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sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Loja e Cuenca, 20, 21 e 22 de setembro de 2023

 

Vista do alto da catedral, a partir do pátio
interno de um ex-convento

Hoje, sexta-feira, dia 22/09, já é hora de voltar para casa. Chegamos ontem à noite em Cuenca, depois de passar dois dias em Loja. Uma bela viagem de carro, cerca de 4h de duração, navegando entre 2.000 e 3.500 metros de altitude. Como sempre um tremendo visual, com aquele mar de montanhas desfilando aos nossos olhos. E o que posso contar de Loja? Cidade interessante, visitamos uma feira agroecológica, participamos de mais uma cerimônia à Pachamama, fomos ao jardim botânico da universidade agrária e vimos uma bela horta orgânica na mesma universidade. 
Contando meu caso...

Detalhe chique foi a noite de quarta-feira, quando saímos caminhando pelas ruas de Loja, tendo como guia a Lorena Salcedo, uma amiga que vive aqui e nos levou a alguns lugares marcantes da cena local. Um deles, o Empório Lojano, uma cafeteria em uma casa típica da cidade, restaurada, onde ouvimos música equatoriana tocada por um artista local e conversamos sobre café! A proprietária nos falou do seu trabalho, que vai da produção à xícara. Pude contar a eles que sou escritor e meu único romance se chama “Quatro Grãos de Café e Cem Bilhões de Estrelas”. Quem leu pode não lembrar mas, no primeiro capítulo, a minha personagem prepara um café com grãos que ela comprou em Riobamba (outra cidade equatoriana), mas que eram provenientes de Loja. O detalhe é que eu não havia estado nesta cidade, mas por já conhecer sua fama de produtora de café de boa qualidade, ela acabou surgindo no ato de escrever. Na foto ao lado, estou exatamente contando isso a eles! Sacaram que legal? Estive em uma cafeteria, em uma cidade que aparece no meu livro, e na qual eu nunca havia estado antes!

Mama Negra
Hoje, pela manhã, ainda fui dar um passeio pouco por Cuenca. Realmente, a arquitetura é bem bonita, muito agradável andar pelas ruas do centro histórico. Fui de novo no Museu Pumapungo, onde já havia estado uma vez. Muito interessante. Muito! Uma bela exposição com quadros pintados por artistas locais e que retratam os picos nevados do país, exposições com artefatos de povos pré e pós colombinos, réplicas de casas e ferramentas de várias etnias que habitam esse país. Mas o que mais gosto é o espaço com diversas representações folclóricas do Equador. Além do Taita Carnaval, que eu adoro, hoje prestei mais atenção à “Mãe Negra”. E o causo dela é o seguinte: Durante uma conhecida festa de caráter religioso popular, realizada em setembro e novembro, em Latacunga, em homenagem à Virgem da Misericórdia, surge, durante a procissão, a Mãe Negra (encarnada por um homem disfarçado), que cavalga carregando um boneco preto ou um bebê pintado. 

Ele carrega consigo um borrifador cheio de leite, que lança sobre os presentes. Aqueles em quem caírem algumas gotas terão boa sorte. A origem não é muito clara. Segundo alguns, é uma forma de prestar homenagem à Virgem da Misericórdia, que protegeu Latacunga de alguns terremotos, e a Mãe Negra é a encarnação de uma empregada sua. Segundo outros, comemora a presença de um contingente de escravos negros, que trabalharam nas minas do setor, e simboliza suas mulheres esforçadas. Para alguns, enfim, é a evocação de uma lenda europeia, em que uma rainha mora (árabe) conquista uma cidade.

Ruas de Cuenca
Vai saber a origem… mas é uma personagem muito legal, talvez meu resumo não tenha expressado isso tão bem! 

Agora, já no aeroporto de Guayaquil, me despeço do Equador. Será que volto? Quem sabe? A vida, só a vida sabe!





Filho da minha amiga Nancy.
Vê se eu aguento...

Loja, pela noite

Lindo painel, em Loja

Batatas na horta da Universidade

Modo de vida de um povo 
tradicional - Museu Pumapungo


quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Gualaquiza e Zumbi, Equador, 17, 18 e 19 de setembro de 2023

Visita a um centro cultural da nação Shuar

Domingo, saímos às cinco da manhã de Cuenca em direção à Gualaquiza. Viajamos de 2500 de altitude para 800, mas antes pasamos dos 3500. A estrada costeia as altas montanhas dos andes e, em alguns pontos, o que temos é a enorme parede de um lado e o precipício de outro. 

3500msnm, entre Cuenca e Gualaquiza
Como recheio, curvas fechadas e estradas nem sempre asfaltadas. Se com emoção fosse mais caro, esse bilhete não seria barato… 

Chegamos em Gualaquiza e fomos direto a uma feira agroecológica, inaugurada neste dia exatamente pela presença dos estrangeiros. Vamos lembrar que somos uma delegação de 12 pessoas do Brasil e outras 19 do Peru, visitando experiências equatorianas com agricultura ecológica. Passamos o dia na feira. A noite, depois da janta, a sobremesa foi uma boa conversa entre os participantes, sobre o sentido que veem nesses intercâmbios e os impactos em seus territórios e no continente.

Feira Agroecológica de Gualaquiza

Ontem, a programação foi intensa. Pela manhã, três momentos. Uma visita à uma área da APROCAG (Associação dos produtores agroecológicos de Gualaquiza), para que os visitantes estrangeiros pudessem dar sugestões sobre possíveis caminhos do que fazer em um espaço recentemente conquistado. Depois, fomos na prefeitura de Gualaquiza, para um momento mais formal com o prefeito, secretários e vereadores. Ainda de manhã, tivemos tempo de visitar “La Vieja Molienda”, um bonito trabalho com produção de cana e derivados, como açúcar mascavo, cachaça, melado e outros.

De tarde, uma visita super interessante: fomos a um Centro da Cultura Shuar. Os Shuares são uma das tantas etnias do Equador. Aqui, eles utilizam mais o termo “nação”. Neste caso, Nação Shuar. Por isso, a constituição equatoriana afirma que o país é um Estado Plurinacional. Acho que são 14 nações (etnias), que formam o estado equatoriano. Na Bolívia ocorre algo parecido, e essa foi uma conquista recente dos povos indígenas, as constituições destes países foram reformuladas nos anos 2000. 

Habitação Shuar
Como sempre ocorre em uma visita como essa, um pequeno mergulho em comunidades autóctones nos traz um mundo de vivências, percepções e reflexões. Bonito ouvi-los explicando sobre suas moradas, tendas redondas feitas em madeira e folhas locais. Ao centro, uma viga de madeira que significa a união da mãe terra ao céu. Por sinal, simbologia presente em inúmeras culturas. A forma circular da tenda nos faz lembrar o planeta, como estamos integrados a ele e como devemos cuida-lo. Outra coisa interessante que ouvi do Ismael, o guia local, quando nos mostrou alguns instrumentos da sua cultura foi sobre um tambor, feito do caule de determinada árvore. Deste tambor se emite diferentes sons que, por sua vez, tem diferentes significados. Chama as pessoas para uma cerimônia, comunica um nascimento ou falecimento ou dá qualquer outro tipo de notícia. Mas… hoje… menos se usa essas formas de comunicação porque os instrumentos contemporâneos, WhatsApp incluído, faz a tarefa de se comunicar cada vez mais fácil. Eu sei que não há novidades aí, na real sempre foi assim, esse tipo de evolução é parte da nossa história. O que acho bacana é ver realidades onde os tempos históricos de certa forma se comprimiram e se mesclaram, reduzindo a décadas processos que em outros contextos foram centenários. 
fomos recebidos com pintura

Bom, tem muito o que contar dessa visita, vou mencionar mais três coisas: lindo ouvir sobre seus cantos de permissão à natureza, cada um para um momento específico, como caça, pesca, plantio, celebrações. Eles também fazem, a seu modo, a cerimônia da Ayhuasca (Natem, para eles e em várias línguas amazônicas), e expressaram sua preocupação com a forte tendência a comercialização destas cerimônias. Pelo lado menos bonito, sofrem a ameaça recente da intensa mineração muito próxima aos seus territórios, que polui seus rios e provoca impactos em seus modos de vida. Muito legal a oportunidade de ter contato com algo da Nação Shuar.

Hoje, terça-feira, saímos de Gualaquiza e viemos para Zumbi. Aqui visitamos uma Associação de Produtores de Cacau e Derivados, a ASOPROMAS. Sempre bonito ver cacau à campo, ouvir sobre seu manejo, depois pós colheita e processamento, provar seus derivados e ainda comprar algumas delícias com cacau agroecológico produzido por associações locais.

Entregando meu livro à família Paz
Visitamos também uma bela finca super diversificada, com cacau e vários outros cultivos da região, onde almoçamos, da Nancy Paz e seus pais, José e Livia. Depois, mais duas horas de viagem por estradas sinuosas que margeiam um andes tropical, muito bonito de ver, até Loja (se pronuncia lôrra), famosa por seu café, e onde passaremos os próximos dois dias. Depois conto sobre esta bonita cidade do sul do Equador.






Visual de uma banca do mercado de Gualaquiza

Com Sandra e outro amigo Peruano, na feira!

Visita À nacçao Shuar

Jardineira que nos levou ao Centro Cultural Shuar

Prosa com o povo do cacau

Cacau!


sábado, 16 de setembro de 2023

Cuenca, 15 e 16 de setembro de 2023

Cuenca, vista desde o Mirador Turi
Chegamos em Cuenca, que tem o muy simpático nome oficial “Santana de los Cuatro Rios de Cuenca”. Ainda na quinta-feira à noite, depois de 28 horas e 5 trechos de viagem. Estamos aqui para um intercâmbio que reúne pessoas do Brasil, Peru e Equador. Os três países serão visitados, trocando ideias e experiências relativas a comercialização de produtos agroecológicos, sistemas participativos de garantia e sistemas agroflorestais. Parece legal, não parece? E é mesmo, muito legal! 

Chica morada, refresco de 
milhi roxo. Um luxo - La Chicheria
Aqui no Equador estamos 12 pessoas que vieram do Brasil e 19 do Peru. Cuenca é parte das visitas que serão feitas durante uma semana. A sexta-feira foi mais de aclimatação, com um pouco de descanso e caminhadas pelo centro histórico. Para mim, foi legal rever uma cidade na qual já estive algumas vezes, sempre à trabalho. E pude ver que Cuenca continua linda, com sua arquitetura colonial, flores colorindo a cidade desde os charmosos balcões das casas e uma atmosfera cultural que se respira pelas ruas. Mas o ponto alto do dia foi o almoço e o jantar no restaurante “La Chicheria”, gastronomia de alta qualidade com uma pegada política super contemporânea. Pensa se eu gosto… de noite, ainda sobrou tempo para um drink na famosa “calle larga”, ponto boêmio da cidade. Vou mencionar ainda nossa visita na ponte “vivas nos queremos”. Forte. Símbolo da luta feminista na cidade, a ponte foi “tomada” pelas mulheres e hoje nela estão pintadas os nomes daquelas que foram vítimas de feminicídio no município.

Cerimônia Cañari - Feira Agroecológica do Cristo Rey

Hoje, sábado, já demos início à intensa programação de visitas durante toda a semana. Começamos pela feira agroecológica de Cristo Rey, onde conhecemos algo do que fazem as famílias campesinas (agricultoras) e participamos de uma cerimônia conduzida por um maestro da cultura Cañari. Uma das tantas culturas da região andina, com uma interessante história de luta entre dois povos fortes que os tentavam conquistar: Os Incas, desde o sul, e os Quíchuas, desde o norte. Pela época do ano, a cerimônia de hoje se chama “Festa da Lua”. Mas se fosse mais ao Sul, em Cuzco, se chamaria “Festa da Princesa”. Essas diferentes denominações podem guardar relação com o fato dos Cañaris reverenciarem mais a Lua, enquanto os Incas, como sabemos , tem o Sol como seu Deus máximo. Voltando ao sentido do ritual de hoje, é um momento de reverenciar os quatro elementos da natureza e seus espíritos, cerimônias que ocorrem de uma ou outra forma em todos os povos, cada um à sua maneira. 
Ana e campesinas na feira

Ainda pela manhã visitamos outra feira agroecológica (El Vergel). Mais troca de informações, mais comida, algumas apresentações com danças típicas e festa na praça.De tarde fomos ao Mirador Turi, um local alto, com muitas lojinhas, cafés e restaurantes, onde podemos ter uma visão de toda a cidade. Aliás, longe de ser pequena, Cuenca tem cerca de 300.000 habitantes.


E terminamos o dia no Parque de la Madre, visitando uma pequena feira de artesanatos e comidinhas antes de jantar outra vez no “La Chicheria”.

Essa foi a passada por Cuenca. E aí? Conhece Cuenca? Gostou de saber algo da cidade?
Amanhã saímos, todo o grupo, de ônibus, em direção à região amazônica do Equador. Passamos dois dias em Gualaquiza. De lá, conto mais!

Ana, minha amiga Bélgica e eu!

Anelise, Daniela e Ana na 
ponte "Vivas nos Queremos"

Ponte "Vivas nos Queremos"

Prato luxuoso na La Chichería

Visual da praça principal de Cuenca