Agricultoras peri urbanas de Vila Maria del Triunfo |
O dia
começou cedo, com uma visita a uma experiência de Agricultura Ecológica Urbana
em Vila Maria do Triunfo, município vizinho à Lima. Um hectare manejado por 48
famílias, divididos em 4 grupos. Fomos muito bem recebidos pela Dona Gregória,
que nos contou que elas começaram sugerindo ao poder público a agricultura
urbana como forma de manejo dos parques que a prefeitura não tinha recursos para
manter. A Sra. Gregória conta que foi de casa em casa convidando quem tinha
algo plantado em sua casa, o que dava a ela uma pista que eles gostavam de
agricultura. Adorei essa estratégia. E que garra para fazer o que julgou conveniente.
Dona Gregória, sua linda! |
Chamadas de loucas no início, agora muitos
querem participar e ter acesso a um espaço para produção nesta área coletiva, pois além de melhorar a alimentação
da família ainda sobra um excedente para vender em pequenos mercados. Durante anos, foi proibida a participação de homens, segundo ela pelo machismo existente.
Agora, a situação mudou, e homens também participam.
São dez
hortas na região, envolvendo diferentes municípios. Buscaram a ANPE,
conseguiram ser sócias e integrantes do esquema de certificação participativa
da associação, acessando por esta via alguns mercados.
Como já mencionei, a maioria é de mulheres, que vivem na periferia de Lima, em
condições de pobreza econômica e escassez de serviços básicos. Vieram de
diferentes regiões do Peru, e posso imaginar não encontraram na capital o
que vieram buscar: o sonho de uma vida melhor, longe das condições extremas que
muitas vezes imperam no contexto da agricultura campesina no interior do país,
quase sempre não se concretiza. A maneira como as Senhoras nos receberam e pela
emoção que expressaram ao nos descreverem seus trabalhos, deixou a impressão
que estas hortas urbanas cumprem para elas o papel de ponte, entre um passado
vivido e o futuro sonhado.
Horta na periferia. |
Depois
fomos em outro distrito, visitar a duas das doze sócias do grupo Ecosumac.
Curioso nome, cosmopolita, junta o grego e o quechua e significa casa bonita. São também membros da ANPE
- Associação Nacional de Produtores Ecológicos. Dona Justina, desde 2014, produz
cuy e porcos e Alicia produz deliciosos sorvetes artesanais com frutas
orgânicas, produzidas em parte no hectare que ela cultiva.
Bom voltar
a ver a periferia de Lima. Como em quase todas nossas cidades latinas, passeios
por seus bem cuidados bairros centrais não espelham a vida da maioria da
população.
Periferia de Lima, vista desta a horta ubana de Vila Maria do Triun |
Depois do
trabalho, um breve passeio pelo Parque Kenedy, ponto central de Miraflores.
Caminhamos, compramos algo de artesanato e paramos um pouco em um dos
restaurantes da Calle de las pizzas,
uma rua muito conhecida por aqui, no coração de Miraflores, cheia de
restaurantes barulhentos e de qualidade duvidosa.
À noite fui
jantar no restobar Posada del Angel,
em Barranco. Uma linda casa, com todos seus ambientes tomados por mesas,
cadeiras, poltronas ou sofás, não necessariamente bem cuidados. A decoração do
ambiente que fiquei, tipo a sala da casa, obedece ao nome do lugar e é recheada
de anjos, a maioria católicos, sob a supervisão dos arcanjos Uriel e Gabriel.
Mas não faltam expressões de divindades hindus ou budistas. Estátua da Virgem
Maria, telefones antigos, luminárias coloridas, quadros de Charles Chaplin ou
pétalas de rosas sobre o carpete antigo também fazem parte da eclética e
ecumênica decoração. Boa comida e música ao vivo completam o cenário. Gostei,
voltaria lá.
Amanhã, reuniões e às oito da noite viagem de ônibus para Ayacucho.
Rede dos grupos de agricultura urbana |
Sempre bom ouvir sobre as mulheres, seu trabalho, força e resistência!
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