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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Bilbao, San Sebastián, Hondarríbia, Espelette e Burgos, 23 a 26 de fevereiro de 2024.

 

Rio Urumea, San Sebastian

Sexta-feira, dia 23, passeamos por Bilbao! Continuamos encantados pela cidade. De manhã, chovendo, fomos direto ao Museu Guggenheim. Merece a fama que tem, muito bonito por fora, bonito por dentro, e com obras muito interessantes para visitar. Não é dos melhores que fui, longe disso, mas tem seu lugar no ranking. Saímos do museu e fomos caminhando, definitivamente o melhor a se fazer pelas cidades europeias. 

Na frente do museu, o gato do
Guggenhein

Caminhamos por toda a Gran Via, principal avenida da cidade, com prédios históricos ocupados moradias, por algum órgão do estado ou mesmo algumas lojas de grife, que nessa rua se alinham umas às outras. No fim da Gran Via, ou início, cruzamos o rio Nervión e desembocamos no centro histórico. Caminhamos outra vez por suas ruas e subimos uma escadaria até a Basílica de Begoña. Chovi fino e fazia frio. Muito agradável passeio.

Fim de tarde, ainda frio e chuvoso, paramos em dois bares para comer uns pintxos! Um na praça maior, no próprio centro histórico, e outro no Café Iruña, perto dos Jardins de Albia. Muito, muito legal.

Sábado, pegamos o carro e saímos cedo, outra vez com chuva e frio, em direção à San Sebastián. Alteramos o trajeto para passar em Guernica, a cidade cruelmente bombardeada pelos nazistas em 1937, com o beneplácito de Franco, o cruel ditador espanhol, e imortalizada pelo fortíssimo quadro de Salvador Dali, que tem seu original no Rainha Sofia, em Madrid.

De Guernica, fomos direto ao nosso hotel em San Sebastián, o incrível Mercure Monte Igueldo. Incrível porque ele fica sobre esse morro, com vista do mar cantábrico, da cidade e da baía de La Concha. Uma vista simplesmente impressionante. Ficamos um pouco no hotel e descemos para ver a cidade. Impactante. Difícil escolher, mas consideramos San Sebastián a cidade mais bonita desta nossa viagem. A mescla de rio, mar, morros e prédios tão bonitos quanto imponentes e históricos, é de tirar o fôlego. Depois de perambular, passamos o entardecer aproveitando o hall do hotel e sua vista. Programa de gente grande. Que dia!

Mural com a reprodução do 
Guernika, em Guernika.

Ontem, domingo, saímos de San Sebastian, não sem antes dar outra volta pelo centro, e fomos para Hondarríbia. Pena que seguia chovendo e frio quando chegamos. Nada surpreendente para fevereiro! A cidade é realmente uma gracinha. Havia lido que era o povoado mais bonito do País Basco e cismei de dormir ali. Não nos arrependemos! O hotel era um “Parador”, uma rede de hotéis que se caracterizam por se localizarem em lugares históricos, a maioria palácios. O “Parador de Honrarribia” está situado no castelo do Imperador Carlos V, e foi construído no século X. Parece que Velásquez passou uma temporada nele. Eu também! Um dia… Os quartos foram restaurados ou construídos há algumas décadas, e dormir ali é uma experiencia à parte, com seus salões, quadros, paredes, vista da cidade e da baía… muito legal!

Hoje, segunda-feira, dia 26 de fevereiro, uma semana depois do meu aniversário, saímos de Hondarríbia, Fuenterrabía em Basco, e fomos à França! Estávamos tão pertinho, achamos por bem dar uma beliscada nas terras de Obelix! Pena que, outra vez, chuva e frio. Passamos por charmosas áreas rurais e várias cidadezinhas do estado conhecido como Pirineu Atlântico. Entramos em Ainhoa, mas resolvemos seguir até Espelette, autodenominada capital mundial da pimenta. Cada uma… só francês mesmo para ter a coragem de achar que a capital mundial da pimenta está na França! 

Entrada, foie de gras e 
salada!

Mas a cidade é muito bonitinha, compramos algumas coisas à base de pimenta, como chocolates e mostarda, e almoçamos ali mesmo. Um bom restaurante, uma provinha na culinária francesa que nunca decepciona! Almoçamos muito bem! 

Era uma da tarde quando saímos de Espelette e viemos para Burgos. Umas quatro horas de viagem com muita chuva e até alguns flocos de neve. Para chegar no hotel, circulamos por uma hora… é que o hotel fica no centro histórico, com trânsito de carro limitado. O Waze me mandou até uma rua estreita, com um sinal vermelho e um cilindro no meio da rua impedindo nossa passagem. Dei meia volta… depois de rodar muito, fui ler as dicas do hotel sobre como chegar. Ali mesmo, neste sinal vermelho, tenho que interfonar, aí o responsável desce o tal cone e o sinal se põe verde. Quase uma hora de stress. A ignorância sempre cobra seu preço…

E ainda demos uma volta, chuva e frio nos acompanhando, por parte das ruas do centro histórico, onde estamos hospedados no Hotel “Rice Palacio de los Blasones”. Bem simpático!

Isso aí. Agora são nove e meia da noite e ainda não decidimos para onde vamos amanhã… mas queremos voltar à Portugal, dormir as últimas quatro noites lá, é possível que decidamos por Braga ou Porto! Depois conto!


One Hundred and Fifty Multicolored Marilyns


El Anatsui, artista ganês que vive
na Nigéria, fez esse painel com
tampinhas de alumínio... uma viagem... 

Coisas básicas de se ver em um rolê pela Gran Via, em Bilbao
- Palácio de Justiça

Rio e Mar em San Sebastian

Palácio de Hindarríbhia

Aspecto da Plaza Mayor, 
Hondarríbia

Sala no Parador de Hondarríbia

Estardecer chuso na Plaza Mayor de Hondarríbia

Espelette!


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Sevilha, Salamanca, Frías e Bilbao, 20 , 21 e 22 de fevereiro de 2024

 

Bilbao - Visual à margem do rio Nervión

Terça-feira, 20, decidimos passear por Sevilha antes de sair em direção ao Norte. Como o dia só amanhece depois das oito da manhã, e as lojas começam a abrir às dez, nove e meia saímos do hotel. O programa foi andar pelo “casco viejo”, distraindo os olhos pela beleza das ruas e casas. Demos um check no lindo Arquivo das Índias e fomos rever “La Giralda”, como é conhecida a Catedral de Sevilha, nome que na verdade se refere à sua torre. La Giralda, a torre, até pouco tempo era a construção mais alta da cidade, por imposição de uma lei municipal. Agora, já não… conseguiram alterar essa norma e um, apenas um, prédio de dezenas de andares foi construído. De longe, nota-se o mal gosto do prédio envidraçado em meio à beleza horizontal da cidade. 

Plaza Mayor, em Salamanca

Pouco depois do meio-dia, colocamos as malas no carro e partimos para Salamanca. Viagem tranquila, por uma autopista, portanto menos bucólica, e chegamos quatro horas depois, ainda de dia, o que nos permitiu passear pela cidade. Por sinal, belíssima! Igrejas lindas, ruas muito gradáveis, e não apenas no centro histórico, Igrejas imponentes, que só observamos por fora, e uma bela “plaza mayor”, que não aproveitamos como seria indicado, o cansaço bateu e fomos cedo para o quarto.

Ontem, quarta-feira, por volta das dez, saímos de Salamanca para Bilbao. Desta vez, mesclamos a autovia com estradas secundárias, que deixam a viagem mais longa, mas muito mais interessante. 

"Casas colgadas", em Frías.

A estrada secundária nos levou a Frías, que eu havia mapeado na preparação da viagem. E as dicas que ouvi para visitar Frías estavam certíssimas. A cidade é algo à parte… um dos lugares mais interessantes que já fui. É um povoado medieval, pequeno, que preserva sua originalidade, com seu casario e ruas de pedras e um conjunto de casas que foram construídas quase penduradas nas montanhas. Compõe a arquitetura um imponente castelo, cujos muros protegiam o burgo, naquelas épocas em que as disputas eram intensas por cada território. Acho que hoje é meio igual, ainda que meio diferente…

Almoçamos maravilhosamente em Frias. Como gostamos: primeiro prato, segundo prato, pão, água, vinho da casa, sobremesa. Tudo incluído no preço, que está à vista na porta de entrada. Neste caso, 15 euros! Tomamos uma sopa castellana, que caiu muito bem no frio, eu pedi jijas, feito à base de embutido ibérico, refogado com pimentão doce, pimenta, alho, sal. Muito típico em toda Espanha, com diferentes nomes. Em Castilla, se chama Jijas! Veio acompanhado com fritas e ovo! Comida totalmente camponesa, pergunta se eu gosto… Ana, de origem mais nobre, comeu truta assada. Depois de almoçar e flanar pela idade média, em Frías, viemos para a contemporânea Bilbao. Quando saímos de Leon y Castilla e entramos no País Basco notamos a mudança no visual, nas arquitetura das casas, na língua das placas e letreiros. Na chegada, foi tempo apenas de dar uma breve volta pelo centro histórico. Cansados, compramos alguma coisa para comer no próprio quarto: suco, kefir, granola. Estava indo bem, naturalzinho, e me surge um lindo sanduíche de jamón ibérico… não resisti! 

Centro histórico de Bilbao

Hoje, quinta-feira, dia 22, fizemos nosso programa favorito: voltamos ao centro histórico e caminhamos Iara lá e para cá. A cidade é toda muito bonita, e não falo apenas da parte mais antiga, um beleza diferente, mais próxima ao norte do que ao sul da Europa. Eu gosto muito, prédios mais herméticos, com fachada de cores sóbrias e nem por isso menos bonitas. A variedade no desenho arquitetônico também me chama atenção. Caminhamos pelas “sete calles”, fomos ao mercado da ribeira, onde comemos pintxos e bebemos algo. Comemos pintxos também pelas ruas, que é o que mais se faz por aqui. Os bares e restaurantes são um espetáculo à parte. O que são pintxos? São comidinhas, boa parte delas servidas sobre um pedaço de pão, com uma imensa variedade de opções: queijo, presunto, pastas de bacalhau ou camarão, azeitonas, ovos, mini sanduíches, e mais, muito mais. Faz parte da cultura local e é uma viagem à parte por Bilbao, beber algo e comer pintxos.

No meio da tarde, começou a chover, mas ainda achamos tempo para ir à Gran Via, artéria principal da cidade, com muitas lojas de grifes famosas. Passeamos, compramos algo, comemos em um restaurante indiano (na emoção, depois até nos arrependemos, rsrsrs) e voltamos ao bom hotel Mercure Jardins de Albia. Amanhã, seguimos em Bilbao, sábado vamos para San Sebastian! À medida que caminhamos, vou contando por aqui!

Pintxo de jamon e uma tortilla!


Centro histórico de Bilbao

A incrível cidade mediaval de Frías

Castelo de Frías

Jijas!!!

Igreja de São Estevão em Salamanca

 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Extremoz, Zafra e Sevilha, 17, 18 e 19 de fevereiro de 2024

 

Plaza de España, Sevilla!

A viagem segue intensa. Sábado, começamos o dia pela feira de Estremoz, que reúne comidas e antiguidades. Muita bacana de ver, atrai pessoas de toda a região. Depois, pegamos o carro e fomos à Évora, a mais famosa cidade do Alentejo, dar um rolê e ver o Templo de Diana, uma ruína Romana do século I. Lá, descobri que estudos recentes mostram que o templo na verdade foi erigido em homenagem ao Imperador e não à Diana. Achei bem sem graça. 

Templo Romano, em Évora

É a terceira vez que vou a Évora, a cidade é realmente muito bonitinha. O maneiro é que me confundo e sempre esqueço como ela é, aí sempre parece que estou indo pela primeira vez… acho lindo, me surpreende, admiro, tenho todas as sensações de ver algo novo. Bem bom, a vida deveria ser assim, sem memória, uma eterna surpresa, uma constante emoção da descoberta.

Ontem de manhã, domingo, saímos de Estremoz em direção à Sevilha! Depois de meia hora em terras espanholas, paramos na simpaticíssima Zafra, conhecida como “La Sevilla Chica”. Muito agradável, paramos na praça e pedimos uma cerveja só porque o lugar e a hora exigiam.

Existem dois lugares nos quais sinto um especial enlevo. Um em frente ao mar, no qual não vou falar agora, outro em um restaurante ou café dessas praças secas, tão comuns na Europa, mas também presentes nas cidades latino-americanas. O casario antigo, as mesas ao sol, o encontro das pessoas… nesse lugares, normalmente, a história também se senta e o pensamento caminha pelos séculos que desfilam nas varandas e seus arcos, nos balcões, muitos com flores dependuradas, nos lampiões, nas pedras irregulares das ruas. 

Plaza Grande, Zafra

A parada em Zafra, passar um tempo na “Plaza Grande”, ao lado da “Plaza Chica”, me deu essa paisagem, esse enlevo, e deu gosto de quero mais. Mas tínhamos uma cidade encantadora pela frente, seguimos viagem.

E uma hora e meia depois, pousamos em Sevilla. Havia estado aqui em 1996. Claro que não achei a Sevilha incrustada nos meus sonhos. A cidade cresceu… mas, principalmente, parece que todo mundo resolveu vir a Sevilha no mesmo dia. Gente, muita gente. Problema bem comum no turismo nos dias atuais. Mas mesmo tão cheia, quase desagradavelmente cheia, ela segue linda, acho mesmo que deslumbrante é uma palavra que cabe

Impressionante a quantidade de monumentos para se ver, assim como impressiona o quão agradável é passear pelas ruas da cidade velha, que guarda inequívocos traços das culturas moura e judaica. Famoso em Sevilha também são as tapas. O Sevilhano gosta de dizer que aqui se vive para comer, beber e bailar. “Tapas” tem a ver com comer e beber. “Ir de tapas”, significa sair, muitas vezes de bar em bar, ou restaurantes, pedir algo para beber e umas tapas. 

Tapeando por Sevilla!

Podem ser tanto queijos, salames e presuntos quanto versões em miniaturas dos pratos do restaurante, seja um peixe, um bacalhau ou uma carne. Se um prato custa 12/15 euros, o equivalente em uma tapa custará 4/5. Delicia, assim se prova muito mais sabores. Entre domingo e segunda, além de caminhar, beber e comer, fomos visitar vários pontos de interesse. Menção especial à Plaza Espanha e ao Alcazar. Este último, um Palácio construído pelos mouros no ultimo século do primeiro milênio e remodelado pelos espanhóis após a expulsão dos árabes, no século XIII. Um local incrível, de beleza ímpar. Nem vou descrever aqui, eu não conseguiria, e é muito fácil achar informações sobre ele.


Show Flamenco

Procuramos um lugar pequeno, buscando um show menos glamoroso e mais local. E acho que acertamos. Foi parecido com que eu achava em 1996, nos pequenos bares da cidade sempre havia alguém cantando e dançando flamenco. Agora está tudo menos artesanal, mais industrial… não apenas aqui, em todos os lados se monetiza tudo. Mundo moderno. Ainda assim, mesmo cheia e sem o glamour e o aconchego de uma cidade menor, vale muito a pena conhecer a capital da Andaluzia. Acho que acertei em ter escolhido voltar aqui, ainda mais no meu aniversário!

Amanhã de manhã ainda damos um rolê por Sevilha e no meio do dia partimos em direção ao Norte. Se sair como o planejado, dormimos em Salamanca, quinta chegamos a Bilbao! Quero muito conhecer o País Basco!


Sevilla es una maravilla!!!


Detalhes do Reino de Sevilla!


Alcazar!



Jamon y Queso! Cada fatiazinha dessa custou
um euro... mas é bom...



sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Lisboa e Estremoz, 13 a 16 de fevereiro de 2024.

 

O Eu Profundo e ops outros Eus

Depois da jornada em Bissau, uns dias de férias. Ana e eu nos encontramos em Lisboa e vamos dar um giro entre Portugal e Espanha. Como gosto de fazer, vou caminhando e contando algo por aqui.

Entardecer na Rua Augusta

Chegamos na terça, dia 13, e alugamos um carro para sair de Lisboa no dia 15. Assim, foram dois dias passeando pela capital lusitana. Vou ser sintético em relação ao que fizemos: passeamos pela Avenida Liberdade, Bairro Alto, Santo Antônio, Rossio, Alfama e Graça. Isso tudo na quarta-feira, dia 14, acho que caminhamos uns 12 km. Ou mais, com o detalhe que se sobe e desce muitos morros. Tudo muito legal, mas vou destacar alguns momentos. Primeiro, uma menção honrosa ao Hotel Santa Justa. Mais que bom, super recomendo. Depois, o almoço no “A Merendinha do Arco Bandeira”. Um bacalhau à minhota, delicioso! Com vinho da casa, claro! Vou ainda mencionar a passada na Casa de Saramago, adorei ler um pouco sobre ele e saber mais da sua vida. Como escritor, considero Saramago umas das minhas principais influências. Estivemos, também, no café “A Brasileira”. Esse lugar era muito frequentado por Fernando Pessoa, e eu tenho um conto, publicado, que se passa, em parte, neste lugar. Sentar-me ali, pedir um café e ler o meu conto foi um momento-looping maravilhoso. Por último, vou falar que os pastéis de nata são deliciosos!

Rainha Santa, ao lado do Castelo


Ontem, quinta, pegamos o carro e viemos para Estremoz, região do Alentejo. Porque Estremoz? Porque vim aqui em 2015, com Ana e André, um grande amigo, e conheci a Pousada do Castelo, mas não nos hospedamos. Desde então, quero voltar para me hospedar. Acontece que o Castelo, hoje feito pousada, foi construído no século XIII, por determinação de D. Diniz, Rei de Portugal, para sua esposa amada, Isabel de Aragão, também conhecida, como a Rainha Santa. Isabel de Aragão é bastante conhecida no meio espírita, em função de várias histórias contadas, sobre ela, por Chico Xavier. Uma dessas histórias é a aparição de Isabel a Chico, em seu quarto, no dia 10 de julho de 1927, dois dias depois dele receber sua primeira mensagem psicografada. Ela apareceu e pediu a ele para ajudá-la na sua tarefa de dar pão aos pobres. Depois de um curto diálogo ele aquiesceu e, durante toda sua vida, cumpriu a promessa feita. Essa doação de pães tem relação com a própria vida dela como rainha. Digo isso porque um dos milagres que lhe é atribuído é o seguinte: ela tinha o hábito de distribuir pães para os pobres que se aglomeravam ao redor do Castelo. 

Capela da Rainha Santa, representação 
do milagre das rosas.

Eram muitos, lembremos que nessa época ou se era da corte, ou se trabalhava para corte, ou se pagava impostos à corte. Se nenhum dos três, era um miserável. Bem, talvez hoje não seja tão diferente… Mas voltemos à Rainha Isabel de Aragão. 

Esse hábito de distribuir pães, que ela levava na barra do seu vestido, fazendo-o de cesta, acabou por aumentar a aglomeração de pobres ao redor do castelo, o que levou o Rei a pedir a sua esposa para que não mais fizesse isso. Ela não obedeceu… fico pensando que quem deve obediência à sua consciência não aceita qualquer ordem… enfim, apesar da proibição, certo dia o Rei vê sua esposa se dirigindo ao lugar onde costumava doar os pães, saia dobrada, e pergunta se ela o estava desobedecendo. Ela diz que não… ele pergunta: “o que levas aí?”. Ela responde: “rosas!” Ele faz mais uma pergunta: “rosas em janeiro?” (vamos lembrar que janeiro é alto inverno). Ela abaixa a barra da saia e rosas caem ao chão. 

Interior do Castelo
As serviçais ficam todas impressionadas, pois sabiam que ali havia pão… acho linda essa história! É conhecida como “o milagre das rosas”. Óbvio que existem historiadores que questionam esse acontecido, mas os devotos sabem que é verdade. Aqui, no Castelo feito pousada, existe uma pequena capela, que foi feita em um lugar onde antes era um quarto para ela orar. Nesta capela, existem alguns quadros com os milagres da Rainha, e esse que narrei está ali. 

Sacaram porque vim à Estremoz? Visitar a Rainha…

Tem outro lado, que me trouxe aqui, mais mundano… rsrsrs… se hospedar em um castelo é muita onda! Impressionante pensar que foi construído há mais de 700 anos… e os quartos, entre o antigo e o novo, tudo impecável. O café da manhã? Digno da nobreza!

Que mais fizemos em Estremoz, além de curtir o castelo? Jantamos no restaurante “Venda Azul”. Eu comi um prato com diferentes cortes de porco negro, com miga de aspargos. Miga é um prato feito à base de pão alentejano, sensacional. E o porco negro… algo à parte! Ana comeu uma sopa, à base do mesmo pão e coentro. Ela adorou!

Açorda à Alentejana com ovo. 
A sopa local que Ana adorou!

Hoje, sexta-feira, depois do belo café da manhã e de ir visitar a capela da Rainha, fomos para Vila Viçosa. Escolhi ir lá porque é a terra da poetisa Florbela Espanca (“minha alma de sonhar-te anda perdida…”). Passeando pela muito simpática Vila Viçosa, encontramos um restaurante de nome Florbela Espanca! Claro que comemos lá! Ana, sopa de coentro, ela é meio a louca do coentro, e se achou aqui no Alentejo. Eu comi Alheiros de Mirandela. Demais demais demais. O corretor de texto reclama que escrevi três vezes a mesma palavra. Deve ser porque ele nunca comeu Alheiros de Mirandela. Demais, demais, demais. Se você está cansado de ler até aqui, lamento, mas vou contar a história deste prato, considerado, simplesmente, uma das sete maravilhas gastronômicas de Portugal.

É tipo uma linguiça, feita à base de carnes de aves, gado e porco, com massa de pão para dar consistência. Eu comi com arroz, ovo e batata frita.

Perguntamos ao dono do estabelecimento e ele explicou: “antigamente, os asiáticos viviam em Portugal, e eles não podiam comer carne de porco, então inventaram esse chouriço que misturava porco com aves para disfarçar que não estavam a comer porco”.

Asiáticos… bom demais, né? Bem, geograficamente ele está certo…

No restauranta Florbela Espanca,
pedimos o cardápio. Ele trouxe...

Além da informação do nosso anfitrião, fui ler sobre a origem do prato. A hipótese mais aceita é a de que ele foi inventado no final do século XV, por judeus (asiáticos…), que se instalaram no interior de Portugal depois de terem sido expulsos da Espanha pelos reis católicos. Para não serem perseguidos pela Inquisição, tiveram que fingir que consumiam normalmente carne de porco (animal proibido na religião judaica) e, por isso, criaram um tipo de chouriço apenas com outras carnes (vitela, coelho, peru, pato etc.) e massa de pão, para dar consistência. A receita teria, então, conquistado o paladar dos cristãos que, depois, incorporaram a carne de porco à versão original. Boa história, nem me importo se é verdadeira ou não, sei que “Alheiros de Mirandela” é bom demais!

Ainda vou falar de mais um momento gastronômico: ontem e hoje, fomos a um bar frequentado pelos locais, Restaurante Alentejano, e pedimos vinho da casa! Fomos em uma banca na praça, compramos queijo e pão e fizemos a nossa ceia. A dona do bar nos viu trazendo comida e perguntou: querem um prato? E eu achando que ela iria achar ruim trazermos comida para seu bar/restaurante…

Bom, fico por aqui. Com uma frase que ouvi em algum lugar: Amo muito tudo isso!

Hoje foi aniversário de papai. Ele iria adorar esse Castelo.

Escadas na Casa de Saramago

Janela de onde a Rainha via sua amada Espanha

Estremoz é famosa pelos seus bonecos
feitos em cerâmicas, por artistas
locais.

Na Casa de Florbela Espanca

Restaurante Flrobela Espanca

Ruas de Vila Viçosa!


terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Bissau, 10, 11 e 12 de fevereiro de 2024.

 

Com as pessoas com as quais trabalhei -
equipa de Essor e Asas de Socorro

Hoje terminou o trabalho, com uma reunião de avaliação e perspectivas. Ouvi que eles gostaram muito das atividades realizadas, o que é sempre agradável aos ouvidos. Coloquei que estou à disposição para sanar qualquer dúvida que venha a surgir à partir de tudo que falamos durante esses dias. Ouvi também que irão buscar recursos para um retorno meu. Veremos! Seria legal, sei que uma segunda vez é mais produtiva, já se chega com algum conhecimento do contexto. 

Agora, deixa eu contar do fim de semana. Sábado, foi dia de feira. Feito do projeto com o qual vim aqui trabalhar. Uma feira de produtos agroecológicos, nome dado pelos financiadores franceses. De produtos naturais, no explicar das mulheres produtoras, quando anunciavam a qualidade do que ofertavam aos eventuais consumidores (a maioria, mas não todos, brancos, expatriados, para usar o termo normalmente utilizado). A feira não pode ser mais modesta. Uma banca com não mais que trinta ou quarenta quilos de produtos sobre ela, entre beringela, tomate, nabo, cenoura e algumas coisinhas mais. Completavam a oferta alguns temperos, alface, couve e uns vidros com conserva de beringela. Ficaram ali umas quatro horas para vender tudo, ou quase tudo.

Esse meu relato não traz uma crítica ao pouco volume comercializado, estou apenas descrevendo. Afinal, o mercado de produtos orgânicos é mesmo modesto. Podemos pensar em uma boa feira, nossa, no contexto brasileiro. Sabemos como ela impacta positivamente muita gente. Mas… se comparamos com o vendido em um hipermercado na mesma cidade, percebemos nosso nível de insignificância no contexto do abastecimento. Sempre disse que trabalhamos, as ONGs, para dar exemplos e não produzir estáticas robustas. Para isso, é necessária uma revisão de legislações e políticas públicas, incluindo polpudos orçamentos. Podemos lutar para conseguir esse apoio, mas não temos esse poder de decisão. 

Carnaval na Praça Império

Enfim, tudo isso para falar porque, apesar de modesta, valorizo a iniciativa: é um bom exemplo!

Depois da feira, almocei no italiano “Bistrô”, porque foi o que se apresentou, mas nada a ver comer em um restaurante italiano aqui… depois, uma longa tarde no ar refrigerado do hotel e de tardinha fui à praça Império, onde estava rolando uma aglomeração de carnaval. Foi legal ver a cena, muito legal, vou colocar fotos aqui. Mulheres e crianças, não vi tantos homens, com suas fantasias mais ou menos elaboradas. Muitas com representações das diferentes etnias locais, que são na casa de duas dezenas. Soube que o desfile de carnaval, parece que esse ano não teve, é feito por representantes dessas etnias, que vem de todo o país, e recebem subsídio do governo para isso, para essa festa pagã da qual o mundo cristão não conseguiu, ou não quis, se desvencilhar. Terminei o sábado no mesmo bar que fui na sexta, que agora aprendi que chama “O Barril”. Era para ter música ao vivo, mas não sei qual estrada ficou fechada, por causa do carnaval, e os músicos não chegaram… 

Linda!

Domingo, fui a uma feira de artesanato, com muitas coisas em madeira, colares, pulseiras, vestidos e camisas com motivos africanos. Comprei apenas uma escultura em madeira, de mulher, negra, alta, com um vestido estampado com búzios e uma moringa d’água na cabeça. Uma forma de levar o que mais me marcou nessa breve passada por Guiné-Bissau: as mulheres!

Almocei um belo cabrito ao forno no mesmo restaurante de domingo passado, “A Padeira Africana”. Só por causa do ar condicionado…

E domingo, no entardecer, a mesma aglomeração de carnaval do sábado. Passeei, namorei a cena por umas duas horas, muito interessante por sinal, e pouco depois das nove já estava no hotel.

Agora, segunda à noite, vi, brevemente, o movimento do carnaval e vim, novamente, para o bar que se tornou o meu em Bissau: O Barril. Vazio, cervejinha gelada, boa música. Adorei escrever aqui, e é aqui que coloco o ponto final dessa minha última crônica da muito interessante estada em Bissau, capital da Guine-Bissau.




Cena urbana...

Na feira!

Carnaval!

As vendedoras de ostras

Foliã...

Carnaval