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Fazendo biofertilizante, no campo. |
Outra vez ando por Cabo
Verde, esse arquipélago relativamente remoto, situado em pleno Atlântico, ao
nordeste de Recife e mais ou menos próxima de Dacar, capital do Senegal. Estou
aqui pela segunda vez, para uma atividade muito semelhante à que fiz há exatos
quatro anos: curso de agricultura biológica, contratado pelo Ministério da
Agricultura. Cheguei domingo, dia 06 e saio daqui sábado, 12 de outubro. Outra
vez cometo o mesmo erro, vir trabalhar e não conhecer ao menos uma outra ilha,
para poder ter uma ideia melhor do país. Estou na capital, Praia, cidade que
fica na Ilha de Santiago. São onze ilhas no total, nove delas habitadas.
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Fim do dia em Praia |
Praia tem 130 mil habitantes,
rodeada pelo atlântico. O visual é bonito, o mar é sempre agradável de ver, mas
não é deslumbrante, incrível ou algum adjetivo do gênero. Parece que em algumas
ilhas sim, merece todos esses superlativos. A cidade é relativamente
organizada. O centro histórico possui um casario bem conservado, arquitetura
colonial portuguesa e fachadas pintadas de diferentes cores. Em algum lugar já
ouvi que as casas em aldeias de pescadores são pintadas na mesma cor da
embarcação do proprietário. Não sei se é o caso aqui.
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Quintal da música |
Do pouco que vi, nas duas
vezes que aqui estive, o destaque maior da cidade é a boa onda dos habitantes,
a tranquilidade do ambiente, a culinária e a música. Sim, a música
cabo-verdiana ganhou mundo com justiça. É linda, meio calmante, cantada
normalmente em crioulo, o idioma local. Tem um toque de bossa nova, um gingado
afro, uma tonalidade aveludada e uma melancolia que muitas vezes faz lembrar o
fado. Procura na net Cesária Evora ou Teófilo Chantre e você vai entender o que
estou falando. Outra nota boa em Praia, além da música, é a culinária. Come-se
bem. Peixes e frutos do mar, preparados com forte influência portuguesa e toque
dos povos africanos que vieram para cá à força, aclimatando-se para sua não
menos forçada aventura em terra brasileiras. Sim, quando os portugueses
chegaram nessas ilhas elas eram inabitadas. Aqui o termo colonização cabe, o
arquipélago foi colonizado pelo povo luso e seus escravos africanos.
Cachupa, à base de milho,
feijão e carnes é o prato mais típico, que todos insistem para que eu coma e
que encontrei até nos cafés da manhã dos hotéis. Mas...
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Bacalhau à Lagareira |
Eu prefiro camarão ou bacalhau...
Além de ser um prato muito quente para as condições do ambiente. Quando eu for
à Noruega prometo pedir uma Cachupa. Brincadeira, comi duas vezes no almoço
servido durante o próprio curso.
O restaurante onde ouvi a
música de melhor qualidade foi o Quintal da Música. A comida estava só
razoável, mas compensada pelo ambiente, bonito, sereno e de bom gosto, com seus
lustres feitos de panos com motivos locais, chão de pedras portuguesas e
paredes pintadas em cores fortes, cobertas de fotografias em preto e branco,
quase todas com rostos de músicos que tocaram no local. É verdade que o calor,
já que o ambiente não tem ar refrigerado, tira algo da sofisticação simples do
restaurante. Com a casa cheia, suei mais do que gostaria durante o jantar.
Ainda assim, seria uma lástima vir a praia e não comer ao menos uma vez no 5ª
da Música.
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De prosa em sala de aula |
Sobre o trabalho, a semana
foi toda com um curso de agricultura biológica, nome usado, por influência
portuguesa, para a agricultura orgânica por essas plagas. Atividade intensa,
cinco dias inteiros, com pouco mais de vinte participantes, todos profissionais
do Ministério da Agricultura de Cabo Verde.
Foi tudo bem, a avaliação
final foi muito positiva, o que sempre é bom de ouvir. De fato a demanda por
essa forma de ver e fazer agricultura é generalizada, o que tem feito com que
meu volume de viagens só aumente, e parte de quem produz, de quem consome ou de
quem estuda e ensina agricultura.
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Milho devorado, batata-doce incólume |
Nas atividades à campo, tive
oportunidade de visualizar a infestação de gafanhotos que vem assolando as
partes mais baixas da ilha, que sofre com uma intensa seca há três anos. Esse
inseto está por toda parte, no corredor ou na piscina do hotel, nas ruas e nos
campos. Ver o que eles fazem nas lavouras é impactante. Mas também
interessante, ao lado de um pé de milho completamente atacado, ver uma
batata-doce ou um mamoeiro passando incólume pela sua voracidade. Como se o
inseto estive dizendo o que se deve ou não plantar na ilha...
Hoje, sexta-feira, fim de
tarde, fui tomar uma água Pedras no Boca Bar, estilo rústico, todo com motivos
beira mar, madeiras e palhas, em frente ao oceano, na praia Gamboa.
Agradabilíssimo.
E
assim foi minha semana. Amanhã meu voo sai só de noite, devo passar o dia na
Prainha, uma praia que fica a 500 metros do meu hotel, o Pérola. Soube que por
cinco euros posso alugar mesa, barraca e uma espreguiçadeira. Pensa se quero...
como tenho feito nas últimas vezes, esse será o único post da semana, o
Caminhando e Contando parece estar chegando ao fim... sua energia está se dissipando!
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Noite, centro histórico de Praia |