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sábado, 8 de setembro de 2018

San Jose da Costa Rica, 03 a 07 de setembro de 2018


Teatro Nacional, centro de San Jose, Costa Rica
Passei esta semana na Costa Rica. Falando assim o que surge na cabeça de quem ouve é sol, praia, ondas. Pois não vi nada disto. Toda a semana entre reuniões e um Seminário intitulado Mercados para Produtos Ecológicos, na Universidade Nacional, campus de Heredia, uma cidade ao lado de San José, a capital do país.
Adorei esta estátua: La Chola, feita em bronze por Manuel
Vargas, pesa 500kg e tem mais de dois metros
Já estive por qui várias vezes e definitivamente não justifica visitá-lo pela sua capital ou pelas outras cidades que a rodeiam. Como normalmente mencionam as propagandas turísticas do país, vir aqui vale a pena, e muito, se for para conhecer suas praias e vulcões. Pois desta vez não rolou.
  De segunda até hoje, sexta-feira, o que fiz foi trabalhar e tomar café. Aliás, o café aqui é invariavelmente bom. Para quem gosta, um deleite à parte. E isto não apenas por condições ambientais favoráveis. Estas ajudam, mas existe um árduo trabalho para se alcançar a excelência, e aí que entra o esforço. Há anos o país tomou a decisão de se fazer conhecer pelos cafés especiais, o que pressupõe uma série de decisões de caráter político. Por exemplo, aqui é proibido plantar café robusta. Vou explicar. O Brasil é o maior produtor de café arábica do mundo. Arábica é o café de melhor qualidade, com mais sabor e aroma. Por suas características,exige certa altitude para produzir plenamente, sendo de 1200 a 1500 metros a ideal. Por isto no Brasil produzimos bom café em regiões serranas, em Minas Gerais, São Paulo ou no Espírito Santo. Para alguns pode ser uma surpresa, mas em serras de alguns estados do Nordeste, como o Ceará, também se produz café de qualidade. O Robusta é outra planta, uma outra espécie, que também é considerada um café. Normal, existem outro exemplos onde diferentes espécies, com seus respectivosnomes científicos recebem o mesma nome comum. Aroz ou feijão, para citar dois exemplos muito comuns, também são denominações para diferentes espécies, como o arroz agulha ou arroz cateto. 
Arábica, maduro.
Bem, o café Robusta é uma planta muito maior, muito mais produtiva e adaptada a regiões mais quentes. Não necessitam desta altitude que mencionei para produzir bem. No Brasil, além do arábica, produzimos grande quantidade de café robusta. Somos os segundo maior produtor do mundo, perdemos apenas para o Vietnã. Assim, a maioria dos cafés que achamos em um mercado no Brasil são uma mistura de arábica, por vezes de baixa qualidade, com robusta. Por isto podemos comprar um café por vinte reais o quilo, às vezes menos. É a alta produtividade do Robusta que permite praticar este preço. Um café 100% arábica, mesmo não tão selecionado, sempre custará mais. Pois bem, voltando ao início deste parágrafo, a Costa Rica proíbe o plantio de Robusta. Para não correr o risco de baixar a qualidade e manter um bom posicionamento no mercado para o seu café. Esta prática não é incomum em dadas situações. O Chile, por exemplo, proíbe o plantio de variedades de uvas que não sejam bem qualificadas para a produção de vinho. 
Visual desde o Café do Teatro Nacional. 
Já que comecei, vou falar mais um pouco do café. Sabe quanto este grãozinho que, conta a história, teve seu uso descoberto na Etiópia, por uma pastor que notou que suas cabras ficavam saltitantes após se alimentar dos frutinhos vermelhos de um arbusto, movimenta por ano em termos econômicos? Duzentos bilhões de dólares. Sim, não exagerei, é isto mesmo. Sacou porque a Nestlé é doida em café? Porque ela elegeu água e café suas prioridades? Cerca de 15% deste mercado mundial de café está nas mãos da Nestlé. E ela quer mais. Recentemente fechou um acordo com a Starbucks, a gigate das cafeterias. Irá distribuir os cafés Starbucks em supermercados. Valor da transação: 7,2 bilhões de dólares. As grandes empresas, Nestlé não é a única, apostam que bebidas à base de café substituirão os refrigerantes, que por motivos óbvios tem seus dias contados. A Coca-Cola ainda não te contou isso? Pois ela sabe, já comprou algumas marcas importantes de café nos EUA.
Café sombreado na Costa Rica. Esta foto tirei em 2010.
Já que meu mundo é da Agricultura Orgânica, vou acrescentar que cerca de dez por cento do café produzido no mundo é certificado como orgânico. Mas existem vários selos que se enquadram nos chamados VSS, sigla em inglês para Normas Voluntárias de Sustentabilidade. No total, mais da metade do café do mundo está certificado por alguma destas normas. O setor do café pretende ser a primeira cadeia de produção a ser toda ela considerada sustentável. Enfim, o café é um mundo à parte, entendê-lo é para profissionais. Tenho amigos que passam a madrugada vendendo ou comprando café, beneficiando-se de determinados horários em função das aberturas das bolsas de mercadorias ao redor do mundo.
Mercado de frutas e verduras no centro de San José
Bom, deixando de falar do café, cou obrigado a registrar aqui neste post que Helena, minha filha que vive no México, veio me visitar. Não sei se ela opina igual, mas estarmos juntos é muito melhor do que ver praia ou vulcão. Ela chegou hoje e fui obrigado a matar o trabalho, na parte da tarde, para passearmos pelo centro de São José. Não é particularmente bonito, mas, como sabemos, o que importa é a companhia. Nos divertimos. Comemos comida catalã e tomamos um bom café, ops, apareceu de novo, na Cafeteria do Teatro Nacional. Belo lugar.
Amanhã saio ao campo antes das seis da manhã. Não sei porque, mas tenho a intuição que minha filha não vai comigo...