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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Paraguay, 12 e 13 de dezembro de 2013.

Finca de Don Angel, sala de aula pronta...
Ontem acordei às cinco da manhã e viajamos uns 200 km, de Coronel Oviedo para o Departamiento de San Pedro, assentamento La Germarnina, município de Nueva Germánia, diretamente para a finca de Don Angel Gimenez. Aí passamos a manhã, entre um conversatório e visita aos cultivos.
Estavam umas 25 pessoas da comunidade, e a prosa girou em torno de como eles podem seguir resistindo, com o enfoque da agroecologia, diversificação de culturas e novas estratégias de mercado, ao avanço da soja. Andamos por esta região, centro-oeste brasileiro, leste do Paraguai, nordeste da argentina e sudeste da Bolívia e o que temos é a impressão que o mundo vai virar um mar de soja. Com esporádicas ilhas de cana de açúcar. Esquema que não resiste a uma análise sócio-ambiental ou econômica, mas que persiste à custa de pesados subsídios.
Almocinho fora...
Terminamos com mais um almoço ao ar livre, frango caipira com um bolo salgado de milho verde delicioso, e, claro, mandioca. Não existe refeição por aqui sem mandioca. Terminado o alomoço, viajamos mais uns 180 km para Horquerta, departamiento de Concepción. Cheguei, participei de uma breve reunião com lideranças locais para planejar as atividades de hoje e fui ao hotel, louco por um ar condicionado. Me deixaram no hotel às cinco da tarde e só saí do quarto por 20 minutos para comer algo. Umas empanadas, muito típicas por aqui.
Hoje a jornada começou cedo. Um evento organizado por organizações como Via Campesina e COCICP (Coordinadora de las organizaciones indígenas y campesinas del Paraguay). Era a segunda edição da Festa da Produção Campesina, e reunia famílias de várias regiões do país. 
Feira de produtos e sementes.
Umas 250 pessoas. Foram palestras, feira de sementes e produtos das próprias famílias, visitas à fincas, troca de experiências. E muita música, principalmente polca. Ouvi índia, uma das mais famosas canções paraguaias em Guarani. E Lago de Ipacaray! Dentre os cantores que passaram pelo telão, Miguel Quintana Bareiro e seu grupo Vy’arã e Ramonita Vera e seu grupo Tropical (www.youtube.com/watch?v=AwlE2fZQ6is). Uma estética própria, no visual e na melodia, que podemos ver em vários lugares pelo interior do nosso continente. Engraçado, curioso, nem sei definir. Na hora do almoço, um churrascão com 180 kg de carne, um grupo local, ao vivo, garantiu a animação.
Às quatro da tarde o evento ainda seguia mas nós retornamos para Assunção. Foram 350 km, cinco horas de viagem, uma linda paisagem e um por do sol de cinema. Bem agradável.
Agora estou no hotel, amanhã sigo para Campo Grande, ainda tenho a semana que vem cheia por lá. Se eu estivesse de carro, de Concepción teria ido para Pedro Juan Caballero, 150 km, de lá atravessado para Ponta Porã, MS, e viajado apenas 300 km para Campo Grande. Agora faço Assunção – São Paulo – Campo Grande. Tá valendo.

Grupo local... saca o contra-baixo!
Bom, é isto, aqui no blog, agora, só ano que vem. Possivelmente Biofach, Nuremberg, em fevereiro. Então, para terminar, me pergunta se está tudo bem. Vou responder com uma expressão daqui, que descobri agora e achei sensacional: “Espetacular y mejorando!”. Fui.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Paraguay, 09, 10 e 11 de dezembro de 2013.

Ritual Guarani de benção das sementes
Este ano este Blog andou devagar... foi um ano de muitas viagens dentro do país, mas poucas fora. E como o que me dispus foi escrever minha memória das viagens internacionais ficou assim. Mas fico com saudades de escrever, tenho que buscar outro motivo.
Cheguei aqui em Coronel Oviedo, 150 km de Assunção, anteontem às nove da noite. Não é a primeira vez que venho aqui nesta cidade e neste local. Exatamente um ano atrás estive aqui, e esta foi a única vez que viajei para o exterior e não relatei desde que comecei este Blog. Como se dizia nos anos 70, eu “estava mal de cabeça”, nem que quisesse conseguiria escrever. Que bom que a vida me trouxe aqui de volta, para me mostrar mais uma vez que tudo passa! Sim, tudo passa.
Conversando no campo
Estou aqui no Paraguai para diferentes atividades de trabalho, contratado por uma Central de Cooperativas apoiada por uma ONG Sueca, We Effect! Estão sendo palestras, visitas a propriedades rurais, mini-cursos. Sempre ligado à agroecologia, certificação participativa, mercados locais.
Ontem a atividade foi um mini-curso de 5 horas, pela manhã até o início da tarde. Os participantes eram em torno de 30, técnicos ligados a pequenas cooperativas e dirigentes campesinos, para usar uma expressão local. A conversa girou em torno de como construir a transição agroecológica. Conversamos sobre basear esta transição em um tripé. Construção concreta de referências de produção e comercialização, formulação teórica e/ou de propostas baseadas nestas experiências e incidir junto ao estado por políticas públicas baseadas nestas práticas e reflexões.
Visitando as lavouras, propriedade do Vidal Toledo
Terminou cedo, ainda tive tempo dar uma volta pela cidade. Estas cidades do interior do Paraguai não costumam ser muito bonitas. E Coronel Oviedo não foge à regra. Mas sempre é possível comer uma chipa, andar nas ruas ouvindo guarani, o que eu acho demais, e vislumbrar bonitas paisagens naturais ao redor das cidades ou pelas estradas.
De noite, um vinho chileno, com amigos paraguaios, um espanhol e uma sueca. Quase uma reunião da FAO.
Hoje pela manhã fiz o que mais gosto, visitamos uma propriedade, da família do Vidal Toledo, na comunidade Pozo 5 de Carayao. Visita tranquila, junto com alguns membros da comunidade, tivemos bons papos sobre a realidade deles, fomos vendo e conversando sobre os cultivos. Encerramos com um almoço local, ali mesmo na finca
Nome deste almoço: "mais chique impossível!"

De tarde uma reunião com a Prefeita e lideranças de uma pequena cidade da região. Sobre como um município pode apoiar iniciativas de cunho agroecológico.
E agora de noite, um bom programa. Uma feira de troca de sementes locais. Normal, sempre ocorrem, mas a de hoje com uma benção das sementes muito interessante de ver. Primeiro um Padre deu sua benção, uma mini-missa, em Guarani. Missa em Guarani. Dá para ficar pensando o que aconteceu por aqui nestes últimos anos. Digo nos últimos 500 anos. Depois do Padre, a benção Guarani, ou talvez seja mais preciso dizer um ritual Guarani. Três pajés ficaram dançando, parados e ritmados, tocando um tipo de chocalho e cantando uma espécie de mantra. E, um por vez, passavam dançando, cantando e sobrepondo as mãos nas bancas de sementes. Atrás deles três mulheres, uma bem mais velha, ficavam secundando os cantos, batendo um tronco de bambu no chão e fazendo o back vocal. Muito interessante, demoradinho, tudo ao seu tempo. Só a parte Guarani durou uns 90 minutos.
Amanhã e depois, se entendi bem, sigo visitando famílias agricultoras. Depois conto.
Exposição de sementes locais.