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terça-feira, 5 de novembro de 2024

Montevideo, 3 a 6 de novembro de 2024.

Livraria Puro Verso

Foram dois dias em Montevideo. Cheguei no domingo tarde da noite e saio amanhã de manhã. Vim convidado pela COPROFAM (Confederación de Organizaciones de Productores Familiares del Mercosur Ampliado), para dar uma palestra em um curso para representantes de sete países, governos e sociedade civil, que abordou a Agroecologia como ferramenta para fazer frente às mudanças climáticas.

Vou contar algo interessante: resolvi usar uma palestra que havia preparado para a Assembleia do MAELA (Movimento Agroecológico da América Latina e do Caribe) em 2003, na Costa Rica. Basicamente, falo dos fundamentos da Agroecologia a partir de seis dimensões. Resumo aqui as dimensões e a ideia síntese em cada uma:

1.    Dimensão tecnológica - A natureza como matriz tecnológica;

2.    Metodológica - Fertilização cruzada de ideias e ideais;

3.    Mercado - Mercado como criatura e não como criador;

4.    Política - Instâncias organizativas democráticas e participativas;

5.    Sociológica - Atores sociais capazes de identificar e resolver seus problemas;

6.    Cultural - Cosmovisão integradora ser-humano / natureza.

Por que interessante? Porque o que preparei há mais de vinte anos segue atual e surpreendendo. Na real, nem sei se é interessante, talvez a palavra mais adequada seja triste. Sim, meio triste que o já dito por tantos e há tanto tempo ainda surpreenda… por isso mesmo terminei com Caetano: “E aquilo que nesse momento se revelará aos povos, surpreenderá a todos não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando terá sido o óbvio”. 

Ruas de Montevideo

Hoje, pela manhã, deixei o evento e fui caminhar. Nos dias atuais se pode fazer isso, fácil, colocando cara de preocupado e avisando às pessoas que você tem uma reunião on-line. Putz… potássiopotásssiopotásssio. Saí do Ibis La Rambla, hotel que estou, e peguei a rua Santiago até a ‘18 de julio’, avenida que é uma espécie de aorta de Montevideo. Fui caminhando até o Porto, olhando o comércio, revivendo outras estadas por aqui e flanando sem preocupação. Parei nas duas livrarias mais conhecidas por aqui. A “Puro Verso” e a “Más Puro Verso”. Nesta última, resolvi tomar um café em meio a letras e livros, admirando as prateleiras e me perguntando quando foi que nos divorciamos dos livros. Antigamente essas duas eram a mesma livraria, hoje não. Perguntei a uma atendente, jovem, que ironicamente respondeu: “solían ser la misma, ahora le puseram, en uma, un ‘más’ adelante que lo cambió todo”. Ri e comentei com ela que assim caminha a humanidade, todos querendo ser ‘mais’. 

Bairro antigo

Tomei um café na ‘mais puro verso’, entre Borges e Benedetti, pendurados na parede, e escrevi um pouco, um dos meus prazeres na vida. Depois, segui caminhando pela cidade velha. De lá fui até o Mercado del Puerto. Como quase todos os centros de cidade, pós pandemia, muitas lojas fechadas e pouco movimento, com exceção das ruas ao redor do mercado. Por ali, assim como no próprio mercado, muitos restaurantes, lojas com lembrancinhas e artesanatos, vinhos, alfajores e doces de leite. 

Parei para um chopp no Bar Alvarez. Um simpático Ipa, às onze da manhã de uma terça-feira. Pode isso, Arnaldo? Aproveitei e comi um provolone assado com tomates e pesto. Chopp muito bom, provolone nem tanto.

Voltei caminhando pela Rambla, o calçadão que margeia o majestoso rio “La Plata”. Ainda tive tempo de ver o final do evento. Resultado? Não pergunte isso a alguém como eu que já não crê que a necessária revolução agroecológica se realizará. A humanidade não quer isso, o sazon venceu, o prazer imediato é mais forte, frases simplórias como “a vida é uma só” ou “o importante é o agora” invadiram as mentes, e quase ninguém aceita trocar conforto individual por bem-estar coletivo ou meio ambiente preservado. Segue o baile, assim caminhamos, céleres e saltitantes, rumo ao caos.

Essa constatação não me esmorece, sigo dançando a playlist que escolhi aos vinte anos, estou bem onde estou, daqui não saio. É só isso que vou contar desses dois dias! Amanhã cedo já regresso para casa, vida que segue!


Rio La Plata

Galera do evento

domingo, 23 de junho de 2024

Nampula e Maputo, 20 a 22 de junho de 2024

 

Jantar de despedida, equipe da Abioedes e Essor

E termina minha estada no continente mãe. Fiz as contas, é a décima primeira vez que venho trabalhar aqui. Sou encantado com essa parte do planeta. Paisagem, pessoas, culturas, ritmos, cores. Um espetáculo! Sou da tese que a humanidade tem uma dívida com esse continente, ao menos boa parte dela. 

Eu e a Piedade!
Os brancos, principalmente europeus, e seu colonialismo nefasto, produziram pobreza financeira onde existia e existe tanta riqueza natural. Mas as coisas têm seu tempo e a história sua dinâmica. Tenho lido, e minha intuição tende a concordar, que o século XXII será da África. Pela explosão demográfica, enquanto outras partes do mundo estão envelhecendo, o continente africano está rejuvenescendo. Só andar por aqui e ver a quantidade de crianças podemos perceber que assim será! A baixa expectativa de vida, um problema que chega a ter caráter humanitário, joga a favor da juventude do continente. Tem outras razões que são apontadas para essa supremacia africana em um futuro de médio prazo. Acho ainda que os tempos ambientais, difíceis, privilegiarão os que conhecem dificuldades.

Vir a Maputo 4 vezes em dez anos e ver como mudou, para melhor, reforça a ideia de uma outra realidade em futuro já nem tão distante.

Sobre esses meus últimos doze dias, foi muito bom rever aqueles com quem já havia trabalhado em Maputo e conhecer as pessoas e organizações de Nampula. Um Seminário sobre SPG, onde falamos muito de agroecologia, foi uma bela oportunidade para ter uma visão do que anda acontecendo por aqui!

Capulanas 

Comi muito bem. No Restaurante Zambi e no Galaxy em Maputo e no Hotel Millenium em Nampula. Comida local (destaque para a Matapa), indiana e portuguesa.

Hoje de manhã a Coline, da Essor, minha contratante aqui, me levou para comprar capulanas. Uma viagem… de diferentes qualidades, cores, texturas, sempre muito vivas. São centenas e centenas, só entrar nas lojas já é uma aventura, me sinto numa espécie de museu dos tecidos ou em algum outro tipo de ponto turístico. Ver as mulheres comprando também é muita onda, a forma como escolhem, as fotos que tiram, como discutem usos e possibilidades. As lojas onde fomos são uma espécie de atacado, as pessoas também compram para revender nas ruas da cidade ou em outras localidades.

Depois destas compras, na hora do almoço vim para Maputo. Durmo aqui hoje no excelente Hotel Avenida, uma espécie de prêmio que me dei por tudo ter corrido tão bem, e amanhã embarco rumo a casa, passando por Johanesburgo.

Esse ano não tenho nenhuma outra viagem internacional programada. Veremos se assim será! Se rolar, conto por aqui!

Ponto de vendas em Nampula

Reunião com uma cooperativa agroecológica

Legal ver um texto meu assim!

Eu e o Jordan!



Seminário sobre SPG e Agroecologia

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Nampula, 17, 18 e 19 de junho de 2024.

Reunião com agricultores no campo de Nampula

A maior renda percapita do mundo é de Luxemburgo, um pequeno país europeu: 131 mil dólares. No Brasil, é de 9 mil dólares. Em Moçambique é de 569 dólares.

Pois é ,conhece o monólogo famoso do Chico Anisio, que fala, de certa forma, sobre isso? Não? Procure! Chama-se “mundo moderno, melhore”.

Uma vendedora de produtos agroecológicos

Estar aqui, no norte de Moçambique, em Nampula, visitando suas áreas rurais, é uma experiência única. Os últimos três dias foram de trabalho intenso. Intenso e agradável.

A lida consistiu em visitar hortas, urbanas e periurbanas. Visitei também pontos de venda e tive momentos de reuniões com a equipe da Abiodes, ONG que me recebe aqui, assim como com agricultoras, agricultores e suas organizações, tanto associações quanto cooperativas. Entre um e outro, pude observar as áreas mais periféricas, a condição de vida das pessoas, as casas, os meios de transporte, o lixo cravejando a cidade, as pessoas procurando algo no lixo pobre, as roupas doadas feitas negócios espalhadas por todo lado, as mulheres colorindo a cidade, as muitas crianças que farão da África o centro do mundo no próximo século, o superintenso comércio informal, o sorriso farto das pessoas nas ruas.

A realidade, as realidades, têm muitas faces.

Tá ligado na renda per capita que comentei acima? Pois é, se a média é de 50 dólares por mês, se alguém ganha 90, outro ganha 10… se uma pessoa ganha mil dólares por mês, e ganhar isso está longe de ter uma vida fácil, outros 19 não ganham nada. Tá, só para dizer que ver essa situação de forma tão cristalina, saber que ela se multiplica, com algumas variações, por todo o continente, e comparar com outras realidades que conheço é duro, muito duro.

Sim, eu sei, já disse, as realidades têm muitas faces. Muitas. 

Pois o interessante é que, com tudo isso em mente, olhando toda a situação aqui e pensando nas injustiças do mundo, o que encontro nas minhas conversas são pessoas buscando viver da melhor maneira possível, preocupadas em produzir comida “sem químicos”, como eles gostam de dizer, para os seus clientes, afirmando-se preocupadas com o meio ambiente e buscando não contaminar seu solo e suas águas.

Bem-aventurados os que sofrem, porque serão consolados, já foi dito. Sabe, acho que o consolo real não virá de algo sou alguém, mas de dentro, da sensação de alívio por não ter contribuído com o caos.

Sei lá, difícil colocar tantas variáveis em uma só equação. Até apelei para a Bíblia… e ainda com interpretação própria… rsrsrs…

Mas foi isso, durante esses dias. Visitei quem produz, visitei quem vende e compradores de produtos orgânicos/agroecológicos, todos envolvidos em um SPG - Sistema Participativo de Garantia. Trabalhei com eles esse tema, de forma virtual, em 2021. Ver o sistema funcionando é muito legal.

As dimensões são todas muito pequenas, tudo é muito simples, o nível de renda, como sabemos, é muito baixo. Confesso que, mesmo com certa experiência, não é fácil adaptar a mente de consultor para que minhas sugestões sejam coerentes com a realidade local. Um exemplo? Eles me falaram algo sobre conservação de verduras. Buscando uma solução, quase falei em refrigeração… Oi? Escapei, tive o bom senso de ir por outro caminho.

Hoje, enquanto esperávamos o almoço, contei ao Lustre, um promotor agroecológico (agricultor que ensina outros agricultores), muito boa onda, com quem conversei bastante, como voltarei para casa. Nampula-Maputo-Joanesburgo-Sao Paulo-Florianópolis-Torres. Ele me disse: “É, agradecemos ao Laércio vir de tão longe para nos visitar e ensinar essas coisas. Só o amor pode mover alguém tão longe… porque trabalhar temos muitas formas de trabalhar, ninguém faz isso só por trabalho”. Não sei se ele está certo, mas sei que ele está certo. Como dizia o velho programa televisivo, só o amor constrói.

É, esse foi o post que saiu, enquanto tomo uma água pedras em um café local. 

Escrevi muito, não disse nada, mas a sentença segue ecoando na minha cabeça: mundo moderno, melhore!

Hortas peri urbanas em Nampula

Mais hortas

Prosa no campo

Conversando sobre produção de sementes de alface


Ponto de venda de produtos agroecológicos

Outro ponto de venda

Outro ponto de venda

Pós reunião com a Cooperativa dos 
produtores de hortaliças

No campo...


domingo, 16 de junho de 2024

Maputo e Nampula, 14, 15 e 16 de junho de 2024.

Eu e Marcelo, um dos meus anfitriões,
na beira do Índico

Depois de 4 dias em Maputo, ontem vim para Nampula, norte do país. É a minha quarta vez em Moçambique, a primeira que saio da capital.

Sapatos usados, comércio de rua

Hoje, de manhã, passeei pela cidade, em direção a uma feira. Recebi a indicação que deveria ir ver, fui, sem saber o que iria encontrar. A cena com a qual me deparei foi, no mínimo, inusitada. De todas as minhas andanças acho que foi a feira mais popular que já vi. Para começar, só negros. Eu era o único branco, mostrando como o espaço é mesmo local. Bate sim uma insegurança, mas meto uma cara de mau e sigo o baile! A feira, basicamente, é de roupas de segunda mão. As mais velhas amontoadas no chão, devidamente classificadas. Camisas, camisetas, calças, sapatos, tênis…, vi também toalhas, usadas, velhas, o que eu nunca havia visto. As toalhas, os sapatos e roupas mais novas penduradas em cabides ou dispostas de forma mais arrumada no chão, sobre uma lona. Muita gente, cheiro de muita gente no ar, tudo sobre terra batida, sem espaço para caminhar. Acho que não exagero se chamo de sufocante. Não tenho fotos, preferi não tirar meu iPhone (sic) do bolso!
Edíficio em Nampula

Usem a imaginação de vocês, eu gravei na memória. A venda de roupas usadas é comum em todos os países africanos que visitei. Muito comum. Normalmente, ao longo das calçadas e em feiras na rua, mas essa superou tudo o que eu havia visto antes.

Há alguns anos, fui a Colônia, Alemanha, convidado pelo Instituto C&A. Reunião de “expertos” para discutir sobre a moda sustentável. Belo hotel, bela sala, comidinhas e cafezinhos! Pois olhando a feira hoje, aqui em Nampula, com toneladas de roupas velhas, lixos travestidos de doação humanitaria, pensei que aquela reunião deveria ter sido feita aqui, tendo esse comércio de roupas usadas como, vale o trocadilho, pano de fundo. Lembro que, nessa reunião em Colônia, eu disse que a moda sustentável depende muito de se encerrar essa lógica de uma coleção nova de roupa a cada nova estação. Não me deram confiança, acho que preferiram não ouvir. Já é tempo de superar o conceito que o chique é não repetir roupa… chique, hoje, é usar a mesma roupa por dez anos. Porque? Por que chique mesmo é salvar o planeta, o resto está fora de moda!

Bom, o restante do domingo em Nampula passei descansando no hotel, comendo e escrevendo. Fim do dia, que aqui é às cinco da tarde, fui a um café tomar uma água Pedras e terminar de escrever este post.

Mas deixa eu dar uma ré e contar algo dos últimos dois dias em Maputo.

Orla da Baía de Maputo
Sexta-feira foi dia de algum trabalho, conversas com membros da equipe de Abiodes, ONG que me recebeu para o trabalho, e um pouco de passeio. Andei pela orla da baía até o excelente restaurante Zambi, onde almocei no fim da tarde e depois fui ouvir uma música ao vivo no Djambo, bar que fica a 50 metros do meu hotel. Música muito alta, mesas lotadas, mesmo eu, que estava sozinho, tive que compartilhar a mesa com outras 3 pessoas. Aliás, já me aconteceu outras vezes por aqui, é comum que as mesas sejam plenamente ocupadas. Não estão de todos errados, é uma boa regra para o jogo. Ouvi o que considero um show, uma cantora linda, negra, considerei uma espécie de Tina Turner moçambicana!

Ontem, sábado, fiquei caminhando por Maputo até a hora do meu checkout. Passei pela Orla, cheguei no Jardim do Amor, voltei pela Av. Julio Nyerere, 25 de Julho e pela Lenin. Aliás, as principais ruas em Maputo guardam nomes que falam muito da história do país e da capital. Aqui e em qualquer lugar, nome de suas ruas dizem muito de uma cidade, principalmente as grandes. Nestes dias por aqui andei nas Avenidas Karl Marx, Mão Tse Tung, Lenin, Salvador Allende… até Olof Palm eu achei! E, claro, os locais como Samora Machel.

Fiz hora, almoçando no lugar que mais vou aqui, o indiano Galaxy e peguei o avião. Táxi, espera, avião lento… Eram dez da noite quando pousei em Nampula! Fui direto ao bom Hotel Milênio. Me agarrada a uma bela noite de insônia! Sobre hoje, já contei, mas vou acrescentar que como um bacalhau delicioso no restaurante do hotel. Por hoje é só! Amanhã começa meu trabalho em Nampula, durante a semana conto algo!

Entardecer em Nampula

Entardecer em Nampula



Cena Urbana, Nampula



sexta-feira, 14 de junho de 2024

Maputo, 13 de junho de 2024

 

Seminário agroecologia e mercados

Este post é só para deixar um registro sobre uma homenagem que algumas mulheres agricultoras da zona verde de Maputo me fizeram ontem, quinta-feira. No fim do Seminário que participei, que tinha foco em mercados agroecológicos e uso de selos de identificação, já depois das palavras finais, elas se levantaram e começaram a cantar, ameaçando formar um círculo. Fiquei esperando para ver se eu deveria fazer algo, uma delas fez um sinal que entendi era para eu as acompanhar. Fui batendo palmas e andando na frente, logo o rapaz que estava filmando pediu para eu parar. Ainda sem entender bem, vi a Bela, agricultora que conheço desde 2014, se aproximando com uma capulana. Todas ainda cantando, ela pôs a capulana sobre meus ombros. Depois outra e depois outra… e a Bela fez um discurso me agradecendo!

Fui obrigado a falar umas palavras. Disse a elas o que sempre digo quando falo daqui: o melhor de Maputo são as mulheres e suas capulanas! Elas colorem a cidade, mesmo nos seus espaços mais cinzentos. Além da simpatia, sorriso e amabilidade. Ao vê-las trabalhando nas machambas, vendendo alimentos nas ruas, preenchendo os espaços nas feiras e mercados, tenho a impressão que são elas que movimentam a economia da cidade.

Conversando com um amigo daqui que acompanhou toda a cena,o Estevão, entendi que elas não vieram de casa já programando essa homenagem, a ideia surgiu ali, durante o seminário. E de onde vieram as capulanas, novas? Pois as mulheres aqui, de certa idade, não andam sem uma capulana, quase sempre nova, na bolsa. As mães ensinam assim, pode-se precisar de uma a qualquer momento, nunca se sabe. Depois da Belinha, uma outra puxou mais uma da bolsa e por último uma senhora veio com outra (na verdade, uma toalha de mesa). Que onda…

Enfim, como disse, esse post era só para deixar marcado esse momento. Vou deixar os dois vídeos e algumas fotos aqui, sei que vou gostar de ver isso de novo de tempos em tempos…

Para terminar, compartilhar que minha percepção, ou aprendizado, é que nem todos os sonhos nascem para ver a luz do dia. E, para alcançar alguns, outros ficam pelo caminho, porque sonhos são assim mesmo: muitas vezes impossíveis, sempre variados e, não raro, contraditórios. Esses dois vídeos e essas fotos abaixo falam algo dos meus. Consegui misturar militância e trabalho ao redor da agroecologia, e receber uma homenagem dessa, aqui em Maputo, mostra que, se muito não fiz, algo fiz. Bem boa a sensação, acho difícil o Mastercard cobrir a oferta!

Depois conto mais das minhas andanças por aqui!








quarta-feira, 12 de junho de 2024

Maputo, 12 de junho de 2024.

Entregando uma cópia do meu livro para estudantes de
agronomia de Moçambique!

Aqui em Maputo, capital de Moçambique, pela quarta vez. Cheguei ontem, no fim da tarde, depois de mais de trinta horas de viagem. O mundo é grande!

Composto e vermicomposto
em áreas periurbanas
Cheguei ontem e hoje já fui ao campo. Boa atividade para o primeiro dia de trabalho, porque minha responsabilidade era pequena, apenas uns 30 minutos de prosa com agricultoras e técnicos locais, no campo mesmo. Mas pude rever as machambas, como eles denominam as áreas produtivas aqui, e ver algo da agricultura urbana e periurbana de Maputo. Revi pessoas com quem trabalhei das outras vezes e locais onde já estive. Muito legal, foi como rever um lugar já velho conhecido.

A novidade? A novidade tem cara de coisa antiga: as mudanças no clima! Recentemente, Maputo foi assolado por um tornado que levantou a baía, encheu rios e inundou casas. Nada de novo no front… aliás, a analogia com o famoso livro tem sentido, porque estamos mesmo em uma espécie de guerra, em mais de um sentido. Primeiro, porque optamos por dominar a natureza, ao invés de conviver harmoniosamente com ela. Toda ação traz sua consequente reação. Segundo, porque essas situações climáticas exigem uma mobilização tão intensa da sociedade que se assemelha mesmo a períodos de guerra. Enfim, por onde ando, esse é o quinto país que visito esse ano, só ouço falar em mudanças no clima.

Depois do campo, aproveitei a última hora do dia para andar pelo centro da cidade, onde está o meu hotel (Tivoli). Comecei tomando um expresso em uma pequena cafeteria. Segui até o mercado municipal, onde conversei com algumas vendedoras. Depois, fui ver capulanas (os lindos tecidos com motivos africanos), característica mor de Maputo, juntamente com suas mulheres! Elas, mulheres e capulanas, colorem a cidade, pondo cores mesmo nos lugares mais cinzentos! Fui na Casa Elefante e na Casa Pandía. Comprei apenas três, nesta última. Recomendo muito, caso você passe por aqui. 

Mulheres e suas capulanas

Agora, entardecer, passei no restaurante Djambo, tomando um chopp antes de vir ao Galaxi, o restaurante indiano que já conheço e estou muito a fim de rever.

Gostosa a sensação de estar outra vez em Maputo. Sentir-se em casa em uma cidade tão distante e diferente é meio doido, mas foram esses os caminhos pelo qual a vida me levou.

Aliás, falando da vida, hoje, no carro, um companheiro de trabalho começou a falar de Mia Couto que, como você sabe, é moçambicano. Segundo ele, Mia Couto diz que a vida é uma série de eventos caóticos, que vai chegando e temos que ir lidando com eles, ordenando, ajustando, dando um sentido ao nosso cotidiano. Exemplo que ele deu: “o filho não chegou em casa, o gás acabou, amanhã tenho que viajar, meu chefe brigou comigo, o salário é baixo...”.E temos que receber tudo isso e dar uma espécie de ordem, de lógica, sob pena de enlouquecer.

Ouvi e lembrei que uma das imagens que tenho da vida é de um tipo de luta marcial. Levamos um monte de pancada, meio aleatórias, vamos nos defendendo, administrando, escapando, fazendo da nossa defesa a maior diversão possível, ou vendo algo de agradável nela. E as vezes, só as vezes, damos um golpe bem dado e ficamos com sensação de vencedor. Um segundo depois, já estamos levando porrada de novo… rsrsrs…

Qual metáfora se adequa melhor? Você tem alguma opinião?

Me despeço por hoje com essa reflexão caótica- marcial-filosófica sobre a vida. Ou, mais precisamente, sobre o viver!

Fico em Moçambique doze dias, vou contando por aqui!



Machambas de Maputo


Mais do que eu mais gosto!


Mercado Público de Maputo


Mercado Público de Maputo


sábado, 2 de março de 2024

Burgos, Coimbra, Óbidos e Lisboa, 27 de fevereiro a 02 de março, do ano bissexto de 2024.

 

A Ireja de São Tiago, em Burgos, que se fez um templo de livros

Vou começar essa crônica com algo que me marcou muito, dentre várias coisas que me marcaram nesses belos últimos cinco dias de viagem: a igreja de São Tiago, em Óbidos, que virou livraria. Demais o visual de uma Igreja que presta culto aos livros! Me impactou, fiquei emocionado. Lembrei do Templo de Confúcio, em Pequim, que tem no seu altar principal um livro! Acho mesmo que lá onde tudo começa, existe uma biblioteca, cuidada por alguém que de tudo sabe. Pensava nisso enquanto caminhava vendo os livros expostos nas prateleiras do templo. Lugar de estar horas, não minutos!

Catedral de Burgos

Agora, dou um passo atrás no tempo e conto que saímos de Burgos, capital da província de Castilla-León, de tantas histórias, na terça-feira, dia 27, na hora do almoço, depois de passear um pouco no frio e comer um churros com chocolate quente, tão típico em boa parte da Espanha.

Chegamos em Coimbra depois de 6 horas de viagem, foi a maior distância que percorremos em um dia durante todo o rolê.

Ana e eu gostamos de colocar o navegador no modo “evitar pedágios”, para fugir das grandes autoestradas, rápidas, mas sem graça. Quando entramos em Portugal, passamos dentro de várias pequenas cidades, algumas na Serra da Estrela, local onde se faz o famoso queijo, que alguns reputam como o melhor do mundo. Lindinhas demais essas cidades. Mas a surpresa mesmo foi quando vimos uma placa indicando a Freguesia de Linhares da Beira. Estava escrito que era uma aldeia histórica de Portugal. 8 km. Nos olhamos e entramos, por uma bonita estrada de curvas muito sinuosas. 

Freguesia de Linhares da Beira

Encontramos um povo medieval lindíssimo, com suas casas de pedras, roupas penduradas nas sacadas, para secar, e senhorinhas andando pelas ruas. Li um pouco e descobri que é um povoado com cerca de 200 habitantes. Valeu muito essa visita não planejada!

Chegamos em Coimbra ao anoitecer, demos uma volta pela cidade e fomos tentar a sorte para comer no “Zé Manel dos Ossos”. Uma pequena tasca, com não mais que 18 lugares. Esperamos mais de uma hora, na rua, frio, mas valeu… Comida sensacional! Lugar simples, mais para desconfortável, atendimento simpático pelos proprietários e o prazer de comer algo bem característico da região. Ana foi de bacalhau, eu de javali com batatas!

Quarta-feira foi dia de visitar Santa Isabel, a Rainha Santa de Portugal, padroeira de Coimbra. Fomos no Convento de Santa Clara, a nova. Foi construído para substituir o Convento de Santa Clara, a velha, que, por sua vez, foi construído a mando da própria Rainha Isabel de Aragão. 

Essa é a Fonte das Lágrimas, que
Camões imortalizou em seus versos, 
as lágrimas seriam de Inês de Castro

Visitamos e fomos guiados por uma funcionária que nos deu muitos detalhes interessantes sobre a vida da Rainha. Vou falar só de um: o corpo da rainha é incorrupto. Significa que não se decompôs após a morte, sem que para isso tenha sido usado algum método de conservação. A visitação do corpo da Rainha foi suspensa apenas em 2016. E ela morreu em 1336… interessante, não é?

Eu acho, acho muito interessante. Nem tudo que existe é fácil de explicar…

No chamado movimento espírita, ela é considerada uma amiga de Chico Xavier, e estaria presente no famoso livro “Nosso Lar”, com o nome de Veneranda. Gostei de visitar, outra vez, nesta viagem, Isabel de Aragão, a Rainha Santa de Portugal!

Quinta de manhã, saímos de Coimbra para Lisboa. Passamos por Óbidos, passeamos pela Vila, muito bonitinha, e o ponto alto já narrei acima.

Chegamos em Lisboa, devolvemos o carro e fomos passear pela Augusta! Não nos cansamos de visitar a Lisboa histórica, seu casario, os detalhes dos azulejos, os nomes pitorescos das ruas e das casas comerciais. E comer. Come-se muito bem por aqui. Vou falar que quinta-feira, de noite fomos a “Tasca do Teimoso”. Tanto no Instagram quanto em um cartaz na porta está dito: a pior Tasca de Portugal. Mentira… mas tem que se garantir muito para ter uma chamada desta, concordam? 

Ouvindo versos na Casa de Pessoa.

Outra vez, um restaurante pequeno, menos de vinte lugares, mas desta vez bonito e agradável. Duas pessoas trabalhando: o filho cozinha e a mãe, de setenta anos, atende. Que comida! Elegemos que foi a melhor de toda a viagem. Sabe aquele couvert básico? Pão, azeitonas e manteiga? Pois então… pão quentinho, azeitonas deliciosas e duas manteigas: uma com vinho do porto e maçã e outra com alho e coentro. E assim seguiu com as sopas, com os bolinhos de alheiros e com o bacalhau à Brás! Tomamos um vinho do D’ouro e nem conseguimos provar a sobremesa…

Sexta-feira, mais passeios, entre metrô e caminhada, mas vou apenas destacar que comemos no bom restaurante “Planto” e fomos visitar a Casa de Fernando Pessoa, lugar que sempre vou quando passo por Lisboa.

E assim termina nossa viagem. Foram 19 dias, dezoito noites. Dormimos em Lisboa, Estremoz, Sevilha, Salamanca, Bilbao, San Sebastian, Hondarríbia, Burgos, Coimbra e Lisboa. Foram cerca de 2700km. Há anos digo que queria fazer essa viagem. Fiz. Como diz Osvaldo Montenegro, “castelos nascem nos sonhos, para no real achar seu lugar”.

Aqui, do aeroporto de Lisboa, sábado, dia 02 de março, do ano bissexto de 2024, só me resta, só nos resta, agradecer!

Adoro...

A Santa nos fronstispícios das casas

A Rainha Santa no convento de Santa Clara a nova

Entrada do coinvento de Santa Clara a nova

a loinda Coimbra, visa do rio Mondego

E tivemos a sorte d ever os estudantes jogando suas capas
para cima. Ao término do curso, os estudantes rasgam as roupas
da formatura, e o único que levam para toda a vida é a capa.

A icônica Universidade de Coimbra

Nosso Hotel em Burgos

Freguesia Linhares da Beira

Freguesia Linhares da Beira

Freguesia Linhares da Beira

Ana, no Zé Mané dos Ossos

Vomitado, delícia de sobremesa no
Zé Mané dos Ossos