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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Guatemala - 09 de julho de 2011.

Foto com Tasso Hadjidoudou, um intelectual, ex-diplomata,
                muito conhecido no país. Estátua no paseo de la sexta.
Mas tenho que arrumar mala. Tenho por força que arrumar a mala. A mala. Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão. Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Este trechinho de um dos poemas mais densos e famosos de Fernando Pessoa/Álvaro de Campos casa bem comigo... hoje, de novo, tive que arrumar as malas!
Antes, encontrei tempo de voltar ao Mercado Central. Queria ver mais um pouco da feira e comprar uma colcha destas que quando minha Vó Othelina fazia chamavam de retalho e agora encontro caríssima em algumas lojas e chamam de patchwork! A que comprei foi feita com retalhos destes tecidos com motivos indígenas centro-americanos, colorida, linda. E por 40 dólares! Loucura como são baratos os artesanatos aqui na Guatemala. Caminho de mesa, jogo americano e uns presentinhos fecharam as compras. Que homem prendado, né?
Cidade de Guatemala, vista de um
                mirante.
Foi só tempo de ir e voltar ao mercado, arrumar a mala e agora embarco para casa. Saio daqui e passo pelo aeroporto do Panamá, e ainda vou ter 4 horas por lá. Este aeroporto é a principal ponte de ligação entre a América do Sul e a América Central. Grande, bem cuidado e conhecido como bom para compras. Nas vezes que tive, vi que para os aparelhos eletrônicos realmente vale a pena. Do Panamá, pego o voo para São Paulo, viajo de noite. Depois, pego o avião para Porto Alegre às oito da manhã. De Porto Alegre, um ônibus para Torres... é mole?
Estes quatro dias na Guatemala só me deixaram com vontade de conhecer o país. Vi apenas a capital, mas pelas fotos que me mostraram e pelas conversas que tive percebi que existe muito a ser visto e explorado fora da capital. Vulcões, Parques Naturais, Praias, Comunidades Indígenas. Vai ficar para uma próxima. A vida é assim, quando a gente menos espera, ela se repete. Volto aqui na próxima viagem!

Hotel El Convento, em Antígua Guatemala

Guatemala - 08 de julho de 2011.

Oito e meia da manhã, pelo terceiro dia consecutivo continuamos o debate sobre a Construção de Territórios. O tema é realmente amplo e as dezenas de organizações reunidas, de oito diferentes países, sentem em cada uma das suas realidades as dificuldades em fazer frente aos interesses que buscam recursos em seus espaços, para atender ao consumo global. A população indígena da Guatemala, por exemplo, que de acordo com a perspectiva pode chegar a 80% da população total do país, enfrenta hoje  cerca de 450 conflitos em diferentes territórios. Conflitos por água, minérios, terra ou outro dos mal denominados recursos naturais. O Seminário terminou com um vídeo sobre a expulsão de uma etnia indígena de suas terras, feita por um engenho privado, a partir de uma ordem judicial de re-integração de posse. Sai indígena produzindo alimento, entra engenho produzindo combustível. Duro. Mais forte ainda ouvir um indígena falando que o temor dele é que aqui se passe o que se passou nos EUA, onde quase todos os indígenas foram massacrados.
   Na hora do almoço fugi para o Mercado Central, um mercado que vende artesanato, comida, chás, roupas e muito mais. Fica bem no Centro da cidade, a uma quadra da praça central. Já havia ouvido falar que a Guatemala é um dos países que mais exportam artesanato para todo o continente, junto com o Equador. Hoje, pude confirmar isto. Já não tenho paciência para comprar artesanato latino-americano, viajei muito pelo continente e tudo se repete muito. Me divirto mais buscando coisas diferentes, originais, mas isto exige um tempo que hoje não tive .
    Na volta uma loja muito curiosa chamada, bem a propósito, Armazém Miscelânea. Parece que é especializada em vestidos de noivas, mas vende também copos de coca-cola, ursos de pelúcia, Bíblias, relógios de parede. Tem toda uma prosa que pode ser feita aí, mas não me sinto preparado para fazê-la... mas passa por um senso estético muito próprio, fruto de uma mescla entre os gostos dos povos indígenas, dos negros, dos povos ibéricos. Estes últimos, por sua vez, com uma forte influência do Flamenco, ao menos a maioria dos que chegaram à América. Não sei se me faço entender, mas isto pode ser visualizado, por exemplo, em um bar onde vemos uma imagem santa, ao lado de uma bandeira de um determinado lugar ou pais, umas frutas de plástico, uma foto do tio e uma flâmula de algum clube. Tudo isto e mais em 40cm de prateleira. As Festas populares, particularmente as religiosas, também expressam esta estética a que me refiro. Não me chama a atenção pelo kitchie, que é o que salta a vista no primeiro momento. É mais que isto. Uma espécie de desordem coerente que ela expressa em diferentes lugares e países. Minha pergunta é: de onde vem esta unicidade? Mas não falo mais nisto, para não falar mais besteira! 
Fui obrigado a fugir duas vezes do seminário para acompanhar um pouco pela net o jogo do Botafogo. Empatou com o Atlético Goianiense... brincadeira!!!
Cienpuertas
De noite, para não repetir a janta no hotel, fui buscar algum lugar fora para comer algo. Fui com uma amiga da EED, agência que me convidou para estar aqui, e um amigo Chileno, que vive na Costa Rica e também está no Seminário. Encontramos um lugar chamado cien puertasEstá localizado na Pasaje Aycinena na calle nona, entre a  sexta e sétima avenida da Zona um. Uma espécie de vila, entre duas ruas, com uma arquitetura colonial bonita, razoavelmente conservada e que reúne uma série de bares e restaurantes. Comemos, ouvimos música, tomamos algo e descobri que meia-noite fecham quase tudo nesta cidade e não se pode mais vender bebidas alcoólicas. Possivelmente pelo problema da violência.
Amanhã regresso para minha casinha... mas chego apenas no sábado! Fui. 

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Guatemala - 07 de julho de 2011.

O Seminário que fui participar
Hoje foi dia de trabalho. Estivemos no seminário por dez longas horas. Definitivamente me cansam estes espaços com mais tendência às analises de conjuntura do que a olhar ao futuro. Usamos nosso tempo para descrever a realidade que queremos mudar, deixando de lado uma elaboração sobre para onde queremos ir e como podemos chegar lá. Enfim, acho que a esquerda em geral, e a latino-americana em particular, vai levar algum tempo para deixar de se comprazer nestes tipos de espaços e discussões. Pretendo cada vez mais me incluir fora disto.
Vista do Centro da cidade
Por sorte tive tempo de sair um pouco, na hora do almoço. Fui à mesma praça central que fui outro dia, mas com a vantagem de desta vez estar acompanhado por um Guatemalteco. Vou comentar apenas duas das coisas que aprendi com ele.
 A primeira específica sobre a Guatemala, ainda que em alguma medida aplicável a países como El Salvador, Peru ou Colômbia. No fim dos anos cinquenta começa a guerra civil por aqui, com um grupo de esquerda buscando o poder através da força, da luta armada, da guerrilha. Como resposta o Governo coloca o exercito para combatê-los. Por diferentes razões alguns anos depois surge um grupo de paramilitares que se propõe a defender as comunidades dos guerrilheiros. Estes paramilitares tinham relações com as oligarquias rurais que pretendiam manter suas terras e, porque não?, aproveitar a oportunidade para obter alguma vantagem com o conflito. O exército também passa a usá-los, já que os paramilitares podiam atuar de forma mais livre das amarras legais que regem uma forca estatal.
 No meio dos guerrilheiros, militares e paramilitares, a sociedade civil. Principalmente camponeses e indígenas, isolados em suas comunidades ou pequenas cidades, mais rurais do que urbanas. Sacaram? Tentem se colocar vivendo em uma comunidade desta, sabendo que todos os jovens, homens, de quinze anos seriam recrutados, sem a opção de se negar, por alguma destas forças. E isto durou quase quarenta anos, com o acordo de paz sendo selado apenas em 1996. Sobrou um pais destruído, fortemente armado, violento, com poucas oportunidades econômicas e com a maior parte da população tendo historias tristes para contar de quantos morreram na família, as vezes de maneiras particularmente trágica. Imaginem a dificuldade de reconstruir um país a partir de um quadro como este. Fiquei com vontade de ter tempo de conhecer um pouco mais esta realidade. Outra vez será.
Igreja Matriz, em frente à praça
 A segunda coisa que nos contou foi sobre a disposição da praça e isto não se aplica apenas a Guatemala. Segundo ele, todas as praças localizadas no centro das cidades coloniais tem ao seu redor a representação dos três poderes: a Igreja, o Estado e o Comércio. Nunca soube disto, mas realmente sempre estão ao redor das praças a Igreja, a prefeitura ou governo do Estado ou País e lojas comerciais. Interessante saber que isto é uma herança da Idade Média, quando a vida cotidiana girava em torno do comércio e da fé cristã. Bom, depois vem a Revolução Industrial, o eixo do poder muda. Mas a tradição arquitetônica das praças matriz se mantem. 
 Terminei o dia tomando um rum com meu amigo costarriquense Manuel Amador. A Guatemala tem um dos runs mais famosos do mundo, o Zacapa. Delicioso, para tomar puro, sem gelo. Mas isto o mastercard paga. Ter amigos em diferentes lugares do mundo não. É um dos privilégios da minha vida.
 Vou dormir, amanhã é meu último dia de trabalho por aqui, já voltando pra casinha depois de amanhã.

Guatemala - 06 de julho de 2011.

Centro de Antígua Guatemala
Levantei cedo hoje e cumpri o combinado. Combinado comigo, digo. Encontrei um bom taxista, indicado pelo hotel, e fui a Antígua Guatemala, cidade fundada em 1543, e que era a capital não apenas da Guatemala, mas de toda a capitania hereditária que posteriormente se transformou naqueles que hoje são os diferentes países da América Central. 
Muito legal. Cidade colonial, com muita história, não apenas ligada à colonização espanhola, mas também à civilização Maia.Vou contar uma das coisas interessantes que vi e ouvi hoje. Na época da colonização uma das estratégias dos conquistadores era a conquista religiosa e a extirpação da idolatria. Esta tarefa foi desempenhada pelos Jesuítas, que conscientes ou não do que faziam, cumpriam a tarefa de liberar ou salvar os indígenas de seu paganismo, uma das razões segundos os Jesuítas, do seu atraso e barbárie.
Escombros da antiga Catedral
Pois bem, isto envolvia construir Igrejas. A de Antígua foi feita onde? Como em outras cidades do continente, em um local sagrado para os Maias. Sacou? Com isto, aproveitavam o local onde os Mais já frequentavam para fazer seu culto ao Sagrado, o que poderia facilitar o culto ao novo Deus Cristão. Em 1773 houve um grande terremoto que destruiu a Catedral. Hoje existe uma pequena Igreja, ao lado das ruínas da antiga Catedral dizimada. No meio das ruínas podemos ver uma pequena capela, um piso abaixo, onde estão as imagens de Jesus, Maria e José. Este era o local Sagrado dos Maias. Até hoje eles, diariamente, fazem aí suas orações e oferendas, agora na forma de moedas. E são Maias Católicos, na sua grande maioria! Eficiente a estratégia da Igreja, não? 
Fora isto, fui a uma fábrica de joias tendo o Jade como pedra principal, com peças muito bonitas, e aí mais uma vez eu ouvi sobre a cultura Maia, assim como em lojas de artesanatos ou com algumas pessoas com quem conversei na rua, por um ou outro motivo. É um país indígena, parece que metade da população é de diferentes etnias Maias, com outra parcela importante de mestiços. Basta caminhar na rua e olhar as fisionomias para confirmar isto.
   De tarde, trabalho. O evento hoje começou com duas palestras, com debates posteriores. Uma sobre construção de territórios e outra sobre a extração mineira no México e a ofensiva das empresas mineradoras sobre Territórios Indígenas ou Camponeses, com aval e apoio do Estado Mexicano. Triste realidade que se repete em outros países, seja com extração mineral, madeira, água e vários outros recursos naturais. Apesar desta triste realidade que se repete em vários locais, do continente e do mundo, me cansa um pouco este tipo de apresentação e discussão com foco no problema e não na solução. Não quero ser simplista, sei que é necessário entender e dissecar o problema para tentar superá-lo, mas em eventos onde já sabemos quem somos e com que trabalhamos, esta etapa, da denúncia, poderia ser suprimida, ou, no mínimo, abreviada.
    Amanhã, minha vez. Vou falar sobre “Soberania Alimentar e Construção de Territórios”. Sempre fico nervoso antes de uma palestra e ainda tenho que terminar de preparar. Vou lá fazer isto e depois, dormir. Quero estar inteiro amanhã.
Bar no centro de Antígua

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Guatemala - 05 de julho de 2011.

Praça Central - centro da Cidade de Guatemala
       Não conhecia Guatemala. Bem, sigo sem conhecer, mas pelo menos agora estou aqui, em um quarto de hotel, situado no Paseo de la Sexta, na  Zona 1, que equivale ao centro histórico da Cidade de Guatemala, que é como se chama a capital do país.
          Estou aqui a trabalho. O fato de não conhecer uma país é quase decisivo na hora de aceitar um convite para determinado evento, consultoria, curso. Às vezes esqueço-me de outros fatores, como tipo de trabalho ou remuneração, pelo desejo de conhecer um lugar onde não estive antes. A avidez pelo novo está no sangue. Uma avidez conservadora, confesso, mas está aí.
      Entre amanhã e quinta-feira, portanto por três dias, participo de um evento, convidado por uma organização Alemã de cooperação internacional chamada EED. O Seminário reunirá membros da equipe e parceiros da EED para discutir um tema relativamente de moda: Territorialidade. Eu sei, para quem não é da área pode não parecer tão de moda assim... afinal, de moda mesmo está a Lady Gaga...
Lobby do Hotel Royal Palace
        Não tive tempo de ver muito. O hotel se chama Royal Palace, e é destes antigos, com um bonito lobby, à moda “colonial”, o que significa com uma arquitetura fortemente influenciada pelo colonialismo espanhol. Mas ao menos pude dar uma caminhada pelo centro, indo até a praça. Me contaram que ele vem sendo revitalizado. Achei legal, mais ou menos limpo, algumas casas e pequenos prédios bonitos. Claro, centro de uma cidade pobre, muita gente, com lojas que seja o que for que vendem estão em eterna liquidação, restaurantes com seus pratos executivos por preços acessíveis, cantores de rua (indígenas que cantavam “Have You Ever Seen The Rain?” - viva nosso continente), oradores de Bíblia na mão, pedintes. Não faltaram alguns cafés, que por sinal aqui da Guatemala podem ser de excelente qualidade.
      A praça central se chama “Plaza de Armas”, como em quase todas as cidades de colonização espanhola. Não dá para chamar de bonita, mas legal de ver, muita gente, comércio, Igreja e alguns prédios importantes cercando a praça.
         Mas o ponto alto do dia foi o jantar, ou melhor, a conversa ao redor do jantar. Um pequeno grupo, com três alemães, um austríaco, um Costa Riquenho e uma Guatemalteca. O cardápio de assuntos, variado: União Europeia, multiculturalismo, obrigações extraterritoriais e universalidade ou não da Declaração Universal dos Direitos Humanos foram alguns dos temas tocados. Aprendi muita coisa interessante, como por exemplo, que na Universidade de Viena, no curso de direito, já tem uma matéria sobre Direito Muçulmano. Vinte por cento das pessoas que moram na Áustria hoje são muçulmanos, e o direito que os rege não é o mesmo direito no qual a Europa se baseia. E aí? Deve o direito ser um só? Ou como pode ser a convivência entre diferentes “Direitos”. Legal né? Eu pelo menos achei.
       Bom, vou dormir. Amanhã de manhã, já que tenho livre, espero ir a Antígua, antiga capital do país, tombada como Patrimônio Mundial da UNESCO.

Sexta avenida, única Rua de Pedestre da cidade de Guatemala