Pesquisar este blog

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Santiago, 07 de dezembro de 2016.

La Chacona
Meu dia foi quase todo passeando por Santiago. É uma capital bonita, entrecortada por morros e ladeada pelos Andes. Por onde andei, ruas bem cuidadas e arborizadas. Vários parques colocam ainda mais verde na paisagem urbana. 
Rua no Bella Vista
Saí do meu hotel, no bairro Providencia, e fui direto à casa de Neruda, que fica em Bella Vista. Antigamente Bella Vista seria chamado de bairro boêmio, mas hoje deve ser cool, hipster, descolado, milênio - sei lá. Minha filha sempre tenta me explicar as diferenças mas eu não entendo. Vou ficar com legal. Bella Vista é um bairro muito legal. E é lá que está La Chacona, uma das três casas onde morou o poeta Pablo Neruda, um dos maiores escritores do século XX, e que hoje funcionam como museus. As outras são La Sebastiana em Val Paraíso e Isla Negra, que fica nesta ilha decantada por ele em seus versos. Chacona é um nome quéchua que significa descabelada, apelido pelo qual Neruda chamava a Matilde Urrutia, sua amante que se converteu na última das três esposas que ele teve e com quem ficou até sua morte, em 1973. 
Rivera retrato a Matilde de perfil e frente
no mesmo quadro. De quebra,colocou
um perfil de Neruda em seu cabelo
Sempre acho inebriante estes espaços, onde podemos entrar em algo da atmosfera e na vida destes personagens tão marcantes. Seu espírito irrequieto, seu senso estético e sua cultura se fazem notar em cada espaço da casa. Além de suas notáveis amizades, como com Diego Rivera, grande artista mexicano. Na parede de um dos cômodos da casa vemos um quadro pintado por ele com um retrato bastante original de Matilde.
Passei o dia com uma dose de emoção tilintando em mim, por esta visita a Neruda. Não é dos poetas que mais li, mas sua vida e obra emocionam. Ele no "O carteiro e o poeta", ensinando o carteiro a fazer verso. Ou nos deixando algo como: "Amo o amor dos marinheiros, que beijam e se vão / em cada porto uma mulher os espera / os marinheiros beijam e se vão / um dia, deitam-se com a morte no leito do mar". Ou "porque em noite como estas eu a tive entre meus braços / ... / é tão curto o amor e tão longo o esquecimento". Ou militando com Diego Rivera e García Lorca por um mundo mais justo. Sim, não é à toa que me emocionei.
Visual do Mercado La Vega
Acompanhado de uma gostosa nostalgia, saí de La Chacona e fui andando pela rua Antônia Lopez de Bella, passando por uma zona de intenso comércio popular e cheguei ao Mercado La Vega. Um dos maiores que já vi, acho que porque mistura atacado e varejo de frutas, hortaliças, nozes, castanhas, frutas secas. Mas vende tudo, carne, peixe, cereais, comidas para cachorro, roupas, e por aí vai. Para quem gosta de ambientes organizados e cheirosos, não recomendo. Mas bem oportuno para ver e sentir algo local, seus produtos e dinâmica de negociação. Eu gostei muito de conhecer.
Segui caminhando, passei pelo Mercado Municipal, agora transformado quase todo em um espaço para restaurantes mais turísticos. Este sim, mais tranquilo e organizado. e com algumas lindas bancas de peixes e frutos do mar, frescos.
Mercado Municipal de Santiago
Do Mercado Municipal segui pelo Paseo Puente, um dos calçadões no centro da cidade, até a Plaza Mayor. Muita gente, limpa e organizada, rodeada por seus palácios políticos e religiosos. Segui caminhando pelo centro, com paradas para almoço e cafés. Ainda com a atmosfera que Neruda me deixou, resolvi ir ao Museu de Belas Artes de Santiago. Por alguma razão acho que melancolia e arte combinam. 
Bonito o Museu, tanto o prédio como suas coleções. Destaque para José Pedro Godoy e sua exposição intitulada "História Violenta e Luminosa".
Godoy, História Violenta e Luminosa.
Fim do dia encontrei aqueles que me acompanharão esta semana aqui no Chile. José, boliviano, Rafael, brasileiro, Matilde, argentina. Na madrugada chega Vanessa, mexicana. 
Estamos aqui para mais uma etapa do intercâmbio entre Sistemas Participativos de Garantia para a produção ecológica, que o Centro Ecológico, organização que trabalho, está apoiando. Quinta e última etapa, depois de Bolívia, Brasil, México e Peru.

Cheguei um dia antes exatamente para rever um pouco da cidade, já que a última vez que estive aqui foi em 2007. Quase tinha me esquecido como Santiago é um ótimo lugar para se estar. Amanhã vamos visitar propriedades orgânicas. Pouco bom!

Azeitonas, no La Vega

Peixes, no Mercado Municipal de Santiago

Nenhum comentário:

Postar um comentário