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terça-feira, 17 de maio de 2016

Maputo, 16 e 17 de maio de 2016.

Visual de uma várzea, com vária machambas.
Cheguei em Maputo, capital de Moçambique, ontem no fim da manhã, depois de mais de 20 horas entre viagens e aeroportos. Estive aqui em novembro de 2014 e voltei agora para outros 15 dias de trabalho em torno da Agroecologia. Não acho que Maputo se lembra de mim, mas eu me lembro muito bem dos momentos que passamos juntos. E foram bons, espero que desta segunda vez sejam ainda melhores.
Ontem mesmo já comecei a lida. De tarde fui ao escritório da ESSOR (http://www.essor-ong.org/), ONG que me convidou para esta nova temporada em terras africanas. Foi uma tarde leve, apenas para nos revermos e projetarmos estas duas semanas.
Hoje cedo fomos ao campo. Meu trabalho aqui é no cinturão verde de Maputo, que tem uma significativa produção de hortaliças, principalmente alfaces e couve. ESSOR desenvolve um trabalho com uma pequena parcela destas famílias para que elas adotem práticas com enfoque agroecológico. Eu venho dar minha contribuição para que o trabalho tenha o maior êxito possível.
outras machambas
Uma bela oportunidade rever esta paisagem e suas pessoas. Passamos a manhã visitando algumas machambas, como aqui são chamadas as unidades produtivas. São áreas pequenas, cerca de 400 m2 e contíguas, apenas eles sabem onde começam e terminam suas machambas
Do pouco que conversei aqui, crise é a palavra que mais se ouve. Manifestações de rua estão ocorrendo. Porque? Inflação, desemprego, desvalorização cambial e consequente queda do poder aquisitivo. De quem a culpa? Da corrupção. Qualquer semelhança com o Brasil está longe de ser mera coincidência
O último país no qual estive foi a Alemanha, há pouco menos de três meses. Do que se fala na Europa e mesmo na Alemanha? Crise econômica. Neste caso turbinada por outra, a dos refugiados.
A diferença econômica entre a Alemanha e Moçambique é colossal. O PIB per capita germânico está entre os maiores do mundo, de U$ 40.000,00. Cada moçambicano produz por pessoa, em média, U$ 600,00. Ou seja, cada alemão vive com uma renda setenta vez maior do que um moçambicano. Só para lembrar o PIB per capita no Brasil é de 9 mil dólares. Claro que o PIB não diz tudo sobre um país, mas é inegável que diz algo. O fato é que a atual crise econômica mundial não tem escolhido freguês. Entender suas razões, é coisa de economista. Ou talvez estes sejam os últimos a decifrá-la, agora bateu a dúvida.
as mulheres são maioria nas machambas
Nos meus parcos conhecimentos vejo uma ação orquestrada, ainda que eu não saiba precisar por quem. Ou quems (sic). Situações tão similares na Alemanha, Brasil e Moçambique não tem cara de coincidência. Isto para citar estes três países onde passei recentemente e não falar de Espanha, Portugal, Grécia, etc. Uma crise econômica é o caldo de cultura ideal para que interesses pessoais passem a ecoar mais forte em nossos ouvidos do que as necessidades coletivas. Com contas a pagar é claro que igualdade racial ou de gênero, saúde e educação gratuita ou liberdades individuais respeitadas passem a categoria de discussões secundárias. Um pouco menos de direitos sociais e trabalhistas e um pouco mais de opressão por parte do Estado passam a ser negociáveis, desde que eu arrume emprego ou minha renda não caia.
A quem interessa provocar uma crise econômica e contar com apoio popular para todas estas mudanças? De fato devem ser muitos interesses, diferentes e até conflitantes. Nem de longe saberia lista-los.
Enfim... Sigamos. O tempo nos dirá algo. Acho que estar por aqui na Padaria e Pizzaria Pizza House, na Av. Mao Tse Tung, tomando uma água pedras em um lindo fim de tarde, olhando o passar de gentes, me fez pensar em tudo isto.
Bom voltar à África, à Moçambique e à Maputo.

enquanto as mulheres trabalham, os homens fazem a comida...
 (só para não deixar duvidas, são duas crianças, no campo,
 cuidando da panela no fogo)

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