Fim da tarde em Nuremberg |
Cheguei ontem a Nuremberg, sul da
Alemanha. Mais uma vez para a Biofach,
a maior Feira de Produtos Orgânicos do mundo. Isto é o que dizem os
organizadores. Sempre tenho dúvida, afinal, os números coletados para definir o
tamanho desse mercado apontam que metade dos noventa bilhões de dólares
movimentados neste seguimento vêm dos EUA. De todos modos eu já busquei
informações e parece que sim, a Biofach
merece o título de maior do mundo.
Evento de hoje sobre Bioeconomia |
Ontem, vim de Porto Alegre por Frankfurt
e de lá peguei um trem aqui para Nuremberg. Sou da old school, daqueles que veem charme e elegância em trens...
Mas o trem não pôde chegar a
Nuremberg. Desviou e nos deixou em Fürth,
cidade vizinha, já que há poucas horas havia sido encontrada uma bomba na
estação central de trem, de origem Norte-Americana e lançada na segunda guerra
mundial. Nuremberg tem toda uma história em relação a essa guerra. Aqui é um
dos berços do nazismo, e também foi aqui que o julgamento mais importante do
pós guerra ocorreu, quando muitos nazistas foram condenados, alguns ao
enforcamento, pelo que fizeram. O Julgamento de Nuremberg foi presidido por um
Inglês e sua preparação teve um papel preponderante dos EUA (acho que não
mandam só no mercado de produtos orgânicos...).
É impressionante também como
a cidade foi duramente bombardeada. Passeando pelo centro histórico é
comum encontrarmos fotos que mostram seu estado quando a guerra chegou ao fim.
Ela também é um símbolo da capacidade que o povo alemão teve de reconstruir seu
país. Principalmente as mulheres, pois muitos homens estavam mortos ou mutilados. O centro histórico de Nuremberg, totalmente devastado há setenta anos, é
um primor de beleza e cuidado. Outro sinal da organização alemã é vista neste
próprio incidente com essa bomba. Em função do seu tamanho, 45 quilos, eles
determinaram uma área de evacuação de um raio de 300 metros. Significa que
ontem 4000 pessoas deixaram suas casas. Este tipo de episódio é razoavelmente
comum no país. Li que ainda existem dezenas de milhares de bombas que não
explodiram e ainda não foram encontradas.
Outra do seminário de hoje |
Pois é, mas justamente quando eu estava
chegando acham uma bomba que foi lançada há mais de sete décadas? Tomei como
sinal de boa sorte, esta viagem vai bombar... tá, prometo caprichar mais no
próximo trocadilho!
Da estação de Furth, peguei o metrô e, ao descer, fui caminhando sobre a
neve. Tão lindo, né? Um frio do cão, me molhando e tendo que andar devagar,
porque o gelo, misturado com a sujeira é escorregadiço. Tudo lindo... Enfim,
achei o apartamento onde me hospedarei junto com outros seis companheiros de
trabalho, brasileiros e alemães. Este tal do Airbnb tem me feito relembrar a vida em república. É verdade que em
outras épocas parecia mais divertido, isto antes de eu virar um ermitão.
Mas tudo bem, me adapto.
Hoje foi dia de trabalho. Eu sempre tenho
dificuldade em chamar de trabalho um dia onde fico sentado ouvindo palestras,
tomando café e falo apenas por dez minutos. Passo muito mais trabalho para
escrever uma poesia ou cuidar da minha pequena horta... Enfim, passamos a manhã
em um seminário debatendo a Bioeconomia,
termo novo, consagrado na Rio+20 e hoje muito usado para vincular negócios rentáveis
e sustentabilidade ambiental. De certa forma um novo rótulo para práticas
antigas, como aproveitamento de resíduos para serem fontes energéticas ou uso
de microrganismos na agricultura para minimizar fertilizantes ou venenos. E
fica o temor que nesta nova expressão a economia do termo leve o bio apenas como dama de companhia, para
abrir as portas dos salões dos lucros dissociados de um verdadeiro compromisso
com o meio-ambiente. Difícil separar o joio do trigo entre todos que usam este
termo.
Entardecer no centro histórico de Nuremberg |
Na parte da tarde, ainda sob o
guarda-chuva do termo bioeconomia,
foram debatidas possibilidades de mercado para produtos oriundos da Amazônia
brasileira, no âmbito de um projeto que vem sendo desenvolvido em nosso país
pela GIZ, agência alemã de cooperação internacional.
E assim foi meu dia. Com direito a rever
alguns amigos e no fim da tarde passear um pouco, no frio, no centro da cidade.
A transição entre a tarde e a noite
estava uma lindeza. Frio, céu limpo, a natureza fazendo escuro e as luzes da
cidade buscando mantê-la acordada um pouco mais. Bonito de emocionar.
Goulash de porco com pasta |
Escolhi para jantar um pequeno
restaurante alemão. Apenas três mesas e um balcão em L para oito pessoas. Todo
em madeira, boa cerveja e cara de bem local. Nunca havia ido nele e gostei
muito. Comi um goulash de porco com
macarrão parafuso. No restaurante com jeito local, comi um mix de comida húngara e italiana acompanhado de cerveja alemã. Esta
é a globalização que eu gosto!
Amanhã tem Biofach, conto algo de lá!
Onde jantei. Bem legal! |
Muito bom este primeiro dia!Vamos aguardar os próximos ...
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