La Chacona |
Meu dia
foi quase todo passeando por Santiago. É uma capital bonita, entrecortada por
morros e ladeada pelos Andes. Por onde andei, ruas bem cuidadas e arborizadas.
Vários parques colocam ainda mais verde na paisagem urbana.
Rua no Bella Vista |
Saí do meu
hotel, no bairro Providencia, e fui direto à casa de Neruda, que fica em Bella Vista. Antigamente Bella Vista seria chamado de bairro
boêmio, mas hoje deve ser cool, hipster, descolado, milênio - sei
lá. Minha filha sempre tenta me explicar as diferenças mas eu não entendo. Vou
ficar com legal. Bella Vista é um
bairro muito legal. E é lá que está La Chacona, uma das três casas
onde morou o poeta Pablo Neruda, um dos maiores escritores do século XX, e
que hoje funcionam como museus. As outras são La Sebastiana em Val Paraíso e Isla
Negra, que fica nesta ilha decantada por ele em seus versos. Chacona é
um nome quéchua que significa
descabelada, apelido pelo qual Neruda chamava a Matilde Urrutia, sua amante que
se converteu na última das três esposas que ele teve e com quem ficou até sua
morte, em 1973.
Rivera retrato a Matilde de perfil e frente no mesmo quadro. De quebra,colocou um perfil de Neruda em seu cabelo |
Sempre acho inebriante estes espaços, onde podemos entrar em
algo da atmosfera e na vida destes personagens tão marcantes. Seu espírito
irrequieto, seu senso estético e sua cultura se fazem notar em cada espaço da
casa. Além de suas notáveis amizades, como com Diego Rivera, grande artista
mexicano. Na parede de um dos cômodos da casa vemos um quadro pintado por ele
com um retrato bastante original de Matilde.
Passei o
dia com uma dose de emoção tilintando em mim, por esta visita a Neruda. Não é
dos poetas que mais li, mas sua vida e obra emocionam. Ele no "O carteiro
e o poeta", ensinando o carteiro a fazer verso. Ou nos deixando algo como:
"Amo o amor dos marinheiros, que
beijam e se vão / em cada porto uma mulher os espera / os marinheiros beijam e
se vão / um dia, deitam-se com a morte no leito do mar". Ou "porque em noite como estas eu a tive entre
meus braços / ... / é tão curto o amor e tão longo o esquecimento". Ou
militando com Diego Rivera e García Lorca por um mundo mais justo. Sim, não é à
toa que me emocionei.
Visual do Mercado La Vega |
Acompanhado
de uma gostosa nostalgia, saí de La
Chacona e fui andando pela rua Antônia
Lopez de Bella, passando por uma zona de intenso comércio popular e cheguei
ao Mercado La Vega. Um dos maiores
que já vi, acho que porque mistura atacado e varejo de frutas, hortaliças,
nozes, castanhas, frutas secas. Mas vende tudo, carne, peixe, cereais, comidas
para cachorro, roupas, e por aí vai. Para quem gosta de ambientes organizados e
cheirosos, não recomendo. Mas bem oportuno para ver e sentir algo local, seus
produtos e dinâmica de negociação. Eu gostei muito de conhecer.
Segui caminhando,
passei pelo Mercado Municipal, agora transformado quase todo em um espaço para
restaurantes mais turísticos. Este sim, mais tranquilo e organizado. e com algumas lindas bancas de peixes e frutos do mar, frescos.
Mercado Municipal de Santiago |
Do Mercado
Municipal segui pelo Paseo Puente, um
dos calçadões no centro da cidade, até a Plaza Mayor. Muita gente, limpa e
organizada, rodeada por seus palácios políticos e religiosos. Segui caminhando
pelo centro, com paradas para almoço e cafés. Ainda com a atmosfera que Neruda
me deixou, resolvi ir ao Museu de Belas Artes de Santiago. Por alguma razão
acho que melancolia e arte combinam.
Bonito o
Museu, tanto o prédio como suas coleções. Destaque para José Pedro Godoy e sua
exposição intitulada "História Violenta e Luminosa".
Godoy, História Violenta e Luminosa. |
Fim do dia
encontrei aqueles que me acompanharão esta semana aqui no Chile. José,
boliviano, Rafael, brasileiro, Matilde, argentina. Na madrugada chega Vanessa,
mexicana.
Estamos aqui
para mais uma etapa do intercâmbio entre Sistemas Participativos de Garantia
para a produção ecológica, que o Centro Ecológico, organização que trabalho,
está apoiando. Quinta e última etapa, depois de Bolívia, Brasil, México e Peru.
Cheguei um
dia antes exatamente para rever um pouco da cidade, já que a última vez que
estive aqui foi em 2007. Quase tinha me esquecido como Santiago é um ótimo
lugar para se estar. Amanhã vamos visitar propriedades orgânicas. Pouco bom!
Azeitonas, no La Vega |
Peixes, no Mercado Municipal de Santiago |
Nenhum comentário:
Postar um comentário