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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Lima, Satipo e Pangoa, 08 e 09 de outubro de 2017


Visual do evento de hoje, em Pangoa
Outra vez no Peru. Outra vez a trabalho. Cheguei ontem, domingo, passei algumas horas em Lima, em uma reunião preparatória para a semana e um almoço bem peruano, tiraditos de peixe. Depois viajamos toda a noite de ônibus e hoje o dia foi de intensas atividades entre Satipo e Pangoa, dois municípios da região de Jurin, que abarca partes da Serra e da Amazônia Peruana.
Tiraditos (peixe cru, cozido no limão) com diversos molhos
Estou aqui visitando a Cooperativa Agrária e Cafetalera de Pangoa, que reúne campesinos e indígenas amazônicos que produzem principalmente café e cacau, destinados à exportação. Quem me convida é Terra Nueva, ONG Italiana e a ANPE (Associação Nacional de Produtores Ecológicos). Quarta viajo para Huanuco, seis horas de carro, centro do país, para o ENPE - Encontro Nacional de Produtores Ecológicos. Sei que ao ler isto alguns pensarão: "Que trabalho legal". E é. Não me canso de repetir, quem faz o que gosta não trabalha, se diverte. 
Vou descrever algo da viagem desta noite. Mais de dez horas de ônibus. Os países andinos, entrecortados pela cordilheira, tem uma geografia peculiar. Em poucas horas se pode sair do nível do mar e subir a três, quatro ou cinco mil metros. Hoje eu fiz isto. Sai de Lima, bordeada pelo Pacífico, e dez horas depois cheguei a Satipo, 600 metros sobre o nível médio do mar. 
Visual da viagem, já na amazonia, foto tirada do ônibus
No caminho passei por Ticlio, o segundo ponto mais alto do mundo em uma estrada asfaltada: exatos 4.818 msnm. Não é a primeira vez que passo aí e também não é a primeira vez que passo mal. Dor de cabeça e enjoo, o que eles aqui chamam de "mal de altura" ou "sorocho". Já aprendi a prevenir e comprei uma "sorocho pills", um remédio a base de AAS, Salofeno e Cafeína. Ajuda bem, mas mesmo tomando três comprimidos senti os sintomas.
Menininha nomatsiguenga
Em Satipo ficamos, Carlo (de Terra Nueva), Felimon (presidente de ANPE) e eu, apenas uma hora entre hotel e café. Precisamos sair rápido para o município de Pangoa. O dia todo em um evento com sócios da cooperativa, onde minha tarefa foi contar o que fazemos no Sul do Brasil para desenvolver a Agricultura Ecológica. Tarefa difícil. Uma sala que mais lembra uma varanda, toda em meias paredes, clara, em parte fechada por lonas plásticas pretas, folhas brancas coladas servindo de tela branca, galera cansada, muito quente e me colocaram para falar depois do almoço... eu mereço! Fiz o que pude, mas cada vez mais sabemos que esta metodologia de palestras, ainda mais em condições que dificultam a concentração, deve ser usada só em raras situações.

Pequena feira expondo produtos locais.
Não vou contar o que falei, mas sim duas curiosidades sobre a realidade local. Os sócios da cooperativa são principalmente de duas etnias. Os Nomatsiguenga, com suas Kushmas (espécies de túnicas) com variações de cor laranja. E os Ashaninkas , que costumam utilizar Kushmas em tons de azul. Para quem não se lembra as roupas costumam identificar as etnias locais. Por vezes nem se diferenciam pela roupa, mas por detalhes de chapéus, colares ou outros adereços. Também é comum que os adereços demonstrem as tarefas ou posições de cada um nesta sociedade. Quem vê de fora acha que é tudo igual, mas quem conhece a cultura local identifica as diferenças.
Este companheiro indigena me
deu a coroa dele... em sinal
de agradecimento...
Vou contar outra característica da região amazônica, tanto faz se aqui no Peru, no Brasil, Equador ou Colômbia. As distância e as dificuldades de locomoção são um caso à parte. Já tínhamos começado o evento quando chegou um grupo de participantes. Carlo me contou que para chegar eles caminham cerca de seis horas até chegar à estrada, quando pegam uma Kombi, transporte privado local, e viajam mais nove horas até chegar aqui. Isto porque é época de seca e as estradas estão boas... êh mundão este que vivemos, com seus múltiplos mundos que o compõe. 
Vou ficar por aqui. Dia intenso, depois de uma noite viajando, um calor amazônico é um dia inteiro entre ouvir e fazer palestras. Mas sigo achando que mais me diverti do que trabalhei.

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