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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Maputo, Moçambique, 20 a 22 de agosto de 2018

Visitando as machambas, em Maputo
Cheguei em Maputo, capital de Moçambique, ainda no domingo. Estou aqui a convite de Abiodes, ONG local que dede 1996 trabalha com Agricultura Orgânica. É a terceira vez que estou aqui, sempre acompanhando este trabalho que vem sendo denominado de Cadeia das Hortícolas Sustentáveis de Maputo.
Já foram três dias de trabalho. Segunda-feira, reunião para me inteirar das atividades que vêm sendo desenvolvidas, ontem, ida a campo, a melhor parte, e hoje, quarta-feira, uma formação, onde reunimos cerca de 60 pessoas, entre agricultoras, agricultores, técnicos e técnicas de ONGs e governo.
Cinturão verde de Maputo e suas machambas
Estar na África que fala português é uma experiência à parte. Tudo tão longe e tão perto. Moçambique está na costa do índico e é surpreendente ver as similitudes culturais conosco. Surpreende, mas não deveria, basta dar uma olhada na formação da nossa nação e ver a influência negra e portuguesa. Nada mais óbvio que nos ver por aqui, no cafezinho, na padaria com ar Lisboeta, no bolinho de bacalhau, na forma expansiva de se expressar ou no sorriso fácil em meio a dificuldades.
Moçambique é um país economicamente pobre, o que nos exige atenção no desenvolvimento da agricultura orgânica. O modelito europeu, reproduzido na maior parte do mundo, é de uma produção orgânica que deve ter reconhecido seu valor por um preço diferenciado. Se por um lado é justificado este anseio por parte dos agricultores em países como Moçambique, que são obrigados a sobreviver  com preços agrícolas bastante aviltados, por outro não se pode limitar a oferta dos produtos sem veneno a quem pode pagar mais por sua comida. Ter bom conhecimento técnico-agronômico, para fazer que a produção orgânica seja mais barata e menos penosa é um ponto crucial no intento de resolver esta equação. E foi este aspecto que mais trabalhei na minha ida a campo ontem e na capacitação hoje.
No campo, de prosa...
O trabalho aqui é no cinturão verde de Maputo, uma impressionante área agrícola muito perto da cidade. Áreas de hortas pequenas, cerca de 400 a 2000 metros quadrados, o que também impõe procedimentos que muitas vezes não guardam relação com princípios da agricultura orgânica, como produzir seu próprio adubo a partir de dejetos animais. Ou deixar parte da área em pousio ou adubação verde, ficando alguns meses sem cultivo comercial em determinado espaço. Aqui não rola, a pressão por produzir de forma intensa é vigorosa. Enfim, realidades distintas, o que faz meu tutano, que não é muito, e minha experiência na área, um pouco maior, serem submetidas a alta pressão.
As mulheres de Maputo!
De resto, aproveitando o tempo livre para comprar capulanas e comer frutos do mar. Capulanas são os panos utilizados por todas as mulheres daqui, independente da classe social. Uma espécie de acessório obrigatório, é utilizada amarrada na cintura, sobre os ombros, para carregar bebês e inúmeros outros usos, que ultrapassam os limites do corpo e servem de toalhas de mesa, cortinas, mantas e por aí vai. Hoje de manhã, ouvindo um anúncio de utilidade pública na rádio, a locutora recomendava-a para as mães manterem seus bebes aquecidos em dada situação risco. Dizia ela: mãe, não deixe de aquecer seu filho com uma manta ou uma capulana. 
Atividade de formação
Na lida...
Ontem em uma conversa informal me diziam, o que já ouvi de outras vezes, que não é possível desvincular a imagem da mulher moçambicana de uma capulana. Desde pequenas são ensinadas a sempre terem uma na bolsa, para o caso de alguma emergência. Aliás, sigo achando as mulheres agricultoras a melhor parte de Maputo, como já havia percebido nas outras estadas aqui. Tanto a campo quanto em sala, são as mais animadas, com mais clareza sobre a proposta de agricultura orgânica, que não se limitam ao discurso, cantam enquanto trabalham e soltam um farto sorriso sem sequer pensar em pedir licença. 
Amanhã, reunião com a Comissão de Ética, formada por agricultores e consumidores de produtos orgânicos, uma instância que é gestora da Certificação Participativa que funciona, ainda de maneira tímida, por aqui. Mais um dia de trabalho e prazer misturados e em sintonia. Para usar a palavra que uma das minhas turmas mais gosta, gratidão!


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