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quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Gualaquiza e Zumbi, Equador, 17, 18 e 19 de setembro de 2023

Visita a um centro cultural da nação Shuar

Domingo, saímos às cinco da manhã de Cuenca em direção à Gualaquiza. Viajamos de 2500 de altitude para 800, mas antes pasamos dos 3500. A estrada costeia as altas montanhas dos andes e, em alguns pontos, o que temos é a enorme parede de um lado e o precipício de outro. 

3500msnm, entre Cuenca e Gualaquiza
Como recheio, curvas fechadas e estradas nem sempre asfaltadas. Se com emoção fosse mais caro, esse bilhete não seria barato… 

Chegamos em Gualaquiza e fomos direto a uma feira agroecológica, inaugurada neste dia exatamente pela presença dos estrangeiros. Vamos lembrar que somos uma delegação de 12 pessoas do Brasil e outras 19 do Peru, visitando experiências equatorianas com agricultura ecológica. Passamos o dia na feira. A noite, depois da janta, a sobremesa foi uma boa conversa entre os participantes, sobre o sentido que veem nesses intercâmbios e os impactos em seus territórios e no continente.

Feira Agroecológica de Gualaquiza

Ontem, a programação foi intensa. Pela manhã, três momentos. Uma visita à uma área da APROCAG (Associação dos produtores agroecológicos de Gualaquiza), para que os visitantes estrangeiros pudessem dar sugestões sobre possíveis caminhos do que fazer em um espaço recentemente conquistado. Depois, fomos na prefeitura de Gualaquiza, para um momento mais formal com o prefeito, secretários e vereadores. Ainda de manhã, tivemos tempo de visitar “La Vieja Molienda”, um bonito trabalho com produção de cana e derivados, como açúcar mascavo, cachaça, melado e outros.

De tarde, uma visita super interessante: fomos a um Centro da Cultura Shuar. Os Shuares são uma das tantas etnias do Equador. Aqui, eles utilizam mais o termo “nação”. Neste caso, Nação Shuar. Por isso, a constituição equatoriana afirma que o país é um Estado Plurinacional. Acho que são 14 nações (etnias), que formam o estado equatoriano. Na Bolívia ocorre algo parecido, e essa foi uma conquista recente dos povos indígenas, as constituições destes países foram reformuladas nos anos 2000. 

Habitação Shuar
Como sempre ocorre em uma visita como essa, um pequeno mergulho em comunidades autóctones nos traz um mundo de vivências, percepções e reflexões. Bonito ouvi-los explicando sobre suas moradas, tendas redondas feitas em madeira e folhas locais. Ao centro, uma viga de madeira que significa a união da mãe terra ao céu. Por sinal, simbologia presente em inúmeras culturas. A forma circular da tenda nos faz lembrar o planeta, como estamos integrados a ele e como devemos cuida-lo. Outra coisa interessante que ouvi do Ismael, o guia local, quando nos mostrou alguns instrumentos da sua cultura foi sobre um tambor, feito do caule de determinada árvore. Deste tambor se emite diferentes sons que, por sua vez, tem diferentes significados. Chama as pessoas para uma cerimônia, comunica um nascimento ou falecimento ou dá qualquer outro tipo de notícia. Mas… hoje… menos se usa essas formas de comunicação porque os instrumentos contemporâneos, WhatsApp incluído, faz a tarefa de se comunicar cada vez mais fácil. Eu sei que não há novidades aí, na real sempre foi assim, esse tipo de evolução é parte da nossa história. O que acho bacana é ver realidades onde os tempos históricos de certa forma se comprimiram e se mesclaram, reduzindo a décadas processos que em outros contextos foram centenários. 
fomos recebidos com pintura

Bom, tem muito o que contar dessa visita, vou mencionar mais três coisas: lindo ouvir sobre seus cantos de permissão à natureza, cada um para um momento específico, como caça, pesca, plantio, celebrações. Eles também fazem, a seu modo, a cerimônia da Ayhuasca (Natem, para eles e em várias línguas amazônicas), e expressaram sua preocupação com a forte tendência a comercialização destas cerimônias. Pelo lado menos bonito, sofrem a ameaça recente da intensa mineração muito próxima aos seus territórios, que polui seus rios e provoca impactos em seus modos de vida. Muito legal a oportunidade de ter contato com algo da Nação Shuar.

Hoje, terça-feira, saímos de Gualaquiza e viemos para Zumbi. Aqui visitamos uma Associação de Produtores de Cacau e Derivados, a ASOPROMAS. Sempre bonito ver cacau à campo, ouvir sobre seu manejo, depois pós colheita e processamento, provar seus derivados e ainda comprar algumas delícias com cacau agroecológico produzido por associações locais.

Entregando meu livro à família Paz
Visitamos também uma bela finca super diversificada, com cacau e vários outros cultivos da região, onde almoçamos, da Nancy Paz e seus pais, José e Livia. Depois, mais duas horas de viagem por estradas sinuosas que margeiam um andes tropical, muito bonito de ver, até Loja (se pronuncia lôrra), famosa por seu café, e onde passaremos os próximos dois dias. Depois conto sobre esta bonita cidade do sul do Equador.






Visual de uma banca do mercado de Gualaquiza

Com Sandra e outro amigo Peruano, na feira!

Visita À nacçao Shuar

Jardineira que nos levou ao Centro Cultural Shuar

Prosa com o povo do cacau

Cacau!


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