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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Nuremberg, 15 de fevereiro de 2019



Mais de mil novos produtos foram apresentados este ano
Terceiro dia de Biofach. A maior feira de produtos orgânicos do mundo. Aqui se reúnem produtores, comercializadores, certificadores e empresas que desejam importar matérias primas ou comprar produtos processados. Também quem trabalha com máquinas, equipamentos ou embalagens de interesse do setor. Consultores, pesquisadores ou membros de ONGs, como eu, são cada vez mais raros. Ao longo dos anos, a feira se fez mais ligada ao negócio, menos ao idealismo que originalmente caracterizou o movimento de Agricultura Orgânica. Para quem ainda acha que este negócio de agricultura orgânica é coisa de poetas e sonhadores, como se o mundo pudesse desses prescindir, vir aqui pode ser uma surpresa. Os poetas e sonhadores perderam espaço, o business as usual se sobrepôs.
Povo local, fazendo sua cerveja e vendendo na
Alemanha - agricultura orgânica roots na Biofach!
Eu, que se tivesse que escolher me colocaria mais ao lado da poesia que do ouro, não creio tanto nesta divisão. Existe um espaço de interseção nestes, mundos que geram iniciativas muito interessantes. Hippies que se fizeram empresários e empresários que começaram a ver seu negócio para além do sucesso financeiro, criaram e seguem criando empreendimentos prósperos e promissores, gerando bem estar para muita gente. Na Biofach existem muitos exemplos. Um prazer conversar com eles e descobrir suas motivações.
O negócio da Agricultura Orgânica cresceu muito. Já falei ontem aqui no blog que no mundo são 70 milhões de hectares reconhecidos como de cultivos orgânicos, números de 2017. Neste mesmo ano o mercado girou em torno de 100 bilhões de dólares.
Presença do Brasil na Biofach
O número de agricultores certificados como orgânicos também cresceu bastante. São quase três milhões em todo o mundo. O país que lidera é a Índia, com 835 mil. Uganda em segundo lugar com pouco mais do que 210 mil, México em terceiro, com 210 mil e em quarto lugar Etiópia, com 204 ml agricultores certificados como orgânicos. Nesta estatística Brasil parece com 15 mil produtores.
Número que considero interessante são os EUA: menos de 15 mil hectares certificados, cerca de 0,5% da sua área agricultável considerada orgânica, mas detém 45% do mercado mundial destes produtos. Ou seja, por um lado os produtores estadunidenses terão que acordar para a expressiva demanda dos seus consumidores, por outro o país seguirá como ativo importador de produtos orgânicos por um bom tempo.
AmazoniaBio, empresa com sede na Europa e que vende
produtos amazônicos
Falando um pouco do Brasil, a presença é a mais tímida que vi desde 2003, primeira vez que estive na feira. O apoio que sempre foi dado para que organizações de agricultores familiares se fizessem presente desapareceu. Algumas empresas vieram por conta própria. Vendendo açúcar, castanha de caju, grãos, mel, baru, matérias primas para cosméticos. Mas, dentro do que vi, os produtos amazônicos se sobressaem. Possuem grande apelo sócio ambiental no mercado europeu, norte-americano ou japonês, além de muitas vezes um reconhecido valor nutricional. Castanha do Pará e, principalmente, açaí. Tanto em polpa quanto em pó. Também cupuaçu, pupunha, guaraná. Empresas como Amazon 100%, com sede em Belém e uma espécie de subsidiária em Liége, na Bélgica, para distribuir com mais facilidade no mercado europeu este produtos originários da Amazônia. 
Amazon 100%, stand do Brasil.
Ou a Petruz, que vende açaí há um tempo e recentemente entrou no mundo dos orgânicos. A Plantus vende óleos essenciais, muitos deles de produtos do Norte do país. Esta ideia de que a economia da Amazônia pode ser pujante com suas árvores de pé é muito interessante e deveria ser melhor avaliada e explorada. Crer na soja como elemento de desenvolvimento para a região Norte do Brasil e seu povo é de um primarismo que eu imaginava já superado. Não. Infelizmente esta visão, que simboliza um modelo que foi mas nunca deveria haver sido, está vigorosa e tem no atual governo e seu mal informado ministro do meio ambiente um defensor. Lástima.
Açaí bombando, esta empresa é de Porto Rico
Bom, me deprimi agora, falando sobre isso. Acho que vou ter que caminhar um pouco mais, comer uns chocolates, uns queijinhos e quem sabe tomar uma taça de vinho. Tudo isto orgânico e de graça... pensa se eu gosto!
Hoje à noite tem uma tradicional janta na própria feira, meio que de despedida. Comilança orgânica para mais de mil pessoas. Amanhã a Biofach funciona à meia pressão, muitos expositores desde cedo se preparando para regressar à casa. Mais uma edição terminou, quem sabe ano que vem retorno. Agora é regressar ao trabalho cotidiano e dar um jeito deste ano ser um bom ano, mesmo com perspectivas pouco alvissareiras.
Castanha do Pará, stand da Bolívia


3 comentários:

  1. Bom dia, Amigo... Agradeço e desejo que continues compartilhando as informações sobre a agricultura orgânica. Um abraço fraterno, Marco Antônio Bilo Vieira.

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  2. Deprimente a situação do nosso país. Quiçá um dia a coisa melhore. Esperar para ver.

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  3. Laércio,
    Obrigado pelas informações.
    "Nao podemos se entregar prós homens"
    Abraço

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