Pesquisar este blog

domingo, 22 de outubro de 2017

Peru e Equador, Agricultura Ecológica e Macacos, outubro de 2017

Etnia Nomatsiguenga, com suas Kushmas com variações
de cor laranja. Foto em Pangoa, Peru.
Aqui em uma cafeteria em Quito, na concorrida e boêmia Praça Foch, pensando nas minhas últimas duas semanas de trabalho entre o Peru e o Equador. Foram oito diferentes cidades. Médias, pequenas, capitais. Além das milhas voadas foram dois mil km rodados entre ecossistemas de Serra Andina e Amazônia, tanto em um quanto em outro país. Todas as minhas atividades giraram em torno da produção e consumo de produtos ecológicos. Em muitos momentos em contato com a população Campesina ou Indígena. Indescritível. Repasso o filme na minha cabeça e me emociono. Mais uma oportunidade de ouro que meu trabalho me deu. Sou grato por isto.
Com as meninas que constroem a
Agroecologia no Peru. Foto em Huancayo.
Desde que saí da Universidade, em julho de 1987, só trabalhei com este assunto. Cerca de trinta anos. O crescimento neste período foi significativo. Vejo isto no meu cotidiano, nos comentários da imprensa, nas redes sociais, nas feiras que frequento, nos convites que recebo para falar do tema, que surgem de diferentes lugares, pessoas e setores. Os dados também demonstram este crescimento. O mercado era inexistente. O primeiro número que lembro surgiu em 1994 e falava de um mercado mundial de quatro bilhões de dólares. Hoje está na casa dos noventa bilhões.
Peru agroecológico e biodiverso!
Uma viagem como esta que acabo de fazer reforça o que digo há anos: não existe um rincão do continente latino-americano onde não esteja sendo desenvolvido um trabalho com Agricultura Ecológica. Pessoas valorosas se esforçando por nadar contra a corrente. Qual a corrente? A imposta pela manipulação das grandes empresas. Um exemplo: neste ano a Bayer comprou a Monsanto por 66 bilhões de dólares. Este gigantesco poder financeiro manipula tudo para aumentar suas vendas. Gera o que chamam de informação científica, dita tendências e convida o incauto a ser moderno, consumindo seus produtos.
Mas, como eu dizia, hoje são milhares de pessoas e organizações se esforçando para desenhar outra forma de produzir e consumir, em bases eco-sociais. Nos últimos quinze dias tive mais uma prova disto.
Povo que constrói a Agroecologia em
Cuenca, Equador
Quando comecei a trabalhar com este assunto guardava uma convicção: à medida que um agricultor começasse a trabalhar pelo viés da agricultura ecológica em um determinado local, o vizinho veria, e outro, e mais outro e em pouco tempo, numa espécie de crescimento em progressão  geométrica, todos estariam fazendo como ele. Afinal, porque não? Se produzo bem e mais barato sem o uso de veneno, porque usá-lo? Da mesma forma pensava sobre quem consome. À medida que estas informações fossem sendo repassadas, mais e mais consumidores procurariam os alimentos produzidos sob esta lógica. Afinal, quem quer comer veneno?
Mas não é assim... A produção e consumo de produtos ecológicos cresce em todo lado, mas os mesmos números que atestam este crescimento demonstram nossa marginalidade. Oficialmente a Agricultura Ecológica é praticada em mais ou menos 1% da área cultivada no mundo. Não vou explicar aqui que este número é subdimensionado, mas de todos modos, multiplicá-lo por dois ou três não nos retiraria da marginalidade.
IV Jornadas Agroecológicas em Quito
Não sei responder porque este crescimento não é exponencial. O poder das empresas que mencionei é parte mas não toda a resposta. Os países comunistas, que viveram anos relativamente à margem deste poder, sempre se valeram do uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos em altas doses na sua forma de fazer agricultura.
Minha esperança é a teoria do centésimo macaco. Já ouviram?
Segundo eu sei, mas não tenho certeza, é uma espécie de lenda urbana. Uns cientistas estudando o comportamento de macacos em uma ilha sempre jogavam batatas doces para estes macacos, dos seus barcos sobre a areia. Desta forma os poderiam observar mais claramente. Um dia, a uma fêmea (sempre as mulheres...), chamada Imo, lhe ocorreu lavar as batatas antes de comer. Outros a seguiram, possivelmente porque a batava ficava mais apetitosa. Mas nem todos macacos da ilha a copiaram. 

Evento em Pangoa sobre
Agricultura Ecológica e
Certificação Participativa
Quando o centésimo macaco a imitou, os cientistas notaram que, em uma ilha próxima, sem que houvesse qualquer contato entre uma e outra ilha, alguns macacos começaram a lavar as batatas. Ou seja, mesmo sem que o exemplo se fizesse visível, as mudanças se multiplicaram quando um determinado número de macacos começou a agir do jeito novo.
Nas sociedades humanas existiria um comportamento parecido?
Tem um biólogo inglês, Rupert Sheldrake, que propõe a hipótese dos campos mórficos. Eu nunca li seu livro e nem vou tentar explicar sua teoria aqui, mas é possível facilmente achar estas informações. O fato é que Sheldrake se propõe a explicar uma mudança social a partir de atitudes em direção à mudança de um determinado conjunto de indivíduos. 
Reunião em Quito, entre acadêmicos e lideranças
de Movimentos de pescadores artesanais
indígenas e campesinos

Vou ter que ler este livro para entender melhor, mas no meu caso se trata de uma hipótese alentadora. Me anima e conheço muitas Imo que, com seus gestos, já começaram a desencadear a mudança na direção de um circuito mais bacana de produção e consumo de alimentos. Mais generoso e menos envenenado.
Concluo, confessando algo: Sempre que provoco ou estimulo alguém a produzir e comer sem veneno, o que tem mutas vantagens e pouca ou nenhuma contraindicação, fico me perguntando: será esta pessoa o centésimo macaco?

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Puyo e Cuenca, 17 e 18 de outubro de 2017.

Um Deus Grego sobre a Ponte pêncil do Rio Verde,
na Isla del Pailon
Outros dois dias corridos. Ontem, terça-feira, acordei cedo com uma linda chuva tropical. A Pousada Las Palmas em Puyo é um charme, toda amadeirada e com um jardim pequeno mas muito intenso. Pena que só dormi lá uma noite, a melhor dos últimos dez dias.
IV Jornada Agroecológca em Puyo
O evento no qual fiz uma palestra, parte das IV Jornadas Agroecológicas do Equador, foi na Universidade Estatal Amazônica. Nome instigante e proposta interessante. Pena que este nosso ensino não consegue pensar fora da bolha, nem no conteúdo nem no método. Falei sobre princípios da agroecologia. Interessante foi encontrar um amigo Equatoriano, Marco Castillo, que fez um curso conosco, no Brasil, em 1998. O havia encontrado neste mesmo ano aqui no Equador e nunca mais. Bonito foi ele me mostrando o material didático que distribuímos, que não temos mais, e falar da importância que esta atividade teve em sua vida. Sempre bom saber!
Viajamos de tarde para Quito. Viagem bonita, com as verdes e altas montanhas nos fazendo companhia todo o tempo.
Cascata del Diablo
No meio do caminho paramos na Isla del Pailon. Aí se vê o Rio Verde, encaixado nas montanhas, com cachoeiras lindíssimas, podemos caminhar às suas margens, passando por uma ponte pênsil sobre ele vendo cascatas até chegar  Cascata del Diablo . Um ambiente de natureza exuberante, visual lindo e uma queda d’água bastante impressionante, daquelas que amedronta só de ver e que nos ajuda a dimensionar-nos com mais precisão. Olho para aquela força toda e me lembro que soupoucoquasenada.
Seguimos viagem e às oito da noite chegamos em Quito. Comi algo rápido e fiquei no quarto respondendo mensagens e preparando a palestra de hoje.
Hoje, quarta-feira feita, já foi outro dia... outro mundo... saí às cinco do hotel para o aeroporto e às nove já começava o evento em Cuenca, talvez a mais charmosa cidade do Equador. Cuenca é uma espécie de capital cultural do país, que tem em Guayaquil sua capital econômica e Quito sua capital política.
Cordilheira dos Andes vista do avião
O voo para Cuenca é lindíssimo. Sabendo disto escolhi uma janela no péssimo avião da TAME, linha aérea local. Voar sobre as Cordilheiras dos Andes é mágico. De novo as altas montanhas, algumas com densas vegetações, outras com vegetação mais ligeira. As mais altas, secas. Os vales cultivados em pequenas áreas, com seus verdes em diferentes tonalidades. Os rios passeando pela paisagem, acompanhado de uma breve vegetação às suas margens. Em alguns trechos da viagem os pontos mais altos das montanhas vencem as nuvens, restabelecendo a ordem e aproveitando para cuidar também delas. Um espetáculo!
Cuenca é a cidade que eu mais conheço no Equador, tem alguns posts aqui no blog a descrevendo. Minha primeira vez em Cuenca foi para, a convite da CEA - Coordenadora Equatoriana de Agroecologia - dar um curso sobre Trofobiose. Há 19 anos...
Evento em Cuenca. Vazio...
Um detalhe. Para minha surpresa não encontrei boa parte dos meus amigos que trabalham com Agroecologia em Cuenca. E o evento tinha pouca gente para a qualidade do trabalho que existe aqui. Intuo, sem estar seguro, divergências internas entre as lideranças que trabalham com este tema na região. Prefiro estar errado, porque disputas internas só deixam felizes aqueles que preferem que a agroecologia não avance, para resguardar seus interesses econômicos.
Cuenca. Linda...
Pela tarde tivemos tempo para passear por Cuenca. Conduzidos por um amigo natural da cidade, Patrício Bravo, pudemos rapidamente ver muitas coisas interessantes. A praça central, a Catedral, um centro municipal de artesanatos, passear pelas ruas do centro, visitar uma linda loja de comércio justo, e o melhor da tarde, o Museu Pumapungo, que tenta sintetizar com reproduções em tamanho natural as diferentes etnias do país, sua forma de vida e seu habitat. Muito interessante. 
O Taita Carnaval
Dentre tantas coisas legais que vi, vou contar uma sobre esta foto aqui ao lado. Este é o Taita Carnaval. Taita é uma expressão Quéchua para pai. O Taita Carnaval visita as casas de “mesa bem posta”, enquanto seus donos estão propositalmente fora. Come o que lhe apetece e deixa sorte, saúde, colheitas abundantes e ausência de roubos, secas ou geadas. As casas que não se preparam para o Taita Carnaval são recebidos pelo Yarcai (a fome). Os homens chamam o Taita Carnaval já a partir dos primeiros dias de fevereiro, com flautas e tambores. Chamá-lo em outras épocas do ano seria sinal de mendicância, e portanto, por vergonha, não o fazem. Enquanto isto os homens estão fora de casa tocando uma música e, concluo eu, tomando uma bebidinha.... Adoro estas relatos da cultura popular com toques de histórias míticas.
Cheguei ao hotel já havia passado das onze. Amanhã cedo tenho que participar de outro evento. Fui!

Aspecto da Catedral nova de Cuenca

Ainda na Isla del Pailon, vegetação exuberante.

Casa de Eudoxia Estrella, pintora Cuencana, suas obras aí
 expostas são muto interessantes.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Lima, Quito, Ibarra e Puyo, 15 e 16 de outubro de 2017.

Esta montanha está ao lado do vulcão Imbabura,
o Apu (seres tutelares) que cuida desta região. 
Saí de Lima ontem, domingo, pela manhã, em direção à Quito. Estavam me esperando Eduar e Elisa, que trabalham com Agroecologia no Equador e Dana, colombiana que trabalhou muitos anos no Brasil e está aqui também na condição de convidada. 
Pacho Gangotena conversando com seus consumidores
Almoçamos e fomos à propriedade de Pacho e Maritza, um casal que conheço há anos e que conduzem um trabalho muito reconhecido aqui no Equador. Sempre um prazer rever amigos que há tempos trabalham na mesma onda. Desta vez foi uma visita rápida, pois eles estavam em um dia de casa aberta, quando os consumidores vem conhecer, conversar, comer e comprar algo.  
A viagem para Ibarra¸ capital da província de Imbabura, foi de dia, com a estrada serpenteando entre as altas montanhas da Cordilheira dos Andes. Sempre bonito, mas aqui no Equador com o diferencial em relação ao Peru de termos cobertura verde em quase todo o trajeto. Uma parte com uma forte agricultura, outras pastagens e ainda parte em cobertura florestal.
Região com lindos lagos e montanahas
Chegamos por volta das sete da noite. Tive tempo para dar uma voltinha pela cidade voltei cedo ao quarto, para preparar minha palestra e dormir.
Estou esta semana no Equador para participar da IV edição das suas Jornadas Agroecológicas. Uma série de eventos, ao mesmo tempo coordenados e independentes, sobre Agroecologia, que se realizam em diferentes regiões do país. Farei palestras em quatro dessas regiões. Para isto viajarei a semana toda.
Cerimônia à Pachamama
Hoje o seminário começou com uma cerimônia. No Brasil costumamos chamar de mística. Um momento inicial que tem como objetivo sintonizar os participantes com o que virá, vinculando-os com a temática por uma via mais emotiva e menos racional. Aqui foi uma cerimônia à Madre Tierra, Pachamama em Quéchua. Palo santo queimado odorizava o ambiente, todo decorado carinhosamente com flores, sementes, raízes e panos coloridos. Bonito momento. E me pareceu genuíno.
Fiz a palestra sobre Agroecologia e a Construção Social de Mercados. Logo depois retornei a Quito, desta vez de táxi, duas horas de viagem, para uma reunião no Ministério da Agricultura. Terminamos e fomos para um café chamado Tienda Solidária Tierra Adentro. Muito agradável. Às seis da tarde chegou o carro do Ministério que nos trouxe para Puyo, região Amazônica do Equador. Chegamos depois das dez da noite.
Ruas de Ibarra
Uma pena viajar de noite. São 250 quilômetros e levamos 4 horas neste trajeto. Descemos quase 1400 metros, dos 2300 msnm de Quito para os pouco mais de 900 de Puyo. Puyo é capital da Provincia de Pastaza, região de entrada da floresta amazônica. Mesmo sendo de noite pude ir venda a diferença na vegetação à margem da estrada, mais exuberante à medida que a silhueta negra das altas montanhas iam se fazendo menos visíveis.
Como podem ver a semana é agitada, amanhã mesmo volto para Quito, onde quarta-feira de manhã pego avião para Cuenca, linda cidade da Serra e onde já estive várias vezes. São uma da manhã e ainda estou aqui escrevendo. Este movimento todo deveria me cansar, mas o efeito é outro, fico ligado. Vou colocar o cérebro em modo avião para ver se descanso...

sábado, 14 de outubro de 2017

Huancayo e Lima, 13 e 14 de outubro de 2017

Foto tirada de dentro do ônibus. Viagem entre montanhas. 
Ontem foi o segundo e último dia do Encontro Nacional de Produtores Ecológicos. Sobre isto vou apenas mencionar que a Associação Nacional de Produtores Ecológicos do Peru achou por bem dar uma medalha a algumas pessoas que eles julgam vem contribuindo com o desenvolvimento da Agricultura Ecológica no país. Ganhei uma e curti. Segundo minhas anotações é a 18 vez que venho ao Peru, e todas elas a trabalho. Bom saber que as pessoas com quem trabalhei valorizam o feito!
Encontro terminado resolvi antecipar minha vinda para Lima e viajei a noite toda. São trezentos quilômetros, sete a oito horas de viagem. Subidas, descidas e curvas diminuem muito a velocidade média. Deveria chegar às seis da manhã e cheguei às doze. Não pude visitar as Feiras Ecológicas do sábado de manhã. Porque? Não sei se acidente ou um deslizamento de barreira. Coisa dos Deuses. As mais altas montanhas aqui são tratadas como Divindades. "Apu" é a denominação utilizada, tenho a impressão que vem do Quéchua, uma das duas principais etnias dos Andes, junto com os Aymaras. Elas cuidam do território que está sob sua guarda, sob seu olhar. Então, um destes Apu definiu por causar este inconveniente para quem estava na estrada esta noite. Deve ter tido suas razões. Estou falando assim porque eu era o único irritado dentro do ônibus, os outros só davam de ombros... deve ser porque não sou de montanha...
Estes dias quase não falei de comida. Vou postar fotos aqui do que comi durante esta semana. Para quem não se lembra, o tema alimentação no Peru é um caso à parte. Se fala muito de comida, se come muito, o peruano tem profundo orgulho da sua culinária. Dos países que eu conheço considero que México e Itália são algo parecido, mas considero que aqui o tema abarca outras dimensões. Vou dar um exemplo. A pessoa mais conhecida e popular do país é um cozinheiro. Gaston Acúrio. Seu restaurante Gaston y Astrid está sempre na lista dos melhores do mundo. Até onde eu sei, tem um aqui em Lima e outro em Madrid. 
que cena... sábado à tarde, rapaziada da terceira idade
dançando
salsa na praça central de Miraflores!
Os partidos políticos vivem tentando seduzi-lo para que ele concorra à presidência do país. Seria como uma eleição certa. Gaston se recusa e faz sua militância social através da APEGA, Associação Peruana de Gastronomia.  A gastronomia Peruana é reconhecida como uma das melhores do mundo, atrai ao país turistas e é a principal fonte de autoestima do povo peruano. Enfim, não vou me alongar mais sobre este importante aspecto da cultura deste país, aqui mesmo no blog já escrevi sobre isto. Como disse, vou colocar algumas fotos, até porque não é possível passar aqui e não mencionar este assunto!
De resto, passei a tarde caminhando pela agradável Lima.
Visual do Larcomar, Miraflôres.
Eu gosto muito daqui e lamentei ter tido só meio dia desta vez. Aproveitei para almoçar no Punto Azul, um dos meus preferidos e tomar um café no Larcomar, o centro comercial que fica quase incrustado na falésia que beira o Pacífico. Dois programas que sempre que posso, repito. 
Passeei sozinho toda a tarde até o início da noite. Caminhava com certo ar de certa nostalgia até tomar dois cafés, um americano e um expresso duplo. Pronto, fiquei com a poesia e despachei a nostalgia. Não posso me dar ao luxo de baixar o astral, amanhã começa nova jornada.

Emendar viagens sempre me conduz a este tipo de emoção. Termino uma lida e tenho a sensação que devo voltar para casa. Mas preciso manter a guarda alta, amanhã vou para Ibarra, serra equatoriana, me aguarda uma semana intensa de trabalho no Equador!


Pescado al Jerez, do restaurante Punto Azul.
Bom demais, molho branco com camarão,
lula, polvo e mexilão. 

Bebida muito comum no país, a Chicha Morada é da 
região andina do Peru, pré-hispânica, 
feita a base de milho roxo. 

Ceviche, peixes ou outros frutos do mar "cozidos" no limão,
com pimentas e outros pimenta. Sevido sempre com
milho, batata doce ou abóbora cozida, 

Chicharones, neste caso de peixe. No Brasil seriam
iscas de peixe à milanesa. 

Lomo Saltado. Muito comum aqui. Carne cozida com
tomate, cebola, servida com batatas fritas e arroz.
Por vezes a batata vem misturada na carne,
junto com a cebola e o tomate.

Sempre antes das refeições, eles colocam "cancha" sobre a
mesa. Milho torrado e salgado. Pimenta também
é muito comum aqui.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Huancayo, 12 de outubro de 2017.

Aspecto do XVII ENPE
Hoje passei o dia ao redor do XVII ENPE (Encontro Nacional de Produtores Ecológicos) da ANPE (Associação Nacional de Produtores Ecológicos). Acho que participei de uns oito destes Encontros. O primeiro deles em Cuzco, em 2005. Desde então contribuo com eles na implementação do seu Sistema Participativo de Garantia, metodologia de certificação à qual dedico parte do meu tempo. 
Certificados orgânicos sob a
metodologia dos SPGs
Acabo de saber que já foram emitidos cerca de 3000 certificados de produtores orgânicos avaliados por esta metodologia. Gratificante. Aqui no Encontro fiz uma palestra, ouvi outras, moderei grupos e me envolvi em reuniões paralelas. Intenso e tranquilo ao mesmo tempo. Sinto-me em casa aqui.
Na minha palestra, entre outras coisas, comentei sobre a agricultura ecológica ser vista como um ato de amor, e da importância de nos servir de atitudes amorosas como mediadoras de nossas relações sociais. Tenho curtido falar disto. Em tempos passados eu evitava mesclar aspectos que poderiam ser interpretados como religiosos em conversas de cunho mais acadêmico. Superei esta fase, ainda mais agora que há poucos dias uma amiga me disse que nunca houve briga entre ciência e religião, mas sim entre cientistas e religiosos...
Adoro as roupas delas...
O evento é aqui em Huancayo, uma cidade da serra Peruana, região de Jurin. Uma região que concentra parta da coca produzida no pais. Se fosse só coca para consumo humano nenhum problema. Ontem tomei um chá de coca, hoje já masquei algumas folhas, receita para mitigar os efeitos da atitude. Mas a coca produzida nesta região é também processada e o narcotráfico está obviamente muito presente. Infelizmente, realidade de todos nossos países latino-americanos...
 Huancayo não é tão turística como Cuzco, nem tão bonita quanto, mas estando em plena Cordilheira dos Andes guarda muito da cultura andina, nas roupas, comidas, músicas, danças... e isto por si só atrai turistas nacionais e estrangeiros. Infelizmente a Plaza de Armas, nome que tradicionalmente se usa para as praças principais das cidades de colonização espanhola está em obra. O programa típico de sentar na praça pra prensar na vida quanto se vê a Igreja, as gentes, os pombos e comer uma comidinha de rua não vai rolar desta vez
As montanhas que emncionei, ao redor da cidade.
A paisagem é peculiar, interessante. Fico mais à vontade em usar adjetivos assim do que por exemplo linda ou bonita. Não que não possa ser vista assim, mas as altas montanhas secas me despertam o desejo de ver as cores da vegetação. Aqui não tem. Ecossistema jovem, ainda em formação, com pouquíssima chuva e solos instáveis, nas encostas altas não cresce quase nada.
Obviamente este contexto têm consequências diretas na maneira de se obter alimento, fibras e lenha nesta região, e nas dificuldades inerentes no cotidiano em altitudes extremas, seus reflexos na dinâmica da vida, aqui mais escassa, na cultura e na saúde das pessoas. Povos de Montanhas, meu mais sincero respeito por eles.
Eu falando...
Mais um agradável dia de trabalho. Gosto mais quando vou a campo, mas este Encontro, com duzentos representantes de todas as regiões do país, é quase como ir a campo, dado a praticidade e concretude dos temas e formas de aborda-los. Sem sair de uma sala, de certa forma viajei por boa parte de um país tão vasto e diverso como o Peru. Dou Gracias a la Vida por este privilégio!!!

 
Papas a la huancayna, um dos pratos mais típicos do país!

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Satipo e Huancayo, 10 e 11 de outubro de 2017

Lindo... altiplano Peruano, região de Jurin
Hoje acordei cedo e fui visitar o mercado de frutas, verduras e carnes de Satipo. Além de roupas, tênis, brinquedos e tudo mais que se pode imaginar. Viva a China! Bom para ver o movimento da cidade na primeira hora do dia. Depois um café da manhã com suco de mamão e sanduíche de ovo com queijo e por volta das oito da manhã saímos de Satipo para Huancayo, capital da Região de Jurin, aventura que durou o dia todo.
Rio Satipo, hoje cedo, ponte que liga uma
comunidade à cidade
Viajamos em um tipo de táxi, carros que fazem estas viagens intermunicipais e Van. Serviço interessante, mais prático que horários fixos de ônibus. Lota-se um carro e pronto, começa a viagem
Estrada entre Satipo e La Merced, 
região amazônica
Vou descrever a minha interessante odisseia do dia por partes: de Satipo para La Merced fomos em um sedan, mais para velho que para novo. Esta primeira parte da viagem foi toda em selva alta, como eles denominam está região amazônica de relativa altura. Neste caso entre 600 e 800msnm. Éramos cinco no carro, além do motorista, e estou feliz que me deram o banco da frente.
Estrada estreita, sem acostamento, com o rio Perené de um lado e montanhas de outro. Bonita, mas não especialmente bonita. Sol forte, que depois da metade da manhã entrou no carro sem pedir licença. Janelas abertas não impediram o forte calor. 

Em La Merced foi só tempo de trocarmos de cara para irmos a Tarma. Aliás um carro bem melhor, para seis pessoas. Em poucos quilômetros começamos a subir drasticamente. A temperatura diminuiu e a paisagem se despiu de bosque e se vestiu de montanhas altas, pedras e vegetação baixa. O rio saiu do nosso lado e foi para o fundo do vale. Esta é uma característica dos países andinos. Mudanças bruscas de paisagem em função das alterações na altitude. O que acontece e aconteceu em todos os lugares ao longo da história, troca de mercadorias em função do que é produzido em diferentes ecossistemas, nos Andes ocorre em distâncias muito mais curtas. Da mandioca à batata andina, mal denominado inglesa, se passa em poucos quilômetros.
Almoçamos em Tarna, já há 3000
Igreja de Tarma
metros de altitude, tomamos um café e agora de Van seguimos pela Cordilheira por mais duas horas, entre subidas e descidas, até chegar a Huancayo, 3300msnm. Uma parte da viagem foi no altiplano, cerca de 4000msnm, visual mais calmo, subidas breves e paisagem com ondulação mais leve, solos cobertos por pedras e vegetação baixa e amarelada, sinal de uma paisagem geologicamente jovem e com pouca precipitação.
Visual de uma vila do altiplano, entre Tarma e Huancayo
Nas partes relativamente mais baixas vi muita agricultura, principalmente aveia e alfafa para o gado e fava, muito consumida, tanto verde quanto seca, na culinária andina.
Chegamos em Huancayo pouco antes das seis da tarde, aqui já noite. Tempo de rever amigos, e fazer uma breve reunião preparatória ao dia de amanhã enquanto jantávamos.
Para não passar em branco o relato de ontem, vou contar que tivemos duas reuniões onde minha tarefa foi falar da nossa experiência em desenvolvimento dos mercados locais para produtos ecológicos e os sistemas participativos de garantia. Em Pangoa pela manhã e em Satipo do almoço até às 17:00 porque a partida de futebol decisiva entre Peru e Colômbia parou o país, com o Governo decretando feriado a partir das quatro da tarde. 
Almoço / reunião. Restaurante turístico de uma 
comunidade indígena da amazônia peruana
Durante o dia todos os apresentadores de jornais televisivos com a camisa da seleção Peruana. Funcionários de lojas e até bancos, da mesma forma. Na hora do jogo todos os restaurantes e lanchonetes cheios com suas TVs ligadas. E na praça central telão e até arquibancada improvisada. No fim do jogo todos felizes porque Peru vai disputar a repescagem.
Voltando ao hoje, poucas vezes fiz uma viagem de carro tão bonita / interessante quanto está de Tarna para Huancayo. Justificou o dia. Amanhã tem trabalho, palestra no Encontro Nacional de Produtores Ecológicos. Vou dormir para estar bem e melhor adaptado à altitude.

Banana diferente, deliciosa, vi muito por aqui

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Lima, Satipo e Pangoa, 08 e 09 de outubro de 2017


Visual do evento de hoje, em Pangoa
Outra vez no Peru. Outra vez a trabalho. Cheguei ontem, domingo, passei algumas horas em Lima, em uma reunião preparatória para a semana e um almoço bem peruano, tiraditos de peixe. Depois viajamos toda a noite de ônibus e hoje o dia foi de intensas atividades entre Satipo e Pangoa, dois municípios da região de Jurin, que abarca partes da Serra e da Amazônia Peruana.
Tiraditos (peixe cru, cozido no limão) com diversos molhos
Estou aqui visitando a Cooperativa Agrária e Cafetalera de Pangoa, que reúne campesinos e indígenas amazônicos que produzem principalmente café e cacau, destinados à exportação. Quem me convida é Terra Nueva, ONG Italiana e a ANPE (Associação Nacional de Produtores Ecológicos). Quarta viajo para Huanuco, seis horas de carro, centro do país, para o ENPE - Encontro Nacional de Produtores Ecológicos. Sei que ao ler isto alguns pensarão: "Que trabalho legal". E é. Não me canso de repetir, quem faz o que gosta não trabalha, se diverte. 
Vou descrever algo da viagem desta noite. Mais de dez horas de ônibus. Os países andinos, entrecortados pela cordilheira, tem uma geografia peculiar. Em poucas horas se pode sair do nível do mar e subir a três, quatro ou cinco mil metros. Hoje eu fiz isto. Sai de Lima, bordeada pelo Pacífico, e dez horas depois cheguei a Satipo, 600 metros sobre o nível médio do mar. 
Visual da viagem, já na amazonia, foto tirada do ônibus
No caminho passei por Ticlio, o segundo ponto mais alto do mundo em uma estrada asfaltada: exatos 4.818 msnm. Não é a primeira vez que passo aí e também não é a primeira vez que passo mal. Dor de cabeça e enjoo, o que eles aqui chamam de "mal de altura" ou "sorocho". Já aprendi a prevenir e comprei uma "sorocho pills", um remédio a base de AAS, Salofeno e Cafeína. Ajuda bem, mas mesmo tomando três comprimidos senti os sintomas.
Menininha nomatsiguenga
Em Satipo ficamos, Carlo (de Terra Nueva), Felimon (presidente de ANPE) e eu, apenas uma hora entre hotel e café. Precisamos sair rápido para o município de Pangoa. O dia todo em um evento com sócios da cooperativa, onde minha tarefa foi contar o que fazemos no Sul do Brasil para desenvolver a Agricultura Ecológica. Tarefa difícil. Uma sala que mais lembra uma varanda, toda em meias paredes, clara, em parte fechada por lonas plásticas pretas, folhas brancas coladas servindo de tela branca, galera cansada, muito quente e me colocaram para falar depois do almoço... eu mereço! Fiz o que pude, mas cada vez mais sabemos que esta metodologia de palestras, ainda mais em condições que dificultam a concentração, deve ser usada só em raras situações.

Pequena feira expondo produtos locais.
Não vou contar o que falei, mas sim duas curiosidades sobre a realidade local. Os sócios da cooperativa são principalmente de duas etnias. Os Nomatsiguenga, com suas Kushmas (espécies de túnicas) com variações de cor laranja. E os Ashaninkas , que costumam utilizar Kushmas em tons de azul. Para quem não se lembra as roupas costumam identificar as etnias locais. Por vezes nem se diferenciam pela roupa, mas por detalhes de chapéus, colares ou outros adereços. Também é comum que os adereços demonstrem as tarefas ou posições de cada um nesta sociedade. Quem vê de fora acha que é tudo igual, mas quem conhece a cultura local identifica as diferenças.
Este companheiro indigena me
deu a coroa dele... em sinal
de agradecimento...
Vou contar outra característica da região amazônica, tanto faz se aqui no Peru, no Brasil, Equador ou Colômbia. As distância e as dificuldades de locomoção são um caso à parte. Já tínhamos começado o evento quando chegou um grupo de participantes. Carlo me contou que para chegar eles caminham cerca de seis horas até chegar à estrada, quando pegam uma Kombi, transporte privado local, e viajam mais nove horas até chegar aqui. Isto porque é época de seca e as estradas estão boas... êh mundão este que vivemos, com seus múltiplos mundos que o compõe. 
Vou ficar por aqui. Dia intenso, depois de uma noite viajando, um calor amazônico é um dia inteiro entre ouvir e fazer palestras. Mas sigo achando que mais me diverti do que trabalhei.