de raiva causada pela mordida de um cachorro, e que era venerada no Caribe por seus muitos milagres. A ideia de que aquele túmulo pudesse ser dela foi a minha notícia do dia, e a origem deste livro.”

Neste momento, Ana e eu nos olhamos, emocionados, e nos convencemos que iria sair tudo bem com o nascimento da nossa neta, que seria uma mulher, de nome Clara, e que estava sobre a proteção de Clara, discípula e parceira de vida e obra de São Francisco de Assis.

O hotel foi escolhido por essa razão, e se justificou totalmente. Mas não apenas por isso. Sabe aquela sensação que comentei acima, de certo arrependimento por ter deixado o paraíso da Ilha de Baru. Se esvaneceu totalmente. É que o paraíso tem várias fisionomias...

Poço da fundação do convento, no
jardim interno do hotel

O hotel Sofitel Santa Clara se mostrou tão ou mais agradável que o de Baru. Além disso, Cartagena nos conquistou. Apesar do calor intenso, fizemos dois passeios guiados, contratados pelo app da Get your Guide. Um se chamava “Centro e Getsêmani”, outro “Gabriel Garcia Márquez”. Gostamos dos dois. 

O centro da cidade, ou cidade murada, é realmente de uma beleza ímpar, justifica totalmente a fama que tem. Arquitetura colonial espanhola, com casario muito bem cuidado, varandas floridas, cores variadas, portas, janelas e balcões lindíssimos, ruas, praças e lugares cheios de história. Ali estão lojas de artesanatos, roupas, restaurantes, hotéis, etc. Os jardins internos, tão característicos da arquitetura mouro-espanhola, uma beleza à parte. O hotel estava no tranquilo, ainda que cêntrico, bairro San Diego. Ao lado, o movimentado bairro San Domingos. Um pouco além, o já comentado Getsmâni. Todos os três muito interessantes e bonitos, cada um a seu modo.

Não vou aqui contar tudo que ouvimos. Vou mencionar a índia Catalina e sua saga, retratada até em série da Netflix, e o Padre São Pedro Claver, um jesuíta espanhol que dedicou sua vida a servir e defender os africanos escravizados que chegavam em Cartagena, salvou milhares e ganhou a alcunha de “escravo dos escravos”. 

El esclavo de los esclavos!



Como eu disse, são muitas e muitas histórias interessantes contadas pelas ruas da Cidade Murada de Cartagena de las Índias!

Comemos comidinhas de rua, nunca resistimos, e fomos a três bons restaurantes, comer comidas caribenhas, sempre peixes e camarões bem temperados, com esse toque africano insuperável. O restaurante que mais gostei, dos que fomos, foi o Casona Café Bar. O Tomillo, mais simples, também com uma comida muito boa.

Foram quatro dias que nos deu vontade de mais. Mas, diz o adágio popular, aventura de pobre...

E essa foi nossa estada na linda Cartagena. Não sei onde será a próxima, mas, de lá, conto mais.  





As lindas placas com nome das ruas!

Getsmâni

Mais dos grafites de Getsmâni

Ruas do centro histórico de Cartagena

Os balcões floridos!


quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Bogotá, 30 de setembro e 01 de outubro de 2025.

Plaza Bolivar

Chegamos em Bogotá ontem, terça-feira, dia 30 de setembro, ao meio dia! Viemos a puro passeio, algo que está migrando de adjetivo. Era raro, parece que quer virar frequente.

Estive aqui duas vezes. Uma em 1998, outra em 2011. O que não quer dizer que conheço…

Aspecto de "La Candelaria"

Do aeroporto fomos para nosso hotel, o Masaya Collection, de Didi, aplicativo de transporte muito usado em vários países como alternativa ao Uber. Chegamos no hotel, muito bom por sinal, no bairro La Candelária, por volta das duas da tarde, em tempo de começar nosso tour, orientado por três recordações de Bogotá que gostaria de aquecer.

A primeira, justamente rever o bairro La Candelária. O mais antigo da cidade, onde ainda existem vestígios da sua fundação, há quase 500 anos. Casario colorido, antigo, bem conservado, com suas características portas e janelas, algumas com varandas de madeira, daquelas fechadas, muito típicas da Europa do Norte. Muita gente, bares, restaurantes, comidas de rua, vendedores de artesanatos, elixires, pomadas, igrejas (o Santuário da Nossa Senhora de Carmen é lindo), praças. A principal, a Praça Bolivar, estilo seca, que é o local onde os pombos surgiram, abriga os poderes constituídos, incluindo o religioso, e concentra boa parte dos transeuntes.

Sentar com os braços abraçando os 
joelhos, formando uma cesta, significa se 
colocar em condições de receber a sabedoria

A segunda recordação que estava na lista para ser reanimada era o Museu do Ouro. Lindo! A história do ouro se confunde com a história do nosso continente, e o museu nos mostra isso, com peças ornamentais ou usadas em cerimônias, forjadas a ouro desde dez mil anos atrás. Além de ver as peças, as informações nos fazem refletir sobre porque esse metal tem sido objeto de desejo que movimenta tanta gente, por tantos lados, por tanto tempo, de tantas formas diferentes – mais ou menos nobres.

Lembro de ter lido um diálogo que foi supostamente travado entre Hernán Cortes, o cruel invasor espanhol e Montezuma, líder maior dos Astecas. O indígena teria perguntado por que os espanhóis amavam tanto o ouro. A resposta, entre a mentira e a metáfora, uma ou outra com forte carga simbólica, foi precisa: porque temos uma doença no coração que só o ouro pode curar. 

No Museu pude aprender que uma das razões do fascínio pelo ouro é a sua imutabilidade. Permanece igual, sempre. Não pude deixar de recordar dos alquimistas, da busca do elixir da eterna juventude e da fórmula para transformar outros metais em ouro. A imutabilidade do ouro remete, não sei se é muita viagem minha, a esse eterno medo da morte, a este intimo desejo de ser imortal. A posse do ouro, de alguma forma, nos aproxima da eternidade. Quem sabe a doença a qual Cortes se referiu é a taquicardia causada pela percepção da finitude das nossas vidas.

Li no museu outra razão das culturas antigas festejarem tanto o ouro:

Bandejas para alucinógenos

ele simboliza as forças fertilizadoras do sol. Achei demais! Demais mesmo! É que essa ideia da força fertilizadora do sol se coaduna com minha conclusão após quarenta anos como agrônomo e agroecólogo: agricultura é o cultivo do sol, e a fotossíntese o milagre original. Nada de novo no front, só estou repetindo o que todo mundo sabe, ainda que a agronomia contemporânea parece ter se esquecido que sabe. 

Tem uma sala no museu do ouro, a Sala Oferenda, que é um espetáculo à parte. Nela tem uma parede côncava, de uns dez metros, com muitos objetos de ouro dispostos atrás de um grande vidro. No meio da sala, um poço, também de vidro, com peças colocadas em diferentes profundidades. De tantos em tantos minutos começa o espetáculo: uma dança…  Pelo menos eu vi uma linda coreografia, feita pelos objetos parados. O movimento, ou a sensação de movimenyo,se dá pelo jogo de luzes e sons que ocupa o espaço. Incrível!

O último lugar que eu tinha muita vontade de ver era o Museu de Botero. Último e mais importante. Ana também queria conhecer Bogotá, mas seu objetivo principal era ver Botero. 

Adoro...

 A expectativa dos dois era alta, e ainda assim fomos positivamente surpreendidos. Demais demais demais. Suas formas arredondas são sedutoras e simpáticas, mas sua arte se expressa também nos símbolos percebidos em seus quadros e esculturas. Não vou falar muito sobre, mas prometo postar várias fotos no fim do texto. Além das obras de Botero, algumas salas têm obras de vários e conhecido pintores, como Renoir, Degas ou Picasso. Todas doadas por Botero, que assim o fez impondo a condição que o Museu fosse gratuito. Ave, Botero!

Que mais fizemos em um dia e meio? Fomos no Mercado Paloquemao, ver a produção local, uma espécie de programa obrigatório para nós dois, tanto quando viajamos sozinhos como quando viajamos juntos. Belo mercado, vale a visita! 

Fomos duas vezes a uma cafeteria que adoramos, a DV Cafés especiais. 

Nos dois fins de tarde que passamos por aqui fomos a Praça Chorro Quevedo, ao lado do nosso hotel, tomar meia jarra de chicha. O que é chicha? Um fermentado de milho, entenda como um ancestral andino da cerveja. Ali ficamos vendo o dia sair de cena, falando da vida e vendo o povo passar prá lá e prá cá! E escrevendo! Bem bom.

Quero ainda mencionar os grafites em Bogotá. Muitos, espalhados por muitos cantos. De todos os tamanhos. Adoramos, embeleza a cidade e coloca no ar uma atmosfera contemporânea. Uma onda! 

Acho que é isso que vou contar de Bogotá. Amanhã, partiu Cartagena. De lá, conto mais!

Gabo!

L
Lendo Gabo!

Santuário N S do Carmo

Batatas no Mercado Paloquemao