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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Maputo, 18 de maio de 2016.

Machamba com práticas agroecológicas.
Estar em Maputo tem me feito refletir sobre como este planeta são vários em um. Sim, acho realmente que muitos de nós vivemos e representamos planetas diferentes. Indo hoje para o trabalho, passei por um caminhão cheio de policiais militares na carroceria. Vestidos a caráter e armados até os dentes, todos portando metralhadores ou fuzis. Lembrei-me de uma vez que fui passear por Seul de noite, e passei pelo fim de uma manifestação. Haviam policiais, para qualquer eventualidade. Armados com cassetetes. apenas com cassetetes, sem armas de fogo. São muitos planetas... e aqui não quero simplificar comparações ou fazer nenhum juízo de valor, estou só divagando.
A irrigação das áreas é toda feita com regadores. Este aí está
com corda porque a vala onde pegam a água é um pouco
mais profunda. Uma boa parte do tempo despendido
com a produção é irrigando. 
Hoje outra vez passei o dia visitando as áreas de cultivo, as machambas, acompanhados pelos técnicos da ESSOR. Com foco naquelas que estão sendo cultivadas sem veneno, com enfoque agroecológico.
Para muitos habitantes deste planeta aqui, satisfazer as necessidades materiais mínimas requer esforço máximo. E não falo apenas pelas conversas profissionais ou leituras sobre indicadores econômicos. Posso ver isto no meu trabalho a campo, ao passar de carro pela periferia ou caminhando pelo centro da cidade.
Neste contexto de escassez de recursos e excesso de carências, o trabalho com agricultura orgânica deve ser feito com alguns cuidados. Diminuir custos de produção deveria tomar mais importância do que agregar valores sócio-ambientais ao preço de venda. Afinal, o custo da alimentação é um percentual grande da renda de uma família, e economizar é necessário, mesmo à custa da saúde da família ou do planeta.
Dona Eliza. Sensacional! Esta senhora
planta mais de um hectare de horta
e tem três funcionários.
Seria até simples, produzir barato e vender barato, se os planetas não se misturassem. Além de Brasileiros e portugueses, são muitos outros europeus, norte americanos ou japoneses por aqui.  A maioria trabalhando para organismos de cooperação internacional ou grandes empresas com negócios no país. Naturalmente ganham altos salários. E alguns trazem de seus países a demanda por produtos orgânicos. Por consequência, são os consumidores com potencial de demandar estes produtos, pagando por eles um sobre preço. Este sobre preço acaba sendo sedutor para que famílias produtoras optem por mudarem seu modo de produção. Quebrar esta cadeia de pobre produzindo para rico produtos nobres, enquanto a imensa maioria segue comendo o possível, não parece uma tarefa para este local neste momento. Vamos ter que esperar a Era de Aquário. Já chegou? Putz...
Tudo bem, me adapto, e tento contribuir para que os agricultores e agricultoras tenham a melhor produção, com menor custo e maior volume de venda.
De tardinha, sai para caminhar. Fui pela Av. Lenine, passei pela Av. Mao Tse Tung e fui até a Av. Eduardo Mondlane, virei a direita e fui dar na Av, Karl Marx (como veem, a galera está toda aqui), e parei em um simpático restaurante português, onde já havia estado da outra vez que estive em Maputo. Chama-se Assador Típico. Deixei o bacalhau para outro dia e fui de camarão ao alho e óleo com batata frita. Digamos que um fish and chips turbinado. Para beber uma Laurentina Premium, a única puro malte que achei por aqui. Tá de bom tamanho.
Vou dormir que amanhã tem mais.

minha jantinha

Casinha de apoio no campo. se prepara o almoço fora, olha os
utensílios ai ao lado.
depois do almoço, lavar a loiça!


Um comentário:

  1. Desde sempre compartilhamos este pensamento que trabalhar pela agricultura ecológica não poderia ser para aqueles que sempre foram privilegiados! Lembranças do saudoso Padre Schio! Vida para todos! e todas!
    Por isso gostei especialmente dos comentários de hj!

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