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domingo, 15 de abril de 2012

Uruguai, 16 de abril de 2012


Assembleia da Rede de Agroecologia do Uruguai
Passei estes dois últimos dias no interior do Uruguai. Cheguei no fim da tarde de sexta-feira no aeroporto de Montevideo. Viemos direto, mas não sem antes passar pela La Rambla, a longa avenida que circunda a praia formada pelo rio, ou, mais precisamente, estuário La Plata. Montevideo é uma cidade agradável, e esta avenida é um dos seus pontos mais bonitos. Ouvi que os colonizadores espanhóis, quando aqui chegaram, chamaram o estuário de mar doce, pois julgavam mesmo que ainda estavam no oceano. Gostei da expressão, mar doce. Poética. Enfim, realmente uma pena que desta vez só passei por Montevideo, não desfrutei seu charme, não comi uma boa parrillada, não tomei um bom vinho e mal provei um doce de leite. Acho que não vim ao Uruguai.

Pablo Galeano, nosso anfitrião, Paulo Petersen e outros dois
amigos brasileiros, na Playa Fomento, Colonia, Uruguay
Depois de quase duas horas de viagem, chegamos à Praia Fomento, que fica no departamento de Colonia, e é um balneário que nesta época fica semi-deserto. O encontro da Rede de Agroecologia do Uruguai, minha atividade destes dois dias, foi no Parque 17, uma espécie de camping, mas com algumas casas-alojamento. A praia fica ao lado do camping. Assim como na capital, ela é bonita, larga e com areia branca, e ainda mais surpreendente em sua beleza por estar margeada por uma vegetação. O lugar é agradável, os quartos são simples e honestos, mas pecam pelo excesso de camas em cada um deles. Por sorte nos deram um tratamento especial e três dos brasileiros que estamos aqui ficamos em uma casa com dois quartos.

Passamos todo o dia de sábado entre a assembleia da Rede de Agroecologia e um Seminário com foco na discussão de políticas publicas de apoio à agroecologia. Eu falei sobre a Rede Ecovida, seu momento atual e sua relação com o Estado. Nem falei nem ouvi grandes novidades. Vou só comentar que em uma das palestras vi dois gráficos interessantes. Um deles demonstrava a relação positiva entre preço de alimentos e de petróleo, ao longo de décadas. Apesar de meio obvio, já que sabemos que vários dos insumos agrícolas são baseados no petróleo e seus derivados, gostei de vê-lo demonstrado graficamente ao longo dos últimos dez anos. O outro fazia uma relação também positiva entre os picos de aumento dos preços dos alimentos e uma maior concentração de protestos populares ao redor do mundo nos últimos seis anos. A tese que este último expressa precisa ainda ser melhor demonstrada, mas achei boa a ideia de elaborar um gráfico fazendo esta associação.
Eu com alguns decanos da Agricultura Ecológica
 no Uruguai.

Alguns participantes me convidaram para tirar uma foto com eles. É que um grupo que está aqui estiveram visitando nosso trabalho em Ipê, interior do RS, em 1992, portanto há vinte anos. A conclusão mais preocupante nem é que estamos 20 anos mais velhos, sendo que em 1992 nem éramos tão novos assim...  

Fare cosa? C’est la vie! Na verdade o mais preocupante é que este é um reflexo do que acontece na área rural de todo o mundo. Pelas razões mais diversas, e seguramente não conheço todas, a população no campo diminui e envelhece por todas as partes. Ouvi algo que na Inglaterra este movimento se inverteu nos últimos anos. Mais gente e mais jovens vão para as áreas rurais, mas parece que para viver, e não para trabalhar.

 Veremos como ficará o desenho da sociedade com as zonas rurais com menos gente e mais envelhecidas. Nós, os agroecológos, somos uma espécie de semi-fisiocratas modernos, ao menos no enunciado que afirma que toda riqueza vem da terra, temos dificuldade de imaginar um mundo assim.

Já era quase nove da noite de sábado quando terminou o encontro. Jantamos e depois ainda assistimos uma apresentação de um grupo local, cantando musicas uruguaias. Chovia fino, as letras eram chorosas e o ritmos lentos, quase doídos. Optamos por pedir uma Patrícia, uma boa cerveja local e entrar no clima festivo. Festivo? É, pode ser. 
Enfim, hoje foi acordar e pegar o rumo de volta. De novo pela Rambla, o que deu ainda mais vontade de voltar em breve atrás do que desta vez não rolou. Agora, pra casinha. Passei a semana toda fora, emendando com sábado e domingo e ainda tendo uma semana cheia de trabalho pela frente. Fare cosa? C’est la vie...