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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Cordilheira do Himalaia, 14 e 15 de novembro de 2017.

Eu e meus anfitriões.
Vivemos muitos tempos ao mesmo tempo, cruzados em determinado espaço. Acho que do ponto de vista da física esta afirmação está equivocada, mas não sei expressar de outro modo o que tenho visto aqui na Índia e em particular o que vivi nestes dois últimos dias.
O grupo da viagem, 42 pessoas.
Segunda feira, dia 13, saímos de Délhi à meia noite, longas cinco horas depois do previsto, em direção ao Norte do país, uma cidade chamada Nainital, já Cordilheira do Himalaia. De lá seguimos para a vila Supi Ramgarh, uma comunidade rural relativamente isolada. Para cruzar os menos de 35O km foram onze horas de caminho em uma Van para 16 pessoas, apertada e desconfortável. A viagem pelas estradas estreitas, sem acostamento, curvas fechadas, com gente caminhando às suas margens e a forma camicaze como eles dirigem não foi exatamente agradável. Mas os dois dias e uma noite que passamos lá foram muito interessantes. 
Vista de parte da vila Supi Ramgarh
Ficamos, como eu disse, em uma comunidade de agricultores, nos hospedando com eles em pequenos grupos de duas ou três pessoas. Mais precisamente agricultoras, porque foi um consenso entre os visitantes que quase só vimos mulheres trabalhando no campo. 
Nosso quarto - onde melhor dormi em toda minha viagem
Os visitantes fomos agrupados em grupinhos de dois ou três e fomos para diferentes casas, onde nos alojaram quartos de hóspedes que eles construíram com apoio de alguma ONG. Muito legal. Eu e Marcelo fomos afortunados com nossos anfitriões. Seus nomes: Shankar Bisth e Chandra Dave e os filhos Krishna e Vikram. Os jovens falavam um inglês suficiente para a comunicação, o pai só algumas palavras e a mãe, sempre lindamente vestida, nada. Ainda assim nos entendemos, com um namastê, um thanks ou alguns gestos. Nos trataram muito bem, com destaque especial para a comida preparada com muito esmero, a melhor que comi nestes dias, à base de produtos cultivados por eles e servida no chão, sobre uma toalha sempre limpa.
Os banheiros eram fora de casa,  o que em algumas zonas rurais do Brasil é ainda comum, um para banho de caneca e outro com uma patente ao chão, o que nos exige joelhos fortalecidos. Tudo muito bem cuidado. 
Ferrarreria do povoado
Deixa eu voltar um parágrafo e dar um exemplo do que tentei dizer sobre os tempos cruzados. Aqui na comunidade tem um ferreiro. Muito muito artesanal. Forno bem pequeno para temperar o ferro, pedra para batê-lo, fole tocado à mão via uma manivela para maior eficiência. Vi marretas, plainas e foices feitos de forma totalmente artesanal. E na mão do ferreiro um celular. Uma atividade profissional anterior à revolução industrial turbinada por uma tecnologia que só se popularizou no século XXI. Sempre gosto destas cenas e não é a primeira vez que descrevo algo assim no blog. Aqui vi vários exemplos como este, mas não só aqui, com olhos atentos veremos que muitos tempos se entrecruzam nos nossos cotidianos.
Ontem depois do almoço descansamos um pouco da noite não dormida e demos uma volta pela comunidade. Cedo se fez noite e depois do luxuoso jantar nos recolhemos. Não sem antes ter a oportunidade de ver a senhora Chandra preparar o chapati, o pão mais comum por aqui, na sua própria cozinha, simples e bem equipada, com utensílios de primeira, principalmente de aço inoxidável. 
Comemos chapati com dois pratos diferentes, um à base de batata e outro à base de folhas de mostardas. Tanto no almoço quanto na janta nos ofereceram um pote de iogurte natural, muito bem feito por eles. 
Na cozinha, com a Chandra
Ao escurecer a temperatura começou a cair, e muito, afinal estávamos a mais de dois mil metros de altura. Nosso anfitrião trouxe para nosso quarto uma pequena “lareira portátil”, com brasas ardendo sobre um recipiente de latão. Um braseiro. Para tudo neste mundo há uma solução simples e barata...
Acordamos hoje, eu e o Marcelo, quase nove da manhã, depois de onze horas de sono quase direto, quebrado por um xixi encapotado e ao tempo gélido (menos de dez graus). Tomamos um chá de massala, ficamos conversando um pouco sobre a lida deles e fomos passear, visitando casas na mesma Montanha, algumas delas também com pessoas do nosso grupo. Sim, a Montanha com maiúscula é de propósito.
Não sei se pela época, com as lavouras de verão já colhidas, mas talvez o cultivo anual que eu tenha mais visto aqui seja maconha, dentre pomares de maçã que dominam as áreas cultivadas. O senhor me contando que fuma e fica assim ó: neste momento ele pôs suas mãos ao ar, esticou seus braços na lateral, fechou os olhos e meteu um sorriso no rosto. Ri muito...
"Lareira" portátil.
Almoçamos, trocamos fotos e presentinhos, nos despedimos e descemos a montanha, nos encontrando com todo o grupo outra vez. Mais fotos e começamos a longuíssima viagem de volta. Pneu furado, engarrafamento ao cruzar algumas cidades, banheiro, lanches e janta (no restaurante de um Hotel Radisson que estava à beira da estrada. Acho que alguns europeus queriam um ar mais refinado...). E ainda teve uma longa discussão entre os motoristas e nossos anfitriões, renegociando valores relativos às gorjetas da viagem, só resolvida com a chegada da polícia. Como a conversa toda durou mais de uma hora, depois da meia-noite, foi em híndi e eles não me contaram nada, eu mesmo coloquei legenda... Tudo isto fez a viagem de volta ser ainda mais longa. Um total de 16 horas para 350 km. Duvida? Você não imagina as coisas que acontecem neste país... Eram seis da manhã quando chegamos ao ponto de partida. Peguei um táxi para o hotel em que ficarei nas próximas duas noites, onde cheguei às sete da manhã. Este dia que começa conto amanhã. Tenho só dois dias de Deli antes de voltar para casa!

Almoço luxuoso

Pimentas, ervilha, feijão e maconha...

A Van...

A Van por dentro... pensa...

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