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domingo, 15 de fevereiro de 2015

Nuremberg, 14 de fevereiro de 2015.

         
eu e o foodtruck vegan
    Hoje começamos o dia indo à praça principal, onde aos sábados rola uma feira. Frio, menos de zero grau, mas não tem jeito, feira é meu ecossistema favorito, não posso deixar de ir. E esta praça é linda, com séculos e séculos de história. Olhamos, compramos algo, tiramos fotos e fomos para a Biofach.
A Biofach no seu último dia muda de fisionomia. Os negócios que tinham que ser feitos o foram nos três primeiros dias. No último fica tudo e todos mais descontraídos, os estandes vão fechando e dando seus produtos para não terem o custo levar de volta pra casa. E eu, que adoro um grátis, me divirto...
  Alguns números desta edição: A BioFach, em associação com Vivaness (Feira Internacional Natural de Cuidados Pessoais), reuniu 2.348 expositores. Cerca de 70% são de fora da Alemanha, com representantes de um total de 76 países. Eles estão divididos por 44.231 m², o que representou um aumento de 4% em relação ao ano passado. Alemanha com 630 expositores é o país com mais presença, seguido pela Itália (297), Espanha (117), França (114) e Países Baixos (99).
"Free from"
É visível que as grandes tendências da exposição deste ano foram “Free From” e Vegan. Muitos rótulos ostentando que seus produtos além de orgânicos são livres de glúten, lactose, açúcar. Até livre de nozes eu vi. No caso dos produtos vegan, está subentendido que estão livres de qualquer produto de origem animal. 
O veganismo anda tão forte que ouvimos em uma palestra que o crescimento do mercado de produtos orgânicos este ano na Alemanha se deve em boa parte pelo aumento da procura por produtos vegans. Havia um enorme estande só com produtos vegans, reunindo dezenas de diferentes empresas, foodtruck vegan e distribuição pesada de bolsas comemorando 25 anos Associação Internacional Vegana. Enfim, realmente o que nos outros anos se anunciava como uma tendência, agora vimos que veio para ficar.
Castelo da cidade
Depois da feira, ainda voltamos para passear pelo centro, sábado à tarde, as ruas cheias, apesar do frio intenso. Aproveitamos para passar pela WeiBgerbergasse, aquela que é considerada a rua mais bonita de Nuremberg. Sempre tento passar por ali ao menos uma vez, inclusive já escrevi sobre esta rua aqui, há dois anos atrás.
Seguimos por um caminho que vai margenado o castelo da cidade e ainda fomos ver o final da mesma feira na qual estivemos pela manhã. Conversamos com um produtor de cerveja local e combinamos que quando voltarmos por aqui iremos conhecer seu trabalho, degustar os oito diferentes tipos de cerveja que ele faz e ver o seu processo de produção. Belo programa, quem sabe na próxima? 
Cara de mau, como deve ser tomando cerveja na alemanha

Terminamos nosso passeio tomando uma cerveja no segundo andar de um bar na própria praça. André, Cido, Ana e eu. Entardecer frio, bem frio, mas agradável.

E terminou mais esta edição da Biofach. Portugal e Alemanha, bacalhau e cerveja, passeio e trabalho foram belas combinações. Mas acabou, hora de voltar. Amanhã ainda teremos tempo de tomar um café pela cidade, no fim da manhã tomamos o trem para Frankfurt, de lá voltamos ao Rio, passando por Lisboa. 

Bela paisagem, praça principal ao fundo

Feira na praça, todos os sábados
Veganismos em alta

alimentos free from ___

alimentos free from ___


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Nuremberg, 13 de fevereiro de 2015.

Um dos estandes do Brasil, com algumas empresas
     A Biofach é a maior feira de produtos orgânicos do mundo. Mas vem diminuindo lenta e progressivamente nos últimos anos. Acho, mas sem ter certeza, que muitos operadores de produtos orgânicos vêm preferindo participar das feiras específicas da sua respectiva área. Por exemplo, de alimentos, ou vinhos, ou café, ou chocolate.
     
Reunião da CSF - Cooperativa sem fro
  Na real gosto disto. Mal comparando, quando um super - mercado começa a comercializar produtos orgânicos, os posiciona em uma ilha, onde ficam concentrados. Em um momento seguinte, os espalha pelos setores específicos - o café orgânico fica na prateleira de cafés, o açúcar orgânico na prateleira de açúcares, e por aí vai. Melhor assim, mais disponível para o consumidor e ao alcance de seu interesse específico. Não sei se minha leitura é correta, mas se queremos que o orgânico deixe de ser nicho, este é o caminho.
Café do Sul de Minas
  A participação do Brasil também diminuiu na última década. Chegamos a estar quase ausentes, como em 2013. Desta vez o Brasil veio com dois estandes, cada um deles com cerca de 120 m2. São quase contínuos, ao público dá a impressão de ser um só, mas na verdade um deles foi organizado pelo MDA e trouxe dez empreendimentos de agricultores familiares:  Nova Aliança, que vem do RS com suco de uva; Casa Apis - PI, mel; COAPROCOR - PR, polpa de frutas; COOCARAM, RO, guaraná, café, castanha; COOPERACRE, AC, castanha; COOPERCUC, BA, geleias de frutas; COOPFAM, MG, café; COOTAP, RS, arroz; Ecocitrus, RS, sucos e COOPERFAP, SC, geléias.
Visual dos produtos da Native
    O outro estande está sendo organizado pelo  Instituto de Promoção do Desenvolvimento - IPD, com sede no Paraná e pela APEX. Nele, 8 empresas estão expondo: Native - SP, com açúcar, sucos, chocolates, cookies, café e outros; Triunfo - SC, palmito; Amma - BA, chocolate; Itajá - GO, açúcar; Jasmine - cookies e calda de agave; Miolo - SC, palmito; Brasilbev - energético a base de guaraná, açaí e erva-mate e MN Própolis, SP, com mel e derivados.

Estande com empreendimentos da agricultura familiar
   Acompanho a presença do Brasil na Biofach desde 2013. Posso afirmar que falta definir mais claramente o que buscamos ao vir para cá. Uma estratégia que pode ter objetivos mais ou menos ambiciosos, mas que exista. E que seja de médio/longo prazo, com etapas sendo cumpridas a cada ano. Devo estar sonhando, mas seria bonito ver isto.
     Fiquei conversando um pouco hoje com o Nelson Krupinski, gerente de vendas do Arroz Terra Livre, da COOTAP. Nelson é jovem, filho de agricultores, nasceu em Alpestre e em 1995 se mudou para Tapes, ambas cidades no RS. Em 1999 acampou para lutar pelo direito de ter acesso à terra e acabou sendo assentado em 2005 no município de São Jerônimo, a 80 km de Porto Alegre. 
Prosa com o Nélson, sobre o arroz Terra Livre

       Desde 2010 Nélson produz arroz orgânico. Estudou no Iterra, uma escola do MST, onde fez o segundo grau. É da direção da COOTAP e é responsável pela gestão das vendas. Ano passado exportaram 5000 sacos, através de um intermediário. A partir da participação na feira do ano passado estão conversando com um comprador alemão para exportarem diretamente. Eles têm 35 mil sacos de arroz certificados para Europa, outro tanto para os EUA. No total produziram 400 mil sacos de arroz orgânico, nos municípios de São Jerônimo, Nova Santa Rita, Tapes e Viamão.
      Belo exemplo. Ano passado já escrevi sobre eles, mas acho sempre bom divulgar estes exemplos exitosos da reforma agrária. E sabe, o melhor de tudo, o que realmente nos estimula comprar este arroz? Sua qualidade.
Pensa numa coisa gostosa...
      Aliás, como sempre reitero, qualidade é uma marca desta feira. Hoje provamos o que considero o produto mais interessante que vi nesta edição. Anchova em lata de uma tradicional indústria de conservas da Cantabria, no norte da Espanha.  Eles tem uma linha na qual usa azeite de oliva orgânico. Deliciosa. Com um grande diferencial, que lhe confere um sabor especial, que é seu processo de fabricação, todo artesanal. A anchova é lavada, aberta, limpa, colocada em tonéis com sal, depois embalada uma a uma nas latas. Tudo a mão. Vimos um vídeo, muito interessante e chama a atenção o trabalho ser feito exclusivamente por mulheres. Depois deve ser transportada e armazenada a frio, segundo a moça que nos atendeu, para que a anchova não absorva mais ainda do sal e perca seu sabor original. O processo de elaboração pode ser visto na pagina web da empresa: www.codesa.es.

       Amanhã é o último dia da feira. Que pena.

produto forte na feira: sucos, muitos sucos!
Um chocolate dinamarquês... putz...

divulgação dos produtos e do selo bio alemão
descanso do guerreiro...
produtos para crianças

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Nuremberg, 12 de fevereiro de 2015.


Banca de quinua e inúmeros derivados. Holandesa...
      Hoje de novo foi dia de Feira. Afinal, estou aqui para aqui estar! E gosto sempre. Me detive passeando por alguns produtos. Qualidade do produto e da apresentação visual é uma marca desta Feira. Alguns têm uma apresentação realmente de tirar o chapéu. Os países mediterrâneos costumam ser os campeões na estética. Itália, França, Croácia, Grécia e outros dão um show no visual. As embalagens de azeite de oliva e de chocolates são um show á parte. 
      
Quinua no estande do Perú
  
       É interessante os movimentos que se vê nesta área de produção e consumo. Por exemplo, algumas bancas que aqui estão oferecem quinua. O tradicional grão andino, cada vez mais apreciado por suas qualidades nutricionais. Vi quinua em diferentes estandes do Peru, Colômbia e em um Boliviano. Mas vários países Europeus têm exibido quinua em diferentes produtos. Dos que eu vi o maior foi a Naturecrops, uma empresa holandesa que comercializa grãos e parece que resolveu apostar forte na quinua. Eles têm quinua em barra de cereais, macarrão, musli, sopas e sucos, além de quinua em grão, precozida, em flocos e outras variações. 

Açaí da Colômbia
        Até aí legal, um produto de qualidade, orgânico, sendo valorizado e tendo seu consumo ampliado. O outro lado desta moeda é menos interessante. Comerciantes exercendo pressão pelo produto, transformando os sistemas produtivos diversificados na direção da monocultura e deixando a população local, que sempre consumiu quinua, impossibilitada de seguir com seus hábitos alimentares porque o preço subiu para além da sua capacidade de compra. Esta mesma situação tem ocorrido com a dinâmica de circulação de outros produtos, como o açaí no Brasil. Enfim, como eu disse no início são movimentos do fluxo de produção e consumo e, principalmente quando um e outro estão longe, é até certo ponto normal. Quando a distância entre produção e consumo é menor, mais difícil ocorrer este tipo de situação.

      Já que falei de alguns países latinos, vamos ver o que as estatísticas apresentadas aqui nos disseram sobre a Agricultura Orgânica no continente.  A maior área com produção orgânica está na Argentina, com 3,2 milhões de hectares. Seguido do Uruguai, dado de 2006, com 930 mil ha e Brasil, dado de 2012, com 700 mil ha. Em termos percentuais a liderança está com as Malvinas, que, aliás, também ocupa a liderança em termos mundiais, onde 36% de sua agricultura é certificada como orgânica. Em segundo e terceiro lugar vem Guiana Francesa com 11,9 e República Dominicana com 9,3 %. O Brasil aparece com 0,3% de sua agricultura como orgânica.
Estande do México
             O país com maior número de produtores certificados é o México, quase 170 mil. Em segundo lugar o Peru, com 52 mil produtores. O Brasil, com quase 13 mil, ocupa a quarta posição, atrás da República Dominicana que tem 25 mil produtores orgânicos. Se não me engano a República Dominicana ultrapassou o Equador e hoje é o maior exportador de banana orgânica do mundo, o que junto com a produção de cacau orgânico explica estes altos números para um país com uma área semelhante ao estado de Santa Catarina.

         Para terminar sobre os números latino-americanos: a área total estimada com produtos orgânicos é de 6,61 milhões de hectares, com um total de 320 mil produtores. E querem saber de algo interessante? No continente está área vem diminuindo, lentamente, desde 2009, quando era de 7,66 milhões de hectares. Porque? É uma boa e longa prosa, mas não para hoje. O post já ficou grande e o dia de hoje tradicionalmente termina com pequenas festas nos estandes de alguns países. Vinho e cerveja orgânicos, alguns quitutes para acompanhar. Agora é fim da tarde e sou obrigado a não deixar os amigos irem sozinhos.

         Fui! Amanhã conto da participação do Brasil. 

Júlia, Ana, Maria e eu, reunião de família!
Reunião com ONGs africanas para estabelecer parcerias
Chocolates da Croácia

Yougurtes...

Lúpulo orgânico
 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Nuremberg, 11 de fevereiro de 2015.

Agricultura Familar brasileira na Biofach
         Passamos todo o dia hoje na Biofach. Fazendo o que eu mais gosto. Andando pelas bancas, vendo e provando produtos e conversando com os produtores – isto quando temos a sorte de sermos atendidos por quem produz! Quando somos atendidos pelos promotores de venda, mecanicamente preparados, a conversa fica pasteurizada e perde boa parte do seu charme e conteúdo.

  
Belos produtos de uma bio - horta
 A feira chama atenção pela diversidade, volume e qualidade dos produtos. Aqui esta conversa do "é possível produzir orgânico em quantidade?" ou "é possível produzir tal produto orgânico?", já não cabe. É uma pergunta como que fora de moda.

     A maioria dos países do mundo está aquii representada, com estandes de diferentes tamanhos. Obviamente, os países mais próximos, como França, Itália e Espanha, se apresentam com mais intensidade, mais volume, ocupam mais espaço. Nesta mesma linha, dois dos sete pavilhões da feira são ocupados quase que exclusivamente pelo país anfitrião.

        O Brasil está presente com dois estandes de médio porte. Um liderado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, que trouxe uma representação de 10 cooperativas de Agricultores Familiares e outro organizado pelo IPD – Instituto Paranaense do Desenvolvimento e APEX, promovendo a participação de dez diferentes empresas. Durante estes dias escreverei mais sobre a participação brasileira. 

Tulipas, em um stand de uma empresa holandesa.
       Hoje quero contar que foram lançados os dados estatísticos referentes à Agricultura Orgânica em 2013. O responsável por este levantamento é o FiBl, (Instituto de Pesquisa de Agricultura Orgânica, sigla em Alemão), com sede na Suíça. A cada ano ocorre, durante a Biofach, o lançamento do livro com estas informações. Eu já estou com o meu em mãos, que ganhei de uma das autoras, minha amiga Julia Lernoud. Por sinal, filhos do casal 20 da Agricultura Orgânica na Argentina, Pipo Lernoud e Maria Calzada.

        Aí vão algumas notícias interessantes. Cento e setenta países do mundo deram informações sobre sua produção orgânica. Em 2013, 43,2 milhões de hectares foram cultivados organicamente, o equivalente a 1% das áreas cultivadas no mundo. Vale ressaltar que estes dados se referem à Agricultura Orgânica certificada. Um produtor ou uma comunidade tradicional, que produz dentro das normas exigidas, mas nunca sequer pensou em requerer sua certificação não consta nesta estatística.
     
19,5% da área cultivada na Áustria é certificada como
orgânica
Como maneira de compensar este vácuo, tem-se levantado também os números relativos a áreas com manejo agro-extrativistas, incluindo também produção de abelhas, aquacultura e florestas manejadas de forma sustentável. Os dados coletados apontaram uma área de 35,1 milhões de hectares.

     Os países que possuem um maior percentual de áreas cultivadas organicamente são: Ilhas Malvinas com 36,3%, Liechtenstein com 31% e Áustria com 19,5%. Não chega a ser surpresa que sejam países muito pequenos. Mas isto não significa que países grandes também não possuam áreas expressivas com produção orgânica. A liderança mundial em área está com a Austrália, com 17,2 milhões de hectares, seguida da Argentina, com uma área de 3,2 milhões de hectares certificados como orgânicos. Estes números se devem em grande medida à pecuária orgânica extensiva.

França: feito na França, feito com amor.
        No mundo são dois milhões de produtores orgânicos certificados. Quase 1/3 deles são indianos, 650 mil. Uganda com 190 mil e México com 170 mil ocupam a segunda e a terceira posição no ranking de países com maior número de unidades certificadas. 

     Sobre o mercado, no ano de 2013 foram comercializados 72 bilhões de dólares, sendo o principal deles os EUA com 24,3, seguido de Alemanha e França, com 7,6 e 4,4 bilhões, respectivamente.
Estande do Paraguay, a cada ano mais organizado.
    Se não me engano o primeiro levantamento feito sobre o mercado mundial foi em 1994, com um total de 4 bilhões de dólares. Em 1999 eram 15 bilhões. O crescimento é significativo, e ainda não dá sinais de arrefecimento. De diferentes fontes ouvi que o mercado de produtos orgânicos seguirá sendo o que mais cresce no setor de alimentos.
     
    Estes números lançam um desafio para aqueles que, como eu, tem se envolvido neste mundo da Agricultura Orgânica com interesses que não se limitam ao mercantil. Como seguir crescendo sem perder os princípios originais? Como voar mantendo as raízes?  

     Agora ficou difícil, sei responder isto não. Acho melhor ir dormir. Amanhã conto mais.
India
Romênia
    
Turquia

China, a cada ano com mais presença
Bélgica

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Portugal e Alemanha, 09 e 10 de fevereiro de 2015.

         
Feira em Valência de Alcântara, Espanha
       Já estamos em Nuremberg. Saímos ontem no final da manhã de Marvão. Na hora de pegar a estrada para Lisboa, vimos uma placa que apontava para a Espanha, e não resistimos. Em 15 minutos estávamos em Valencia de
  Alcântara, uma cidadezinha da Província de Extremadura. 

     
Queso y Jamón serrano... pensa...
E demos sorte porque a feira dos produtores locais acontece justamente às segundas pela manhã. Passeamos, tomamos café, compramos queijo e jamon serrano e seguimos viagem.  

       Um detalhe interessante, já quase velho, mas que não me cansa de surpreender: na hora de passar entre os dois países, o pórtico da alfândega virou peça de museu. Me lembro quando, no ginásio (sim, sou deste tempo), meu professor de geografia, o Albino, nos falava da Benelux, a comunidade formada no pós guerra por Bélgica, Holanda e Luxemburgo, na qual as fronteiras haviam sido eliminadas. Com muito planejamento esta experiência fluiu para a a CEE – Comunidade Econômica Européia e daí para a UE - União Européia, que hoje é composta por 28 países. 
Ex-fronteira entre Espanha e Portugal
        Sou fã da UE. Sei que quem está no cotidiano desta nova geografia política sente suas conseqüências negativas, que sempre existem em uma mudança deste porte. Muitos dos meus amigos europeus reclamam que o centro das tomadas de decisões vêm sendo continuamente drenada dos governos nacionais para Bruxelas, centro de poder da UE. E claro que os países mais fortes, como Alemanha, Inglaterra e França, ficam com uma fatia maior do poder, desagradando outros países com menos força econômica. 

     Mas vou ser sempre simpático a decisão de eliminar fronteiras. Deve ser inocência minha, ou influencia de John Lennon e seu “imagine there no countries...”, mas acho que a Europa com esta ousadia mais uma vez mostra um caminho possível para outros continentes. E tenta se mantém em paz, longe das guerras que sempre se fizeram presente na sua história. Espero que os problemas que a Europa vem enfrentando encontrem saída dentro da manutenção desta lúcida iniciativa. 

         Chegamos a Lisboa ao entardecer. Foi tempo de deixar as coisas no hotel e ir comer um bacalhau, já estávamos preocupados de sair de Portugal sem cumprir esta obrigação. Estava ótimo.

ana, animada com o Finnegans Wake...
        Hoje foi acordar, tomar café em uma padaria portuguesa e vir para a Alemanha, de avião até Frankfurt e de trem para Nuremberg. Viajar de trem é sempre uma experiência agradável, ainda mais com uma boa cerveja alemã no vagão-restaurante.

     Aqui ao lado do hotel que estamos, o Ibis altstadt, no centro histórico da cidade, tem um PUB Irlandês que se chama Finnegans Wake, nome quase mítico para um lugar assim, fazendo alusão ao famoso romance de James Joyce. Fomos obrigados a ir lá... Realmente a Europa é demais!


       Agora é dormir, amanhã tem feira, dia de trabalho. Trabalho? É dever ser...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Portugal, 08 de fevereiro de 2015.

Vista a partir de Marvão - por isto Saramago disse:
"É verdade, de Marvão vê-se a Terra toda...".
      A Mui Nobre e Sempre Leal Vila de Marvão, ou apenas Marvão tem só 500 habitantes na sua sede. Está localizada no alto de uma serra, a uma altitude de 900 msnm, a apenas cinco km da Espanha. É toda ela fortificada, ou seja, estes 500 habitantes vivem todos intramuros. Para mim, soa como viver em um museu.
Eu escrevendo, tomando café, com um visual deste,,,
     Passamos um final de tarde muito agradável, muito frio, caminhando pela Vila, vislumbrando todo o Vale, que inclui a Espanha. Vendo seus pontos de interesse e pensando que as paredes das casas, as calçadas e ruas por onde passávamos, ainda que modificadas ao longo dos séculos, contam milhares de anos de história. Tentando ler sobre esta história, deparo com algo que é comum. Aqui se conta a história a partir da unificação de Portugal, que se deu no século XII. No Brasil acontece o mesmo. Se nos perguntam sobre a história começamos com Pedro Álvares Cabral.  Podemos até dizer que antes haviam os “índios”, mas contar suas histórias, não saberíamos.

      Voltando à Marvão, esta vila foi tomada por  D. Afonso Henriques dos Mouros no século XII, o que significa que estes edificaram boa parte da cidade. Mas relato de um cronista mouro do século X fala da presença dos Romanos aqui, o que significa que a Vila possui ao menos 2.000 anos de história. Mas deve ser mais. Por sua localização estratégica, é óbvio que ela foi utilizada desde sempre, mesmo antes dos romanos, como refúgio ou ponto militar, e através dos tempos se conformou como a vemos hoje. Uma viagem.    

Ruas de Marvão
       Agora estou escrevendo da Pousada de Santa Maria de Marvão. Um charme. Um silêncio, uma paisagem. Transmite uma sensação de paz. Vejo lugares assim e penso: bom lugar para escrever um livro. Mas este tal deste livro nunca vem...

    Quem quiser saber um pouco mais sobre este lugar, pode dar uma olhada nesta página: www.cm-marvao.pt 

      Mas nosso dia não começou aqui na Vila. Saímos de Évora cedo e depois de duas horas de viagem tivemos o prazer de sermos recebidos pela Cláudia, mãe da Sahara, jovem amiga portuguesa que vive no Brasil, e pelo seu esposo Miguel. Eles têm uma bela quinta aqui em Marvão, onde produzem azeite biológico a partir de azeitonas colhidas de árvores centenárias. No verão fazem uma horta embaixo das oliveiras, manejo apropriado tecnicamente, mas sobretudo muito charmoso.

Ana, André a Cláudia, conversando entre os Olivares
     Toda a quinta é muito bonita. Formações rochosas compõem a paisagem. Cláudia nos mostrou tudo demonstrando sua paixão pelo que faz ali. Vimos alguns túmulos, provavelmente romanos, feitos de pedra, como que perdidos pela quinta. Olhando para cima, vemos a Vila de Marvão, toda caiada de branco, velando por todas as quintas da Região. Se estivéssemos em culturas de montanha, seguramente que esta na qual a Vila foi erguida teria o nome de um Deus e seria responsável por cuidar da sua zona de influência.

        Eles nos ofereceram um belo almoço, que começou com vinhos e queijos locais e pães feitos em casa. Aí já tínhamos mais do que suficiente, mas o prato principal estava irresistível. Se chama rancho e é feito a base de grão de bico (um dos tantos legados dos árabes para portugueses e espanhóis), com legumes e carne de porco, muito típica aqui na região. 

Vinicola Encostas de Estremoz
      Pela noite, de novo, vinho e queijo no bar do hotel. Eles, elegantemente, nos deixaram abrir o vinho que havíamos comprado na estrada, à caminho de Marvão, em uma vinícola chamada Encostas de Estremoz, onde fomos recebido pela Dona Bárbara, muito simpática e que se mostrou profunda conhecedora do vinho e da região.

    Mais um belo dia pelo interior de Portugal. Amanha viajamos, lentamente, a caminho de Lisboa. Terça pegamos o rumo de Nuremberg. 

Euzinho, encima de uma ds torre do Castelo de Marvão

Uma casa, em Marvão

Amanhecer em Marvão, foto da dona Ana

Uvas na vinícola Encostas de Estremoz

Morangos entres as Oliveiras, um luxo só!

As janelas de Marvão são um caso à parte...

Ângulo de Marvão, foto da Ana.