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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Quito, 29 de novembro de 2015.

Fui atrás desta cerveja artesanal,
mas estava fechada...
Estou no Equador. Mais precisamente em Quito. Organizando junto com amigos equatorianos o III Foro Latino-americano de Sistemas Participativos de Garantia (SPG). Os SPGs são uma forma de garantir que os produtos que chegam ao mercado com o adjetivo de orgânico são o que dizem que são: orgânicos. Esta metodologia, o SPG, foi sendo construída a partir de trabalhos e reflexões feitas na então Feira de Agricultores Ecologistas da Cooperativa Ecológica Coolméia, em Porto Alegre, nos primeiros anos da década de 90. Esta feira segue funcionando, ainda que a Coolméia não exista mais. Naquele momento criamos o embrião deste método e o chamávamos de certificação participativa. Com os anos o método foi sendo aperfeiçoado e divulgado através de trocas de experiências, encontros e seminários. Rapidamente passou a ser adotado por muita gente no Brasil e no mundo. Pouco a pouco vem sendo incorporado a legislações nacionais que tratam do tema. Se tornou quase um assunto obrigatório em Congressos da área. Não vou contar aqui como este método funciona, para quem se interessar é só buscar na net que acha fácil. Nem vou contar como é viver esta experiência de ver um processo em que participamos ativamente na criação ser adotado por centenas de milhares de pessoas em dezenas de países. Fica para outro momento. Por hora só digo que é uma sensação bastante interessante!
Visual da rua no Bairro La Mariscal.
E é por ter toda esta relação com o tema que organizo a cada três anos um encontro como este que estamos aqui. O primeiro foi no Brasil em 2009, depois em La Paz em 2012 e agora estamos em Quito. O encontro começa terça feira próxima e cheguei hoje para os últimos ajustes e para poder recepcionar aos quarenta participantes de  15 diferentes países. Alguns já chegaram hoje e é sempre prazeroso encontrar conhecidos que navegam pelo mesmo mar da agricultura ecológica só que em outras coordenadas!
Além disto, pouco para contar de hoje. No meio da tarde, tendo sido o primeiro a chegar e sem nada para fazer, resolvi ir caminhando até La Mariscal, o bairro boêmio de Quito. A caminhada foi boa, uns cinco km, mas não achei muita coisa. Imagino que a festa rolou até hoje de manhã e o visual era meio de fim de festa, quase todos os bares, cafés e restaurantes estavam fechados. 
Mais um aspecto do casario de La Mariscal
Na Praça Foch, uma espécie de centro deste bairro, estava tudo aberto, mas bem vazio. Espero ter tempo para voltar lá esta semana e ver o clima agitado que me deixou boas recordações da ultima vez que estive por aqui. 
Amanhã começamos aqui com um Encontro Nacional de SPGs, eles esperam cerca de 150 participantes de todo o país, e vai funcionar como uma reunião preparatória do Encontro Internacional, que como eu disse acima começa na terça-feira. Vai ser bem interessante participar. Amanhã conto.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Huánuco, 05 e 06 de novembro de 2015.


Fotos com o povo do evento. Esta não resisti e
fiquei com uma copia!
Cheguei a Huánuco pouco antes das oito de manhã e foi tempo de passar pelo hotel e ir para o evento, que começava às nove. Começou com um pequeno atraso e onze da manhã eu já tinha terminado minha palestra. Não é a primeira vez que ando por aqui, vim aqui em 2006, depois 2010 e agora pela terceira vez. Sempre ao redor do mesmo tema, os SPGs (Sistemas Participativos de Garantia). 

Todo artista tem que ir onde o povo está!
Desta vez vim para o VII Encontro Nacional de SPGs. Bastante interessante o trabalho que desenvolvem por aqui com produção e consumo de produtos ecológicos. Depois da minha conversa com eles, as diversas regiões do país relataram o que vem acontecendo em termos de SPGs em suas regiões. Tive uma excelente visão geral do que está rolando em todo o país neste assunto.

Voltando à viagem para cá, ela realmente é incrível. Passamos por Ticlio, que está a quase cinco mil metros de altura, e é o ponto de estrada mais alto do Peru.  Pena que passamos de noite, mas ao amanhecer ainda é possível ver um pouco, já na descida, de quão tortuosa é a estrada.
 
Ponte Calicanto
Segundo me contaram é um trecho de estrada considerado muito perigoso, e existem épocas do ano onde a neve impede a passagem, fazendo com que os veículos fiquem parados às vezes por horas. Ainda me devo fazer esta viagem de carro. Desta vez tomei uma soroche pills, a base de cafeína e aas. É o que tem sido usado nestes casos de problemas com a altitide. Não sei se a pílula ou o por já ter passado uns dias em Cuzco, o fato é que não senti nada. Outras pessoas no ônibus passaram mal, sentindo fortes náuseas e dor de cabeça.

Vendedoras na ponte Calicanto
Pela tarde não voltei ao evento. Estava cansado e preferi ir ao hotel e depois passear pela cidade. Fui ao mercado, caminhei pelo centro, passeei pela praça, fui a lojas de artesanatos locais, estas coisas. A cidade não é tão bonita, ainda que cercada de por um interessante visual de montanhas andinas. Huánuco se autodefine como o melhor clima do mundo. Já conheci muitas cidades que afirmam a mesma coisa... ainda que fosse, não se justifica vir passar as férias aqui. Se for para conhecer os Andes peruanos, existem outras opções melhores.

A noite saímos, algumas pessoas do evento, a um Trapiche, como se chamam os bares por aqui que vendem licores os mais diversos a base de cachaça. Boas companhias, foi uma night agradável.

Hoje de manhã foi voltar ao evento, conversar com as pessoas, tirar muitas fotos. O povo aqui adora tirar fotos com o expositor. É sempre assim, e não me incomoda, curto meus momentos de popstar... 

Fernando, eu e Patricia.
Ouvi duas palestras interessantes. Minha amiga Patrícia Flores abordou a incongruência que pode ser observada em algumas regiões do Peru com alta diversidade biológica, onde produtores de quinoa, milho, kiwicha, batata e outros acabam com problemas de insuficiência alimentar. A sedução dos mercados, muito aquecido para estes produtos, e aspectos da cultura local determinam este quadro. Que por sinal também existe em outros lugares do planeta. A segunda palestra foi de outro amigo, Fernando Alvarado. Fernando e eu estudamos juntos na Espanha, em 1996, quando fizemos mestrado em Agroecologia. E seguimos na mesma onda, volta e meia nos encontramos. Ele falou sobre mercado e contou que existem hoje treze feiras e mais de cem pontos que vendem produtos ecológicos em Lima. Um detalhe que me chamou a atenção é que algumas destas feiras semanais estão sendo organizadas por empresários, cobrando dos produtores um valor pelo espaço. Não conheço experiência assim no Brasil.

Mesa de encerramento.
No fim da manhã, participei da mesa final do evento, depois despedidas, cartões para lá e para cá, promessas de novos convites, mais fotos e listo, tarefa terminada.

Peguei o avião pela Star Peru para Lima, bonito voo pelos Andes. Agora estou no aeroporto, daqui a algumas horas vou para Porto Alegre, daí direto para casa. Gostei muito estes oito dias de Peru, entra para conta das boas viagens. Em menos de um mês regresso aos Andes, desta vez será Quito. De lá conto mais!

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Lima, 02, 03 y 04 de novembro de 2015.



Pacífico, visto de Miraflôres
Pouco o que contar destes dias. È que me concentrei entre o trabalho que tive aqui e mais trabalhos de computador.

Papas a la Huancaína
Minha relação com Lima é antiga. Esta é a 16° que venho aqui. Desde 1997. Assim que sou testemunha de como ela tem melhorada. A primeira vez que tive aqui me disseram que ela tinha o apelido de Lima a feia. Definitivamente não cabe mais este adjetivo. Bairros como Miraflores e Barranco, os meus preferidos estão entre os lugares mais interessantes do continente. Bonitos, vizinhos do pacífico, bem cuidados, lindo casario, cafés charmosos, belos bares. Clima agradável, ainda que se possa ficar dias aqui sem ver o Sol. Adoro caminhar por estes bairros.

Não falei dos restaurantes porque este é um tema a parte. Não é a toa que a cozinha peruana está tão na moda. Realmente eles são bons nisto. Motivo de orgulho nacional, principal tema das conversas por aqui, com óbvias e expressivas diferenças regionais, a capacidade deles em manter tradição por um lado e experimentar coisas novas por outro é inspiradora.

strogonoff de alpaca
Andei comendo, entre Cusco e Lima, trucha a la plancha com papas locais, papas a la huancaína, carne de Alpaca, pizza vegana, ceviche, tiraditos, , ceviche de manga (delicioso), tres leches, e mais, muito mais.
E ainda a chance de dar as caminhadas que adoro por Miraflores, rever velhos e bons amigos e amigas, tomar uma cerveja artesanal em Barranco, comer churros com chocolate no Manolo. É, acho que nem trabalhei tanto.

Em termos de trabalho dei duas palestras sobre políticas públicas no Brasil de apoio à agroecologia. Uma em Conveagro, instância organizativa que congrega representante de sindicatos e associações ligados à agricultura familiar e outra na Universidade Agrária de La Molina.

Cartaz do evento na universidade
La Molina
Foi tudo bem. Existe um dilema interessante aqui. Não posso vender a idéia de um país / governo agroecológico. Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. O governo subsidia de forma enfática a agricultura convencional. Mas o pouco apoio que a agricultura orgânica tem no Brasil, a existência de um Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, ainda que muito aquém do que consideramos mínimo, já é mais do que existe nos outros países do continente. E se aqui digo que é muito pouco o que temos, para eles soa como chorando de barriga cheia. Perspectivas...

E acho que é isto. Daqui a pouco vou para Huánuco, mais ao centro do país, cidade também andina. Pego o ônibus na garagem da empresa, já que por aqui não existe rodoviária, cada empresa recebe as pessoas em suas garagens. Ônibus bons, da Marcopolo. Vou passar por Tiglio, que está a quase 5 mil metros de altitude, espero não passar mal como aconteceu a primeira vez que fui a Huánuco. Vou nessa, me esperam 420 km, dez horas de ônibus... sacaram? Subir e descer, serra com curvas fechadas, a media de velocidade é assim, meio baixa!


Carta do evento de terça-feira

as vendedoras de frutas

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Cuzco, dia dos vivos, 01 de novembro de 2015.

Plaza de Armas ou Huacapata, que significa lugar sagrado.
Parece que sobre o nome original, não existe consenso
Hoje fiquei caminhando por Cuzco. As opções de passeio aqui são muitas. Quase todas de sítios arqueológicos, mais ou menos próximos. Já fiz alguns de outras vezes e são muito interessantes. Caminhadas de diferentes percursos e duração também são passeios muito comuns. O principal deles, Machu Picchu, de trem, carro ou a pé. É considerado patrimônio cultural da humanidade, sonho de consumo de boa parte das pessoas que gostam de viajar. E é lindo mesmo. E super interessante. Fui uma vez, em 1997. Não sei se volto. Considero o centro histórico de Cuzco mais legal. É um sítio arqueológico vivo! As pessoas ainda andam em ruas que foram feitas pelos Incas. A água ainda corre por onde os Incas decidiram que ela deveria correr. 
Ruas de Cusco, ainda do tempo dos Incas.
 Claro que Machu Picchu é uma onda. Ficou também revestido de certo misticismo. Mas ir lá é visitar ruínas de uma cidade incaica. O centro histórico de Cuzco também é uma cidade feita pelos Incas e que foi modificada e às vezes restaurada pelos espanhóis por razões de conquista ou terremotos. Mas ainda é uma cidade Incaica!
Cuzco era considerada pelos Incas o umbigo do mundo. O centro do mundo. Eu pensava que era Niterói. A hoje denominada Plaza de Armas era o centro do seu sofisticado sistema de comércio, que tinha como finalidade trocar produtos entre diferentes pisos ecológicos. Vale lembrar que a latitude aqui é relativamente próxima ao Equador e são as diferentes altitudes que desenham diferentes ecossistemas e por consequência diferentes possibilidades de cultivos. 

De cada canto da Plaza de Armas sai uma estrada, em direção aos quatro pontos cardeais. Estas estradas justamente permitiam este intercâmbio de produtos, também chamado de comércio, entre as diferentes regiões do Império Inca. Olha o mapa ao lado. As quatro rotas estão bem marcadas. Incrível né? A praça ligava os quatro cantos do mundo, ao menos do mundo deles. E é bom também não esquecer que o Inca, ou o Imperador, morava aqui. Centro político, religioso e comercial do Império Inca. Bem vindo a Cuzco.

Como hoje vim para um hotel melhor para passar um domingo de Inca, fiquei entre o hotel e caminhar. O Hotel é o Ramada Costa do Sol, está muito bem localizado em uma casa do século XVIII. 

Pátio interno da mansão onde hoje está o
Hotel Ramada.
 Dia 01 de novembro aqui se comemora o dia dos vivos, e por toda cidade se vendia leitão com tamal (um tipo de bolinho feito a base de massa de milho), o prato típico deste dia. Também um pão feito na forma de uma boneca ou de um cavalo, decorado, é típico destes dias do ano. 

Amanhã cedo embarco para Lima, tenho que trabalhar serão quatro eventos nesta semana, entre Lima e Huánuco. Depois conto.

Pães típicos desta época

Flores na praça

Selfie nos altos de Cuzco!

domingo, 1 de novembro de 2015

Cuzco, 31 de outubro de 2015.


Visual do Vale Sagrado dos Incas, município de Calca.
Com este visual, 
ficamos conversando sobre AO.
Hoje foi um dia de trabalho intenso. Acordei cedo, antes das seis estava pronto. Sete e meia estava no taxi que me levaria a Calca, local do curso. Taxi coletivo, em uma esquina eles se concentram, cobram por passageiro, quando está cheio ou quase, partem.

A turma do curso
O curso foi na comunidade de Urco, município de Calca. Em um local onde jovens agricultores desenvolvem um trabalho de horticultura orgânica, biojoias e propagam a ideia da Agroecologia. Ficamos por três horas no sol, conversando sobre manejo do solo, adubação orgânica, fazendo biofertilizantes e caldas fitoprotetoras.

 Sol forte, literalmente me queimei. Para mim foi muito agradável e espero tenha sido proveitoso para eles. Em cada lugar que chego busco identificar, através de conversas prévias e da apresentação inicial, qual o déficit de informação que devo procurar minimizar. Minha tarefa aqui foi mostrar que fazer Agricultura Orgânica não pode ser uma atividade pesada, quase uma penitência pelo bem do próximo ou do planeta. Pelo contrário, ela deve ser prazerosa, trabalho menos penoso e com retorno econômico e simbólico. Espero ter deixado esta mensagem! 
Legal né?

Apesar de intenso, o trabalho acabou cedo, comemos no campo mesmo, houve entrega de certificados, alguns discursos e fotos, muitas fotos. 

Quatro da tarde já estava no hotel e fui de novo caminhar por Cuzco. Passei por San Blas que é o bairro dos artistas, principalmente com sua arte Cusquenha, que ficou marcada pela mescla entre o barroco trazido pelos espanhóis e a arte indígena. A maioria das obras guarda relação com o sincretismo religioso entre as crenças locais e o catolicismo, Muito interessante de ver.

Igreja e pracinha de San Blas, com uma feira. 
San Blas é um bairro alto, que na altitude de Cuzco se torna um desafio para subir suas ruas ou escadarias. Lá de cima existe uma linda vista. Desci para o centro e me deparei com a praça lotada. Eu que não estou acostumado com esta festa no 31 de outubro achei que estava no carnaval. Muitas crianças fantasiadas pelo halloween, adultos também. Músicos nas esquinas, teatro em frente à Igreja, feira na praça. E repito muita gente, me chamou a atenção o fato da grande maioria ser de locais.

Fiquei caminhando bem devagar como manda a altitude, apreciando as gentes e seu movimento, pensando na viagem que é a história deste lugar. Vi o entardecer na Plaza de Armas, o umbigo do mundo. Amanhã tenho o dia só para relaxar e passear, aí conto porque Cuzco e mais especificamente sua praça central são o umbigo do mundo. 
A Praça e a Catedral.

A Praça e o Povo.
As mochilas dos alunos num canto.