Pesquisar este blog

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Nuremberg, 12 de fevereiro de 2016.

Vivaness, a feira de cosméticos naturais e orgânicos.
Vir à Biofach é ver, conversar e refletir o tempo todo sobre a produção orgânica. Este já é o tema no qual penso a maior parte do meu tempo, estando aqui o quadro se agrava.
Um assunto interessante, por exemplo, é sobre a crescente tendência de industrialização da produção orgânica. De certa forma, natural. Da laranja se faz suco, do trigo pão e do leite queijo. Aumenta a diversidade e amplia disponibilidade de alguns produtos. Mas, à medida que o mercado cresce, aumenta a demanda e a concorrência pelo consumidor. Para estar preparado para esta concorrência, a opção muitas vezes é oferecer produtos orgânicos similares aos convencionais, alguns deles que nós poderíamos chamar de super processados. À laranja se junta outras frutas, um pouco de ácido cítrico, permitido pelas regras da agricultura orgânica, às vezes açúcar e embala-se num tetrapack. O trigo se transforma em pão de forma branco ou em biscoitos wafer de limão ou chocolate. O leite pode também ser vendido em tetrapack e muitos queijos deixam de ser artesanais para serem produzidos em grande escala, pasteurizados e comercializados em sofisticadas embalagens.
Café no Basic. Ao fundo, prateleira com chips.
    E tem mais. Sopa de pacote, mistura para bolos, batata frita também empacotada, molhos prontos. Estou escrevendo este parágrafo tomando um café sentado na pequena lanchonete do Basic, o supermercado orgânico que já mencionei aqui no blog. Um dos produtos que vejo é um saquinho com vegetais chips. Cenoura,  rábano, beterraba e batata doce. Ao lado salgadinhos de milho tipo doritos. De diferentes cores e sabores. Também estão expostas verduras super-refrigeradas.
            É bom lembrar que todo este processamento é feito com uma elegância que raramente se acha na indústria convencional. Batatas fritas com pouco ou sem óleo, pouco sal, sem corantes ou flavorizantes artificiais. Mas sabemos que, via de regra, quanto mais processamos um alimento mais perdemos de suas características originais e menos propriedades nutricionais ele tem. No mundo orgânico  existe também uma preocupação com embalagens mais corretas do ponto de vista ambiental, mas ainda não se superou completamente o plástico, o tetrapack ou as embalagens secundárias. 
Alface embalada com com caixa  de
papelão e saco plástico.
         Podemos agregar mais algumas variáveis a esta equação. Como a distância que o alimento percorre do produtor ao consumidor. Neste caso, estou falando da distância geográfica e não dos eventuais elos de transformação e comercialização que também afastam as pontas da produção e consumo. Em tempos de preocupação, mais do que justa, com o aquecimento do planeta, é bom lembrar que cada km percorrido significa um tanto a mais de carbono emitido, agravando o problema. A agricultura orgânica advoga que uma de suas vantagens é exatamente emitir menos gases estufa do que a produção convencional. Ora, o benefício de evitar emissões indesejáveis na produção não deveria ser superado pelo custo do produto circular a longas distâncias. Existe uma conta a ser feita que determina o encontro entre este benefício e este custo ambiental. Ultrapassar este ponto é aceitar que o produto orgânico também é um emissor líquido de carbono.
     Esta linha de raciocínio não elimina as vantagens da produção orgânica, mas deve nos deixar atentos sobre qual rumo queremos dar a esta iniciativa.
Leite se soja, aveia, arroz, alpiste e outros.
     Esta prosa não é para desmotivar quem produz ou consome alimentos orgânicos. São apenas algumas reflexões que, por vezes, não é realizada por quem faz cotidianamente, e sem perceber, uma opção na gôndola de um supermercado. Ou, antes disto, opta entre ir em uma feira local ou a uma grande cadeia distribuidora. Como sabemos, comer não é só comer, nem escolher é só escolher, tem um mundo de consequências por trás de cada decisão que tomamos.
      Há anos, aqui mesmo na Biofach, conversei com um californiano que me falava do seu trabalho que era "beyond the organic". Ou seja, para além do orgânico. E neste além ele colocava o foco no produto local, consumido in natura ou com processamento mínimo.
      É, pensar nisto cansa, acho que vou tomar um chá, indiano, orgânico, que ganhei aqui na Alemanha. E depois dormir.

Suplementos alimentares orgânicos, ou seja,
feitos a partir de produtos orgânicos.

Um close em um dos produtos da foto acima.

Chips, chips e chips.

Comida para bebê. Muita embalagem
para pouca comida.

Um comentário:

  1. è vero meu amigo, estamos vendo a velocidade em direção ao supermarket organico, mas o além do orgânico, pra mim, ainda é o que é. No mais , Menos é mais. Menos distância, menos mãos a passar, menos embalagem. Isso é mais. Comer local organico, abraços!!

    ResponderExcluir