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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Lima, 16 de novembro de 2016.


Agricultoras peri urbanas de Vila Maria del Triunfo
O dia começou cedo, com uma visita a uma experiência de Agricultura Ecológica Urbana em Vila Maria do Triunfo, município vizinho à Lima. Um hectare manejado por 48 famílias, divididos em 4 grupos. Fomos muito bem recebidos pela Dona Gregória, que nos contou que elas começaram sugerindo ao poder público a agricultura urbana como forma de manejo dos parques que a prefeitura não tinha recursos para manter. A Sra. Gregória conta que foi de casa em casa convidando quem tinha algo plantado em sua casa, o que dava a ela uma pista que eles gostavam de agricultura. Adorei essa estratégia. E que garra para fazer o que julgou conveniente. 
Dona Gregória, sua linda!
Chamadas de loucas no início, agora muitos querem participar e ter acesso a um espaço para produção nesta área coletiva, pois além de melhorar a alimentação da família ainda sobra um excedente para vender em pequenos mercados. Durante anos, foi proibida a participação de homens, segundo ela pelo machismo existente. Agora, a situação mudou, e homens também participam.
São dez hortas na região, envolvendo diferentes municípios. Buscaram a ANPE, conseguiram ser sócias e integrantes do esquema de certificação participativa da associação, acessando por esta via alguns mercados.
Como já mencionei, a maioria é de mulheres, que vivem na periferia de Lima, em condições de pobreza econômica e escassez de serviços básicos. Vieram de diferentes regiões do Peru, e posso imaginar não encontraram na capital o que vieram buscar: o sonho de uma vida melhor, longe das condições extremas que muitas vezes imperam no contexto da agricultura campesina no interior do país, quase sempre não se concretiza. A maneira como as Senhoras nos receberam e pela emoção que expressaram ao nos descreverem seus trabalhos, deixou a impressão que estas hortas urbanas cumprem para elas o papel de ponte, entre um passado vivido e o futuro sonhado.
Horta na periferia.
Depois fomos em outro distrito, visitar a duas das doze sócias do grupo Ecosumac. Curioso nome, cosmopolita, junta o grego e o quechua e significa casa bonita. São também membros da ANPE - Associação Nacional de Produtores Ecológicos. Dona Justina, desde 2014, produz cuy e porcos e Alicia produz deliciosos sorvetes artesanais com frutas orgânicas, produzidas em parte no hectare que ela cultiva.
Bom voltar a ver a periferia de Lima. Como em quase todas nossas cidades latinas, passeios por seus bem cuidados bairros centrais não espelham a vida da maioria da população. 
Periferia de Lima, vista desta a horta ubana de
Vila Maria do Triun
Depois do trabalho, um breve passeio pelo Parque Kenedy, ponto central de Miraflores. Caminhamos, compramos algo de artesanato e paramos um pouco em um dos restaurantes da Calle de las pizzas, uma rua muito conhecida por aqui, no coração de Miraflores, cheia de restaurantes barulhentos e de qualidade duvidosa.
À noite fui jantar no restobar Posada del Angel, em Barranco. Uma linda casa, com todos seus ambientes tomados por mesas, cadeiras, poltronas ou sofás, não necessariamente bem cuidados. A decoração do ambiente que fiquei, tipo a sala da casa, obedece ao nome do lugar e é recheada de anjos, a maioria católicos, sob a supervisão dos arcanjos Uriel e Gabriel. Mas não faltam expressões de divindades hindus ou budistas. Estátua da Virgem Maria, telefones antigos, luminárias coloridas, quadros de Charles Chaplin ou pétalas de rosas sobre o carpete antigo também fazem parte da eclética e ecumênica decoração. Boa comida e música ao vivo completam o cenário. Gostei, voltaria lá.
Amanhã, reuniões e às oito da noite viagem de ônibus para Ayacucho.

Rede dos grupos de agricultura urbana

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