Pesquisar este blog

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Cuenca, 17 e 18 de Julho de 2014

Visual das montanhas em Gualaceo, Sul do Equador,
O galã aí sou eu.
Ontem passei o dia todo na Universidade de Cuenca, dando aula para o Mestrado que eles têm em Agroecología e Ambiente. Sem grandes emoções, só a responsabilidade de atuar bem durante nove horas de aula... mas no fim deu tudo certo. Acabou que nem escrevi para o blog, achei que não teria muito que contar.
Hoje foi diferente, fomos ao campo, visitas a fincas e a uma feira. É definitivamente meu maior prazer no trabalho. Saímos de Cuenca antes das oito e fomos em direção a Gualaceo. A estrada bonita, quase encravada nas montanhas rochosas, tipicamente andinas, mas recobertas de uma breve vegetação que denuncia tanto que estamos na época de chuvas quanto o início da transição para a floresta tropical, a Amazônia Equatoriana. Em alguns trechos margeamos o Rio Cuenca e o vemos desembocar no Rio Paute, que segue seu caminho rumo ao oriente equatoriano, e no fim, desembocando de rio em rio, vai chegar ao Rio Amazonas, e aí sim cumprir seu destino de chegar ao mar.
Um hornado de chancho
  
A viagem foi breve e após 45 minutos desta instigante paisagem chegamos ao Mercado da cidade. Não tão grande, com seu pátio de comida e bancas de produtos in natura e outras com produtos industrializados. O Mercado é circundado por uma feira, que na real é parte do próprio Mercado, onde as mulheres estão com suas bancas, no solo, muito de acordo ao que se costuma ver por estes lados do continente. Aproveitei e comi junto com alguns do mestrado um hornado de chancho, que é um porco assado inteiro ao forno a lenha (horno em espanhol). Ele é cozido por no mínimo três horas, e uma senhora (uma hornadera) serve desfiando-o com as mãos. A carne de porco é servida com mote (milho branco, cozinhado por horas) y llapingacho (uma tortilla de batatas). No fim colocam um vinagrete para dar mais sabor ao hornado. Delicioso.
Feira / mercado de Gualaceo
Em parte deste Mercado um povo comercializa produtos ecológicos. São os sócios da Organizacion de Productores Agroecologicos Mushuk Pakarina, palavra Quechua que significa Novo Amanhecer. Esta associação surgiu em 2001, tem 86 sócios e trabalha com Agroecologia desde seu principio. Quem nos recebeu, muito bem, foi Don Manuel, um dos dirigentes desta associação. Depois tivemos a oportunidade de ir visitar a finca dele e da Dona Rosa, uma outra sócia do mesmo grupo há mais de dez anos.
Dona Rosa e Don Manuel são dois exemplos de agricultores familiares da Serra Equatoriana. Possuem uma área pequena, mais ou menos um hectare. Cedo perceberam que o Canto de Sereia dos agroquímicos não era para eles. Contaram-nos suas frustrações ao começarem a usar adubos químicos e agrotóxicos e não perceberem resultados.  
O de chapéu é o D. Manuel


    Hoje fertilizam com adubos verdes, estercos de cuy, coelho, gado, cabras. Usam biofertilizantes para proteger seus cultivos, estão envolvidos em um esquema regional de certificação participativa e vendem diretamente seus produtos.  Perguntamos a Dona Rosa se ela trabalhava muito, ela respondeu: “Não, o trabalho não é muito duro”. Me lembrei de Fukuoka, agrônomo japonês, que dizia que “o agricultor deve ter tempo de ler poesia”. 
Don Manuel nos deu uma aula de fertilidade dos solos. Também nos falou que “Nós trabalhamos pela saúde da população, não apenas de nossas famílias”. Que elegância... me lembrei que Don significa de origem nobre. Muito bem empregado neste caso. Grande Don Manuel!
Agora estou aqui, fim de tarde, no Café Áustria, no centro histórico de Cuenca. Um expresso, um entardecer, escrevendo sobre um dia especial. Preciso de mais alguma coisa? Preciso de mais nada...


Dona Rosa ao centro e alguns alunos do Mestrado

2 comentários: