Pesquisar este blog

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Praia, Cabo Verde, 07 a 11 de outubro de 2019

Fazendo biofertilizante, no campo.
             Outra vez ando por Cabo Verde, esse arquipélago relativamente remoto, situado em pleno Atlântico, ao nordeste de Recife e mais ou menos próxima de Dacar, capital do Senegal. Estou aqui pela segunda vez, para uma atividade muito semelhante à que fiz há exatos quatro anos: curso de agricultura biológica, contratado pelo Ministério da Agricultura. Cheguei domingo, dia 06 e saio daqui sábado, 12 de outubro. Outra vez cometo o mesmo erro, vir trabalhar e não conhecer ao menos uma outra ilha, para poder ter uma ideia melhor do país. Estou na capital, Praia, cidade que fica na Ilha de Santiago. São onze ilhas no total, nove delas habitadas.
       
Fim do dia em Praia
Praia tem 130 mil habitantes, rodeada pelo atlântico. O visual é bonito, o mar é sempre agradável de ver, mas não é deslumbrante, incrível ou algum adjetivo do gênero. Parece que em algumas ilhas sim, merece todos esses superlativos. A cidade é relativamente organizada. O centro histórico possui um casario bem conservado, arquitetura colonial portuguesa e fachadas pintadas de diferentes cores. Em algum lugar já ouvi que as casas em aldeias de pescadores são pintadas na mesma cor da embarcação do proprietário. Não sei se é o caso aqui.
                   
Quintal da música
Do pouco que vi, nas duas vezes que aqui estive, o destaque maior da cidade é a boa onda dos habitantes, a tranquilidade do ambiente, a culinária e a música. Sim, a música cabo-verdiana ganhou mundo com justiça. É linda, meio calmante, cantada normalmente em crioulo, o idioma local. Tem um toque de bossa nova, um gingado afro, uma tonalidade aveludada e uma melancolia que muitas vezes faz lembrar o fado. Procura na net Cesária Evora ou Teófilo Chantre e você vai entender o que estou falando. Outra nota boa em Praia, além da música, é a culinária. Come-se bem. Peixes e frutos do mar, preparados com forte influência portuguesa e toque dos povos africanos que vieram para cá à força, aclimatando-se para sua não menos forçada aventura em terra brasileiras. Sim, quando os portugueses chegaram nessas ilhas elas eram inabitadas. Aqui o termo colonização cabe, o arquipélago foi colonizado pelo povo luso e seus escravos africanos.
Cachupa, à base de milho, feijão e carnes é o prato mais típico, que todos insistem para que eu coma e que encontrei até nos cafés da manhã dos hotéis. Mas...
Bacalhau à Lagareira
Eu prefiro camarão ou bacalhau... Além de ser um prato muito quente para as condições do ambiente. Quando eu for à Noruega prometo pedir uma Cachupa. Brincadeira, comi duas vezes no almoço servido durante o próprio curso.
        O restaurante onde ouvi a música de melhor qualidade foi o Quintal da Música. A comida estava só razoável, mas compensada pelo ambiente, bonito, sereno e de bom gosto, com seus lustres feitos de panos com motivos locais, chão de pedras portuguesas e paredes pintadas em cores fortes, cobertas de fotografias em preto e branco, quase todas com rostos de músicos que tocaram no local. É verdade que o calor, já que o ambiente não tem ar refrigerado, tira algo da sofisticação simples do restaurante. Com a casa cheia, suei mais do que gostaria durante o jantar. Ainda assim, seria uma lástima vir a praia e não comer ao menos uma vez no 5ª da Música.                        
De prosa em sala de aula
Sobre o trabalho, a semana foi toda com um curso de agricultura biológica, nome usado, por influência portuguesa, para a agricultura orgânica por essas plagas. Atividade intensa, cinco dias inteiros, com pouco mais de vinte participantes, todos profissionais do Ministério da Agricultura de Cabo Verde. 
Foi tudo bem, a avaliação final foi muito positiva, o que sempre é bom de ouvir. De fato a demanda por essa forma de ver e fazer agricultura é generalizada, o que tem feito com que meu volume de viagens só aumente, e parte de quem produz, de quem consome ou de quem estuda e ensina agricultura.
Milho devorado, batata-doce incólume
Nas atividades à campo, tive oportunidade de visualizar a infestação de gafanhotos que vem assolando as partes mais baixas da ilha, que sofre com uma intensa seca há três anos. Esse inseto está por toda parte, no corredor ou na piscina do hotel, nas ruas e nos campos. Ver o que eles fazem nas lavouras é impactante. Mas também interessante, ao lado de um pé de milho completamente atacado, ver uma batata-doce ou um mamoeiro passando incólume pela sua voracidade. Como se o inseto estive dizendo o que se deve ou não plantar na ilha...
Hoje, sexta-feira, fim de tarde, fui tomar uma água Pedras no Boca Bar, estilo rústico, todo com motivos beira mar, madeiras e palhas, em frente ao oceano, na praia Gamboa. Agradabilíssimo.
E assim foi minha semana. Amanhã meu voo sai só de noite, devo passar o dia na Prainha, uma praia que fica a 500 metros do meu hotel, o Pérola. Soube que por cinco euros posso alugar mesa, barraca e uma espreguiçadeira. Pensa se quero... como tenho feito nas últimas vezes, esse será o único post da semana, o Caminhando e Contando parece estar chegando ao fim... sua energia está se dissipando!
Noite, centro histórico de Praia

Um comentário:

  1. Como sempre, belo texto. Gostoso de ler, coloquial, descrições primorosas , a gente se sente lá no ambiente, muito bem escrito e a gente aprende lendo. Parabéns e obrigado, Laércio.

    ResponderExcluir